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Plutão possui um oceano, conclui estudo


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            Há alguns anos, um grande mistério vem atormentando os astrônomos desde que fotos mais detalhadas do "coração" de Plutão chegaram da sonda New Horizons, da NASA. Nelas (como a exposta na imagem abaixo) podemos ver regiões em formato de placas, onde algumas delas são delimitadas por um material escuro. Essas deformidades na superfície foram apelidadas de Sputnik Planum (SP), em homenagem ao primeiro satélite artificial a orbitar o nosso planeta, mas ninguém tinha conseguido uma explicação plausível para a origem delas.


As placas estão presentes na região em forma de 'coração' no planeta, a qual foi formada, acredita-se, pelo impacto de um asteroide/Imagem em destaque: NASA


          Agora, um novo estudo publicado no periódico Geophysical Research Letters (Ref.1) defendeu a hipótese de que - com base em cálculos relativos às anomalias gravitacionais e massa associada ao SP - existe um oceano de água salgada por baixo da superfície gelada de Plutão. Com mais de 100 quilômetros de espessura, esse oceano seria o responsável pelos misteriosos padrões de deformidade na sua superfície! A composição desse oceano parece ter um perfil de salinidade similar ao nosso Mar Morto, ou seja, em torno de 30%. Isso reforça a ideia de água líquida no interior de Plutão já proposta por dados astronômicos prévios relativos à atividade térmica e tectônica desse planeta-anão, além da estranha deformação gravitacional gerada pela interação com o seu satélite, Charon (1). Somando-se a isso, o estudo também trouxe evidência de que SP parece, de fato, ter uma origem gerada por um impacto de um asteroide, algo desconfiado há um bom tempo pela comunidade científica.

            Apesar da hipótese ter recebido forte suporte científico com o novo estudo, nada por enquanto é conclusivo, mas o achado coloca Plutão junto com Europa (satélite de Júpiter) como candidatos a terem um oceano líquido salgado em seu interior! E o que mais impressiona é um oceano líquido tão longe do Sol, em um dos corpos mais gelados do nosso Sistema Solar. Mas, obviamente, deve ser pouco provável que Plutão, diferente de Europa, consiga sustentar qualquer tipo de vida em seu suposto oceano, considerando a composição do ex-planeta (2). 

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   (2) PORQUE PLUTÃO FOI REBAIXADO À PLANETA-ANÃO E OUTRAS CURIOSIDADES...

           O nosso ex-planeta mais distante do Sol, e novo candidato a ter água líquida em seu interior, foi rebaixado em 2006 ao título de planeta-anão pela União Internacional Astronômica (IAU). Mas qual foi a causa para essa decisão?

          O problema principal é o tamanho de Plutão. Para vocês terem uma ideia, ele possui apenas 2300 quilômetro de diâmetro, tamanho que não cobre nem metade dos EUA! Ele é até um pouco menor do que a nossa Lua. Por causa da sua pequena massa, e consequente baixa gravidade, Plutão não consegue "clarear" seu caminho de outros planetoides e corpo à sua volta. Existem 3 'planetas-anões'
em volta de Plutão e um dos seus 5 satélites naturais, Charon, é quase metade da sua massa! Ou seja, o centro de gravidade nem ao menos pertence ao corpo de Plutão (3). Portanto, existem diversos outros corpos tão grandes orbitando junto no Cinturão de Kuiper, próximos demais do ex-planeta. Um verdadeiro planeta precisaria estar praticamente sozinho em sua órbita, porque sua força gravitacional atrai todas as outras massas menores para perto dele (com o centro de gravidade concentrado nele), formando os satélites naturais (!). 


Os cinco satélites naturais de Plutão/Imagem: NASA

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(!) ATUALIZAÇÃO (08/09/18): De acordo com um estudo de revisão publicado no periódico Icarus, e realizado por pesquisadores da Universidade da Flórida Central (UCF), Orlando, as razões pelas quais Plutão perdeu seu status de planeta não são válidas. Para mais informações, acesse: Pesquisadores estão pedindo para que Plutão volte a ser classificado como planeta
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            Plutão possui outras interessantes características, além do seu provável oceano. Para começar, ele está bem distante do Sol, a uma distância média de 5,8 bilhões de quilômetros! A luz solar demora 5 horas e 30 minutos para alcançá-lo! Sua translação demora 248 anos para se completar sua rotação é cerca de seis vezes e meia mais lenta do que a da Terra (1 dia). E aí vem o primeiro fato interessante: sua órbita é bastante elíptica, assemelhando-se a uma ovo. Os outros planetas circundam nossa estrela quase como em um círculo. Com isso, durante sua translação, ele ora fica bem mais próximo do Sol, ora fica bem mais distante. Nesse sentido, é válido também mencionar que nos momentos de aproximação solar, ele fica bem próximo da própria órbita de Netuno! Porém, nesse caso, não há perigo de choque, nem mesmo com as perturbações gravitacionais de Netuno, pois ambos ainda ficam a uma distância bem grande um do outro.

         (1) E voltando ao seu satélite, Charon, ambos apresentam um peculiar padrão de movimentação.  Com uma gigantesca massa comparada com a do nosso planeta-anão, Charon está em uma espécie de "travamento" gravitacional com Plutão, onde ambos estão bem ligados um ao outro e possuem um movimento de rotação onde as mesmas faces se voltam um para o outro. Ou seja, enquanto os dois vão translacionando em volta do Sol e rotacionando em volta de cada um dos seus eixos, eles só observam o mesmo lado um do outro. E a linha de ligação entre eles coincide com a tão misteriosa região de SP, fazendo com que ocorra uma deformação de massa no local devido ao maior puxão gravitacional. Mas como os modelos teóricos não conseguem explicar a deformação específica que ocorre lá devido a esse fenômeno, isso também contribui para a suspeita de que existe um oceano de água líquida abaixo da superfície de Plutão, como dito anteriormente. 


Charon, à esquerda, e Plutão, à direita, possuem um movimento de "travamento" gravitacional


          Por estar bem distante do Sol e ter pouca atividade no interior do planeta (devido à baixa pressão exercida por sua pequena massa), Plutão é muito gelado em sua superfície (apesar de haver um enorme decaimento radioativo no seu interior, fornecendo significativo aquecimento). As temperaturas variam de um mínimo de 240°C negativos à um máximo de 218°C negativos, com uma média translacional de 229°C negativos! Era para se esperar que a diferença entre o máximo e o mínimo fosse maior, já que o planeta se aproxima e se afasta bastante do Sol. Mas, quando está afastado, sua fina atmosfera formada por gás nitrogênio, monóxido de carbono e metano, fica inteiramente congelada (sim, Plutão vira uma verdadeira "bola de gelo"), tal é o frio. Quando se aproxima do Sol, os gases congelados começam a sublimar (passam do estado sólido diretamente para vapor) e, nesse processo, retiram tanto energia do Sol quanto do planeta, resfriando-o tanto quanto está sendo aquecido pela radiação solar! O gás metano, de estufa, é que ajuda a dar uma aquecida a mais no planeta, fazendo as temperaturas variarem um pouco mais.

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           A sonda New Horizons continua mandando diversos novos dados e fotos do planeta, em um incessante trabalho de exploração. Lançada em 2006, ela chegou esse ano próximo ao planeta e está sendo uma das principais alegrias da NASA. Quando as análises e envio de dados terminarem, teremos uma visão completamente nova de Plutão e do nosso Sistema Solar! E já existe outro fato ainda a ser confirmado, mas já esperado pelos astrônomos: a existência de 'vulcões de gelo' no planeta. Enquanto nossos vulcões cospem lava super quente, os vulcões de gelo de Plutão parecem cuspir uma mistura gelada, parcialmente derretida, composta de substância como água, nitrogênio molecular e metano! 

> (3) Centro de gravidade é o ponto onde pode ser considerada a aplicação da força de gravidade de todo o corpo formado por um conjunto de partículas. Por exemplo, se dois corpos de massas iguais estão separados por uma distância x, o centro de gravidade desse sistema é na metade de x.


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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  1. http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/2016GL070694/abstract
  2. https://news.brown.edu/articles/2016/09/pluto
  3. http://www.nasa.gov/feature/frozen-plains-in-the-heart-of-pluto-s-heart
  4. http://www.nasa.gov/audience/forstudents/k-4/stories/nasa-knows/what-is-pluto-k4.html
  5. http://www.nasa.gov/press-release/from-mountains-to-moons-multiple-discoveries-from-nasa-s-new-horizons-pluto-mission/
  6. http://pluto.jhuapl.edu/