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Fumo e uso recreativo da Cannabis: realmente seguro?


- Atualizado no dia 26 de agosto de 2025 -

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            O consumo de maconha (marijuana ou Cannabis) vem crescendo nos últimos anos e de forma sem precedentes, com um aumento estimado de usuários de 21% entre 2011 e 2021. Nos EUA, pesquisas apontam que mais do que metade da população já consumiu a droga em algum momento da vida e uma grande parcela é usuário frequente ou regular. Na Europa, é estimado que 24 milhões de adultos (7,2% da população Europeia) consumiram Cannabis em 2017. No Canadá, 12% dos adultos e mais de 20% dos jovens reportaram ter consumido Cannabis em 2017. Em 2021, é estimado que 219 milhões de pessoas redor do mundo (~2,7% da população mundial) usaram a droga, adquirindo-a de fornecedores legais ou ilegais.

          A alta demanda para fins recreativos e medicinais vem pressionando muitos países a legalizar ou descriminalizar o uso e o comércio da Cannabis. O Uruguai e o Canadá são dois países que legalizaram por completo a maconha nos últimos anos. Porém, em meio a esse movimento, a conscientização sobre os riscos ligados ao uso recreativo dessa droga não está sendo tão priorizado quanto deveria. Isso preocupa considerando que a prevalência estimada de uso de Cannabis é de 12% nos em países onde a Cannabis é legalizada, comparado com 5,4% em países onde o consumo é ilegal (Ref.86). 
 
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> Na parte final do artigo, um complemento sobre os benefícios do uso medicinal da Cannabis e as evidências científicas associadas.
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  CONSCIENTIZAÇÃO (Efeitos adversos da Cannabis)

          Considerando que o cigarro/tabaco, bebidas alcoólicas e produtos alimentares ultraprocessados são legalizados, por que não a maconha recreativa? Uso recreativo de Cannabis pela população adulta não parece fazer mais mal à saúde do que esses outros produtos danosos já legalizados. O real foco de preocupação não deveria ser a legalização ou descriminalização, e, sim, a conscientização. Com exceção do cigarro, grande parte do público não consegue ver os potenciais perigos por trás de produtos como álcool e ultraprocessados. Aliás, é amplamente ignorado que o consumo alcoólico é um dos principais fatores modificáveis de risco para o desenvolvimento de múltiplos cânceres (!).

(!) Para mais informações:

            Confundindo uso medicinal com uso recreativo, e sob a errônea premissa de que "tudo natural é saudável", muitos acreditam que o consumo de Cannabis é totalmente seguro e livre de efeitos adversos. Essa planta está associada a vários fitocanabinoides ativos que interferem com as funções cerebrais, em específico através do sistema endocanabinoide, vital para diversas atividades neurais (1). Enquanto componentes isolados e extratos derivados da Cannabis são promissores em terapias diversas, o uso indiscriminado e recreativo é de longe o mais popular e disseminado. Assim como os medicamentos tradicionais, a Cannabis pode trazer benefícios à saúde mental e física, mas em casos com real justificativa e orientação médica de uso (2). Esse último ponto precisa ser reforçado pelo fato de que o espectro de ações dos fitocanabinoides no corpo humano não são ainda totalmente esclarecidos.

(1) Sugestão de leitura:
(2-3) Leitura recomendada: 

           Outra preocupação é o nível crescente de delta-9-tetrahidrocanabidiol (THC) nos produtos canábicos. A erva da maconha vendida na Europa está ficando cada vez mais forte, onde a concentração de THC - principal fitocanabinoide psicoativo da maconha - aumentou de 5% em 2006 para 10% em 2016 (Ref.35). Já para a resina (hash), a concentração de 10% em 2011 aumentou para 17% em 2016. Os produtores e comerciantes estão produzindo derivados da maconha cada vez mais potentes para aumentar o preço de mercado desses produtos. Porém, para o canabidiol (CBD) - segundo principal fitocanabinoide na Cannabis, não-psicoativo, e ligado a diversas propriedades medicinais - esse aumento não acompanhou. Como o CBD possui o potencial de minimizar efeitos adversos do THC, como paranoia ou danos à memória, produtos de maconha mais potentes podem aumentar o risco de doenças psicóticas e danos no cérebro, especialmente em pessoas epigeneticamente suscetíveis, indivíduos com problemas mentais e idosos. Lipofílico, o THC possui uma meia-vida prolongada de 20-36 horas.


          De fato, um estudo pulicado no Journal of Psychopharmacology (Ref.60), usando dados de fMRI (imagem por ressonância magnética funcional), mostrou que quanto maior a quantidade de CBD na amostra de maconha, menores os prejuízos para as funções cerebrais, mesmo sem modificação dos níveis de THC, sugerindo uma ação neuroprotetora específica.

          Em indivíduos suscetíveis a transtornos psicóticos e em usuários pesados de maconha já existe sólida evidência de um maior risco de indução de psicose com o uso recreativo de Cannabis, como resultado de alteração no sistema de liberação de dopamina induzida por estresse (Ref.59). Quanto maiores as concentrações de THC, maior o risco associado. Isso foi realçado recentemente por um estudo de revisão sistemática que ligou o consumo de produtos com alta concentração de THC a um maior risco de esquizofrenia, psicose e outras condições mentais deletérias (Ref.88). 

          Além disso, o consumo indiscriminado e recreativo de Cannabis está associado com um aumento no risco de problemas cardiovasculares, distúrbios associados ao sono e ao desenvolvimento da síndrome da hiperêmese por canabinoide (4). Essa síndrome, apesar de relativamente rara, foi primeiro descrita em 2004 mas vem aumentando de prevalência, acompanhando o número crescente de usuários de maconha. A condição é uma manifestação caracterizada por sintomas como náusea, vômitos e dores abdominais, e de difícil tratamento (Ref.45). Sua causa ainda é incerta, mas parece estar envolvida com o sistema endocanabinoide. Em casos raros, o uso de Cannabis pode induzir catatonia em indivíduos suscetíveis (Ref.97).

(4) Leitura recomendada:


   ALERTA: DIREÇÃO!

           Outro ponto importante: é raro ver alguém mencionar que o consumo de Cannabis, devido ao THC, traz problemas de coordenação motora similares àqueles associados ao consumo alcoólico, sendo que dirigir ou realizar tarefas que exigem um ótimo senso motor e crítico não deve ser feito após o consumo dessa droga.



          Porém, ao contrário do consumo alcoólico, a relação entre consumo de Cannabis e efeitos deletérios na performance de direção é complexa, sendo incerta a concentração mínima de THC na corrente sanguínea suficiente para prejudicar a condução de veículos (Ref.78). De qualquer forma, dirigir é uma tarefa também complexa que requer total atenção do indivíduo para segurança e alerta. A Cannabis afeta áreas do cérebro que controlam os movimentos corporais, balanço, coordenação, memória e julgamento. Cannabis pode causar impactos deletérios em habilidades requeridas para uma direção veicular segura, incluindo (Ref.79): 

- redução do tempo de reação e da habilidade de tomar decisões;

- prejudicar a coordenação;

- e distorcer a percepção.

           Os efeitos psicoativos da inalação de Cannabis começam dentro de minutos de fumo ou vaporização e alcançam um pico após 3 horas, enquanto administração oral causa efeitos que começam em aproximadamente 1 hora e duram até 8 horas. Algumas evidências sugerem que a recuperação das habilidades de direção motora ocorre entre 3 e 5 horas após o fumo de maconha (Ref.78).

Leitura complementar:

          Um estudo publicado em 2019 no periódico Drug & Alcohol Dependence (Ref.46), e conduzido por pesquisadores da Universidade de Michigan, reportou que mais da metade das pessoas que utilizam maconha para o alívio de dores crônicas no estado de Michigan, EUA, dirigiam enquanto estavam sob o efeito da droga no mínimo uma vez nos últimos seis meses, e 1 em cada 5 desses usuários disseram ter dirigido após o uso pesado da droga. Sob a influência da maconha, o tempo de reação e a coordenação podem ficar substancialmente prejudicados, levando a acidentes, porém os usuários analisados, no geral, não sabiam que era arriscado dirigir sob o efeito dessa droga. Segundo os autores do estudo, o mais seguro a se fazer é evitar dirigir no dia de uso da maconha. No Colorado, EUA, após a legalização da maconha e aumento do consumo dessa droga, as taxas de acidentes automotivos aumentaram em 10% (Ref.55).

          Nesse mesmo caminho, um estudo de 2023 publicado no periódico Social Science & Medicine (Ref.74) encontrou um aumento médio de 10% nas mortes por acidentes veiculares associado aos mercados legalizados de uso recreativo de maconha nos EUA. Outros estudos mais recentes tem reforçado o alerta nesse sentido (Ref.80-83). Campanhas governamentais de conscientização mais efetivas sobre segurança de trânsito precisam acompanhar as tendências de legalização e de aumento de uso recreativo da Cannabis.

   
   ALERTA: GRAVIDEZ!

           O consumo de Cannabis durante a gravidez e a amamentação precisa ser evitado, porque o feto e o bebê ficam expostos ao THC e outros fitocanabinoides, um sério fator de risco para eventos adversos de neurodesenvolvimento. Mesmo produtos contendo apenas CBD não são aprovados pelas agências de saúde para uso na gravidez, e não existe evidência científica que comprova segurança para uso dessa substância por grávidas e lactantes (Ref.61-62). 

          A consequência da ausência ou insuficiência de conscientização? Nos EUA, 34-64% das mulheres usuárias de maconha continuam usando a droga durante a gravidez por acreditarem que o hábito é totalmente seguro (Ref.46). E o número de mulheres que acreditam que o uso regular de maconha é seguro durante a gravidez aumentou de 4,6% em 2005 para 19% em 2015 (Ref.46). Tem muitas pessoas inclusive recomendando o uso de Cannabis para mulheres grávidas visando aliviar enjoos no primeiro trimestre de gravidez. Já outras grávidas reportam o uso da droga visando diminuir o estresse e a ansiedade, ou mesmo para aumentar o apetite (Ref.65).

          O uso frequente de Cannabis - leve, moderado ou pesado - durante a gravidez é perigoso para o feto, e está associado a problemas de sono, nas funções cognitivas, nas funções executivas (lobo frontal) - racionalização, atenção, impulsividade, motivação - e sintomas afetivos (depressão) e de ansiedade ao longo do desenvolvimento da criança. Uma análise recentemente publicada no Birth Defects Research (Ref.57) reuniu estudos mostrando também que a exposição de maconha no período de gravidez pode levar a prejuízos morfológicos e comportamentais ao feto similares àqueles vistos no Espectro de Desordens Alcoólicas no Feto (FASD) (!). 

          Alguns especialistas, aliás, sugerem que parte do dramático aumento nas taxas de crianças diagnosticadas com autismotranstorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e outros problemas psiquiátricos nos últimos 20-30 anos pode ser resultado do aumento sem precedentes de grávidas usando Cannabis durante a gravidez, resultando em algo recentemente chamado de transtorno do espectro da cannabis fetal (Ref.48). Isso sem contar os danos aos fetos e bebês associados ao consumo da maconha através do fumo.

> Ao analisar os dados clínicos de 11489 crianças (5997 meninos, média de idade de 9,9 anos), e a exposição da mãe à maconha durante a gravidez, um estudo publicado em 2020 no periódico JAMA Psychiatry (Ref.69) encontrou que a exposição a essa droga persistindo mesmo após o conhecimento da mulher sobre a gravidez estava consistentemente associado a uma maior incidência de psicopatologias nas crianças (problemas de atenção, sociais, manifestações psicóticas, etc.).
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   ALERTA: INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA!
     
          O uso da maconha por adolescentes tem aumentado de forma preocupante nas últimas décadas. A atual prevalência global de uso da Cannabis entre adolescentes de 12 a 15 anos de idade pode ser tão alta quanto ~7% (Ref.87).

          Como o cérebro na adolescência (12-18 anos) está em um período final e crucial de desenvolvimento, interação de agentes externos com o sistema endocannabinoide pode trazer consequências cognitivas deletérias. Isso está sendo reforçando por estudos observacionais prospectivos e retrospectivos publicados nos últimos anos*. 

          De acordo com um estudo publicado na Molecular Psychiatry (Ref.51), analisando modelos de ratos, a exposição de adolescentes ao THC reduz as ramificações dos neurônios corticais pré-frontais e o número de estruturas críticas para a comunicação celular, conhecidas como spines. Além disso, o estudo mostrou que essa exposição está associada com uma reorganização da expressão de genes específicos que são predominantemente relacionados com o desenvolvimento neural, plasticidade sináptica e organização da cromatina (mecanismos epigenéticos). Essas redes genéticas afetadas pelo THC espelham àquelas no córtex pré-frontal de indivíduos com esquizofrenia.

          Em crianças, a exposição à maconha - ou aos seus derivados farmacológicos - sem nenhuma recomendação e acompanhamento médico deve ser evitado a todo custo. Aliás, em Massachusetts, EUA, após a legalização da maconha, os casos reportados de intoxicação por maconha de crianças e adolescentes dobrou (Ref.58). Uma recente meta-análise no periódico Addiction (Ref.75) encontrou que casos de intoxicação com Cannabis aumentaram significativamente após legalização do uso recreativo em diferentes países, e especialmente entre crianças. Ou seja, políticas nesse sentido precisam levar esses efeitos colaterais em conta de forma a fortalecer os mecanismos de regulação e de conscientização.

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MITO: É amplamente disseminada a ideia de que o uso de Cannabis não causa dependência química. Isso é falso, e pessoas suscetíveis podem ficar dependentes dessa droga. Aliás, um estudo recente de revisão sistemática e meta-análise (Ref.67) encontrou que 47% dos usuários regulares ou dependentes de maconha experienciam sintomas de abstinência quando resolvem parar ou diminuir o consumo. Esses sintomas podem incluir irritabilidade, raiva ou agressão, nervosismo ou ansiedade; distúrbios no sono; distúrbios no apetite ou na massa corporal; agitação constante; humor depressivo; e sintomas somáticos, como dor de cabeça, suor, náusea, vômito ou dor abdominal. Esses conjuntos sintomáticos caracterizam a síndrome de abstinência de Cannabis.
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*Leitura recomendada:
     
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   FUMO E FUMAÇA

          Os produtos da Cannabis derivados das folhas, flores ou resinas podem ser fumados, vaporizados, ingeridos (comestíveis e bebidas), ou absorvidos através da pele e superfícies mucosas através de cremes, adesivos ou spray. A forma mais popular de consumo é representada pelo fumo da planta através de baseados, bong e outros meios que usam combustão.

          Evidências arqueológica e fitoquímicas apontam que fumo de Cannabis tem sido realizado por humanos há pelo menos 2500 anos, com o registro mais antigo dessa prática associado a atividades ritualísticas e/ou religiosas no oeste da China, onde plantas do gênero eram queimadas em braseiros de madeira em cerimônias mortuárias. (Ref.54). E ainda hoje a principal forma de consumo recreativo da Cannabis é, de longe, via fumo. Embora muitos acreditem que apenas o fumo de tabaco é prejudicial à saúde, é importante realçar que TODO fumo é tóxico e produz substâncias carcinogênicas diversas. Fumo de maconha (ex.: baseado) está longe de ser seguro e, qualitativamente, não é menos tóxico do que o fumo de cigarro.

          Um estudo publicado no periódico Annals of Internal Medicina (Ref.28), envolvendo entrevista com mais de 16 mil adultos nos EUA, mostrou que grande parte dos participantes acreditavam que o fumo da maconha prevenia problemas de saúde, como dores (66%) e esclerose múltipla (48%), e que era eficaz no tratamento de condições como insônia, depressão e ansiedade (47%), mesmo sem suporte científico para tais alegações. No geral, ~29% dos participantes acreditavam que o fumo de Cannabis prevenia problemas de saúde. Além disso, uma parte considerável dos participantes acreditava que o uso da Cannabis era totalmente seguro (9%), não causava dependência (22,4%) e que a fumaça do fumo passivo dessa droga era mais segura do que aquela do fumo tradicional de tabaco ou completamente segura (18%). E, mais preocupante, 7,6% dos participantes acreditavam que a fumaça do fumo da maconha era segura para as crianças e 7,3% concordavam que era segura para mulheres grávidas.

           Outros estudos também apontam que percepção do público relativa à segurança do fumo de Cannabis (exposição primária e secundária à fumaça do baseado) é cada vez mais positiva (Ref.76).

          Quando partes de interesse da planta da Cannabis (ex.: flores) e o papel usado para enrolá-las são queimados, o perfil químico da fumaça resultante que é inalada e expelida é muito similar àquele do tabaco, e podendo ser mais tóxico em certos aspectos - em especial devido à típica ausência de filtro para barrar particulados gerados na combustão da matéria orgânica. Quantitativamente, em comparação com o cigarro, o fumo sem filtro de Cannabis resulta em:

-  mais alcatrão inalado;
- em 20 vezes, ou mais, de amônia
- em 3 a 5 vezes mais gás cianídrico, monóxido de nitrogênio, óxidos de nitrogênio (NOx) e algumas aminas aromáticas
- e maior concentração de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (benzopirenos, fenóis, etc.) na fumaça liberada na ponta do baseado, inalada indiretamente pelo usuário e pelo fumo passivo - especificamente, 50% mais benzopireno e quase 75% mais benzantraceno - e 20 vezes maior na inalação direta (Ref.64).

          Um estudo experimental publicado em 2020 na Scientific Reports (Ref.89) realçou a grande similaridade na fumaça produzida entre o fumo de tabaco e o fumo de Cannabis em termos de propriedades físicas e químicas. Na fumaça de baseado, os pesquisadores identificaram 2575 compostos diferentes, dos quais 110 são conhecidos de causar efeitos negativos na saúde através de mecanismos carcinogênicos, mutagênicos, teratogênicos e outros efeitos tóxicos. Desse total de compostos identificados, 69 estavam presentes também no fumo de tabaco. Particulados gerados eram significativamente maiores em tamanho no fumo de baseado.

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(1) Aliás, pessoas que fumam cigarros sem filtro possuem quase duas vezes mais chance de morte por câncer de pulmão e 30% mais chance de morte por todas as causas do que aqueles fumando cigarros com filtro. Ref.53

> Fumaça de cigarro é um fator de risco importante para exacerbação e controle ineficaz de asma, e o uso de Cannabis entre adolescentes e adultos nos EUA está intimamente ligado a quadros sintomáticos de asma no país. Ref.77

> Fumaça oriunda de queimadas e incêndios também é muito tóxica e é uma forma de exposição ao "fumo". Ao redor do mundo, anualmente, mais de 1,5 milhão de mortes é atribuída à poluição do ar associada às atividades de queima em áreas vegetadas. Ref.88
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          As substâncias tóxicas geradas no fumo de baseado são produtos de combustão incompleta e pirólise (reações químicas na presença de muito calor mas ausência ou concentração muito baixa de oxigênio). E, para piorar, quanto maior a concentração de THC na maconha sendo queimada, maior é a quantidade de compostos orgânicos da classe dos terpenoides produzidos, os quais são potenciais precursores de carcinogênicos (Ref.37).

Fumaça do fumo de Cannabis: tão tóxica quanto a fumaça do fumo de tabaco.
  
          Comparado com os usuários de tabaco fumado, os usuários de Cannabis normalmente fumam menos cigarros por dia, mas aproveitam mais do cigarro  (baseado), além de inalarem mais longamente e profundamente, prendendo a fumaça tóxica no pulmão por mais tempo. Além disso, muitos usuários da Cannabis fumada gostam de fumar em grupo e em locais fechados, o que aumenta a quantidade e a persistência de fumaça tóxica no ambiente, e a exposição dos usuários a substâncias tóxicas diversas.

            Estudos clínicos mostram que a quantidade de monóxido de carbono no corpo após o fumo da marijuana atinge níveis 4 a 5 vezes maiores do que após o fumo do cigarro, por causa da prática diferenciada de inalação. Somando a ausência de filtro nos cigarros de maconha, especialistas acreditam que um baseado é equivalente a 2,5-5 cigarros de tabaco em termos de obstrução do fluxo de ar e hiperinflação. 

           Nesse ponto, a ciência é clara: o fumo de Cannabis é muito deletério para o trato respiratório.

           Exposição à fumaça do baseado, bong e outros meios de fumo da Cannabis está associada a taxas aumentadas de sintomas respiratórios diversos e doença obstrutiva pulmonar crônica. Essa fumaça irrita a árvore brônquica, aumenta a suscetibilidade a infecções respiratórias e está fortemente associado com sintomas de bronquite crônica, com sinais histológicos de inflamação das vias aérea (Ref.98). Além disso, evidências acumuladas nas últimas duas décadas apontam risco aumentado para desenvolvimento de enfisema pulmonar, doença intersticial pulmonardoenças periodontais, pneumotórax espontâneo, pneumonite por hipersensibilidade e doenças cardíacas (Ref.22-24, 32, 72, 93-94, 98).

          Em um estudo publicado em 2022 no periódico Radiology (Ref.71), pesquisadores encontraram que inflamação das vias aéreas e enfisema são mais comuns em fumantes de maconha do que em fumantes de cigarro, provavelmente devido ao modo como a Cannabis é fumada (inalação profunda e retenção prolongada da fumaça) e à ausência de filtro. Foram analisados no estudo 56 fumantes de maconha, 33 fumantes apenas de cigarro e 57 não-fumantes (grupo de controle). Do total de fumantes de maconha, 75% tinham enfisema (doença pulmonar que causa dificuldade respiratória), em especial enfisema parasseptal.


Na imagem A, imagem por tomografia computacional (CT) coronal de um homem de 44 anos fumante de maconha, com enfisema parasseptal (setas vermelhas) nos lobos bilaterais superiores.

 
Raio-X do peito de um paciente com doença obstrutiva pulmonar crônica demonstrando hiperinflação dos pulmões. O paciente - um homem de 64 anos - fumou Cannabis através de um bong de vidro 3-5 vezes por dia ao longo de 35 anos, e não possuía outros fatores relevantes de risco para o desenvolvimento da doença, como fumo de tabaco. Diagnóstico médico apontou obstrução severa causada por um quadro de enfisema bolhoso. Ele parou de fumar maconha à medida que seus sintomas respiratórios pioraram. Ref.100


Mais informações:

           Apesar disso, evidência ligando o fumo regular de baseado ao risco aumentado de câncer de pulmão - entre outros cânceres - é ainda limitada (Ref.38). Estudos são escassos nesse sentido, mas têm apontado que o fumo de Cannabis ativa caminhos carcinogênicos e atua como um fator de risco significativo para câncer de pulmão (Ref.38, 84, 96, 98).

          De notável destaque, um estudo publicado em 2024 no periódico JAMA Otolaryngology – Head & Neck Surgery (Ref.85) analisou 20 anos de dados médicos associados a mais de 116 mil adultos nos EUA com idade média de ~46 anos. A análise encontrou que adultos com dependência de Cannabis (transtorno do uso de Cannabis) são 3,5 a 5 vezes mais prováveis de desenvolver câncer de cabeça e de pescoço do que aqueles que não usam a droga. "Câncer de cabeça e de pescoço" engloba vários tipos de cânceres, incluindo câncer de boca, faringe, laringe, orofaríngeo (língua, amígdala, e parte de trás da garganta) e glândulas salivares adjacentes. Para câncer orofaríngeo, o risco era aumentado em >8 vezes. Os autores do estudo sugeriram que a razão primária dessa associação é o efeito carcinogênico do fumo, já que esse é o método primário de consumo da Cannabis, e apontaram fatores previamente mencionados que podem tornar a fumaça do baseado ainda mais prejudicial do que aquela produzida pelo fumo de tabaco:

- ausência comum de filtro;
 inalação mais profunda;
 maior temperatura de queima, aumentando o risco de inflamação pró-carcinogênica.

           Um estudo mais recente publicado no periódico Preventive Medicine Reports (Ref.86) encontrou um risco >3 vezes maior de câncer oral dentro de 5 anos para indivíduos com transtorno do uso de Cannabis em comparação com a população sem a condição.

          E assim como no caso do cigarro, o fumo passivo (secundário) da maconha torna-se também um problema, principalmente para grávidas, lactantes e crianças. Ignorando a toxicidade da fumaça produzida pelo fumo de baseado, pais e adultos em geral podem estar expondo crianças ao perigo sem saber. Um estudo de 2018 (Ref.40) apontou que nos EUA o fumo de maconha no ambiente doméstico por pais com crianças dentro de casa aumentou de 4,9% em 2002 para 6,8% em 2015, em uma tendência inversa à observada em relação ao fumo de tabaco.


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   VAPORIZADORES (E-CIGARRO)?

          Fumo e vaporização da Cannabis são ambos métodos de inalação que garantem rápido início de ação e duração curta dos efeitos psicoativos comparado com a ingestão oral. Enquanto o fumo utiliza altas temperaturas (~600-900°C) que levam à combustão e à inalação de muito monóxido de carbono e outras toxinas (benzeno, tolueno, alcatrão, amônia, etc.), a vaporização aquece o material canábico a temperaturas mais baixas (~160-230°C) que criam um vapor que reduz de forma significativa a produção de toxinas. Embora muitos considerem a vaporização da Cannabis uma alternativa mais segura ao fumo, evidência científica de suporte para essa alegação é limitada (Ref.91). Complica a questão a grande variedade de dispositivos de vaporização que nem sempre são regulados.


Vaporizador portátil na foto. Vaporizadores têm sido considerados a opção mais segura para a inalação de Cannabis, no sentido de reduzir danos. Esses dispositivos aquecem o material canábico até temperaturas abaixo do ponto de combustão (<400°C), permitindo a evaporação de canabinoides sem gerar fumaça. Usam um microprocessador para o controle térmico. Importante alertar que enquanto o fumo libera apenas 30% do THC disponível na Cannabis através do processo de descarboxilação, vaporizadores liberam ~80%. É preciso reduzir a quantidade de Cannabis consumida ao se usar esses dispositivos. Ref.92

> No contexto do consumo de Cannabis, descarboxilação é o processo de aquecer o ácido tetrahidrocanabinólico (THCA) para remover um grupo carboxila, convertendo-o em THC (forma psicoativa). Sem processamento térmico, apenas THCA é encontrado na Cannabis, uma substância sem atividade psicoativa.

          Os vaporizadores aquecem a flor seca ou concentrados sólidos de Cannabis (ex.: cera e resina seca) - esses últimos comumente contendo concentrações muito altas de THC (40-95%), e frequentemente excedendo 80%. A flor seca geralmente contém menos de 30% de THC após processamento térmico. Isso é importante de notar à medida que a maioria dos eventos adversos associados com o uso de Cannabis são dependentes do nível de exposição ao THC. Nesse sentido, é preferível o uso de flor seca para fins medicinais ou recreativos.

          Quanto aos cigarros eletrônicos (e-cigarros), as evidências acumuladas deixam claro que esses dispositivos estão longe de seguros e estão ligados a sérias complicações pulmonares quando envolvem extrato de Cannabis (!). 





          É preciso tomar cuidado também com uma forma de consumo de maconha ficando cada vez mais popular: o dabbing ou a vaporização do óleo de haxixe, extraído da Cannabis através do butano como solvente. Essa prática, consiste em colocar pequenas quantidades do óleo - a dab - sobre uma superfície aquecida para a inalação do vapor resultante. O processo, além de gerar altos níveis de canabinoides, também produz benzeno e outras substâncias potencialmente cancerígenas (Ref.26).

           Essas formas de consumo que expõem o usuário a níveis maiores de THC estão associadas a taxas maiores e efeitos mais intensos de ansiedade, paranoia, perda de memória e distração, especialmente para usuários de primeira viagem ou que não usam a droga com regularidade (Ref.36). Esse alerta é aumentado no contexto de produtos canábicos cada vez mais fortes (maior nível de THC) no mercado.

          Preocupação similar recai sobre os bolinhos, chocolates, bebidas e outros produtos comestíveis de Cannabis, porque as quantidades adicionadas de THC e outros canabinoides podem ser muito grandes e provocar intoxicações ou sérios problemas neurológicos a curto, médio e longo prazo. É preciso ficar atento ao comprá-los.

          Para exemplificar, um caso clínico descrito no periódico Canadian Journal of Cardiology (Ref.49). No caso, um paciente cardíaco estável, de 70 anos de idade, desenvolveu uma forte dor no peito e isquemia do miocárdio após consumir a maior parte de um pirulito de maconha. O doce continha 90 mg de THC, e estava sendo vendido para o alívio de dor e auxílio para o sono, mas acabou levando o paciente a um ataque cardíaco potencialmente fatal. Além disso, o status funcional e capacidade de exercícios do paciente pioraram após o evento. Tipicamente, um baseado leva à assimilação de 7 mg de THC e uma dose de dronabinol (Marinol) - THC sintético que visa náuseas e o estímulo de apetite - contém cerca de 2,5 mg de THC. Esse é também mais um alerta sobre os variados produtos de maconha feitos sem fiscalização, sem controle de qualidade e sem mínima referência médica.


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   USO MEDICINAL

           Real uso medicinal da Cannabis envolve compostos isolados ou extratos da planta com doses controladas, visando tratamento de doenças e sob orientação médica, tipicamente através de administração oral.

         Em junho de 2018, por exemplo, o FDA (Agência de Drogas e Alimentos dos EUA) aprovou o primeiro medicamento a base de canabidiol (CBD) para o tratamento de convulsões associadas com duas raras e severas formas de epilepsia em pacientes com dois anos de idade ou mais (Ref.30). Porém, a agência de saúde deixou claro que só aprovou esse composto específico da planta (isolado) e na forma de um medicamento - conhecido como Epidiolex - seguramente administrado por profissionais de saúde. E essa aprovação só saiu após rigorosos testes científicos de eficácia e segurança (estudos clínicos de alta qualidade). Dosagens mínimas com o efeito terapêutico pretendido foram estabelecidas, efeitos colaterais foram listados e potenciais interações medicamentosas foram investigadas.

          Por exemplo, apesar do CBD ser considerado seguro, existe evidência experimental que esse composto aumenta de forma significativa e prolongada a pressão intraocular (Ref.33). Já o THC está associado com significativa redução na pressão intraocular. Portanto, para pacientes com glaucoma, CBD pode não ser uma boa escolha terapêutica. E válido também mencionar que uma significativa parcela da população possui alergia à Cannabis, incluindo crianças (Ref.43-44).

 Leitura recomendada:





          Portanto, o uso medicinal da Cannabis - independentemente da forma - precisa ser feito sob orientação médica, onde o profissional de saúde capacitado analisará os riscos e benefícios para cada paciente e com referência na literatura médica. Isso é de especial importância no caso de pacientes pediátricos e com histórico pessoal ou familiar de psicose e outras condições psiquiátricas. Caso contrário, temos um uso indiscriminado, potencialmente abusivo e possivelmente deletério da planta ou dos seus derivados. 

          Esse último cenário de uso possivelmente deletério também é aplicado para pacientes sob terapia canábica - geralmente para alívio de dores - e que acabam aproveitando para fazer uso recreativo, sem respeitar as doses terapêuticas orientadas (Ref.47)

 

COMPLEMENTO: Evidências Positivas no Uso da Cannabis no Tratamento de Enfermidades
  • Ataques epiléticos, com casos de sucesso no tratamento através do uso de CBD, exibindo melhores resultados do que outros fármacos usados para o mesmo fim. Aliás, o primeiro medicamento aprovado pelo FDA a base de canabidiol - Epidiolex - é justamente para o tratamento de quadros epiléticos em crianças associados às síndromes de  Lennox-Gastaut e Dravet, e evidências mais recentes sugerem que extratos integrais da Cannabis podem ser muito eficazes contra formas resistentes de epilepsia infantil (Ref.70).
  • Câncer, em relação ao efeito de aumento da fome nos pacientes com doenças cancerígenas e ao alívio do sofrimento durante as sessões de quimioterapia. Porém, outros fármacos podem ter eficácia similar ou maior nesse contexto;
  • Glaucoma, onde o THC reduz de forma significativa a pressão intraocular. Porém, vários outros medicamentos são mais eficientes nesse sentido;
  • AIDS, onde, assim como no câncer, os pacientes ficam mais dispostos a comer e ganhar peso, melhorando os prognósticos da doença;
  • Esclerose Múltipla, no alívio dos sintomas associados, como rigidez muscular. E, como existem poucos tratamentos disponíveis para a doença, o uso de extratos da Cannabis pode ser promissor para esse fim;
  • Dores crônicas e inflamações, mas, nesse caso, apenas efeitos positivos limitados e específicos têm sido encontrados, sendo frequentemente difícil dissociar o efeito clínico de um placebo (Ref.66,73). Em conjunto com outros medicamentos voltados para esses problemas, no entanto, estudos sugerem que a Cannabis pode agir no sentido de potencializá-los. Uma exceção notável é o alívio de inflamações intestinais, via ação de certos canabinoides da Cannabis que simulam os efeitos de  endocanabinoides naturalmente presentes no corpo, estes os quais atuam com ação anti-inflamatória nas células epiteliais que revestem a parede do intestino (Ref.31). Existe também evidência de que pacientes com anemia falciforme que usam Cannabis medicinal requerem menos hospitalizações devido ao alívio de dores crônicas associadas à doença (Ref.32).
  • Depressão: Um estudo realizado por pesquisadores da USP, e publicado em 2018 no periódico Molecular Nuerobiology (Ref.52), mostrou que o canabidiol é efetivo no tratamento de quadros depressivos, pelo menos em roedores. Doses únicas desse canabinoide eram suficientes para eliminar os sintomas depressivos no mesmo dia de aplicação e manter os efeitos benéficos por uma semana.
  • Autismo: Evidências clínicas acumuladas desde 2013 fortemente sugerem que os extratos de Cannabis enriquecidos com canabidiol podem ser efetivos e relativamente seguros para o alívio de sintomas centrais associados ao espectro autista. Para mais informações, acesse: Maconha é eficaz no tratamento do autismo? 
  • Agressividade: Os resultados de um estudo publicado no periódico Neuro-Pysychopharmacology and Biological Psychiatry (Ref.56) mostraram - com base em experimentos realizados com roedores - que o cannabidiol pode inibir agressividade ao facilitar a ativação de dois receptores: o receptor 5-HT1A, responsável pelos efeitos do neurotransmissor serotonina, e o receptor CB1, responsável pelos efeitos de endocannabinoides. Testes clínicos em humanos precisam ser realizados para confirmar se os mesmos efeitos são observados na nossa espécie.
  • Insônia: Pacientes com insônia que usam produtos medicinais baseados em Cannabis reportam melhor qualidade de sono após até 18 meses de tratamento (Ref.99). Mas estudos clínicos de maior porte e melhor qualidade são necessários para esclarecer a real eficácia de terapias canábicas para esse fim. 
Leitura complementar:



> Sempre houve dúvida se a Cannabis exercia, de fato, efeitos terapêuticos contra a epilepsia. Nesse sentido, um rigoroso estudo clínico, publicado no The New England Journal of Medicine (Ref.25) acabou com a dúvida, pelo menos em termos de efeitos a curto prazo. Para isso, 120 crianças e adolescentes com Síndrome de Dravet, uma devastadora forma de distúrbio epiléptico, receberam uma solução oral de canabidiol, um componente da marijuana, enquanto um grupo de controle recebeu um placebo. Para aqueles que receberam a solução de canabidiol, o número de ataques epilépticos por mês foram cortados pela metade, na média - com 5% dos pacientes ficando livres dos mesmos no período de estudo -, comparado com um declínio praticamente inexistente no grupo que recebeu o placebo! Porém, apesar do grande efeito positivo do canabidiol, algumas crianças tiveram efeitos colaterais fortes o suficiente para fazerem as mesmas abandonarem o tratamento, incluindo vômitos e produção excessiva de enzimas hepáticas. Os estudos continuam, para analisar os efeitos a longo prazo do canabidiol e o porquê de algumas crianças não responderem bem ao tratamento.

          Aliás, um estudo piloto publicado no periódico Journal of the American Veterinary Medical Association (Ref.63) trouxe evidência de que o CBD é efetivo também para tratar cães com epilepsia. A epilepsia idiopática (sem causas determinadas) afeta até 5,7% da população de cães domésticos ao redor do mundo, tornando-a a mais comum condição neurológica canina. O estudo clínico envolveu 17 cães (7 sob placebo), e encontrou que 89% dos cães tratados com CBD (0,3% THC) tiveram uma redução significativa na frequência de ataques epilépticos.

> Existe a alegação de que a Cannabis pode ajudar no tratamento da dependência em cocaína. No entanto, um estudo brasileiro de 2020 trouxe evidência contrária à alegação. Para mais informações: Segundo estudo, maconha não ajuda e pode piorar o quadro de viciados em cocaína





IMPORTANTEPara o uso medicinal, é o canabidiol (CBD) a substância bioativa geralmente mais visada para fins terapêuticos - um fitocanabinoide sem efeito psicoativo. O tetraidrocanabinol (THC), apesar de ser talvez um componente farmacológico tão ou mais importante dependendo do fim terapêutico, possui sérios efeitos colaterais que precisam ser cuidadosamente considerados por um profissional de saúde antes do uso, especialmente em crianças, adolescentes e pacientes com psicose ou histórico familiar de psicose. Pesquisas recentes têm mostrado que a maior parte dos produtos sendo vendidos para uso médico, relacionados ao canabidiol, estão sendo muito pouco regularizados, com muitos contendo quantidades significativas de THC e estas sendo administradas até em crianças. Ref.27, 50

Curiosidade: No Brasil, antes de ser criminalizada a partir da década de 1930, a Cannabis era usada como remédio no século XIX e início do século XX, e era amplamente comercializada em farmácias. Preparados com extrato da planta eram recomendados por médicos, por exemplo, para cuidar de espasmos e dores da "bexiga". Existe evidência histórica de que a criminalização da Cannabis para fins terapêuticos teve como base justificativas racistas. Para mais informações: Maconha já foi remédio no Brasil do século 19

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