Por que as pessoas preferem o popular ao científico?
Desde que os primeiros antepassados do homem começaram o processo de expansão territorial, problemas e mais problemas começaram a surgir, passando pelo planejamento de caça, resolução de questões sociais, proteção contra predadores, adaptação ao clima, entre outros. Quando estamos sentados no sofá, comendo um lanche, no sossego de casa, fica fácil dedicar um tempo maior às resoluções dos problemas. Mas quando você está no meio da selva, cercado de inimigos cheios de presas, preocupado com qualquer arranhão, e ataques venenosos, os problemas têm que ser resolvidos rápidos, por uma questão de pura sobrevivência. Por isso, durante o curso evolucionário, desenvolvemos dois sistemas de processamento de pensamento: um rápido e instintivo, e outro lento e mais elaborado.
Considerando que a sociedade moderna é bem recente, comparando com os mais de 3 milhões de anos de evolução humana, gastamos um tempo muito maior na selva. Sem um desenvolvimento de técnicas preciosas como a escrita, o conhecimento acumulado podia ser apenas passado de boca em boca, ou seja, era muito limitado e incerto. Em meio selvagem, o pensamento deve ser rápido, porque segundos definem sua morte. Assim, nosso centro de processamento rápido de ideias mais acionado durante nossa história de existência é o próximo do instintivo. Por isso, ainda hoje, preferimos escutar a nós mesmos e dar ouvido a opiniões mais simples e passadas de maneira mais rápida, como se ainda não possuíssemos a escrita ou o método científico. Nosso cérebro é tentado sempre a acionar nosso modo de pensar mais superficial por ainda achar que estamos em meio selvagem. Em uma analogia, é o mesmo que o acúmulo desnecessário de gordura no nosso corpo. Hoje não precisamos de gordura extra, mas no passado, sim.
E tudo isso ainda piora com a falta de instrução da população, em uma média geral, e o distanciamento entre a ciência e o povo. Consensos científicos, por causa do nosso preconceito evolucionário contra os pensamentos mais lentos e elaborados, acabam sendo marginalizados em nichos isolados do resto da população. É raro alguém ir pegar informações em artigos científicos. Preferem ouvir coisas populares já bem estabelecidas e de fácil entendimento. O meu projeto ´Saber Atualizado´, por exemplo, é um dos poucos veículos de comunicação que emprega a metodologia científica e bases sólidas da ciência para formular informações. Muitos outros repassam conhecimento baseados apenas no popular, ou se aproveitam para passar informações falsas, objetivando desejos egoístas. Tudo o que é simples tende a ser absorvido, e tudo o que é complexo tende a ser descartado pelo nosso cérebro selvagem.
Mas é possível treinar o segundo sistema de pensamento. Ao invés de buscarem informações em fontes suspeitas, passem a ir em busca de artigos científicos. Assim, a assimilação do método científico fica mais fácil, quando você passa a conhecê-lo. Coisas antes complicadas começam a ficar mais claras. O Google Acadêmico é uma ótima ferramenta de pesquisa nesse sentido...:)
Referência: Scientific American