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Linguagem humana: Criação ou Evolução Darwiniana?

- Atualizado no dia 23 de março de 2023-

 
            É frequentemente alegado que os humanos modernos (Homo sapiens) aprendem a linguagem usando componentes no cérebro que são especificamente dedicados para esse propósito - ou seja, uma estruturas neurais únicas não encontradas em mais nenhum outro animal, incluindo as outras espécies de primatas hoje existentes. De fato, por séculos, inúmeros acadêmicos têm visto a capacidade humana para a linguagem como central para a nossa forma única de inteligência. É alegado inclusive que uma macro-mutação única pode ter nos separado de outras espécies em termos linguísticos. Aliás, muitos anti-evolucionistas até usam a presença da linguagem nos humanos modernos como argumento para dizer que nós somos uma 'criação especial'. Porém, até onde a linguagem humana é exclusiva na nossa espécie? A arquitetura básica para a manifestação da linguagem humana realmente nos separa dos outros animais? Somos a única espécie do gênero Homo que evoluiu linguagem?

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   EVOLUÇÃO DA LINGUAGEM 

           Complexa linguagem falada é uma característica única e universal em todas as populações da nossa espécie (Homo sapiens). O desenvolvimento da linguagem foi vital para a evolução humana, provavelmente possibilitando melhor organização social e mais eficiente troca/transmissão de informação/conhecimento e potencialmente facilitando pensamento simbólico e abstração. 

           A complexa linguagem humana também pode ser expressa por meios não-verbais, como linguagem de sinais, arte e escrita, e é complementada por movimentos e expressões corporais. Os articuladores visuais (as partes não-vocais que acompanham partes vocais como os lábios, língua e palato) são vários: apenas o rosto contém 43 músculos, cada mão é controlada por mais 34 músculos, e uma abundância de músculos está envolvida na movimentação dos braços, cabeça e torço. Isso torna evidente a grande complexidade e variação dos articuladores e os potenciais sinais produzidos durante a fala. Ou seja, uma complexa comunicação multimodal caracteriza a linguagem humana.

          A linguagem humana é distinta de todos as outras conhecidas formas de comunicação animal pelo fato de ser composicional, permitindo aos falantes expressarem pensamentos em sentenças englobando sujeitos, verbos e objetos - como 'Eu chutei a bola' - e reconhecer os tempos passado, presente e futuro. Composicionalidade dá à linguagem humana uma infinita capacidade para a geração de novas sentenças à medida que os falantes combinam e recombinam conjuntos de palavras, sílabas, vogais e consonantes (unidades linguísticas básicas) para representar sujeitos, verbos/ações e objetos diversos. Por exemplo, com apenas 25 diferentes palavras para cada um desses três últimos conceitos mencionados, é possível gerar mais de 15 mil sentenças distintas.

           Além disso, a linguagem humana é referencial, significando que os falantes a usam para trocar informações específicas entre si sobre pessoas ou objetos e suas localizações ou ações.

            Nesse sentido, basicamente qualquer conceito humano pode ser expresso em linguagem, com talvez horas ou dias de esforço, e com variados graus de acuracidade, dificuldade e concisão. Essa capacidade de expressar qualquer conceito vai além do que outras espécies podem fazer. À primeira vista, o sistema de comunicação de outros animais parece ser intrinsecamente limitado a um pequeno conjunto de mensagens relevantes e adaptativas relacionadas a fatores como alimento, perigo, agressão, conciliação ou proezas pessoais. 



           Porém, é importante realçar neste ponto que uma montanha de evidências científicas acumuladas nas últimas décadas sobre a habilidade cognitiva de outros animais indicam claramente que eles sabem muito mais do que o explicitamente expresso em comunicação verbal, mesmo se eles não possuem os meios de dizê-lo (linguagem). E mesmo a limitada capacidade comunicativa das outras espécies alcança alta complexidade em vários grupos de animais, especialmente aves e primatas.

            Infelizmente, a busca pelas origens da linguagem é complicada pelo fato desse traço, ao contrário de outros traços biológicos, não fossilizar ou deixar qualquer qualquer rastro do tipo que facilite o estudo da sua cumulativa evolução. Além disso, como a linguagem é uma adaptação única nos humanos e parece compartilhar relativa pouca similaridade com os sistemas de comunicação das espécies ainda vivas mais próxima-relacionadas (ex.: primatas superiores), comparações filogenéticas diretas não são possíveis.

           Em ordem de entender como a linguagem humana evoluiu, uma estratégia é analisar seus múltiplos componentes, como fonologia, sintaxe, semântica, percepção auditória e memória, o sistema articulatório vocal-motor, o sistema conceptual-intencional, teoria da mente e, por fim, sua base neurobiológica (genética e estrutura neural) (Ref.3-4). Quando analisamos cada componente separado, fica claro que a linguagem humana está longe de ser algo realmente 'único' no Reino Animal, com raízes evolucionárias que podem ser rastreadas até 40 milhões de anos atrás.

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   APRENDIZADO VOCAL

            Quando um animal vocaliza, este precisa gerar a pressão certa nos seus pulmões, ajustar a tensão e a taxa de vibração das suas cordas vocais, e configurar o trato respiratório superior para produzir o som. Todas essas ações precisam ser coordenadas com planos para a respiração e o ato de engolir. Algumas espécies de vertebrados evoluíram mecanismos neurais que permitem a eles irem além de programas motores fixados para a vocalização, produzindo sons que espelham uma ampla variedade de estímulos sonoros percebidos. Esses mecanismos (aprendizado vocal) são críticos para a linguagem humana falada.

          Humanos são frequentemente descritos como os únicos primatas capazes de aprendizado vocal, um traço compartilhado com vários outros grupos de mamíferos (morcegos, cetáceos, pinípedes - como focas e leões-marinhos - e elefantes) e várias ordens de aves (papagaios, pássaros de canto, e beija-flores). Esse aprendizado vocal - no qual animais modificam suas vocalizações para imitar outras vocalizações - pode ser limitado ou complexo.

          Limitado aprendizado vocal (presente em um elevado número de espécies) é a habilidade de alinhar com precisão as características acústicas de vocalizações espécie-específicas já presentes em um repertório definido de subunidades sonoras, e a qual pode ser gerada por programas motores inatos e não necessariamente envolver redes telencefálicas especializadas. Complexo aprendizado vocal (presente em um mais limitado número de espécies, incluindo humanos) ocorre quando um animal ouve um som, cria um modelo na memória e então desenvolve uma vocalização comparável ao modelo através de tentativa e erro. 

            Bebês humanos, por exemplo, choram, balbuciam, gorgolejam e fazem uma variedade de sons peculiares durante o aprendizado vocal, e evidências mais recentes mostram que o choro aumenta de complexidade (melodia vocal) nos primeiros meses de vida para assimilar uma determinada linguagem de exposição, usando pistas prosódicas para reconhecer determinadas características linguísticas como consoantes, vogais ou sílabas (Ref.6).

           Papagaios e aves de canto, humanos, elefantes, e pinípedes são os mais estabelecidos animais que possuem complexo aprendizado vocal. Papagaios, inclusive, conseguem imitar com perfeição a fala humana, e certas aves de canto conseguem imitar com alta acuracidade diversos sons - naturais ou não - no ambiente, como o pássaro-lira (Menura). Em casos isolados, uma foca-comum (Phoca vitulina) macho criada por humanos desde que nasceu conseguiu aprender e reproduzir oito diferentes frases em inglês até alcançar a maturidade sexual, adotando uma anômala postura para reproduzi-las (Ref.7). Um elefante-asiático (Elephas maximus) macho foi capaz de imitar palavras Coreanas com precisão suficiente para um falante nativo entender. Para isso o elefante colocava sua tromba dentro da boca para produzir propriedades acústicas no seu trato vocal superior mais similares àquelas de um humano (Ref.7). Existem também fortes evidências de que os cetáceos e certas espécies de morcegos possuem aprendizado vocal complexo (Ref.8).

           Por fim, mais recentemente, cientistas revelaram que patos Australianos da espécie Biziura lobata, quando juvenis, também são capazes de imitação e aprendizado de produção vocal, sugerindo que complexo aprendizado vocal é mais disseminado entre aves do que antes suposto (Ref.32).

          Talvez mais notável, pesquisadores já mostraram que os morcegos da espécie Saccopteryx bilineata desenvolvem suas habilidades vocais via balbuciação, de forma similar ao que os humanos fazem - mesmo com ambos os animais separados por dezenas de milhões de anos. Para mais informações, acesse: Cientistas revelam morcegos que balbuciam como bebês humanos quando filhotes.

           Existem duas hipóteses principais para explicar a origem do aprendizado vocal complexo. A primeira envolve seleção sexual, no qual o aprendizado vocal evoluiu para permitir a expansão dos repertórios vocais (tamanho do vocabulário) em resposta a preferências por vocalizações mais complexas. Baleias-verdadeiras e várias aves justificam essa primeira hipótese. A segunda é a hipótese de compartilhamento de informações, propondo também que o aprendizado vocal evoluiu para permitir a expansão dos repertórios vocais, mas nesse caso para favorecer o compartilhamento específico de mensagens entre membros mais próximos (incluindo parentes). Nesse último caso, relativo à promoção de coesão social, entra provavelmente os humanos. Mas não apenas os humanos.

           Cetáceos (mamíferos marinhos que incluem as baleias e os golfinhos) possuem avançadas habilidades de aprendizado vocal (Ref.10). Golfinhos, particularmente do gênero Tursiops, apesar de possuírem vocalizações relativamente simples, desenvolvem 'assobios de assinatura' que são únicos para indivíduos específicos. Quando estão separados dos membros dos seus grupos, os golfinhos usam esses assobios específicos, indicando promoção de coesão social, especialmente porque eles são observados aprendendo e imitando o assobio-assinatura de outros membros próximos. Orcas (Orcinus orca) e baleias dentadas, como belugas (Delphinapterus leucas), também usam sinais sonoros aprendidos para o reconhecimento de indivíduos e para negociações em relações sociais.



             Da mesma forma, muitos papagaios (Psittacidae) não possuem cantos elaborados, mas usam um sofisticado aprendizado vocal no desenvolvimento de chamados de contato curtos e individualmente distintos para promover coesão social. Além disso, algumas espécies de papagaio rapidamente modificam seus chamados de contato para espelhar aqueles de indivíduos em direta interação, novamente sugerindo que esses chamados são usados para adereçar indivíduos específicos.

             Humanos e aves de canto constroem um enorme número de expressões sonoras ao segmentá-las em subunidades e memorizar a ordem serial dessas subunidades. Nesse sentido, existe evidência também de que certos pássaros produzem cantos cada vez mais complexos à medida que evoluem em direção a uma maior socialização e comportamento mais agregado (Ref.11). Existem, inclusive, cantos de pássaros indivíduo-específicos que viralizam (I), como gírias e outras expressões populares da nossa linguagem.

(I) Leitura complementar: O canto desse pássaro viralizou no Canadá

           Portanto, complexo aprendizado vocal existe em relativa abundância no Reino Animal, e algumas espécies parecem inclusive compartilhar o caminho evolutivo associado à origem dessa habilidade com os humanos. E importante mencionar que enquanto primatas não-humanos hoje vivos aparentemente não possuem a capacidade neural para tal habilidade, esses animais possuem o aparato anatômico para o aprendizado verbal complexo.

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   FONOLOGIA, SINTAXE E SEMÂNTICA

            Uma característica fundamental da linguagem é a dualidade de padronização, também conhecida como articulação dupla. A dualidade de padronização é uma propriedade da linguagem que permite uma estrutura combinatorial de dois níveis: (i) fonologia, onde sons sem significado chamados fonemas podem ser combinados em morfemas (menores elementos com significado) e palavras; e (ii) sintaxe, na qual esses morfemas e palavras podem ser combinados em maiores estruturas. De forma crítica, a dualidade de padronização é a propriedade que permite à linguagem humana criar um grande dicionário a partir de poucos distintos sinais. E a partir da sintaxe, temos a expansão para semânticas (significado de expressões). Uma combinação de sintaxe e de semânticas permite um número ilimitado de expressões com significado.

          Por exemplo, as palavras 'gato', 'ato' e 'toga' são compostos por três básicos fonemas (/ ga / a / to /), estes os quais nem sempre possuem significados independentes na língua portuguesa, mas com os significados emergindo através de específicas combinações desses fonemas. No entanto, fonemas não podem ser combinados de qualquer forma possível devido a limitações, incluindo a eficiência na produção de certos sons em sequência. Nesse sentido, surge a sintaxe, onde elementos com significados (morfemas ou palavras) são combinadas para se produzir expressões mais complexas. Por exemplo, as expressões 'cão morde homem' e 'homem morde cão' possuem diferentes significados, refletindo que regras (ex.: ordem das palavras) governam como partes constituintes interagem para produzir significados em geral. Esse processo é chamado de sintaxe composicional.

           Esses padrões, componentes (unidades de produção) e processos de construção da linguagem humana têm sido também identificados em sistemas de comunicação de outros animais, e complexas combinações sonoras e de chamados são encontrados ao longo de diversas espécies (aviárias e mamíferas) (Ref.12). Evidências acumuladas em estudos recentes sugerem que algumas espécies evoluíram ambos, sintaxe e semânticas (formas rudimentares), e algumas poucas espécies podem inclusive integrá-las para gerar mensagens compostas.

           Os primatas não-humanos e não-extintos, apesar de não serem bons em aprendizado vocal, possuem ótimas habilidades gestuais visando comunicação. Em primatas que foram ensinados a linguagem humana de sinais, é amplamente observado a habilidade de combinar duas ou mais palavras em sequências. Por exemplo, Nim Chimpsky, um chimpanzé (Pan troglodytes), aprendeu cerca de 125 sinais da Linguagem de Sinais Americana, e consegue produzir cadeias de sinais com significado, como 'brincar, eu' ou 'abraçar, eu' (Ref.13). Apesar desse tipo de processo não evidenciar uso de estruturas sintáticas como os humanos adultos fazem - sugerindo uma falta de habilidade cognitiva para produzir combinações sintáticas de palavras -, o fato de chimpanzés conseguirem produzir diferentes sinais ou chamados em sequências indica que os ancestrais comuns de humanos e outros primatas superiores eram capazes de produzir combinações triviais, as quais fornecem a base para a sintaxe composicional.

            Os machos adultos do Macaco-de-Campbell (Cercopithecus campbelli) produzem seis diferentes tipos de chamados altos e discretos (elementos vocais), os quais eles combinam em várias sequências de forma altamente contexto-específica (Ref.14). Esses elementos conservam seus significados não importando a sequência na qual inseridos, e as sequências expressam significados que refletem suas partes (elementos vocais), ou seja, mais um exemplo de sintaxe composicional, mesmo que rudimentar. Em particular, esse primata possui dois principais predadores: leopardos (Panthera pardus) e águias-coroadas (Stephanoaetus coronatus). O macaco-de-Campbell (macho e fêmea) usa dois diferentes chamados quando detecta esses predadores: um 'krak' para leopardos e um 'hok' para as águias-coroadas. Eles também adicionam um afixo sonoro '-oo' em ambos os chamados para produzir dois novos chamados: 'krak-oo' e 'hok-oo'. O Chamado 'krak-oo' é dado para qualquer perturbação no ambiente, e o chamado 'hok-oo' é dado para qualquer perturbação na cobertura florestal (ex.: árvore caindo). Esse uso dos mesmos elementos, com os mesmos significados, em diferentes sequências, tornam esses chamados composicionais, não apenas combinatórios.

            A afixação nos chamados do macaco-de-Campbell modifica o significado dos chamados 'raízes' de uma forma previsível: mudando um chamado designando um específico predador em um chamado designando uma perturbação menos específica no mesmo espaço físico geral. E o mais importante, o significado desse sufixo é abstrato: não se refere a uma concreta entidade, mas direciona o ouvinte a imaginar uma situação geral que é perturbadora em um modo similar à presença de um predador, porém, não tão perigosa quanto a real presença do predador. Operadores abstratos de significância desse tipo são tradicionalmente apenas atribuídos à linguagem humana.



           Explorando agora grupos de animais filogeneticamente distantes dos humanos, os melhores exemplos que podem ser citados nesse sentido são o Melharuco-Japonês (Parus minor) e o Zaragateiro (Turdoides bicolor), duas aves que solidamente representam uma evolução convergente de sintaxe composicional de acordo com resultados de estudos mais recentes (Ref.15). No caso do melharuco-Japonês, essa espécie produz chamados de alerta quando alertando membros do grupo sobre predadores, e chamados acusticamente distintos de recrutamento quando visam atrair membros do grupo. Essa ave também produz chamados sequenciais de alerta-recrutamento - para reunir os membros contra um predador estacionário - no qual o significado de toda a sequência depende não apenas do significado dos chamados individuais (combinação de elementos vocais de alerta e de recrutamento), mas também da ordem na qual esses chamados são combinados. É como um humano não entender a mensagem falada 'Próximo! lobo um reúnam-se porque', mas entender a mensagem falada 'Reúnam-se, porque um lobo está próximo!'. O zaragateio também produz chamados sequenciais alerta-recrutamento similares.



            Em termos de fonologia, apesar da diversidade associada à linguagem, certos padrões linguísticos são notavelmente consistentes ao longo das populações humanas. Existe forte evidência de padrões universais no inventório e organização de segmentos na nossa linguagem: unidades que são separadas por transições acústicas rápidas que são usadas para construir sílabas, palavras e frases. E existe ampla evidência de que espécies de papagaios, aves de canto e baleias podem criar novos cantos ao combinar e rearranjar segmentos respiratórios ou "sílabas".

           Em um estudo recente, publicado no periódico Scientific Reports (Ref.16), pesquisadores reportaram que o periquito-australiano (Melopsittacus undulatus) expressa padrões fonológicos universais similares aos observados em humanos. O estudo mostrou que o canto em quatro populações independentes dessas aves é constituído de segmentos similares a consoantes e a vogais, e que a organização desses segmentos dentro de sílabas não era aleatória. Assim como na linguagem falada humana, os segmentos no início de uma vocalização eram mais prováveis de serem uma consoante e os segmentos no final eram mais prováveis de serem mais longos, mais silenciosos e com frequências fundamentais mais baixas.



          Outra característica fonológica da linguagem falada humana é o ritmo de fala, particularmente os rápidos ciclos de abertura e fechamento da boca, compartilhados por todas as linguagens usadas ao longo de todas as etnias e culturas da população humana. Esse ritmo é inerente à linguagem falada e universal porque expressa a produção de sílabas, onde a abertura e fechamento da boca relativamente corresponde à produção de consoantes e vogais, respectivamente. Esse ritmo tipicamente exibe uma taxa de 2-7 Hz, ou seja, de 2 a 7 ciclos de abertura-fechamento por segundo, e é um sinal acústico e visual da fala que parece ser crítico para sua inteligibilidade.

           Nesse sentido, vários primatas - incluindo os primatas superiores, como chimpanzés - também possuem um rápido ritmo de ciclos sucessivos de abertura e fechamento da boca, equivalente a cerca de 4-5 Hz (Ref.17). Esse ritmo é encontrado desde o canto de gibões (família Hylobatidae) até os chamados constituídos de elementos vocais similares a vogais e a consoantes nos orangotangos (gênero Pongo), e representam uma assinatura e um provável passo crucial para a evolução da linguagem humana falada, com esta provavelmente recrutando antigos sinais rítmicos de primatas ancestrais - marcando uma continuidade evolucionária ao longo de movimentos bucais de rápido ritmo entre os primatas.


Movimentos rápidos de abertura-fechamento da boca em chimpanzés da espécie Pan troglodytes, enquanto trata da pelagem de outro membro do grupo. Vídeo: Katie Slocombe (Ref.17)

            Pela idade de 1 mês (e possivelmente mais cedo), bebês humanos produzem sons que não são ligados à expressão de uma necessidade particular (ex.: choro de fome). Isso é refletido no uso pelos bebês de gritos agudos, vocativos e murmúrios associados com estados afetivos positivos, negativos e neutros, mas sem ligação a experiências de um particular tipo de afeto. Em contraste, os bebês humanos usam risadas e choros em contextos afetivos únicos, positivos e negativos, respectivamente, e com significado. Os sons diversos sem significância fazem parte do aprendizado vocal inicial dos humanos, permitindo aos bebês usarem, mais tarde, todos esses sons praticados para a expressão de real linguagem. E apesar de se considerar que o comportamento vocal em primatas não-humanos é desde o início da vida inflexível - com diferentes tipos de chamados ligados a funções específicas e às vezes a estados afetivos específicos -, um estudo publicado recentemente no periódico Science Advances (Ref.18) mostrou que os bebês chimpanzés usam sons parecidos com roncos em contextos gerais (positivos, negativos e neutros), ou seja, sugestivos de serem funcionalmente flexíveis. Isso indica que essa capacidade vocal fundamental ocorreu antes da divergência evolutiva do gênero Homo das linhagens Pan.

           Por fim, em um estudo publicado em outubro de 2020 também no periódico Science Advances (Ref.19), pesquisadores investigaram a habilidade de rastrear relações sintáticas entre palavras, particularmente ao longo de distâncias ("dependências não-adjacentes"), em três espécies de primatas: chimpanzé-comum (Pan troglodytes), humanos modernos e o filogeneticamente distante sagui-comum (Callithrix jacchus). A dependência não-adjacente é uma faculdade crítica associada à linguagem humana. Por exemplo, na sentença "o cão que mordeu o gato está fugindo", nós entendemos que o cão, e não o gato, fugiu, por sermos capazes de processar a relação (dependências) entre palavras distantes umas das outras na frase. Com a ajuda de gramáticas artificiais, utilizando sons sem significados ao invés de palavras, os pesquisadores mostraram que todas as três espécies analisadas eram capazes de processar tanto elementos sonoros adjacentes quanto elementos sonoros não-adjacentes, generalizando as gramáticas para novos estímulos e detectando violações gramaticais.   

            Esse último achado indica que um crucial facilitador cognitivo da linguagem é um traço ancestral que evoluiu há pelo menos ~40 milhões de anos, bem antes da emergência da linguagem. As evidências exploradas até aqui também sugerem que os primatas não-humanos em geral possuem importantes componentes linguísticos caracterizando uma complexa comunicação multimodal, unindo sistemas gestual, facial auditivo e vocal, e espelhando um rudimentar quadro geral da linguagem humana.

> Leitura recomendadaHumanos conseguem reconhecer e entender os gestos produzidos por chimpanzés e bonobos, aponta estudo


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   ADAPTAÇÕES NEUROBILÓGICAS E GENÉTICAS

            Em um impactante estudo publicado em julho de 2020 no periódico Nature Neuroscience (Ref.20), pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, Israel, analisaram a conectividade cerebral - eficiência da transferência de informação através da rede neural - de 130 espécies de mamíferos, incluindo também 32 humanos. Os resultados revelaram que os níveis de conectividade cerebral são iguais em todos os mamíferos, incluindo humanos. Até esse estudo, era pensado que a conectividade no cérebro humano era significativamente maior comparado com outros animais, uma possível explicação para a superioridade cognitiva humana. Mas, desde ratos até golfinhos, a conectividade exibida é igual, e a informação é transportada com a mesma eficiência no cérebro.

           E, mais recentemente, dois robustos publicados na Science (II) revelaram que as aves evoluíram uma estrutura neural no cérebro análoga ao neocórtex dos mamíferos, sugerindo também que os corvos (família Corvidae) potencialmente possuem consciência. De fato, alta capacidade cognitiva evoluiu entre corvos e papagaios (família Psittacidae) (III), espelhando estruturas neurais específicas que antes eram pensadas únicas - em termos de complexidade e função - de primatas superiores.


> Para mais informações:


           Esses estudos mostram que estruturas cerebrais altamente complexas não são únicas dos humanos, seja por causa de conservação no percurso evolutivo (traços herdados de ancestrais comuns), seja por causa de evolução convergente. Isso implica que muitas redes neurais - e genes associados a essas redes neurais - responsáveis pela linguagem humana provavelmente estão presentes em vários outros animais, e talvez até mesmo antes da emergência dos mamíferos. 

           O aprendizado vocal em aves e humanos compartilham um número de estruturas na parte frontal do cérebro especializadas no controle de canto e de fala, respectivamente. Entre as aves, vários núcleos no cérebro são distribuídos em dois caminhos: o anterior, ou caminho de aprendizado vocal, o qual é especializado na imitação vocal e maleabilidade, e o posterior, ou caminho de produção vocal, o qual está associado com a produção intencional de vocalizações aprendidas. Dentro do caminho posterior, aves de canto, papagaios e beija-flores possuem três regiões motoras no córtex análogas (núcleo robusto do arcopálio, núcleo central do arcopálio anterior, e o núcleo vocal do arcopálio), os quais, por sua vez, são análogos ao córtex laríngeo motor em humanos. Tanto em aves quanto em humanos, esses núcleos fazem uma projeção direta nos neurônios motores da haste cerebral que controlam a siringe nas aves e a laringe nos humanos.

              Em um estudo publicado em 2018 no periódico PNAS (IV),  pesquisadores encontraram evidências fortemente sugerindo que a linguagem é aprendida em um sistema cerebral que é também usado para vários outros propósitos (ex.: navegação espacial) e que já existia muito antes do ancestral comum entre chimpanzés e humanos emergir no planeta, há 5 milhões de anos. No estudo foi mostrado que as crianças aprendem a linguagem nativa e os adultos aprendem uma linguagem estrangeira a partir de circuitos nervosos bem antigos na linha evolucionária, os quais também são usados para tarefas de aprendizado tão diversas quanto se lembrar de uma lista de compras ou de aprender a como dirigir um carro, e que também são usadas por ratos para navegar labirintos em laboratórios.

(IV) Para mais informações, acesseCientistas mostram que a linguagem é aprendida em circuitos no cérebro anteriores ao surgimento evolutivo do ser humano

           Já em um estudo publicado em abril de 2020 no periódico Nature Neuroscience (Ref.21), os pesquisadores encontraram um homólogo do caminho humano fascículo arqueado em primatas não-superiores, sugerindo que as estruturas neurais cruciais para a linguagem emergiram há pelo menos 25 milhões de anos. O fascículo arqueado é um caminho cerebral dorsal crítico para a linguagem, maturando durante a infância em um caminho dominante e hemisfério-esquerdo lateralizado. Danos nessa estrutura resultam em transtornos de linguagem. Chimpanzés, por exemplo, possuem um homólogo do fascículo arqueado que interconecta as áreas posterior temporal e inferior frontal do cérebro, porém era incerto se macacos também expressavam um homólogo. Usando várias técnicas de análise neural, incluindo imagem por ressonância magnética, os pesquisadores encontraram que macacos Rhesus (Macaca mulatta) também possuem um homólogo desse caminho neural com origem no córtex auditório, sugerindo que a linguagem humana pode ter uma base evolucionária no sistema auditório de primatas ancestrais filogeneticamente distantes.

           Esse estudo é corroborado por um mais recente, publicado em janeiro de 2021 no periódico Neuron (Ref.22) mostrando uma efetiva conectividade comum fronto-temporal entre humanos e macacos, em específico uma efetiva conectividade entre o córtex caudal auditivo e ambos ventro-lateral pré-frontal córtex e córtex para-hipocampal, crucial para a linguagem e a memória declarativa em humanos. A principal diferença é uma mais forte lateralização dos efeitos de conectividade nos humanos, mas o princípio organizacional é altamente conservado nos primatas.


            E explorado anteriormente, o ritmo de fala (ciclos de abertura-fechamento da boca) nos primatas não-humanos também parecem ser dependentes de circuitos corticais homólogos àqueles encontrados em humanos, incluindo uma trajetória de desenvolvimento extremamente similar (Ref.23). Esse paralelismo sugere mais uma vez que a produção silábica em humanos evoluiu de expressões faciais rítmicas presentes em um ancestral comum entre humanos e macacos.

           Todas essas evidências sendo aqui listadas acabam também ajudando a derrubar uma ultrapassada hipótese sugerindo que a linguagem humana emergiu instantaneamente a partir de uma única mutação genética. No caso, uma suposta macro-mutação teria emergido em um único humano (gênero Homo) que seria o ancestral de todos os humanos modernos (H. sapiens), sendo rapidamente fixada por conferir grande vantagem (linguagem) adaptativa. Essa hipótese, mais uma vez, é fomentada pela noção de que a linguagem é um traço extremamente único à nossa espécie, algo que, como vimos, passa longe da verdade. Diversos componentes essenciais da linguagem são encontrados em outros animais, e é muito mais provável que a evolução da linguagem tenha sido um processo gradual, percorrendo dezenas de milhões de anos. De fato, um estudo publicado na Nature em janeiro de 2020 (Ref.24), simulando dinâmicas evolucionárias, encontrou que a hipótese da mutação única é improvável, sendo muito mais favorável múltiplas mutações se acumulando ao longo de um extenso período geológico, cada uma delas fornecendo moderada vantagem adaptativa.

           Nesse mesmo caminho, temos o famoso e controverso gene FOXP2, o primeiro gene encontrado de estar envolvido com a produção de linguagem. Esse gene codifica a proteína da caixa Forkhead P2 (FOXP2), um fator de transcrição que é expresso em altos níveis no cérebro durante o desenvolvimento fetal, assim como no pulmão e no intestino. Mutações no gene FOXP2 humano estão associados com dificuldade de movimentos orofaciais e disfunções na linguagem mesmo em indivíduos que são intelectualmente normais, seguindo um padrão autossômico-dominante de herança. Apesar desse gene estar presente em vários outros animais, o alelo desse gene em humanos carrega duas distintas mutações que não são encontradas em quaisquer outros primatas ainda vivos, e análises preliminares sugeriram que esse alelo foi submetido a um processo de forte e recente (últimos ~200 mil anos) seleção positiva na espécie humana. Após esse evento de seleção natural, o desenvolvimento da linguagem teria finalmente emergido no H. sapiens.

            Porém, em 2018, um estudo conclusivo publicado no periódico Cell (Ref.25) mostrou, após uma compreensiva análise genômica populacional, que não existe evidência de que o alelo humano do gene FOXP2 sofreu forte e recente pressão seletiva, e que o alelo ancestral desse gene em algumas populações Africanas modernas ainda persiste em elevada frequência. Ou seja, não parece ser um alelo essencial para a linguagem, e não existe evidência de diferenças na habilidade de linguagem entre populações humanas. Além disso, como já apontado por um estudo prévio, publicado em 2007 no periódico Current Biology (Ref.26) - o qual encontrou as mesmas duas mutações no gene FOXP2 de Neandertais -, o estudo de 2018 encontrou evidência de que esse alelo é anterior à emergência dos humanos modernos, pré-datando o ancestral comum do H. sapiens e do H. neanderthalensis (mais de 300-400 mil anos atrás.)

            Deixando de lado o alelo supostamente 'especial', o fato do gene FOXP2 estar presente em vários outros mamíferos e aves cumprindo funções associadas à comunicação nesses animais, é outra clara evidência de que as bases evolucionárias da linguagem são muito antigas na história do planeta. Esse gene é altamente conservado, com apenas dois aminoácidos de diferença separando o distinto alelo humano do alelo presente em chimpanzés, e apenas três aminoácidos de diferença separando esse alelo humano do alelo correspondente em ratos. Em aves, o gene FOXP2 parece ser crítico para o aprendizado vocal.

         É válido também citar o gene SRGAP2, cuja série de sucessivas duplicações ao longo dos últimos 6 milhões de anos de evolução dos hominídeos e homininis levou à emergência dos genes parálogos SRGAP2B, SRGAP2C, e SRGAP2D, estes os quais ocorrem nos humanos modernos, nos Denisovanos e também nos Neandertais - e em nenhum outro mamífero hoje vivo -, e estão associados com a evolução do cérebro humano e de uma crescente capacidade cognitiva. Em particular, o alelo SRGAP2C parece ser essencial para o estabelecimento da conexão cortical-laríngea do circuito de aprendizado vocal na nossa espécie (Ref.27). É mais uma evidência de que aprendizado vocal complexo já pode ter sido parte do arsenal de alguns dos nossos ancestrais e parentes evolutivos próximos extintos. E outro ponto importante é que o gene SRGAP2 é altamente conservado entre mamíferos, e forneceu base para a evolução do alelo SRGAP2C a partir de mutações englobadas pela Teoria Evolutiva.

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   NEANDERTAIS E LINGUAGEM 

           Estamos cansados de ouvir que a linguagem é um traço único dos humanos modernos (Homo sapiens), porém essa afirmação é feita relativa aos animais hoje vivos. Duas espécies do gênero Homo, hoje extintas e filogeneticamente muito próximas do H. sapiens, podem ter desenvolvido linguagem: Neandertais e Denisovanos (Homo denisova). Enquanto que sabemos muito pouco sobre os Denisovanos em termos arqueológicos e anatômicos, temos evidência abundante de que os Neandertais possuíam uma capacidade cognitiva muito similar à nossa, incluindo evidência de práticas simbólicas (pinturas em cavernas, objetos decorativos, etc.) - uma assinatura que fortemente sugere linguagem.

> Para mais informações sobre essas duas espécies de humanos arcaicos, acesse: 


             Nesse sentido, em um impactante estudo recentemente publicado no periódico Nature Ecology & Evolution (Ref.28), um time internacional de pesquisadores mostraram que os Neandertais possuíam a habilidade de perceber e produzir a fala humana.

          Primeiro, os pesquisadores usaram escaneamentos de tomografia computacional de alta resolução para criar modelos virtuais 3D das estruturas auriculares do Homo sapiens e de Neandertais, assim como de fósseis mais antigos encontrados em Atapuerca, na Espanha, representando ancestrais dos Neandertais (homininis de Sima de los Huesos). Integrando os modelos 3D com um software especializado em bioengenharia auditiva, os pesquisadores estimaram as habilidades auditivas dessas espécies humanas até 5 kHz, faixa a qual engloba as frequências dos sons emitidos na fala do H. sapiens. Comparado com os fósseis de Aapuerca, os Neandertais mostraram uma significativa melhor capacidade auditiva entre 4 kHz e 5 kHz, se aproximando bem mais dos humanos modernos.




           Em seguida, os pesquisadores calcularam a faixa de frequência do máximo de sensibilidade auditiva de cada espécie, ou seja, a faixa do sistema de comunicação que permite um maior número de sinais acústicos facilmente percebidos pelo ouvinte durante a comunicação oral, melhorando a eficiência de comunicação (habilidade de entregar uma mensagem clara no menor intervalo de tempo). Essa faixa sonora ótima mostrou ser muito similar entre humanos modernos e Neandertais quando comparado aos humanos mais arcaicos.

           Os achados fortemente sugerem que os Neandertais possuíam habilidades auditivas similares às nossas e também uma similar capacidade de produzir sons típicos da fala humana (ouvido otimizado para captar as frequências sonoras associadas), incluindo um maior uso de consoantes. Isso indica uma co-evolução de crescente expressão de comportamentos complexos e aumento da eficiência na comunicação vocal ao longo do curso da evolução humana, sugerindo mais uma vez que os Neandertais provavelmente evoluíram linguagem similar à nossa.

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   CONCLUSÃO

          Muitas das características fenotípicas e genéticas antes pensadas serem únicas dos humanos modernos foram eventualmente mostradas nas últimas décadas espelharem homólogos em outros animais, incluindo no campo cognitivo. Chimpanzés estão inclusive ligados à expressão diversa de cultura (Ref.29) e até ursos já mostraram imitar expressões faciais de outros membros do grupo durante a comunicação social, algo até recentemente considerado único dos primatas superiores (Ref.30). Cientistas inclusive suspeitam que corvos possuem consciência. De fato, estudos recentes têm concluído que não existem traços presentes em humanos e ausentes em outros animais que isolados explicam a performance cognitiva superior da nossa espécie (Ref.31). Ao invés disso, existem vários domínios cognitivos evolutivamente conservados nos quais os humanos possuem uma maior capacidade do que aqueles mesmos domínios encontrados em outras espécies, com a proficiência cognitiva humana emergindo através de interações e reforço entre domínios cognitivos em múltiplas escalas.

          Nessa mesma linha, a linguagem humana, apesar de representar uma habilidade cognitiva e motora muito complexa, é constituída por vários blocos básicos de construção presentes em animais diversos, conservados por ancestralidade comum ou adquiridos via evolução convergente em grupos filogenicamente muito distantes (aves, no caso). Somando-se a isso, várias evidências apontam que os Neandertais também expressavam linguagem, e possivelmente bem similar à nossa. Isso fortemente sugere que, assim como todos os outros traços nos seres vivos, a linguagem é apenas mais um produto evolutivo, fruto de pressões ambientais específicas, e emergindo de forma gradual a partir de sucessivas contribuições ancestrais. 

          Nesse sentido, ao invés da errônea ideia de considerar a faculdade da linguagem como um objeto orgânico homogêneo, do ponto de vista biológico a competência linguística é melhor representada como um complexo mosaico formado por uma combinação de vários traços herdados (homólogos) e filogenicamente heterogêneos, amalgamados por um processo Darwiniano. Nenhuma intervenção 'sobrenatural' é realmente necessária para explicar a linguagem humana.

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CURIOSIDADE: Os sons de 'v' e de 'f' na linguagem humana falada apenas surgiram e ficaram comuns quando os humanos modernos começaram a consumir mais alimentos macios. E esse processo plástico na evolução da nossa linguagem ocorreu recentemente, nos últimos milhares de anos. Isso significa que povos antigos - incluindo Antigos Romanos - provavelmente não adotavam fonemas como 'FAca' e 'VOcê', algo observado em certos grupos de caçadores-coletores modernos. Esse também é outro exemplo demonstrando como fatores ambientais atuam para moldar a linguagem humana, assim como em quaisquer outros processos evolutivos. Para mais informações, acesse: Humanos só começaram a usar os sons de 'v' e 'f' na linguagem ao adotarem uma dieta macia

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> Para quem estiver interessado em se aprofundar mais na literatura acadêmica relativa à evolução da linguagem humana, fica a sugestão do periódico especializado Journal of Language Evolution.


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  1. Pagel, M. Q&A: What is human language, when did it evolve and why should we care?. BMC Biol 15, 64 (2017). https://doi.org/10.1186/s12915-017-0405-3
  2. Harald Hammarström, Linguistic diversity and language evolution, Journal of Language Evolution, Volume 1, Issue 1, January 2016, Pages 19–29, https://doi.org/10.1093/jole/lzw002
  3. https://royalsocietypublishing.org/doi/full/10.1098/rstb.2019.0042
  4. https://royalsocietypublishing.org/doi/full/10.1098/rstb.2019.0046
  5. Cancho, R. F. i., & Sole, R. V. (2001). The small world of human language. Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, 268(1482), 2261–2265. 
  6. https://www.nature.com/articles/s41598-021-83564-8 
  7.  https://royalsocietypublishing.org/doi/full/10.1098/rstb.2018.0406
  8. https://royalsocietypublishing.org/doi/full/10.1098/rsbl.2009.0685
  9. Nowicki, S., & Searcy, W. A. (2014). The evolution of vocal learning. Current Opinion in Neurobiology, 28, 48–53.
  10. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0959438814001226
  11. https://www.sciencemag.org/news/2018/08/can-these-birds-explain-how-language-first-evolved
  12. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/wcs.1493
  13. https://royalsocietypublishing.org/doi/full/10.1098/rspb.2014.0263
  14. https://www.pnas.org/content/106/51/22026
  15. https://royalsocietypublishing.org/doi/full/10.1098/rstb.2018.0405
  16. https://www.nature.com/articles/s41598-020-80340-y
  17. https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rsbl.2020.0232
  18. https://advances.sciencemag.org/content/6/43/eabb0725
  19. https://www.nature.com/articles/s41593-020-0641-7
  20. https://academic.oup.com/jole/advance-article/doi/10.1093/jole/lzaa009/6017427
  21. https://www.nature.com/articles/s41593-020-0623-9
  22. https://www.cell.com/neuron/fulltext/S0896-6273(20)31030-8
  23. Boeckx, C. (2020). Language Evolution. Evolutionary Neuroscience, 899–916.
  24. https://www.nature.com/articles/s41598-019-57235-8
  25. https://www.cell.com/cell/fulltext/S0092-8674(18)30851-1
  26. https://www.cell.com/current-biology/fulltext/S0960-9822(07)02065-9
  27. https://academic.oup.com/jole/article/3/1/67/4797564
  28. https://www.nature.com/articles/s41559-021-01391-6
  29. https://www.nature.com/articles/s41598-019-39932-6
  30.  https://www.nature.com/articles/s41562-020-0890-1
  31. https://www.annualreviews.org/doi/abs/10.1146/annurev-psych-062220-051256
  32. https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rstb.2020.0243