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Sabonete antibacteriano: vale a pena?


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         Não resta dúvidas de que o simples ato de lavar as mãos durante o dia é uma das melhores formas de prevenir a contaminação e transmissão de diversos germes entre as pessoas. Antes das refeições, então, é um método de higienização mais do que recomendado. Porém, existem confusões e preocupações com a forma como as pessoas lavam as mãos, e mais especificamente com o tipo de produto utilizado para essa limpeza. Nesse ponto, os especialistas e agências de saúde questionam veemente o uso dos famosos 'sabões antibacterianos', principalmente aqueles contendo triclosano como princípio ativo.

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          De início, vamos logo colocar algo bem claro: não existem evidências científicas de que sabões de uso doméstico rotulados de ´antibacterianos´ são mais efetivos do que os sabões comuns para a prevenção de doenças durante uma típica lavagem de mão. Ou seja, limpar as mãos com água e sabão é tão eficiente quanto usar um sabão "especial" lotado de substâncias suspeitas, como o triclosano. Se você quer uma limpeza mais efetiva, e que retire/mate um maior espectro de germes da sua mão, uma opção bem melhor e mais segura é o uso de soluções alcoólicas de limpeza. Com uma solução aquosa entre 60 e 95% de álcool (etanol, no caso), você realmente ganha um expressivo grau de higienização.

             Se os sabões contendo agentes bactericidas, especialmente o triclosano, apenas fossem  um golpe de marketing para enganar o consumidor, isso até poderia ser analisado com vistas mais grossas. Porém, diversos estudos ao longo dos anos vêm apontando riscos associados com o uso do triclosano, incluindo o aumento da resistência de bactérias no nosso corpo a diversos antibióticos, mudança na flora bacteriana do organismo, danos ao feto durante uma gravidez e alteração na função bioquímica de certos hormônios. E o pior: esses riscos viriam sem nenhum benefício adicional para você. 
O triclosano é uma substância encontrada em vários produtos de higiene pessoal, como algumas pastas de dente, certo cremes e, principalmente, nos sabonetes bactericidas

          Apesar dos efeitos negativos do triclosano só terem sido presenciados em animais de laboratório até agora, inclusive a promoção de certos tipos de cânceres, grandes estudos de longo prazo e abrangendo uma maior faixa de idade entre as pessoas ainda são escassos. Um recente artigo de revisão, publicado na Science (Ref.5), mostrou que cerca de 75% dos sabões bactericidas possuem triclosano e que, em 2008, foi detectado que cerca de 75% das amostras de urina nos EUA possuíam a substância, um número muito maior do que o imaginado. Isso significa que já estamos com esse composto muito bem incorporado no nosso corpo de tanto usá-lo ao invés da via tradicional de limpeza. Por causa disso, já existem banimentos parciais do uso de triclosano na União Europeia e no estado de Minnesota, nos EUA.

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          Em laboratório, a resistência bacteriana é facilmente demonstrada quando culturas de bactérias são expostas à substância, mas é preciso admitir que prejuízos em humanos são incertos. O triclosano é rapidamente absorvido pela pele e pelo trato gastrointestinal, sendo que além da exposição através do sabão, já encontramos ele também em água superficiais, subterrâneas e potável, devido ao amplo consumo de produtos contendo o composto. Um estudo também publicado recentemente na Science (Ref.11), utilizando modelos de ratos para colite e câncer de cólon, mostrou que a breve exposição de triclosano já é suficiente para causar danos no intestino, alterando a microbiota intestinal e aumentando os processos inflamatórios. Além disso, o estudo também mostrou que o triclosano aumenta a severidade dos sintomas de colite e promove o crescimento de células cancerígenas no cólon associadas à colite.

         Apesar de ainda existindo inconclusões dos riscos impostos pelo triclosano na população adulta, pesquisas sugerem que crianças e adolescentes são mais vulneráveis a perturbações na flora bacteriana no corpo, tornando o triclosano potencialmente perigoso para esse grupo. Outro bactericida bastante usado em produtos de limpeza é o triclocarban, o qual também impõe preocupações parecidas entre as agências de saúde internacionais quanto ao seu uso generalizado e abusivo dentro da população.


          Se possui riscos significativos ou não, não há dúvidas de que o triclosano ou o triclocarban deveriam ficar de fora da sua lista de compras no supermercado. Se não existem benefícios visíveis e práticos com o uso de ambos, não faz sentido arriscar sua saúde por nada. Sempre verifique na embalagem do sabão, ou outro produto de limpeza qualquer, se existem essas substâncias como ingredientes ativos e tente evitar a compra dos mesmos. Água e sabão tradicional já resolvem o problema, e, caso você queira uma maior efetividade higiênica, aposte em soluções de limpeza com álcool (etanol).

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(1) O triclosano age inibindo um passo final na síntese se um ácido graxo nas bactérias, prejudicando o funcionamento normal desses procariontes. Em pequenas concentrações ele freia o crescimento bacteriano. Em altas concentrações ele é bactericida. Mesmo possuindo esses efeitos, uma típica lavagem de mão que não dura mais do que 20 segundos não encontra reais benefícios adicionais com os sabões contendo essa substância. Tudo o que foi dito aqui também pode ser aplicado, em parte, ao triclocarban.


Artigo relacionado: O que são as superbactérias e a resistência bacteriana?


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  1. http://www.fda.gov/ForConsumers/ConsumerUpdates/ucm378393.htm
  2. https://www.betterhealth.vic.gov.au/health/conditionsandtreatments/antibacterial-cleaning-products
  3. http://ehp.niehs.nih.gov/wp-content/uploads/advpub/2016/2/ehp.1409637.acco.pdf
  4. http://www.cdc.gov/handwashing/show-me-the-science-hand-sanitizer.html
  5. http://science.sciencemag.org/content/353/6297/348.full
  6.  http://msphere.asm.org/content/1/3/e00056-15.abstract
  7. http://msphere.asm.org/content/1/3/e00089-16.abstract 
  8. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3037063/
  9. http://www.jimmunol.org/content/196/1_Supplement/191.21.short
  10. http://www.pnas.org/content/111/48/17200.short
  11. http://stm.sciencemag.org/content/10/443/eaan4116