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Plásticas e adolescentes


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         Devido ao aumento da vulgaridade sexual consequente do maior poder de disseminação tecnológica da informação (em outras palavras, material pornográfico, por exemplo, é de fácil acesso a qualquer um) e maior grau de liberdade expressiva do corpo para ambos os sexos, jovens começam a entrar na vida sexual cada vez mais cedo. Aliado à também crescente glamourização do corpo na nossa cultura moderna, as competições sexuais ficam cada vez mais acirradas entre os pré-adolescentes e adolescentes. Comportamentos adultos passam a ser cada vez mais frequentes nesse grupo, com o uso pesado de maquiagens, culto excessivo ao corpo e vestimentas mais sensuais. E uma outra intervenção estética já é bastante cobiçada entre os jovens: cirurgias plásticas.

          Não vou entrar no complexo assunto se a questão da 'maturidade' adiantada em jovens é algo ruim ou não. Existindo investimento na educação, bom senso e julgamento dos pré-adolescente e adolescentes, uma sexualização precoce não seria um grande problema. Mas, enfim, o problema abordado aqui é bem grave, e está se transformando em rotina. Hoje, as cirurgias plásticas estão sendo tratadas como uma visita ao salão de beleza. Correções de nariz são como um corte de unha; implante de silicone, um alisamento de cabelo; lipoaspiração, um aparo nas sobrancelhas. E essas comparações não são um exagero.  Com os adultos optando cada vez mais pelas cirurgias estéticas, os jovens acabam seguindo os passos, indiferentes aos riscos associados.

          Aqui no Brasil, o número de adolescentes ente 14 e 18 anos se submetendo à cirurgias plásticas aumentou em mais de 141% entre os anos de 2008 e 2012, passando de 37740 para 91100 operações, segundo a SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica). Nosso país é o segundo maior em termos de plásticas, perdendo apenas para os EUA. Tanto em adultos como em adolescentes, a lipoaspiração e implante de silicone são as cirurgias mais feitas. Já é comum as meninas de 15 anos pedirem de presente de aniversário dois pares de seios turbinados. E o pior é que, na adolescência, o corpo ainda está em fase de crescimento e pode ser que os seios ainda irão se desenvolver mais, talvez nem havendo a necessidade cirúrgica. Além disso, em fase de crescimento acelerado, modelamentos operatórios podem até sofrer deformações com as mudanças bruscas no corpo jovem. E em um corpo em desenvolvimento, intervenções profundas no organismo podem trazer sérias consequências.

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          Toda cirurgia, independente do objetivo, carrega consideráveis riscos. Um cirurgião sério terá uma conversa com o paciente antes do procedimento, discutindo honestamente os custos-benefícios. E mesmo passando por diversos exames clínicos, para verificar o estado de saúde do paciente, acidentes podem ocorrer durante e após a operação. Uma das principais preocupações...

1. ...é com a anestesia. Além da habilidade do anestesista influenciar bastante no sucesso do procedimento, complicações como pneumonia, coágulos sanguíneos, reações alérgicas não previstas e até mesmo, em casos mais raros, morte súbitas podem ocorrer.

2. Depois disso, ainda temos as temidas infecções pós-operatórias no local da incisão, as quais podem levar à terríveis cicatrizes, requerer uma nova operação ou até mesmo levar à uma grave sepse, a qual aumenta as chances de falecimento. Se as condições do ambiente cirúrgico não forem ideais (limpeza e equipamentos), os riscos sobem exponencialmente.

3. Acumulação de líquidos sob a superfície da pele, levando à deformações no local.

4. Sangramentos indo de leves à severos, podendo ser necessário uma nova cirurgia ou transfusão sanguínea.

5. Cicatrizes podem ser maiores e mais persistentes que o normal, dependendo do corpo da pessoa e habilidade do cirurgião.

6. Se durante a cirurgia, nervos essenciais forem atingidos, pode ocorrer permanente perda de sensibilidade na área trabalhada.

          E um tipo de cirurgia é bem preocupante: a lipoaspiração. A perda de massa adiposa rápida é o procedimento mais desejado e feito pelo mundo. O problema é que ele é o mais feito justamente porque a pessoa faz, não muda em nada seu estilo de vida, especialmente na dieta, engorda tudo de novo e vai lá realizar o procedimento novamente, como se fossem as compras do mês. Isso só acumula os riscos cirúrgicos. Não deu nada na primeira, segunda, terceira... mas e na décima vez? As probabilidades só vão jogando, perigosamente, contra o seu favor. Como eu já disse aqui diversas vezes, perder massa de gordura requer mudança de hábito alimentar de forma vitalícia. Ou você pode encarar uma super arriscada cirurgia de redução de estômago e se ver preso o resto da vida a uma dieta super restritiva e estressante (por isso a OMS só recomenda ela em casos graves de obesidade). Se for fazer lipoaspiração, mude o seu estilo de vida para que ela dure de verdade.

           Ou seja, cirurgias deveriam ser feitas apenas quando realmente necessário, onde os riscos valeriam a pena. Se a correção estética for essencial para melhorar a autoestima da pessoa, como em garotos com ginecomastia ou adolescentes com deformações muito anormais e casos extremos de obesidade, o procedimento cirúrgico é aceitável. Mas se é apenas para ficar mais ´gostosa/gostoso´, é uma completa idiotice. E o triste é que, se os pais não financiam e apoiam a decisão tempestuosa dos filhos, eles podem acabar indo procurar métodos alternativos e clínicas suspeitas, mas baratas, para realizarem o ´grande sonho´. Aí, sim, a situação pode ficar feia rápido. Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), é estimado que existam 12 mil médicos no Brasil que exercem operações plásticas na clandestinidade (Médicos Clandestinos!)!

            Por mais difícil que possa ser, devido aos hormônios e urgência de desejos dos jovens, o melhor seria uma conversa séria com eles, pedindo paciência e maior aceitação com o corpo. É preciso lembrar que o sistema de julgamento dos adolescentes estão em desenvolvimento ainda, com suas atitudes sendo comandadas mais pelo impulso do que pela lógica. Se a conversa não adiantar, o melhor a se fazer é procurar uma equipe cirúrgica de qualidade e excelente histórico. É dos seus filhos que estamos falando.

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            E esses abusos à saúde não param nas cirurgias. Com a falsa maturidade precoce, o consumo de bebidas alcoólicas, cigarro, uso de drogas, entre outros comportamentos irresponsáveis, surgem cada vez mais cedo. O uso de anabolizantes pelos garotos, e também garotas, é outro problema sério. Restringir forçadamente os filhos não traz benefícios, só piora as coisas, devido ao fator rebeldia e auto-descobrimento do corpo. Educar, desde cedo, é a melhor escolha. Se essa espécie de maturidade precoce é inevitável, pelo menos assegure que ela será responsável.

Curiosidade: O Brasil, desde 2013, ostentava o título de país com maior número de procedimentos cirúrgicos ligados à estética por ano, ultrapassando até mesmo os EUA! Devido à crise, voltamos a ocupar o 2° lugar ano passado, mas com números expressivos: quase 1,5 milhões de procedimentos cirúrgicos, onde 88% são feitos em mulheres. 


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REFERÊNCIAS
  1. http://www.mayoclinic.org/tests-procedures/cosmetic-surgery/basics/risks/prc-20022389
  2. http://www2.cirurgiaplastica.org.br/numero-de-cirurgias-plasticas-entre-adolescentes-aumenta-141-em-4-anos/
  3. http://www.endocrino.org.br/10-coisas-que-voce-precisa-saber-sobre-cirurgia-bariatrica/
  4. http://www.sepsisnet.org/pg.php?v=o-que-e-sepse 
  5. http://www.isaps.org/en/