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Cigarro, cães, gatos e câncer!

 


         Cães e gatos, assim como nós, possuem uma grande tendência a desenvolver câncer. No caso dos cães, as chances do surgimento de um tumor aumentam com o seu tamanho, como é natural entre a maioria dos animais ( quanto mais células, maior a probabilidade de ocorrerem falhas durante as divisões das mesmas), e podem variar com a raça. E, para ambos, as chances aumentam ainda mais se eles forem vítimas do fumo passivo.

         Além da fumaça sair causando danos quando aspiradas, compostos do fumo de cigarro tendem a ir se acumulando no chão e outros móveis da casa, os quais podem ser absorvidos pela pele desses animais, e de crianças, quando estes entram em contato com eles. E no caso dos cães e gatos, isso é ainda pior porque toda essa fumaça impregna também em  seus pelos e acaba tendo seus tóxicos ingeridos quando eles começam a lamber o corpo por motivos de higiene ou irritação. Mesmo com o dono indo para fora da casa fumar, ele acaba também voltando impregnado do fumo, podendo contaminar seus animais de estimação da mesma forma, especialmente se eles tiverem a mania de lambê-lo, algo frequentemente comum.

          E o próprio nariz dos cães, sua mais formidável arma de investigação, acaba também sendo um dos grandes alvos dos danos causados pelo fumo do tabaco. Nossos narizes, e os desses animais, possuem a função também de filtrar o ar através do muco e pelos ali presentes, impedindo que partículas e substâncias potencialmente nocivas entrem em grande quantidade no nosso pulmão e outras estruturas internas do trato respiratório. Assim, elas ficam agarradas nessas áreas. Só que substancias cancerígenas podem atacar essa região também, e isso é ainda mais perigoso no caso de cães com longos narizes, os quais tendem a segurar uma grande quantidade de poluentes dentro dos mesmos, inclusive aqueles da fumaça do fumo, como as raças Doberman Pinschers, Borzois e Greyhounds. Estudos mostram que a exposição à fumaça de qualquer fumo do tabaco ( e provavelmente de marijuana também) acabam tendo uma chance duas vezes maior de câncer no nariz. E já no outro extremo, cães com nariz muito curtos passam a apresentar um risco muito maior de desenvolver câncer de pulmão com a exposição à fumaça, já que pouco do ar é filtrado, como nas raças Bulldog, Beagle, Brittany Spaniel e Pug.


Dobermans ( à esquerda) possuem o nariz mais sensíveis à fumaça do cigarro, enquanto os Bulldogs ( à direita) são mais suscetíveis a desenvolverem tumores no pulmão por causa do fumo passivo

          No caso dos gatos, a região oral é a mais exposta aos danos do fumo do tabaco. Como eles se lambem constantemente, os compostos tóxicos da fumaça acabam ficando acumulados na boca desses felinos. Estudos mostram que gatos que vivem em casas que possuem fumantes possuem um risco de 2 a 4 vezes maior de desenvolver um câncer de boca na cavidade oral chamado de carcinoma celular escamoso. Normalmente, esse tipo de câncer surge na base da língua e cerca de 10% dos gatos atingidos pela doença não conseguem sobreviver mais de 1 anos depois que a mesma é diagnosticada. E outras pesquisas mostram que os gatos que vivem com pessoas que fumam mais de um maço de cigarros por dia possuem um risco 3 vezes maior de desenvolverem um câncer no sistema imune chamado de linfoma. Um gato com linfoma, mesmo sob quimioterapia e cirurgia, não passa dos 6 meses de vida na maior parte das vezes.

Carcinomas em desenvolvimento ( à esquerda) e já em estágio bem avançado, na base da língua, de um gato ( à direita)
 
         E tanto no caso de gatos e cães, é também bastante perigoso o resto de cigarro e outros veículos de fumo largados pela casa, onde os mesmos podem ser ingeridos por esses animais. Dosagens letais de nicotina para os caninos e felinos podem variar muito, mas ficam entre 20 e 100 miligramas na média. Cada cigarro, por exemplo, possui entre 9 e 30 mg de nicotina, e aqueles usados podem ainda reter entre 5 e 7 miligramas. Dependendo do seu animal, comer um inteiro ou alguns usados, pode significar morte.

          Da mesma forma que as crianças são muito prejudicadas pela fumaça dos cigarros dos seus pais, os cães e gatos também sofrem com ela. As centenas de substâncias cancerígenas atuam também perigosamente no organismo desses animais, causando irritações diversas, danos celulares e vários outros problemas, o que pode diminuir bastante a expectativa de vida deles. Se você respeita o seu animal de estimação, não fume perto dele ou, melhor, tente abandonar o hábito de fumar. Ele não faz bem para ninguém.

OBS.: Outros animais de estimação, e em geral, também são muito prejudicados pela fumaça do cigarro. Aves, roedores ( Porquinhos-da-Índia e Hamsters, por exemplo) e até peixes. No caso destes últimos, a nicotina liberada na fumaça é bem tóxica para eles e, sendo um composto que dissolve bem na água, é fácil para a fumaça afetar um aquário. 

E, no geral, quais são as raças mais suscetíveis ao surgimento de tumores malignos?

          Segundo dados do ACF ( Fundação do Câncer em Animais, na tradução literal da sigla em inglês) dos cerca de 65 milhões de cães e 32 milhões de gatos nos EUA, 6 milhões de novos casos de câncer entre os caninos são diagnosticados todos os anos e um número similar é encontrado para os gatos. Outros estudos mostram que no Reino Unido, o câncer é a causa de morte de 27% dos cães de raça pura.

          Por via de regra biológica, quanto maior o cão, maiores os riscos, como eu mencionei anteriormente. Além disso, as fêmeas possuem maior tendência a desenvolvê-los e os cães com pele mais clara são mais suscetíveis ao câncer de pele. Mas essas regras podem variar bastante, especialmente quando se analisa as diferentes raças.

         Duas medidas que podem ser usadas para prevenir o problema são a castração antes da atividade sexual e/ou cio ( prevenção de câncer nos órgãos reprodutores e mamas), e o uso de protetores solares específicos nos cães de pelagem mais clara quando estes ficarem mais expostos ao Sol. Mesmo aquele que só possuam manchas brancas de pelagem podem ser sensíveis nessas áreas. Assim como nós, a falta de melanina ( esse pigmento absorve radiação ultravioleta danosa) em qualquer região da pele torna esta bastante vulnerável ao risco de tumores malignos, segundo estudos na área. Mas o contrário também acaba sendo válido em vários casos, pelo menos nos cães, onde certas raças com excesso de pigmentação podem apresentar um maior risco de desenvolver um melanoma na pele.

          Para os gatos, o conselho de pele é o mesmo. E deve se dar uma atenção maior nesse quesito, já que o nariz e a ponta das orelhas dos gatos brancos parecem ser mais suscetíveis ao câncer de pele, apesar desse tipo de tumor não ser muito comum nesses animais. Pode ser válido passar o protetor nesses locais caso ele for ficar muito exposto ao Sol em um passeio ou qualquer outra situação. E para reforçar: não é qualquer protetor solar! Deve ser um indicado pelo seu veterinário.

Gatos e cães brancos podem estar sob maior risco de contrair câncer de pele devido à exposição solar

          Outra medida de prevenção super importante é a vacinação dos seus gatos contra o vírus da leucemia felina, o qual causa linfomas malignos neles e é considerado o maior responsável pelos casos de câncer nesses felinos. Nunca deixe de dar nenhuma vacina, tanto em cães quanto em gatos.

         Caso seu cão ou gato apresente qualquer sintoma atípico, leve-o imediatamente ao veterinário. No caso do câncer de pele, um dos mais comuns em ambas as espécies, verifique se existe manchas vermelhas repentinas na pele, muita coceira ou machucados sem explicação. E é importante mencionar que caso seu animal esteja com câncer, não significa que isso será fatal, especialmente se o tratamento começar bem cedo, nos estágios iniciais da doença. Por isso é importante sempre prestar atenção no comportamento e no aspecto físico deles.

         No mais, sempre propicie uma alimentação saudável ao seu animal de estimação e garanta o máximo de bem-estar a eles! Visitar e pedir dicas ao veterinário também é outra importante medida para ajudar na saúde deles... E, claro, evite dar baforadas de cigarro nos seus companheiros.

Artigo relacionado: Faz mal usar roupas em cães e gatos?

REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. http://www.fda.gov/AnimalVeterinary/ResourcesforYou/AnimalHealthLiteracy/ucm520415.htm
  2. http://publichealth.lacounty.gov/vet/docs/SmokingPets.pdf
  3. https://www.cdc.gov/pcd/issues/2015/15_0204a.htm 
  4. http://www.bradfordlicensing.com/documents/pets-fact-sheet.pdf
  5. http://www.fda.gov/downloads/ForConsumers/ConsumerUpdates/UCM412273.pdf
  6. http://www.acfoundation.org/faqs/ 
  7. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK9558/
  8. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3658424/ 
  9. http://jnci.oxfordjournals.org/content/46/5/1073.short
  10. http://link.springer.com/chapter/10.1007/978-1-4614-7357-2_33 
  11. https://www.brown.edu/Research/Colwill_Lab/CBP/spaynueter.htm
  12. http://www.sanantonio.gov/AnimalCare/WhatWeDoServices/LowCostServices/SpayNeuterServices.aspx