YouTube

Artigos Recentes

Gastar dinheiro em multivitamínicos vale a pena?

                              
- Artigo atualizado no dia 21 de julho de 2018 -

Compartilhe o artigo:



           A polêmica é grande nesse assunto. De um lado, muitos médicos acusam os multivitamínicos de serem apenas propaganda e nada mais. Por outro lado, a indústria de suplementos defende, veemente, o uso desses nutrientes extras, justificando pelo fato de que a população, em geral, não consegue suas vitaminas e minerais nas quantidades ideais, apenas com a alimentação diária. Quem está certo nessa história?

          É verdade, sim, que a maior parte da população sofre com algum tipo de deficiência nutricional. Com a correria do dia, a alimentação acaba ficando em segundo ou terceiro plano. Sem uma escolha cuidadosa e variada na dieta, as comidas 'porcarias', como aquelas de Fast-Foods, ou as 'pré-feitas' industrialmente, acabam sendo a opção da maioria. Frutas, verduras e carnes variadas acabam sendo quase desprezadas por grande parte da sociedade, e, nisso, vitaminas e minerais essenciais acabam não sendo consumidos em quantidades mínimas. Desse ponto de vista, uma suplementação com multivitamínicos e minerais, pode ser uma boa opção. Sem a IDEAL quantidade de nutrientes diários que o seu corpo precisa, vários problemas de saúde começam a surgir.
É realmente difícil administrar uma boa dieta na correria do dia; nesse caso, os suplementos podem ser uma boa pedida de ajuda se forem bem usados.

            Mas, por outro lado, vem um problema defendido, com razão, pelos médicos. Você até pode estar não comendo como deveria, porém, está comendo. Isso significa que uma boa quantidade de nutrientes estão sendo absorvidos. Um ou outro pode estar faltando, mas muitos já estão abastecendo bem o seu corpo. Se você usa multivitamínicos e suplementos com todo o espectro de minerais, você estará ingerindo um excesso de muitos deles, os quais já foram absorvidos por você, satisfatoriamente,  durante a alimentação. Várias nutrientes em excesso causam mais danos do que sanam, especialmente as vitaminas lipossolúveis (o excedente destas vai se acumulando perigosamente nos tecidos adiposos do corpo, porque possuem bastante afinidade com lipídios e outras substâncias apolares, e pouca com a água, por exemplo, dificultando a limpeza do excesso pela urina). A situação piora ainda mais quando as próprias dosagens suplementares ocorrem em excesso.

          O certo seria fazer exames rotineiros e saber quais são suas carências nutricionais. Se for possível, seria excelente se a dieta fosse mudada com a ajuda de um profissional. Caso contrário, o mesmo profissional pode te receitar nutrientes específicos para a suplementação, evitando erros nas dosagens e gastos desnecessários. E, falando em ajustar a dieta, muitas vitaminas e minerais estão presentes em formas químicas específicas nos alimentos e acompanhadas naturalmente de substâncias que irão ajudar em sua assimilação pelo corpo. A pílula vendida nas farmácias não possuirá essas características. Isso sem contar outros micronutrientes potencialmente importantes e presentes nos alimentos que ainda não foram bem caracterizados pela ciência.

            Outro grande problema é a sensação de segurança alimentar proporcionada pelos multivitamínicos. Quando a pessoa os toma, passa a achar que sua dieta está mais do que saudável, não precisando de comer mais frutas, verduras, legumes, entre outros alimentos naturais. Assim, diversos outros nutrientes que seriam absorvidos com uma alimentação balanceada acabam sendo perdidos. Lembre-se: seu corpo não se mantém apenas com vitaminais. É preciso uma variada gama de nutrientes, entre aminoácidos, lipídios, antioxidantes, minerais, carboidratos, etc., para proteger e desenvolver o seu organismo. Além disso, grande parte das pessoas que usam multivitamínicos são indivíduos que se preocupam com a saúde e, portanto, em muitos casos já possuem uma dieta saudável e balanceada, geralmente não necessitando de uma suplementação. Ou seja, estão diariamente sob um excesso desnecessário de vitaminas.

          Aliás, um estudo de revisão sistemática e meta-análise publicado recentemente na Circulation: Cardiovascular Quality and Outcomes (Ref.17), analisando no final 18 estudos de alta qualidade sobre o tema, encontrou que o consumo de multivitamínicos e suplementos de sais minerais não previne problemas cardiovasculares. Isso é importante porque, como já mencionado, muitas pessoas abusam desses suplementos e esquecem de se preocuparem com os reais fatores de risco achando que estão compensando um com o outro.

Nunca use suplementos sem ter o mínimo de conhecimento sobre eles; procure um profissional da saúde em caso de dúvidas

            Além disso, as vitaminas tendem a sofrer oxidação muito facilmente (reagem com o oxigênio, por exemplo, modificando sua estrutura química). Você já deve ter reparado que uma banana ou maça, quando descascados, rapidamente escurecem, principalmente se a temperatura estiver mais alta. Isso ocorre porque muitos antioxidantes, vitaminas e outras substâncias presentes em ambas as frutas sofrem oxidação, se transformando lentamente em outras substâncias e perdendo sua eficácia. Um bom exemplo disso, é o suco de laranja recém-preparado. Depois de 1 hora, à temperatura ambiente, cerca de 50% de toda a vitamina C ali presente é degradada, não servindo mais para nada. Por isso, o aconselhável é beber sucos e vitaminas, seja de folhas ou frutas, o mais rápido possível depois de prontos. Com os minerais, como o zinco, ferro, magnésio, entre outros, reações de degradação são mais difíceis.

No momento em que você descasca as frutas, ou macera outros vegetais, as vitaminas começam a serem perdidas por processos oxidativos; o mesmo ocorre com os multivitamínicos ou alimentos enriquecidos com esses nutrientes.

           Nesse sentido, o mesmo ocorre com os multivitamínicos ou vitaminas artificiais adicionadas nos alimentos industrializados. Quando você abre a embalagem (ou até mesmo antes, dependendo da qualidade de produção) os processos oxidativos começam e você começa a perder as quantidades vitamínicas prometidas nas informações nutricionais. E se cuidados no armazenamento não forem seguidos, como manter longe de umidade e calor, as perdas são maiores ainda. Nesse caso, claro, isso não se aplica às pílulas de farmácia, onde estas entrariam apenas no problema do excesso de consumo. Porém, é sempre bom conferir a procedência desses produtos, vendidos na farmácia ou não, observando se existem selos de qualidade garantidos por órgãos federais.

          Por último, é extremamente importante citar uma crença bem comum, mas perigosa, entre os usuários de suplementos. Muitas pessoas acham que os multivitamínicos/minerais são como remédios para a saúde e acabam exagerando propositalmente nas doses pensando estarem ganhando maior qualidade de vida. Essa situação ocorre mais comumente ainda com os indivíduos doentes, os quais tendem a comprar esse suplementos para curarem a doença. O que eu vou dizer é para guardar: as vitaminas e minerais não curam doenças. Seu corpo precisa deles, em uma quantidade X, para continuar funcionando bem. Ingerir mais deles não irá ajudar mais o corpo, este o qual tentará sempre excretar o excesso para fora do organismo. As gripes, por exemplo, não são curadas mais rápidas se você tomar mais vitamina C (Remédios para a gripe funcionam?). E, como eu disse anteriormente, o abuso de vários desses nutrientes vai fazer mais mal do que bem, existindo até um nome médico para o quadro, ´hipervitaminose´, no caso de abuso das vitaminas.

          Resumindo, a dieta natural equilibrada é a melhor maneira de suprir, com qualidade, todas as suas necessidades nutricionais. Caso isso não seja possível, o uso dos suplementos é recomendado, desde que haja um acompanhamento médico em concomitância. Não tome essas ´pílulas da saúde´ como se fossem balas, ou você precisará tomar reias pílulas de saúde para tratar os efeitos colaterais prejudiciais.

Artigo complementar: Paradoxo dos Antioxidantes                     


ATUALIZAÇÃO ( 05/04/16): Um novo estudo publicado no American College of Cardiology, neste início de semana (Ref.16), analisou 163 pacientes com problemas cardíacos e mostrou que o consumo suplementado de vitamina D é um fator de fortalecimento do coração.

Os pacientes foram distribuídos em dois grupos: um consumindo placebo e outro consumindo comprimidos contendo 100 micrograma de vitamina D. O primeiro grupo não mostrou melhora nenhuma, mas os pacientes que ingeriram um extra de vitamina D mostraram uma otimização no bombeamento de sangue no músculo cardíaco em 8%. Pode parecer pouco, mas é uma quantidade no nível de medicamentos específicos.

Porém, é preciso alertar que é necessário mais estudos para confirmar a descoberta. Trabalhos científicos isolados devem sempre ser analisados com cautela. Além disso, os pacientes tinham uma média de 70 anos, idade em que a pele diminui a eficiência de produção de vitamina D a partir dos raios solares ( UV) e os indivíduos também tendem a ficar mais reclusos em casa (longe do Sol). Ou seja, é provável que existia uma deficiência dessa vitamina no corpo deles, onde a suplementação diminuiu os danos da hipovitaminose. Assim, pode ser irresponsável tomar suplementos dessa vitamina visando uma maior proteção cardíaca, já que sua produção a partir da pele pode estar normal. Excesso de vitamina, inclusive as lipossolúveis, é bastante prejudicial, como discutido no texto acima. Portanto, é esperar novos resultados. Mas, por outro lado, a grande maioria da população possui deficiência nessa vitamina, especialmente em lugares com pouca exposição solar e em pessoas que trabalham em ambientes fechados por muito tempo.

A vitamina D é produzida na pele, catalisado pelos raios solares, sendo esta a maior fonte desse nutriente. Algumas fontes alimentares também possuem a vitamina, como o óleo de peixe e ovos, além de ser adicionado, artificialmente, em certos produtos alimentícios, como o leite.


Artigo complementar: Cor da pele e Vitamina D


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. http://ajcn.nutrition.org/content/85/1/277S.short
  2. http://www.bmj.com/content/282/6281/1999?variant=abstract
  3. http://jama.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=194525
  4. http://www.cabdirect.org/abstracts/19961406471.html;jsessionid=C789BFE238769EF1B1376FD643FA8EBF
  5. https://nutritionj.biomedcentral.com/articles/10.1186/1475-2891-13-24
  6. http://www.hindawi.com/journals/aurt/2013/963697/
  7. http://www.nytimes.com/2013/06/09/opinion/sunday/dont-take-your-vitamins.html?_r=0
  8. http://www.scientificamerican.com/article/multivitamins-are-a-waste-of-money-doctors-say/
  9. https://ods.od.nih.gov/factsheets/MVMS-HealthProfessional/
  10. https://www.sciencebasedmedicine.org/should-i-take-a-multivitamin/
  11. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3976240/   
  12. http://www.scientificamerican.com/article/fact-or-fiction-vitamin-supplements-improve-health/
  13. http://www.npr.org/sections/health-shots/2013/12/17/251955878/the-case-against-multivitamins-grows-stronger
  14. http://europepmc.org/abstract/med/24365359 
  15. http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0262407913620965
  16. http://www.acc.org/latest-in-cardiology/articles/2016/03/23/18/25/mon-2pm-vindicate-vitamin-d-supplementation-improves-cardiac-function-in-patients-with-chronic-hf-acc-2016?w_nav=LC
  17. http://circoutcomes.ahajournals.org/content/11/7/e004224