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Quais os erros e mitos mais comuns sobre a Lua?


- Atualizado no dia 3 de outubro de 2024 -

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          Dos ~158 satélites naturais conhecidos no Sistema Solar, apenas 13 orbitam objetos de significativo tamanho terrestre (500 km < Raio < 104 km), e apenas 3 existem dentro de uma distância de 2 au do Sol. Nesse último caso, temos a Lua, o único satélite natural da Terra. 

         A lua é uma fonte de grande inspiração na história da humanidade. Poesias, músicas, mitologias, lendas e corridas espaciais foram e continuam sendo fomentadas por esse satélite. Localizada a uma distância média de 384400 km da Terra, tradicionalmente acredita-se que a Lua tenha sido formada pelo impacto de um corpo do tamanho aproximado de Marte com a Terra, há 4,31 bilhões de anos (1), com os detritos resultantes desse gigantesco choque sendo fundidos até formar o corpo lunar como hoje o conhecemos. Além de iluminar as noites, a Lua, por ser um corpo espacial muito massivo e próximo da superfície terrestre, possui influências gravitacionais significativas na Terra; o regime das marés nos oceanos é uma das consequências mais familiares nesse sentido. Todos esses fatores também alimentam muitas desinformações e pseudociências.
          

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    1° MITO: A Lua produz sua própria luminosidade.

        Esse é um dos mais clássicos. Não, a Lua brilha porque sua superfície está refletindo a luz emitida pelo Sol. Da mesma forma, podemos ver outros planetas do nosso Sistema Solar no céu noturno como "estrelas brilhantes" porque esses corpos estão refletindo a luz do Sol. Em última análise, a parte brilhante que vemos da Lua é como se fosse o período diurno na superfície terrestre (lado da Terra exposto diretamente ao Sol)...

 

       2° MITO: As fases da Lua são causadas por sombras da Terra e/ou nuvens sobre ela.

         Ao longo da sua órbita ao redor do nosso planeta, metade da Lua fica iluminada pelo Sol enquanto a outra metade fica escura, sem receber luz solar diretamente - similar ao que ocorre durante os ciclos de dia-noite na Terra. As fases da Lua são apenas os diferentes ângulos em que vemos a parte iluminada em relação ao Sol, como mostrado na figura abaixo. Na Lua cheia, por exemplo, o Sol ilumina a parte que está de frente para a gente, deixando-a toda iluminada em relação a nós. Já na Lua Nova, o Sol ilumina a parte de trás, deixando o outro lado escuro para nós.



        Quando a Lua realmente passa pela sombra feita pela Terra, passamos a presenciar um evento de eclipse lunar, ou seja, a Terra fica entre o Sol e a Lua, e fazendo sombra nessa última. E isso também ajuda a esclarecer o 1° mito. Como a luz do Sol passa primeiro pela atmosfera terrestre para depois atingir a Lua - quando esta está na sombra ou umbra da Terra -, o satélite fica com a coloração avermelhada, e muitos aqui provavelmente já presenciaram o fenômeno durante um eclipse lunar. Isso ocorre porque a nossa atmosfera dispersa bem a faixa do azul que chega da luz branca do Sol (por isso nosso céu diurno é azul [2]) e deixa passar direto para o outro lado bem mais da faixa do vermelho no visível (por isso o pôr do Sol é avermelhado, já que a luz azul está sendo dispersada ao longo do horizonte e a luz vermelha vem direto na nossa visão). Assim, a Lua acaba recebendo mais radiação vermelha e reflete essa de volta para nós, o que acaba tornando o nosso satélite avermelhado para os observadores terrestres.


> Falando em cores, diversas colorações na Lua já foram observadas, inclusive bem documentadas pelo trabalho de 10 anos da astrofotógrafa Italiana Marcella Giulia Pace (imagem abaixo). Além do fenômeno de eclipse lunar, uma coloração vermelha ou amarela geralmente indica uma Lua vista próxima do horizonte. Nessa posição, parte da luz azul é dispersada por um longo caminho através da atmosfera terrestre, às vezes impregnada com poeira fina. Uma coloração lunar azul é mais rara e pode indicar uma Lua sendo observada através de uma atmosfera carregando partículas suspensas de poeira com maiores dimensões*. A notável coloração roxa é mais enigmática, e pode ser uma combinação de vários efeitos (Ref.19).



          *Por exemplo, em 1884, um vulcão na Indonésia chamado de Krakatoa produziu uma erupção equivalente a uma bomba de 100 megatons (2x a Tsar Bomba!). Cinzas da explosão do Krakatoa subiram tão alto na atmosfera quanto 80 km. Várias dessas partículas podem ter 1 mícron de extensão, efetivamente espalhando a luz vermelha e deixando passar a luz azul. 

          Luz solar passando a atmosfera é, nesse sentido, filtrada e um excesso de azul pode atingir a Lua, tornando-a azulada. 

          De fato, uma real Lua azul apareceu por anos seguindo a erupção de 1883. Vários outros vulcões, e até mesmo incêndios florestais, ao longo da história são conhecidos de terem afetado a cor da lua. Para uma lua azul, partículas em excesso na atmosfera precisam ser maiores do que ~0,6 mícron (Ref.27). 

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       3° MITO: Diferentes países veem diferentes fases da Lua no mesmo dia.

        Não, todo mundo vê a mesma fase da Lua porque isso fica apenas dependente da sua posição em relação ao Sol (talvez isso pareça estranho à primeira vista, mas o esclarecimento do 4° mito abaixo tornará isso mais claro). A única coisa de diferente é que as pessoas no hemisfério Sul da Terra quando encaram o Norte para vê-la - caso a Lua esteja alta no céu (3) -, irá notar que a Lua estará de "cabeça para baixo" em relação às pessoas ao Norte do equador.

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(3)  A inclinação da Lua em relação ao plano de órbita da Terra em torno do Sol varia com o tempo, por isso a Lua aparece no céu às vezes bem no alto ou bem abaixo, no horizonte.  
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       4° MITO: A Lua circula a Terra por completo em um único dia. 

        Não, a Lua demora quase 1 mês para dar uma volta ao redor da Terra. Para ser mais exato, o tempo que se se leva é de 27,3 dias. Só que temos um porém aqui.

        Para medir o tempo de órbita de um corpo em relação a outro dentro do nosso Sistema Solar, por exemplo, podemos usar estrelas fixas no céu como ponto de referência. Portanto, quando a Lua está girando em torno da Terra, medimos o tempo para esse movimento quando ela sai de um 'pano de fundo' de estrelas e novamente retorna para esse mesmo pano de fundo. Nesse sistema de referência, chamado de sideral, nosso satélite natural gasta 27,3 dias. Porém, se usarmos o Sol como referência, ou seja, em relação às fases lunares, esse tempo passa a ser de 29,5 dias, porque a Terra também estará se movimentando em relação ao Sol. O sistema de referência agora, chamado de sinódico, fica dependente da localização relativa da Terra, Lua e Sol, e não mais de um ponto fixo. Assim o intervalo entre duas Luas Novas (ou duas Luas Cheias) será de 29,5 dias, porque a Lua acaba gastando um tempo maior para pegar o passo com o movimento Terra-Sol (ou seja, ficar na mesma posição inicial do ângulo de incidência da última Lua Nova, por exemplo).


      5° MITO: A Lua não possui rotação.

         As pessoas podem achar que a Lua não gira em torno do seu eixo por sempre estarem vendo a mesma face dela. Mas a Lua possui, sim, uma rotação própria, a qual completa uma volta em 27,3 dias. E você está se lembrando desse tempo? É o mesmo tempo que a Lua gasta para completar uma volta em torno da Terra. Portanto uma mesma face acaba sempre ficando de frente para o nosso planeta, enquanto a outra face fica voltada para o lado oposto, por causa da sincronia entre rotação e órbita terrestre. Por isso vemos sempre a mesma face da Lua e fica parecendo que esse corpo não possui rotação. E, nesse ponto, surge uma questão interessante: o fato da rotação e da órbita da Lua em torno da Terra terem a mesma duração é apenas uma gigantesca coincidência?

         Não. Quase todos os satélites naturais no nosso Sistema Solar possuem a mesma face sempre voltada para o seu planeta, sendo que a única exceção conhecida pelos astrônomos é Hipérion, um dos satélites de Saturno. O que está acontecendo é explicado pelo fenômeno conhecido como 'Fricção de Maré'. Assim como a Lua puxa timidamente um pouco da massa da Terra na sua direção por causa do seu campo gravitacional (4)contribuindo para a distribuição desigual de massa no nosso planeta -, a Terra também puxa parte da massa da Lua em sua direção, distorcendo um pouco a forma da Lua e criando nesta uma "saliência" apontando para cá. Essa saliência acaba tendendo a ficar alinhada com o nosso planeta, devido à gravidade, e ao longo do tempo foi gerando uma força que desacelerou a rotação da Lua até ela coincidir com o seu período de órbita em torno da Terra, em um estado chamado de 'Sincronização de Maré' e que demorou algumas dezenas de milhões de anos para ser alcançado.
        A Lua também gera uma fricção de maré na nossa rotação, mas como a diferença de massa (e, consequentemente, de campos gravitacionais) é muito grande, a desaceleração causada na nossa rotação é muito pequena, aumentando a duração do nosso dia terrestre em apenas alguns poucos milissegundos a cada século. É interessante apontar, nesse contexto, o caso de Plutão. O satélite natural de Plutão, Caronte, é tão grande e próximo do planeta-anão (!) que ambos acabaram ficando com a mesma taxa de rotação, ou seja, cada um deles mostra sempre a mesma face um para o outro!

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(!) É importante salientar que a classificação de Plutão como "planeta-anão" é questionada na comunidade científica. Aliás, é argumentado inclusive que a Lua é um planeta. Entenda: Decisão de excluir Plutão como planeta é baseada em folclore, astrologia, conclui estudo
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         Sobre a exceção citada, Hipérion, os outros satélites naturais de Saturno acabam causando efeitos gravitacionais tão grandes nesse satélite que a influência gravitacional de Saturno não é suficiente para levá-lo ao estado de sincronização. Hipérion, com isso, exibe um comportamento caótico de movimentação.

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CURIOSIDADE: É interessante também apontar que quanto mais próximo a Lua está da Terra, mais rápida é a rotação do nosso planeta, apesar do freio gravitacional inicialmente imposto pelo satélite. Isso ocorre, por causa da mudança exercida no modo como a Terra gira em torno do seu eixo (similar a um patinador que fica mais lento durante o giro quando abre os braços). E como a Lua está se afastando da Terra com o passar dos anos (8) - em um ritmo de 3,82 cm/ano -, isso impõe uma desaceleração extra que acaba compensando também seu afastamento (e consequente menor influência gravitacional). Além disso, os outros corpos no Sistema Solar - incluindo o Sol - também contribuem para modificar a taxa de rotação da Terra. Nesse sentido, um estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (Ref.14) encontrou que a Terra está adicionando 0,0000135 segundos à duração do seu dia todos os anos, uma taxa que continuará por milhões de anos. O estudo também mostrou que há 1,4 bilhões de anos, a distância Terra-Lua era em torno de 340900 km e que 1 dia terrestre durava cerca de 18 horas e 40 minutos.
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       6° MITO: Um dos lados da Lua está sempre escuro a todo momento, e, por isso, é chamado de Dark Side.

         Esse engano entra junto com o 5° mito. Como as pessoas acham que a Lua não possui rotação, um mesmo lado dela supostamente sempre ficaria na escuridão. Como já foi mostrado, a Lua possui uma rotação, e todos os seus lados recebem luz solar à medida em que ela gira em torno do seu próprio eixo. Esse termo Dark Side é usado para descrever apenas a face da Lua que fica oposta ao nosso planeta e que nunca fica visível, devido à sincronização de maré. Mas o termo que o astrônomos preferem usar é Far Side, ou seja, o lado que não fica no nosso alcance visual. 

         As únicas regiões da Lua que recebem muito pouca luminosidade solar são seus polos, onde os raios solares incidem com um ângulo muito estreito. Aliás, cientistas estimam de que as regiões mais escuras da Lua armazenam uma enorme quantidade de água congelada, protegida de ser varrida para o Espaço. 

            A primeira forte evidência nesse sentido veio com um estudo publicado em 2018 na Science Advances (Ref.17). Nesse estudo, pesquisadores mostraram que um meteorito lunar (NWA 2727), encontrado em um deserto no noroeste da África, possuía em sua constituição o mineral moganita, o qual é um cristal de dióxido de silício similar ao quartzo e formado na Terra como um precipitado quando água alcalina contendo dióxido de silício é evaporada sob condições de alta pressão. A existência de moganita na Lua fortemente implica a existência de água, e como o meteorito parece ter se originado em uma área conhecida como Procellarum Terrane, isso sugere que água pode estar presente em áreas de média e baixa latitudes, aprisionada e protegida no solo sublunar (evaporando ao interagir com forte luz solar e evaporando água em uma região de alta pressão para a formação de moganita).


          Em 2020, um estudo publicado na Nature Astronomy encontrou assinatura espectral conclusiva de água nos nas sombras de crateras na Lua. Para mais informações: Estudos revelam evidência de potencial água em abundância na superfície da Lua


        7° MITO: A Lua não possui gravidade e quando as coisas são jogadas em sua superfície ficam flutuando.

         Todo corpo com massa (5) gera gravidade. E quanto maior a massa, maior é o campo gravitacional. A Lua, bem menos massiva do que a Terra, possui uma gravidade com aceleração correspondente a 1/6 da nossa. Quando os objetos estão em queda livre na superfície lunar, eles apenas tendem a levar mais tempo para tocarem o chão quando comparado com a superfície terrestre. Como a atmosfera na Lua - chamada exosfera - é muito fina e extremamente rarefeita, resistência do ar é muito baixa, e, dependendo do formato do objeto (ex.: pena), a velocidade final de queda pode ser substancialmente maior na superfície lunar em comparação com a superfície terrestre. Elementos na atmosfera lunar incluem hélio, argônio, sódio e potássio..

        8° MITO: A Lua só fica visível à noite.

          A Lua pode muito bem ser vista tanto à noite quanto de dia. Porém, no período diurno, fica mais difícil observá-la por causa da claridade trazida pelo Sol (2). Precisamos ficar atentos apenas para duas exceções: Lua Cheia e Lua Nova. Como a Terra fica entre a Lua e o Sol na Lua Cheia, só vemos a Lua durante a noite, quando estamos opostos ao Sol. Já no caso da Lua Nova, como ela fica mais próxima do Sol - já que estará entre a a estrela e a Terra -, não será possível vê-la, nem à noite nem durante o dia. Nesse último caso, à noite, a Lua estará com o lado escuro voltado para nós, já que é o lado oposto sendo iluminado. Já durante o dia, a luminosidade da Lua será o reflexo da luz solar sendo refletida no nosso planeta; somando o fato da Lua estar mais próxima do Sol e refletindo uma menor luminosidade, temos como resultado prático que o satélite fica imperceptível à nossa visão.
          


          Nessa história, é válido esclarecer outra dúvida comum. Se a Lua está entre o Sol e a Terra durante a Lua Nova, e "atrás" da Terra em relação ao Sol durante a Lua Cheia, não era para termos eclipses lunares e solares duas vezes ao mês? Na verdade, isso não ocorre porque a Lua geralmente está acima ou abaixo da linha que atravessa a Terra e o Sol, ou seja, a Lua está em um ângulo distinto em relação ao plano de órbita da Terra em relação ao Sol. Apesar do eclipses ocorrerem apenas durante as Luas Cheias e Novas por razões óbvias, é preciso que a Lua esteja muito próxima do alinhamento com o plano Sol-Terra nesse período para que o evento seja suficientemente pronunciado.

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         9° MITO: A Lua se torna maior no horizonte porque ela está próxima da Terra. 
      
          Por razões não totalmente esclarecidas, quando a Lua está posicionada à noite no horizonte (não está alta), percebemos ela muito maior do que o normal e mais próxima. Uma explicação popular argumenta que a presença de objetos e pistas paisagísticas na frente da Lua como novas referências dimensionais (ex.: prédios e árvores) é responsável pela ilusão ao criar um contraste entre tamanhos angulares distintos; quando a Lua está alta no céu, e sem um óbvio comparativo ao seu redor, o efeito de ilusão desaparece. Porém, a Lua também fica aparentemente bem maior quando é observada em um horizonte de água (ex.: sobre o mar) ou na completa escuridão, sem óbvios objetos de referência ao redor, contradizendo a explicação anterior. Fatores como objetos referenciais, perspectiva aérea, brilho ou cor da Lua podem participar no sentido de realçar a ilusão, mas não parecem ser uma causa primária (Ref.21).

           Outra explicação tradicionalmente proposta sugere que o nosso sistema perceptual trata a Lua no horizonte como um objeto mais distante do que quando estava na posição elevada - criando no final uma ilusão de ampliação devido ao fato do tamanho angular permanecer o mesmo (Ref.22). No mesmo caminho, uma hipótese defende que a ilusão é causada por micropsia (percepção de um objeto menor do que seu real tamanho) e macropsia (percepção de um objeto maior do que seu real tamanho) oculomotoras (Ref.23). Ao ver a Lua no horizonte, músculos oculares ajustariam o foco visual em um infinito óptico, causando macropsia (diâmetro ocular do disco lunar maior do que 0,5°). No alto, sem nuvens ou outras pistas comparativas no céu, o foco não funcionaria bem, jogando os músculos oculares em um estado de descanso e implicando em uma distância do alvo (Lua) de ~1-2 metros; nesse sentido, como resultado, teríamos micropsia (diâmetro angular do disco lunar inferior a 0,5°). Porém, a ilusão reportada pela maioria das pessoas também caracteriza a Lua no horizonte como mais próxima. Experimentos apontam que a maioria das pessoas percebem um maior tamanho angular e maior proximidade da Lua no ou próximo do horizonte. É proposto que como a maioria dos adultos sabem que o tamanho do disco lunar é praticamente constante, a percepção de um disco maior no horizonte força uma interpretação conflituosa no cérebro de maior proximidade (Ref.24).

A ilusão de Ponzo tem sido também usada para tentar explicar a ilusão da Lua. Nessa ilusão, é demonstrado que a mente humana julga o tamanho de um objeto baseado no seu background; na imagem, duas barras de mesmo tamanho colocadas em diferentes posições associadas a duas linhas convergentes são percebidas pela nossa visão como possuindo dimensões distintas (a ilusão é quebrada quando as pistas no background são removidas). Ref.24

          Mais recentemente, pesquisadores propuseram um modelo mais complexo (Modelo Projetivo de Consciência) baseado em mudanças perceptuais de tamanho devido a mecanismos de escala dentro do cérebro envolvendo parâmetros geométricos tridimensionais, processos conscientes, pistas ambientais (conteúdo informacional) e minimização de energia livre (Ref.25). Esse modelo busca resolver contradições de hipóteses prévias, levando em conta também interpretações subjetivas variantes entre indivíduos.

        De qualquer forma, o fenômeno não tem nada a ver com a menor ou menor aproximação da Lua com o nosso planeta, e seu diâmetro angular no céu é aproximadamente o mesmo (~0,5°) tanto no horizonte quanto no alto celeste (!). O fenômeno é ilusório, e uma das mais antigas ilusões visuais conhecidas e debatidas. Independentemente da sua elevação no céu, o tamanho angular da Lua no olho permanece o mesmo; no entanto, no horizonte, a Lua parece ter até quase duas vezes o diâmetro em relação ao tamanho na posição elevada. E essa percepção ilusória de uma lua ampliada e mais próxima está associada a um aumento na atividade neural nas áreas do caminho visual ventral, incluindo os giros fusiforme e lingual; regiões no cérebro que dinamicamente integram distância e tamanho retinais parecem atuar de forma crucial na ilusão (Ref.26).

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> Famosamente, Immanuel Kant (1724-1804), em sua notável obra 'Crítica da Razão Pura' faz referência explícita à ilusão da Lua: "o astrônomo não consegue prevenir a si mesmo de ver a Lua maior no seu nascer do que algum tempo depois, apesar dele não ser enganado por essa ilusão" (Ref.27).

(!) Para acabar com a ilusão, basta estender um braço e fechar um dos olhos e comparar a Lua observada com o dedão estendido: a Lua percebida irá imediatamente encolher, e a ilusão retornará quando a pessoa voltar a observá-la normalmente.

> A ilusão da Lua também ocorre com o Sol observado no horizonte; ambos possuem um diâmetro angular de ~0,5° quando vistos da Terra que não muda ao longo do dia - aliás, esse é o motivo do eclipse solar total ocorrer.
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       Apesar disso, é verdade que a Lua pode ficar mais afastada ou menos afastada da Terra já que sua órbita é uma elipse, mas isso não resultará em dramáticas consequências relativas ao seu tamanho no céu. O momento em que a Lua fica com um real maior tamanho aparente é quando observamos o fenômeno chamado de Super Lua, com coincidência da fase de Lua Cheia e da posição na órbita elíptica mais próxima da Terra (perigeu; distância média de 362000 km; no apogeu - quando a Lua está mais distante - a distância média é de 405000 km). Essa coincidência faz a Lua ficar 30% mais brilhante e 14% maior no céu, mas ainda algo muito longe do efeito ilusório acima descrito (ampliação percebida de >1,5x). De forma similar, o diâmetro do disco solar visto da Terra muda menos do que 3,4% ao longo do ano.


Super Lua, essa da Lua emergindo atrás do Antigo Templo de Poseidon, na Grécia.


         10° MITO: A Lua é extremamente importante para a Terra, especialmente para manter a vida. Caso a Lua desapareça, uma tragédia ocorrerá.

         Bem, aqui temos que encarar esse questionamento de duas formas: (a) A Lua desapareceu de repente, ou (b) A Lua nunca existiu. Vamos analisar cada uma das situações:

a) Apesar de alguns ecossistemas restritos terem sido formados através da Lua por causa das marés, e muitos animais dependerem da luminosidade lunar durante a noite, a ausência da Lua provavelmente não seria sentida de forma brusca pela Terra em termos biológicos (6). Sem a Lua, mudanças ecológicas ocorreriam, mas não a um ponto de extinção em massa. As marés não sumiriam por completo, já que 1/3 da intensidade do fenômeno ocorre devido ao Sol. E mesmo se sumissem, isso provavelmente não seria algo desastroso. Também teríamos um maior número de asteroides e meteoroides atingindo a Terra em termos de probabilidade, já que muitos deles acabam atingindo a Lua ao invés da superfície terrestre. Um estudo publicado na Nature mostrou que o número de meteoritos atingindo a superfície lunar é maior do que antes estimado, um mínimo de 222 impactos nos últimos 7 anos (Ref.8). Mesmo isso sendo um aumento de ~33% em relação a estimativas prévias, não estaríamos enfrentando uma chuva de meteoros diários sem a Lua. No geral, é claro que teríamos danos ambientais em alguma extensão, mas muito longe de um apocalipse. E em relação ao planeta como um todo, ele continuaria tranquilo orbitando o Sol.

b) Aqui já temos um quadro mais interessante para ser analisado. Como não existe certeza no choque do corpo Theia com a Terra, para a formação da Lua, vamos ignorar isso (9). Vamos fingir que a Lua se tornou parte da Terra apenas como um corpo a deriva no espaço se juntando ao nosso planeta há bilhões de anos. Bem, vocês se lembram da fricção de maré, certo? Como a gravidade lunar é bem mais fraca do que a da Terra, a desaceleração causada na rotação do nosso planeta é bem pequena, cerca de 2 milésimos de segundo a cada 100 anos (10). Só que quando você coloca bilhões de anos nessa conta, os 2 milissegundos podem se transformar em boas horas. Portanto, a duração de 24 horas hoje para a Terra dar uma volta completa em torno do seu eixo (1 dia) provavelmente seria algo em torno de 6 horas segundo a estimativa de especialistas, ou seja, o planeta estaria rotacionando muito mais rápido sem o leve freio da Lua atuando ao longo das eras. Assim, a noite e o dia teriam uma redução drástica de duração, os ventos seriam mais rápidos e as tempestades mais fortes. Com certeza a dinâmica biológica aqui na Terra mudaria radicalmente. Sim, obviamente, quaisquer eventos de significativa importância podem ter grandes consequências, mas o ponto é que o ambiente para a vida no planeta mudaria drasticamente. E, mais uma vez, o planeta como um todo continuaria orbitando tranquilamente o Sol, só que como uma rotação bem mais rápida.

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(6) Existe uma hipótese para o surgimento dos tetrápodes terrestres (anfíbios, répteis, aves e mamíferos) a partir de peixes ósseos, baseada justamente nas marés. Para mais informações, acesse: Fortes marés podem ter fomentado a evolução de membros nos peixes, o primeiro passo para o surgimento do ser humano na Terra

(9) Theia seria um antigo corpo espacial do tamanho aproximado do planeta Marte que provavelmente teria colidido com A Terra de forma frontal (segundo análises do solo lunar trago pelas missões da Apollo 12, 15 e 17). Modelos desse evento mostram que os detritos resultantes podem ter se aglutinado em torno da nossa órbita para a formação da Lua, sendo que alguns estudos trabalham com a hipótese de terem existido dois satélites naturais formados no processo, e que mais tarde se juntaram em um único corpo. A hipótese da Theia não só explica a formação da Lua como também explica o porque do núcleo da Terra ser maior do que o esperado para uma corpo da sua dimensão, ou seja, é provável que o núcleo e manto de Theia tenha se fundido com o do nosso planeta. Anomalias [regiões rochosas de diferentes densidades] no manto da Terra parecem suportar a hipótese da Theia (Ref.28).

Ilustração de um corpo planetário do tamanho aproximado de Marte (Theia) se chocando com uma jovem Terra em formação há cerca de 4,5 bilhões de anos.


(10) A Lua está se afastando da Terra porque a energia retirada pela fricção de maré é passada para a órbita do nosso satélite, tornado esta maior. Fica também a sugestão de leitura: Por que os dias na Terra estão ficando mais longos?

> Um estudo publicado em 2017 na Nature (Ref.13) propôs um modelo alternativo de formação para a Lua, onde o nosso satélite natural teria sido formado por sucessivos impactos de corpos menores ao contrário do que propõe o atual modelo (um grande e único impacto com um corpo de gigantescas proporções). A hipótese da origem lunar que leva em conta um gigantesco e único impacto explica algumas coisas, mas é difícil conciliar as similaridades de composição da Terra e da Lua nesse caso sem violar momentos angulares esperados. Já a nova hipótese consegue conciliar satisfatoriamente ambos. Nela, vários impactos de menor proporção estariam formando um disco de detritos em torno da Terra, estes os quais, com o tempo, foram se juntando em uma massa maior, até formar a nossa atual Lua.

> Outro modelo alternativo envolvendo um grande impacto ("tipo-Theia") foi proposto em 2018 explicar a origem da Lua, envolvendo uma fase planetária especial conhecida como sinestia. Para saber mais, acesse: Cientistas criam um ousado modelo para explicar a origem da Lua

> Apesar de mais aceitos nas comunidades astronômica e planetária, modelos baseados em colisões entre a Terra jovem e um outro corpo planetário ainda continuam questionados. Um ponto levantado é o plano de órbita da Lua: se nosso satélite natural tivesse se formado a partir de uma colisão planetária - através da aglutinação dos detritos gerados -, sua órbita deveria estar acima do equador do planeta (onde maior massa terrestre é concentrada), e isso não é observado; a Lua está mais em linha com o Sol do que com o equador da Terra. Uma proposta teórica recentemente descrita no periódico The Planetary Science Journal (Ref.30) sugeriu que a Lua inicialmente fazia parte de um sistema binário com outro corpo, sendo eventualmente capturada pela gravidade da Terra.
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   QUAL A ORIGEM DO CAMPO MAGNÉTICO LUNAR?

           Apesar de atualmente a Lua não possuir um dínamo no seu núcleo capaz de gerar campo magnético, desde a Missão Apollo é sabido que a crosta lunar contém magnetização remanescente, com campos superficiais alcançando até centenas de nanoteslas ou mais e se estendendo por centenas de quilômetros. Estudos de amostras de rochas lunares indicam que o campo magnetizante associado provavelmente alcançou dezenas de microteslas antes de 3,56 bilhões de anos atrás. A origem desse campo magnético, porém, permanecia um mistério. Era sugerido duas principais possibilidades: campos criados por plasmas gerados pelos impactos de meteoroides ou campos gerados por um antigo dínamo no núcleo da Lua. 

          Recentemente, em um estudo publicado na Science Advances (Ref.18), pesquisadores demonstraram que embora os plasmas propostos serem capazes de aumentar de forma transiente o campo dentro da Lua, os campos magnéticos resultantes seriam, no mínimo, três ordens de magnitude mais fracos para explicar as anomalias magnéticas observadas na sua crosta. Segundo os pesquisadores, um antigo dínamo no núcleo lunar é a única fonte plausível da maior parte da magnetização observada na Lua.

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> Análise de amostras de solo lunar coletadas na missão Chang'e-5 apontam que existiu vulcanismo na Lua persistindo até 120 milhões de anos atrás, possivelmente relacionado ao aquecimento de fontes de magma no manto por elementos radioativos (ex.: tório). É bem estabelecido também que existiu ampla atividade vulcânica na Lua se estendendo de ~4,4 até 2 bilhões de anos atrás. Ref.29
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   "HOMEM FOI À LUA"?

          É uma eterna polêmica a questão da suposta ida de humanos à Lua. Todas as evidências e registros históricos mostram que  os astronautas Norte-Americanos realmente alcançaram e pousaram no nosso satélite lunar durante as missões Apollo, entre 1969 e 1972, mas mesmo assim existem diversas teorias da conspiração em torno dessa conquista espacial. Aliás, existem refletores posicionados na superfície lunar pelos astronautas, e esse é um dos meios como nós calculamos a distância Terra-Lua: através da reflexão de lasers emitidos aqui do nosso planeta nesses refletores (o tempo que eles demoram para ir e voltar da Lua).

         Talvez, a principal argumentação dos teóricos da conspiração é o porquê do governo dos EUA não ter mandado outras missões depois de 1972. Bem, isso pode ser explicado de forma simples: verba para investimento. Ora, hoje a NASA já enfrenta problemas de investimento em certas áreas, imagina financiar uma caríssima missão para a Lua. Durante a Guerra Fria, existia uma grande disputa ideológica entre URSS e EUA, e a corrida espacial era uma das grandes campanhas publicitárias entre os dois grandes polos de poder. Chegar primeiro à Lua era de extrema importância simbólica. O gigantesco investimento para as missões Apollo, portanto, era mais do que justificável para fins simbólicos.

        Um exemplo bem conhecido que corrobora a justificativa financeira por trás da inexistência de outros pousos na Lua pós década de 70, é a poderosa aeronave SR-71 Blackbird, criada também na década de 60 com propósitos de espionagem na Guerra Fria. O SR-71 detém até hoje todos os recordes de velocidade e altitude alcançada por um avião militar (9), mas como ele consumia quantidades absurdas de dinheiro para as suas missões e manutenção, ele foi completamente tirado de uso e aposentado na década de 1990. Tê-lo hoje em missões aéreas pelo mundo seria uma grande arma para os EUA, mas os custos não compensam mais, especialmente com o advento dos satélites.
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CURIOSIDADE: Como mencionado, durante a tão emblemática Guerra Fria, a Corrida Espacial foi um dos mais marcantes eventos representando a acirrada rivalidade entre EUA e União Soviética. Porém apesar dessa rivalidade toda na busca pelo pouso tripulado no nosso satélite natural, os Norte-Americanos e os Soviéticos estiveram próximo de estabelecerem uma cooperação nessa empreitada espacial. Mas esse plano acabou sendo enterrado com o assassinato do presidente John F. Kennedy em 1963. Para saber mais sobre essa história, acesse: EUA e União Soviética quase trabalharam juntos para a missão lunar
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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. http://moon.nasa.gov/moonmisconceptions.cfm
  2. http://adsabs.harvard.edu/abs/2011Natur.476...69J 
  3. http://www.seti.org/node/1458
  4. http://starchild.gsfc.nasa.gov/docs/StarChild/questions/question3.html
  5. http://imagine.gsfc.nasa.gov/ask_astro/night_sky.html
  6. http://starchild.gsfc.nasa.gov/docs/StarChild/questions/question32.html
  7. https://www.e-education.psu.edu/astro801/content/l1_p5.html 
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