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Cigarros eletrônicos são realmente seguros?

     
- Atualizado no dia 3 de dezembro de 2023 -

          IMPORTANTE: Grávidas e crianças NÃO devem ficar expostos aos vapores dos cigarros eletrônicos!

         Muita gente confunde, mas o que causa toda a toxidade cancerígena do cigarro é a inalação da fumaça gerada pela queima do tabaco, e não a nicotina, a qual, apesar de tóxica, não é cancerígena (!). A nicotina preocupa mais pelo forte vício durante o fumo de tabaco, mas a sua toxicidade pode ser extremamente prejudicial em certas situações, como na gravidez e na infância, independentemente da quantidade. Nas crianças, essa substância afeta o desenvolvimento cerebral. Na gravidez, diversos problemas podem atingir o feto em desenvolvimento. Três estudos recentes reforçam o quão prejudicial a nicotina pode ser durante a gravidez:

I. O primeiro estudo publicado na Stem Cell Reports (Ref.33) mostrou que 3 semanas de exposição das células embrionárias do feto à nicotina danifica a comunicação celular, diminui a sobrevivência das células, e altera a expressão de genes que regulam funções críticas, como as contrações do músculo cardíaco.

II. O segundo estudo, publicado no periódico Pediatrics (Ref.35) mostrou que a exposição do feto à nicotina aumenta em até três vezes o risco de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

III. Já o terceiro estudo, publicado no periódico HeartRhythm (Ref.39) mostrou que a exposição do feto à nicotina pode aumentar substancialmente o risco da síndrome da morte súbita infantil, ao causar alterações de longo prazo na corrente cardíaca de sódio. Essas alterações podem prejudicar a resposta do músculo cardíaco à adrenalina e explicar porque alguns bebês não acordam ("reflexo de ressurreição") durante um evento sufocante de apneia.

          Durante a amamentação, a nicotina também não deve ser usada. Estudos experimentais em animais também sugerem danos ao desenvolvimento craniano e facial do bebê para mulheres consumindo nicotina durante a amamentação (Ref.54).

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(!) Porém, existem evidências mais recentes de que a nicotina promove metástase de cânceres para o cérebro. Danos cardiovasculares também estão fortemente associados à nicotina. Para mais informações, vá até as atualizações no final deste artigo.
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          Existem várias alternativas para cortar o fumo do tabaco sem eliminar o consumo de nicotina, como chicletes, adesivos, e o recente e controverso cigarro eletrônico (ou e-cigarro), o qual foi introduzido no mercado em 2007 e vem crescendo colossalmente em vendas nos EUA e já considerado uma moda na Europa. Além de alegadamente não aumentarem o risco de doenças cancerígenas relacionadas ao uso do cigarro de tabaco tradicional, os preços do e-cigarro acabam sendo mais lucrativos ao consumidor a longo prazo. Hoje a indústria do e-cigarro - em grande parte pertencente à indústria do tabaco - é um negócio multi-bilionário, associado a um mercado global de US$10 bilhões  (56% desse mercado presente apenas nos EUA) em 2015. Porém, todo esse sucesso vem atraindo não só fumantes a experimentarem o produto, mas também não fumantes. Nesse sentido, torna-se mais do que pertinente a pergunta: essa alternativa ao fumo é segura?

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   CIGARRO ELETRÔNICO

          O cigarro eletrônico (ou vaper) é um dispositivo cujo objetivo é simular o 'ato' de fumar. O cérebro condiciona o ato de assimilar nicotina com a ação de puxar a fumaça do cigarro e ter este em mãos, deixando as pessoas dependentes - e que buscam abandonar o fumo - geralmente em grande estresse quando apenas mascam um chiclete de nicotina ou colocam os adesivos na pele contendo essa substância. O cigarro eletrônico, à princípio, acaba com parte desse problema.

          O líquido do e-cigarro é uma mistura de solventes orgânicos (ex.: propileno glicol e glicerina, os quais tipicamente constituem 66% e 24% do líquido, respectivamente), flavorizantes e concentrações variadas de nicotina - além de contaminantes. Quando aquecida, a mistura orgânica líquida de baixo ponto de ebulição arrasta a nicotina para ser aspirada pelo usuário, simulando a fumaça do cigarro tradicional, mas com a vantagem de ser, alegadamente, muito menos tóxico aos pulmões e ao organismo em geral. Além disso, esses dispositivos possuem a forma física e outras características visuais similares a um cigarro comum, reforçando a simulação do fumo tradicional. Os dispositivos também podem ser usados para outras substâncias de abuso, como a maconha (ou Cannabis), eliminado a necessidade de "queimar o baseado".

O cigarro eletrônico - também conhecido como dispositivo eletrônico para fumar (DEF) -, pode ser dividido em quatro partes: A. Normalmente onde fica um LED vermelho para imitar o brilho vermelho intenso (queima) na ponta causado pela aspiração do cigarro comum; B. É onde fica a bateria; C. É onde fica a mistura líquida do solvente e nicotina, o qual será aquecido por meio de um aquecedor alimentado pela bateria; D. É onde o vapor produzido será aspirado.

          Um notável estudo publicado em 2019 no New England Journal of Medicine (Ref.31) encontrou que os cigarros eletrônicos são quase duas vezes mais efetivos em ajudar os fumantes de cigarros tradicionais a abandonarem o hábito. Analisando dois grupos de 886 voluntários fumantes, aleatoriamente distribuídos, 18% daqueles usando o e-cigarro alcançaram a abstinência do cigarro dentro de 1 ano, enquanto 9,9% alcançaram a abstinência com tratamentos tradicionais. No grupo usando tratamentos tradicionais, a escolha do método de entrega da nicotina (sprays, chicletes, adesivos, etc.) ficou a escolha de cada voluntário. Ambos os grupos receberam suporte comportamental de especialistas.

          Porém, as evidências clínicas favoráveis ao uso do e-cigarro para pessoas buscando cessar o fumo com cigarro tradicional têm sido muito conflitantes nos últimos anos.

           Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade do Estado de Ohio, EUA, e publicado no periódico Nicotine & Tobacco Research (Ref.38), analisando 617 usuários de tabaco, não encontrou diferença na taxa de abandono dos cigarros tradicionais entre aqueles utilizando apenas cigarro e aqueles utilizando tanto cigarro quanto e-cigarro ao final de 18 meses. Enquanto que nos primeiros 6 meses aqueles usando ambos os produtos conseguiram abandonar o cigarro mais facilmente do que aqueles não usando e-cigarro, no final de 18 meses a taxa daqueles que conseguiram abandonar o cigarro não foi diferente entre os dois grupos. Segundo os pesquisadores, a diferença inicial observada pode ser devido ao maior interesse dos participantes em abandonarem o fumo, mas com esse desejo perdendo a força a longo prazo. Muitos que tinham abandonado o cigarro ao utilizarem o e-cigarro acabaram voltando ao fumo.

           Em um estudo publicado em 2021 no JAMA Network Open, pesquisadores não encontraram nenhuma evidência de que usar e-cigarro ajuda no abandono do fumo de tabaco, pelo contrário, parece contribuir para o aumento de risco de relapso. Para mais informações, acesse: Quase 2 mil compostos químicos foram identificados nos cigarros eletrônicos, alertam cientistas.

          Em um estudo publicado em 2022 no periódico Tobacco Control (Ref.63), analisando dados acumulados no PATH Cohort Study (2017-2019), encontrou que o uso de e-cigarro pode resultar em menor efetividade no sentido de abandonar o uso de cigarro tradicional em comparação a outros métodos tradicionais, como terapia de substituição de nicotina. Os pesquisadores encontraram que o e-cigarro estava associado com 7 menos tentativas efetivas para cada 100 indivíduos tentando abandonar o fumo do que outras intervenções. Além disso, aqueles que conseguiram abandonar o fumo de cigarro com o e-cigarro não eram menos suscetíveis ao relapso do que outros casos de sucesso que usaram outros métodos.

           Um estudo mais recente também publicado no periódico Tobacco Control (Ref.79), analisando dados do Cohort PATH Study, encontrou que um aumento na venda nos EUA de e-cigarros com alto conteúdo de nicotina em 2017 não resultou em mais usuários de cigarro tradicional usando esses produtos para parar de fumar. Na média, usar e-cigarro para cessar o hábito de fumo em 2017 não foi uma estratégia efetiva e não preveniu relapsos.

          Independentemente do balanço de evidências, em todos esses estudos os autores reforçam que os riscos à saúde associados ou potencialmente atribuídos aos cigarros eletrônicos não podem ser ignorados. Ou seja, muitas pessoas tentando largar o vício do cigarro com o e-cigarro podem estar se expondo a inúmeras toxinas com efeitos adversos de médio e de longo prazo pouco esclarecidos sem sólido suporte científico de eficácia contra o tabagismo. Além disso, outro problema ainda persiste: o usuário de e-cigarro continua exposto à viciante e tóxica nicotina.

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RELEVANTE: A indústria do tabaco hoje possui enorme interesse na "indústria do e-cigarro", e tenta recuperar das grandes perdas que sofreu com as efetivas campanhas antitabagistas. Quanto mais viciados em nicotina, melhor para essa indústria, a qual já possui controle de grande parte das empresas de e-cigarro, e é estimada de crescer $47 bilhões de dólares nos EUA até 2025 (Ref.67). Algumas das maiores marcas de e-cigarro, como a BLU, pertencem a uma gigante do tabaco. TODAS as grandes companhias de tabaco controlam pelo menos uma marca de e-cigarro.

Principais marcas de tabaco e de e-cigarro das companhias transnacionais de tabaco (Ref.78). 

> É relevante apontar que autoridades públicas na Inglaterra têm sido fortemente favoráveis à comercialização de e-cigarros como tratamento para a cessão do fumo tradicional, apesar das evidências muito limitadas nesse sentido e os riscos à saúde pública. O relatório que subsidiou esse posicionamento do governo Inglês foi duramente criticado em 2015 em um editorial do periódico The Lancet por usarem referências não científicas, usarem poucas referências, por problemas na formação dos grupo de especialistas consultados, ignorarem ressalvas colocadas em uma referência e a principal referência utilizada possuir conflito de interesses. Isso sugere forte influência de lobby. ReferênciaPor que os cigarros eletrônicos são uma ameaça à saúde pública? 
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   DISPOSITIVOS SEGUROS?

              Além da controvérsia relativa ao uso de e-cigarros no combate ao uso de cigarro tradicional, existe a tendência dos fabricantes, ilícitos ou não, de aumentar a quantidade de nicotina nos cigarros eletrônicos, tanto para manter um público mais cativo quanto por pura negligência,  aumentando a toxicidade desse composto no organismo. A marca JUUL, por exemplo, é um notável exemplo nesse sentido, com produção de recargas com alto conteúdo de nicotina e apelativo aos jovens. Esse último problema torna-se pior ainda quando passamos a considerar outras drogas mais fortes - adicionadas e-cigarro para serem inaladas - e a falta de uma fiscalização rígida por parte dos órgãos reguladores. E o líquido contendo a nicotina dentro dos dispositivos pode ser acidentalmente ingerido ou acabar caindo sobre a pele se vazado. Com isso, altas doses de nicotina podem acabar sendo absorvidas pelo corpo, o que pode causar problemas graves. Acidentes como este já foram registrados e associados a grandes danos aos usuários.
 
Sem uma suficiente fiscalização, e limites impostos por lei, os líquidos de vapor podem conter quantidades excessivas de nicotina ou presença de outras substâncias nocivas; além disso, acidentes de ingestão ou contato na pele com eles são comuns e perigosos

          Somando-se a isso, é geralmente subestimado ou ignorado que e-cigarros que funcionam a base de bateria de lítio frequentemente entram em combustão e/ou explodem. Segundo um estudo publicado no periódico Tobaco Control da BMJ (Ref.37), só nos EUA, de 2015 a 2017, foram reportados 2035 visitas a departamentos médicos de emergência por causa de acidentes desse tipo. E como nem todas as pessoas que sofrem danos nesses acidentes vão ao serviço médico, esse número é provavelmente muito subestimado. As explosões dos e-cigarros já resultaram em danos severos, incluindo queimaduras de terceiro grau, lacerações, perda de partes corporais (incluindo olho, língua, dedo, osso mandibular e dente), e até mesmo morte (Ref.50).

          Deixando agora de lado os acidentes de uso, a simples ideia de que o e-cigarro pode ser menos nocivo do que o fumo tradicional é suficiente para atrair um número gigante de novos usuários, criando ainda mais viciados. As pessoas que antes ficavam receosas em começar o vício por causa da fumaça altamente cancerígena do cigarro comum, acabam sendo incentivadas a entrar na onda dos cigarros eletrônicos, principalmente pelo fato da maioria vendê-los como algo muito seguro. Essa irresponsável promoção pode inclusive induzir o uso futuro de outros produtos contendo nicotina pelos usuários viciados, como o próprio cigarro. Evidências sugerem que a chance de um jovem começar a fumar cigarros convencionais quadruplica com o uso de e-cigarros (Ref.51). Esse cenário de "abertura das portas" para o fumo de tabaco com o uso de e-cigarro por adolescentes tem sido consistentemente reforçado por múltiplos estudos nos últimos anos (Ref.80).

          Nesse sentido, um estudo publicado em 2019 no PLOS ONE (Ref.27), mostrou que o número de adultos que saem do vício do cigarro com o uso dos cigarros eletrônicos não é muito significativo a longo prazo (> 1 ano) e que 1,5 milhões de anos de vida podem ser perdidos por causa do crescente aumento de usuários adolescentes e jovens adultos desses dispositivos que eventualmente se tornarão fumantes de cigarros tradicionais.
 
          Fabricantes inescrupulosos estão investindo pesado em propagandas que possuem adolescentes e pré-adolescentes como alvo, produzindo líquidos de vaporização com odores doces e atrativos aos jovens. O objetivo, claro, é produzir fiéis (viciados) consumidores adultos. Segundo o FDA (Agência de Drogas e Alimentos dos EUA) (Ref.21), em 2018 o número de estudantes do ensino fundamental e médio nos EUA usando os cigarros eletrônicos atingiu a absurda marca de 3 milhões. Atualmente, cerca de 1 em cada 4 estudantes Norte-Americanos finalizando o ensino médio são usuários desses produtos, representando um aumento de uso sem controle e mais uma horda de futuros viciados em nicotina. Entre os jovens em geral, nos EUA, o uso dos e-cigarros aumentou cerca de 900% entre 2011 e 2015. Desde 2017, o número de adolescentes usando esses produtos dobrou (Ref.44), e considerando os últimos cinco anos, o número de adolescentes com 14 anos de idade ou menos usando esses produtos mais do que triplicou (Ref.48). E essas estimativas podem estar subestimando muito o real número de usuários adolescentes desses produtos, por causa da alienação causada pela marca Juul (Ref.52).

          Ações mais rígidas estão entrando em vigor nos EUA e em diversos outros países onde o número de usuários desses aparelhos explodiu (!). As propagandas cada vez mais pesadas realçando a suposta segurança no consumo desses produtos está incentivando cada vez mais pessoas a se tornarem novos viciados.

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(!) O FDA, no dia 2 de janeiro de 2020, proibiu a venda de e-cigarros nos EUA com flavorizantes que não sejam tabaco ou mentol (Ref.53). Aromas doces e apelativos para as crianças e adolescentes, como chocolate e frutas, não serão mais tolerados, e as penalidades para infrações serão severas. 

> De 2013 até 2017, as vendas de e-cigarro quase dobraram nos EUA, um dramático aumento associado com um rápido aumento de consumo desses produtos entre adolescentes. Ref.79
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            E sobre a "fumaça" gerada pelos e-cigarros, a comunidade médica realça que não existem estudos suficientes avaliando os potenciais efeitos de longo prazo dos vapores orgânicos no corpo humano. Pelo contrário, muitos trabalhos científicos têm estabelecido uma forte ligação entre a exposição dos aerossóis desses produtos a células humanas e o risco aumentado de cânceres, lesões e doenças pulmonares, e problemas cardiovasculares (Ref.66, 82). Evidências mais recentes apontam risco elevado inclusive para pré-diabetes (Ref.61). Outros trabalhos têm mostrado que quanto maior a tensão ("voltagem") aplicada no e-cigarro - a maioria dos dispositivos disponibilizam tensões entre 3,5 e 5V, sendo estes valores diretamente proporcionais à quantidade de vapor e, consequentemente, de nicotina/etc. sendo inalados - , maiores as quantidades de formaldeído produzidas, substância a qual é cancerígena. Outros componentes tóxicos são também apontados pelas agências internacionais de saúde e estudos laboratoriais presentes no vapor gerado pelos cigarros eletrônicos, como nitrosaminas, dietileno glicol, partículas de metais (como cobre, níquel, chumbo, cádmio, arsênio e cromo) e oxidantes - esses componentes podem estar presentes no fluído ou nas estruturas do dispositivo (Ref.62). 


O cigarro eletrônico imita o ato do fumo, iludindo o cérebro, e evita a fumaça da combustão; mas será que a "fumaça" substituta é segura? Além de significativa redução nos níveis circulantes de monóxido de carbono (CO), é incerto também se o uso combinado de cigarros eletrônicos e cigarros tradicionais reduz os danos causados pelo fumo (Ref.81).

          Nesse último ponto, um estudo publicado no periódico Chemical Research in Toxicology, utilizando técnicas avançadas de análise química, encontrou centenas de compostos químicos no líquido e nos vapores gerados de e-cigarros não descritos ou reportados pelos fabricantes, incluindo compostos industriais e cafeína. As pessoas estão usando cigarro eletrônico e inalando inúmeras substâncias pouco caracterizadas e potencialmente nocivas. Para mais informações, acesse: Quase 2 mil compostos químicos foram identificados nos cigarros eletrônicos, alertam cientistas          

          E não só o vapor do e-cigarro é tóxico. Os flavorizantes quase sempre utilizados junto com esses produtos - primariamente diacetil e 2,3-pentanediona - são também potencialmente tóxicos. Um estudo publicado em 2019 na Scientific Reports (Ref.34) mostrou que células epiteliais expostas a esses compostos podem ser danificadas via mudança na expressão de genes que interferem na função e na produção de estruturas ciliadas vitais para o tecido pulmonar. Já um estudo publicado no JAMA Internal Medicine (Ref.44) encontrou que três principais marcas de cigarro eletrônico forneciam líquidos de recarga com altos níveis de um aditivo alimentar banido e potencial carcinogênico em humanos, conhecido como pulegona. Um estudo mais recente publicado no periódico eLife (Ref.64), analisando ratos, concluiu que diferentes flavorizantes alteram de forma deletéria o status inflamatório de múltiplos órgãos, incluindo cérebro, coração e cólon; essas alterações, potencialmente patológicas, são uma preocupação em especial para o cérebro em desenvolvimento de adolescentes e jovens adultos.

          Um estudo publicado na Scientific Reports (Ref.59) mostrou que os usuários de e-cigarros experienciais um padrão similar de mudanças (78,8% de similaridade) em genes regulatórios comparado a fumantes de cigarro tradicional (apesar de mudanças transcriptômicas serem mais extensas nesses últimos). O e-cigarro, assim como o cigarro tradicional, está associado com desregulação de genes mitocondriais e disrupção de caminhos moleculares envolvidos na imunidade e na resposta inflamatória, os quais são fundamentais no desenvolvimento de doenças. De forma similar, evidência mais recente também aponta que o uso de cigarro eletrônico está associado com disfunção erétil, independentemente de idade, doença cardiovascular, e outros fatores de risco (Ref.60).

           Talvez um estudo mais recente publicado no periódico Circulation (Ref.65) resuma bem todas essas evidências de efeitos deletérios do uso de e-cigarro. Os pesquisadores encontraram que pessoas usando concomitantemente cigarros tradicionais e cigarros eletrônicos não reduzem o risco de doenças cardiovasculares comparado com pessoas que usam cigarro tradicional de forma exclusiva. Para essa conclusão, foram analisados mais de 24 mil adultos, com dados coletados de 2013 até 2019.

           A falsa sensação de segurança passada pelo marketing dos e-cigarros leva muitos pais a ignorarem a presença dos filhos ou do ambiente familiar na hora de usarem o e-cigarro, expondo grávidas, crianças e até mesmo animais domésticos à nicotina e aos vapores tóxicos. Um estudo publicado na Pediatrics (Ref.36) mostrou que apenas 19% dos usuários exclusivos de e-cigarros e 21% dos usuários de e-cigarros e cigarros tradicionais - de um grupo de 750 participantes Norte-Americanos - não utilizam o dispositivo dentro de casa, junto às crianças. E 56% dos usuários de ambos os grupos reportaram usar o e-cigarro inclusive dentro do carro com a família.

          Com base nas evidências científicas acumuladas até o momento, especialistas pedem inclusive a derrubada do factoide promovido em 2013 - até mesmo por agências de saúde do Reino Unido - de que "os cigarros eletrônicos são 95% mais seguros do que os cigarros tradicionais". Para mais informações sobre essa questão, acesse: Cigarros eletrônicos são '95% mais seguros' do que cigarros tradicionais? Balela. A Organização Mundial de Saúde (OMS) também concorda, e declarou em 2020: "Não existe dúvida de que os cigarros eletrônicos são prejudiciais à saúde e não são seguros, mas é também muito cedo para fornecer uma resposta clara sobre os impactos de longo prazo associados ao uso ou à exposição" (Ref.49).

         (!) ATENÇÃO: No final deste artigo, mais evidências estão sendo adicionadas sobre o tema, destacando novos estudos sobre a segurança dos cigarros eletrônicos. O acúmulo de evidências até o momento mostra que os e-cigarros estão longe de serem seguros, e muitos especialistas questionam se esses dispositivos são uma aceitável alternativa para quem quer largar o cigarro tradicional.


> PNEUMOTÓRAX ESPONTÂNEO

          Lesões pulmonares associadas com o uso de cigarros eletrônicos se manifestam de formas diversas, incluindo pneumonite hipersensitiva, hemorragia alveolar difusa (incluindo tosse com sangue), pneumonia lipoide, pneumonia intersticial de células gigantes e pneumotórax espontâneo (Ref.68-73). Entre as condições mencionadas, nos últimos anos vários relatos de caso têm reportado o desenvolvimento de pneumotórax explosivo, estabelecendo o cigarro eletrônico como um forte fator de risco para essa rara doença (Ref.74-76). Dor torácica e dispneia são os sintomas mais frequentes.

           Pneumotórax refere-se à presença de ar na cavidade pleural. Pneumotórax espontâneo (PE) é um pneumotórax que ocorre sem uma causa óbvia. A maioria dos casos de PE são classificados como primário, no qual o paciente não possui doença pulmonar concomitante, ou secundária, na qual o paciente possui alguma doença como asma, fibrose cística, infecção, malignância, ou má-formações congênitas na população pediátrica. A PE é mais comum em pacientes jovens e previamente saudáveis, com fumo de tabaco ou de maconha representando historicamente o principal fator de risco para a condição. O PE geralmente ocorre com o paciente em repouso, raramente durante exercício. Dor torácica e dispneia são os sintomas mais frequentes. A dispneia normalmente é proporcional ao tamanho e à velocidade de acúmulo do pneumotórax e à reserva cardiopulmonar do paciente. A dor torácica caracteriza-se por ser aguda e ipsilateral (localizada em um lado do pulmão).

            O e-cigarro é também um importante fator de risco da PE devido a provavelmente três mecanismos (Ref.77): (i) danos alveolares devido às toxinas inaladas resultando na formação de bolhas pleurais; (ii) disrupção das células mesoteliais viscerais levando à formação de camadas porosas inflamatórias elasticofibróticas; e (iii) padrões anômalos de respiração durante a inalação do vapor de e-cigarro, aumentando a pressão positiva nas vias aéreas. 

           O PE associado com o cigarro eletrônico tipicamente requer tratamento interventivo e possui uma alta taxa de recorrência. A radiografia simples do tórax geralmente confirma o diagnóstico através da presença de faixa de ar entre a parede torácica e/ou diafragma e a pleura visceral. Abandono do e-cigarro e tratamento precoce com procedimentos incluindo toracoscopia por tubo e intervenção cirúrgica são necessários na maioria dos casos para prevenir recorrências.

           Quando a pressão intrapleural do pneumotórax se eleva para níveis acima da pressão atmosférica, o desvio de mediastino contralateralmente pode causar pinçamento das veias cavas e obstruir o retorno venoso ao coração, com consequente diminuição importante do débito cardíaco. Neste caso o paciente pode desenvolver dispneia intensa e instabilidade hemodinâmica grave. Essa condição constitui o pneumotórax hipertensivo, uma verdadeira emergência médica que necessita de intervenção rápida para aliviar a pressão intrapleural (punção com agulha, por exemplo), ou pode levar ao óbito do paciente.


> MISTERIOSA DOENÇA PULMONAR

           Especialistas têm investigado uma grave e misteriosa doença pulmonar que fez centenas de vítimas nos EUA e que está diretamente ligada ao uso de e-cigarros. Segundo o CDC (Centro de Controle e de Doenças dos EUA) (Ref.40), até o final de junho de 2020 foram acumulados 2807 casos registrados da doença em 49 estados. Desse total, 68 mortes foram confirmadas. Vários dos casos envolveram a aspiração, via vapor dos solventes orgânicos do e-cigarro, de THC, o principal componente ativo da maconha. porém, casos também foram registrados entre usuários de THC e de nicotina, e entre aqueles que reportaram uso apenas de nicotina.

          Os pacientes vítimas da misteriosa doença tinham idades entre 17 e 38 anos, a maioria homens. Os sintomas apresentados incluíam tosse, dor no peito, febre, dificuldade respiratória, fatiga e, em alguns casos, vômito e diarreia. Os sintomas se desenvolviam de forma aguda (alguns dias) ou de forma crônica (semanas). Muitos pacientes sofreram graves colapsos pulmonares e precisaram de intubação e ventilação mecânica.. Não existem evidências de uma doença de natureza infecciosa - causada por vírus ou bactérias, por exemplo - como responsável, mas todas possuem uma causa comum e estão provavelmente associadas com exposição de agentes químicos, segundo o CDC.

          Autoridades chegaram a ordenar testes de laboratório dos líquidos usados para a geração de vapor dos e-cigarros usados pelos enfermos visando a a identificação de componentes tóxicos para o tecido pulmonar. Um dos principais suspeitos é o acetato de vitamina E, mas nenhum composto específico comum para todos os casos foi ainda identificado. Existe também um "mercado negro" para a venda de recargas contendo THC para esses produtos, onde muitas são suspeitas de não serem reguladas.

         Ainda não existe uma definitiva e sólida relação de causalidade entre a misteriosa doença e os e-cigarros, porém as evidências até o momento claramente corroboram esse cenário. Todos os pacientes possuem um histórico de uso do produto 90 dias antes da doença ter se manifestado e alguns relataram terem manifestado os sintomas respiratórios no dia seguinte à utilização dos e-cigarros, ou ao longo de poucos dias durante o uso. E é possível que os casos reportados possam estar ocorrendo bem antes da investigação do CDC ter sido iniciada, e não terem sido reportados ou associados aos e-cigarros. E lembrando que danos pulmonares de moderados a graves, e outros efeitos adversos à saúde, comprovadamente infligidos pelos e-cigarros têm sido reportados por inúmeros estudos.

          Análises dos casos também mostraram padrões patológicos associados ao uso do e-cigarro, incluindo pneumonia eosinofílica aguda, dano alveolar difuso, e pneumonia lipoide (Ref.41). Outros tipos de danos também foram encontrados, como pneumonites de hipersensibilidade, hemorragia alveolar difusa e pneumonia intersticial de células gigantes. Médicos tratando os pacientes atingidos pela doença - sendo referenciada como Vaping-Induced Lung Injury, devido à óbvia ligação com os e-cigarros - estão emitindo alertas reforçando que os e-cigarros não são produtos inofensivos e que as pessoas devem evitar utilizá-los.

          Em um reporte no periódico New England Journal of Medicine (NEJM) (Ref.43), médicos identificaram uma característica antes não reconhecida nos pacientes afetados pela misteriosa doença. Dentro dos pulmões desses pacientes foram observadas grandes células imunes contendo numerosas gotas oleosas, chamadas de macrófagos lipídio-carregados.



           Poderiam os macrófagos estarem limpando resíduos introduzidos pelos vapores do e-cigarro? Seria uma nova forma de pneumonia lipoide engatilhada pelo e-cigarro?

          Por outro lado, um estudo realizado por pesquisadores da Mayo Clinic, analisando a biópsia do tecido pulmonar de 17 pacientes, todos suspeitos de terem desenvolvido a doença associado aos e-cigarros, não encontrou evidência de danos causados pela acumulação de lipídios, e, sim, danos químicos diretos, similares aqueles em indivíduos expostos a fumaças tóxicas, gases venenosos e agentes tóxicos. Os pesquisadores mais uma vez alertaram sobre os perigos dos e-cigarros, cujos líquidos de vaporização podem conter qualquer coisa, especialmente porque não são minimamente regulados. Os achados foram publicados no NEJM (Ref.46). Outro estudo também no mesmo periódico (Ref.47) analisando 19 imagens de tomografia computadorizada sugeriu diferentes mecanismos de danos, o que corrobora talvez um cenário com múltiplos agentes tóxicos (incluindo o acúmulo de lipídios).

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> Para quem possui um bom domínio de inglês, vídeo da University of Utah Health, onde médicos e pacientes descrevem a doença e alertam sobre os perigos do e-cigarro: U of U Health

> Mais uma gravíssima doença pulmonar associada ao uso de e-cigarros foi reportada no Canadá. Para saber mais, acesse: Não vale a pena usar cigarro eletrônico, afirmam cientistas
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   CONCLUSÃO

          E-cigarros NÃO são produtos seguros, e devem ser evitados por grávidas, crianças e adolescentes. Mesmo seu uso no combate ao uso de cigarro tradicional é questionado. Muitos novos viciados em nicotina estão sendo iniciados através desses produtos, especialmente entre os adolescentes e jovens adultos. E existem várias evidências de que a indústria do e-cigarro está acobertando e buscando conscientemente esse público mais jovem e ainda não escravizado pela nicotina. A situação piora com recentes surtos de misteriosas e sérias doenças pulmonares afetando vários usuários nos EUA e no Canadá.

          No final, vale lembrar que drogas viciantes serão sempre drogas viciantes e prejudiciais. A única maneira de combater  o vício é prevenindo-o através da conscientização da população desde a infância. Dica: entre escolher o cigarro comum e o eletrônico, escolha não começar a fumar.



Propaganda típica dos cigarros eletrônicos: "Fumar não é mais bacana... Faça a troca para os cigarros eletrônicos" 

IMPORTANTE: Grávidas não devem usar esses produtos por causa dos efeitos adversos que a nicotina pode ter sobre o feto, sem contar outras toxinas potencialmente danosas ao corpo que estão presentes no vapor gerado pelo aparelho. O mesmo vale para crianças.

OBSERVAÇÃO: Aproveitando o assunto, é bom esclarecer algo importante. Muitos acham que o cigarro de palha, só por ser feito de modo natural, é mais benéficos ou até mesmo completamente inofensivo à saúde. Ledo engano. Os cigarros de palha por não possuírem filtro fazem mais partículas tóxicas irem direto para o seu corpo. Além disso, eles possuem quantidades muito maiores de nicotina do que o cigarro comum, causando uma maior dependência e envenenamento causados pela substância em excesso. Conclusão: eles acabam sendo até piores do que o seu primo industrializado.  A única "vantagem" do cigarro de palha é que estes tendem a ficar apagando toda hora, porque a palha de milho usada para embalá-lo é péssima para manter uma combustão contínua. Isso induz o usuário a não consumi-lo à exaustão. E esse alerta também é válido para o fumo da maconha (Sugestão de leitura: Fumo e uso recreativo da maconha: Lobo sob pele de Cordeiro).

       
(+ EVIDÊNCIAS ACUMULADAS) -

(30/08/16): Especialistas continuam reforçando que grávidas não devem usar o e-cigarro. A falsa e pesada propaganda de total segurança no uso desses aparelhos pode induzir mães já viciadas na nicotina a usarem o aparelho pensando não estarem fazendo mal ao seu feto, algo longe da verdade. A nicotina entrando no corpo, sob quaisquer formas, pode comprometer o desenvolvimento saudável do feto. (Ref.22)

(27/11/16): Pesquisadores reforçam que ainda existem escassos estudos avaliando a segurança dos e-cigarros, especialmente relativo aos efeitos a longo prazo. E como o uso dos mesmos está em crescimento quase exponencial, especialmente entre jovens, e que substâncias potencialmente nocivas já foram identificadas no vapor do e-cigarro, é urgente que mais estudos analisem a situação. Apesar disso, muitos concordam que esses aparelhos podem ser uma boa alternativa para fumantes que querem parar com o hábito. (Ref.23)

(01/12/16)Pesquisas recentes mostram que uma boa parte dos adultos não sabem que expor crianças pequenas aos vapores do e-cigarros faz mal ao corpo delas. Mesmo não liberando as fumaças tóxicas causadas pela combustão do tabaco, os vapores dos cigarros eletrônicos carregam nicotina, a qual, além de ser inalada pelas crianças (e tende ser bem tóxica para elas), se acumula nas superfícies da casa e outros locais fechados, e podem ser ingeridas por elas ao manusear objetos diversos. As agências de saúde ao redor do mundo pedem que o uso dos e-cigarros não seja feito perto de crianças ou em ambientes fechados onde elas se encontram. Isso sem contar que ainda é incerto se os vapores dos líquidos desses dispositivos causam danos ao organismo a longo prazo.

Outro perigo é deixar os carregadores e cigarros eletrônicos perto delas, já que o líquido dentro deles, contendo alta concentração de nicotina, pode ser ingerido e causar sérios danos à saúde. Além disso tudo, é sempre um mau exemplo consumir substâncias de vício perto de crianças. (Ref.25)

(17/02/17): Um estudo avaliando a presença de 5 metais tóxicos e carcinogênicos (chumbo, cádmio, manganês, níquel e cromo) em 5 das mais populares marcas de e-cigarros nos EUA, encontrou todos eles nos líquidos de vaporização desses aparelhos. Os  pesquisadores envolvidos pedem mais estudos para avaliar o problema e se as quantidades encontradas caracterizam os e-cigarros como uma importante fonte desses metais (Ref.24). Bem, e isso acaba sendo fruto da falta de fiscalização em cima desses produtos, o que aumenta ainda mais a preocupação dos órgãos de saúde com a enorme e crescente demanda pelos mesmos.

(22/10/17): Um novo estudo traz achados mais do que preocupantes: Os cigarros eletrônicos parecem causar danos bem sérios

(29/12/17): Um novo estudo realizado por pesquisadores da Medical University of South Carolina (Ref.26) encontrou que fumantes do cigarro tradicional que começaram a usar o e-cigarro tendem a fumar menos cigarros e uma maior vontade de largá-los. Porém, os autores do estudo também avisam que o e-cigarro só deveria ser usado por fumantes de cigarro que desejam parar e não para uso de pessoas que nunca fumaram, já que esses produtos não são seguros para saúde. Além disso, eles frisaram que faltam estudos avaliando efeitos de longo prazo desses produtos eletrônicos.

> (08/02/18): Pesquisadores mostram que o vapor do e-cigarro cria um ambiente ideal para a instalação de infecções graves no trato respiratório, como a pneumonia. Para mais informações, acesse: O cigarro eletrônico parece aumentar os riscos de infecções respiratórias graves

(27/04/18)O FDA (Agência de Drogas e Alimentos dos EUA), através do Youth Tobacco Prevention Plan - cujo objetivo é impedir o uso/acesso de produtos de tabaco pelos menores de idade - já começou a agir para tentar combater a crescente e preocupante epidemia no uso de cigarros eletrônicos pelas crianças e adolescentes. A marca JUUL é a principal sendo investigada e recebendo imposições para que o marketing dos seus produtos seja modificado. O e-Bay e outros locais ou sites de venda também estão sendo obrigados a implantar ações que previnam a promoção e venda de e-cigarros para os menores de idade. Os pais precisam estar bem atentos, porque o uso dos e-cigarros é difícil de ser identificado por que não deixam cheiros característicos (são aromatizados com diferentes sabores) e seus aparelhos fáceis de serem camuflados.

(15/06/18)Acesse: Mais dois estudos reportam efeitos colaterais danosos gerados pelos cigarros eletrônicos

(17/07/18): Acesse: Novo estudo encontra que os cigarros eletrônicos podem aumentar os riscos de problemas cardiovasculares tanto quanto os cigarros tradicionais

(15/08/18): Acesse: Vapor do cigarro eletrônico parece aumentar a inflamação e diminuir a imunidade no pulmão

(27/08/18): Acesse: Cigarros eletrônicos dobram o risco de ataques cardíacos e podem gerar sérios danos no DNA

(13/09/18): Acesse: Substancial quantidade de cancerígenos fica retida no trato respiratório após uso do cigarro eletrônico

(13/09/18)O FDA (Ref.28) declarou esta semana que o enorme número de novos usuários adolescentes de cigarros eletrônicos no território Norte-Americano - para os quais a venda desses produtos é proibida - chegou a um ponto onde a situação já pode ser tratada como uma epidemia. O alarmante problema vinha sendo ignorado - provavelmente de forma proposital - pela indústria dos e-cigarros, o que levou ao FDA a finalmente se levantar furiosamente.

Segundo o chefe do FDA: "A trajetória perturbante e acelerada de uso que nós estamos vendo na juventude, e o caminho resultante para o vício, precisa acabar. Eu tenho alertado a indústria do e-cigarro há mais de 1 ano de que eles precisavam fazer muito mais para barrar a tendência de uso entre os adolescentes. Na minha visão, eles trataram esse problema mais como um desafio de relações públicas do que seriamente considerando suas obrigações legais, a saúde pública, e a ameaça existente ligada a esses produtos. Bem, eu estou aqui agora para dizer a eles que o limite se esgotou."

O FDA disse que mais de 1100 cartas de alerta foram emitidas para lojas sobre a venda ilegal de e-cigarros para menores de idade, incluindo também a emissão de multa para outras 131 lojas.

Cinco dos maiores produtores de e-cigarro - JUUL, Vuse, MarkTen, blu e-cigs, e Logic - precisam também reportar à agência dentro de 60 dias com planos para adereçar o problema, ou lidará com sérias penalidades. Uma delas, a JUUL - a qual já está sob investigação do FDA sobre suas práticas de mercado - disse que irá "trabalhar proativamente com o FDA em resposta ao alerta." A companhia, aliás, defende o uso de flavorizantes, (como manga, menta, chocolate, etc.) porque isso estaria ajudando os adultos a pararem de fumar.

(25/09/18): Um estudo publicado no JAMA (Ref.29) mostrou que aproximadamente 1 em cada 11 estudantes Norte-Americanos do ensino básico e médio usaram cannabis (maconha) nos cigarros eletrônicos em 2016. Entre os usuários de cigarros eletrônicos, quase 1 em cada 3 estudantes de nível médio e quase 1 em cada 4 estudantes de nível básico reportaram o uso de cannabis nos cigarros eletrônicos. Isso acrescenta mais riscos aos e-cigarros, especialmente considerando os incertos efeitos adversos dos componentes da maconha no sistema neurológico de indivíduos em fase importante do crescimento.

(20/02/19): Acesse: Cigarros eletrônicos geram várias desregulações moleculares ligadas ao câncer

(01/03/19): A gigante Imperial Brands está produzindo mais um produto eletrônico de nicotina para ser lançado no mercado (Ref.32). Chamado de HTP (Heated Tobacco Product), o dispositivo aquece extratos do tabaco e promete a emissão de nicotina com aparente menos potencial de danos (~99% menos poluentes detectados), similar ao marketing dos cigarros eletrônicos. Ou seja, mais um produto visando formar mais jovens viciados, mascarado de "auxiliar para os fumantes que buscam parar de fumar". E, claro, sem estudos clínicos de médio e longo prazo avaliando o real potencial de dano desses dispositivos.

(25/01/20): Mesmo após as campanhas de conscientização lançadas em 2018 pelo FDA (Administração de Drogas e Alimentos dos EUA), e o surto da grave doença pulmonar, quase um terço dos adolescentes nos EUA estão usando cigarro eletrônico, se tornando viciados em nicotina e expostos a um produto tóxico e cujos efeitos a longo prazo são desconhecidos. E um estudo publicado esta semana no periódico Frontiers in Communication (Ref.50) mostrou no Instagram o uso de hashtags (#) positivas sobre os e-cigarros são 10 mil vezes mais frequentes nos EUA do que as campanhas de alerta do FDA (#TheRealCost). Além disso, entre 245894 postagens (coletadas de 2017 até 2019), os pesquisadores encontraram que mais de 70% das recargas e dispositivos anunciados na plataforma tinham altas concentrações de nicotina e que eram populares entre os novos usuários de e-cigarro. Também foi encontrado que a maioria dos influenciadores no Instagram promovendo esses produtos eram seguidos em grande por menores de idade (13-17 anos).

> Artigo Relacionado: Tabaco sem fumo: seguro?


(21/08/20): Um estudo de revisão publicado no periódico European Journal of Preventive Cardiology (Ref.55) reforçou que cada vez mais evidências indicam que os cigarros eletrônicos promovem sérios danos cardiovasculares, e que o uso desses produtos deveria ser feito apenas por indivíduos que estão tentando abandonar os cigarros tradicionais. E mesmo nesse último caso, é ainda incerto se existe algum benefício.

> Em um estudo publicado no periódico The FASEB Journal (Ref.56), pesquisadores analisaram um grupo de participantes saudáveis de 20 anos de idade. Cada voluntário participou de duas sessões consumindo cigarro eletrônico - e separadas por um período de um mês -, onde eles usaram um e-cigarro JUUL® contendo nicotina ou um placebo livre de nicotina por 10 minutos. Os pesquisadores mediram a pressão sanguínea dos participantes antes e depois do consumo de e-cigarro. Quando eram consumidos e-cigarros com nicotina, tanto a pressão sanguínea quanto a taxa de batimentos cardíacos aumentavam; essa última voltava ao normal, mas a pressão sanguínea permanecia alta durante o período de recuperação. A atividade do nervo muscular simpático (MSNA) diminuiu durante o uso de e-cigarro com nicotina e permaneceu mais baixa do que o normal durante o período de recuperação. Essas mudanças cardiovasculares não foram observadas durante o uso de e-cigarro com placebo sem nicotina. Os resultados sugerem que o uso de e-cigarro com nicotina pode aumentar o risco de hipertensão aguda e/ou crônica. 

> Analisando mais de 400 homens e mulheres - entre fumantes, não-fumantes e usuários de e-cigarro - pesquisadores em um estudo publicado no periódico Journal of the American Heart Association (Ref.57) reportaram que os danos vasculares experienciados pelos usuários de e-cigarro são similares àqueles observados em fumantes de cigarro tradicional; no caso, danos diretos às células de revestimento das paredes de vasos sanguíneos e maior rigidez das artérias. 

> Entre as pessoas que possuem o mais comum tipo de câncer de pulmão, até 40% desenvolvem tumores cerebrais metastáticos, com uma média de sobrevivência menor do que 6 meses. Mas o porquê de certas células tumorais frequentemente se espalharem para o cérebro tem sido pouco entendido. Agora, em um estudo publicado no periódico Journal of Experimental Medicine (Ref.58), pesquisadores encontraram que a nicotina presente em produtos com tabaco e nos e-cigarros é a responsável por promover o espalhamento - ou metástase - das células cancerígenas para o cérebro. O estudo analisou 281 pacientes com câncer de pulmão, encontrando que os fumantes de cigarro exibiam uma significativa maior incidência de câncer cerebral. Em experimentos com ratos, os pesquisadores encontraram que a nicotina ajuda a transportar as células tumorais para dentro do cérebro ao modificar as micróglias - um tipo de célula imune que protege os neurônios - e suprimir as funções do sistema imune inato. O achado também é um alerta para o uso de nicotina no tratamento de vício em cigarro.



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