Eel Gobies: Estranhos peixes com corpo alongado e boca cheia de dentes
Figura 1. Screenshots de um famoso vídeo que circula nas redes sociais trazendo estranhas criaturas. |
Os animais na Fig.1 são peixes da subfamília Amblyopinae (família Gobionellidae), caracterizados por um corpo alongado (às vezes similar a uma enguia), uma única barbatana dorsal fundida com a barbatana caudal (assim como a nadadeira anal fundida com a nadadeira caudal), um grande número de elementos nas nadadeiras verticais, e olhos rudimentares e muito reduzidos (até total ausência ocular) cobertos pela pele. Esses estranhos e "monstruosos" peixes cavam buracos no fundo lamoso de águas rasas marinhas e estuários, e são nativos da região do Indo-Pacífico. Apesar de preferirem regiões rasas no mar, podem ser encontrados até uma profundidade de 100 metros. Existem atualmente 15 gêneros e 26 espécies reconhecidas, exibindo cores corporais rosa, roxa ou vermelha.
Algumas espécies de Amblyopinae (ex.: gêneros Odontamblyopus e Taenioides) são tão bem adaptadas a ambientes terrestres que possuem habilidades únicas para respirar e assimilar oxigênio do ar atmosférico através de um epitélio interno altamente vascularizado na cavidade bucal-opercular, visando lidar com condições de hipoxia nos habitats lamacentos de marés. O peixe da espécie Odontamblyopus lacepedii (Fig.2), encontrado no Japão, é capaz de respirar através do ar atmosférico e é considerado um bom modelo de transição aquático-terrestre (Ref.2).
Aliás os membros da subfamília Amblyopinae são próximo-relacionados aos peixes da subfamília Oxudercinae, esta a qual engloba peixes que respiram e andam por longos períodos em ambientes terrestres (!). Ambos os clados (Oxudercinae e Amblyopinae) exibem adaptações genéticas a nível mitocondrial positivamente selecionadas no sentido de aumentar a capacidade de produção de ATP (atendendo ao maior requerimento de energia no ambiente terrestre) e mitigar o estresse oxidativo sobre o DNA associado ao ambiente fortemente oxigenado fora da água (Ref.5).
> Em inglês, esses peixes são popularmente conhecidos como eel gobies ou worm gobies ("enguias ou vermes gobies").
> Os peixes Amblyopinae são também encontrados no Oceano Atântico, inclusive no território Brasileiro (Ref.3).
Figura 4. Peixe (Amblyopinae) da espécie Taenioides purpurascens. Ref.6 |
Figura 3. Peixe (Amblyopinae) da espécie Trypauchen vagina. Ref.7 |
REFERÊNCIAS
- Murdy, Edward (2011). The Biology of Gobies (pp.107-118). Chapter: Chap. 1.8, Systematics of Amblyopinae.
- Gonzales et al. (2006). Air breathing of aquatic burrow-dwelling eel goby, Odontamblyopus lacepedii (Gobiidae: Amblyopinae). Journal of Experimental Biology, Volume 209, Issue 6.
- Trevisan et al. (2022). The first record of burrowing goby Trypauchen vagina (Bloch & Schneider, 1801) (Gobiiformes: Gobiidae: Amblyopinae) from Atlantic Ocean. Journal of Fish Biology. https://doi.org/10.1111/jfb.15176
- Prokofiev, A.M. (2015). An overview of gobies of the subfamily Amblyopinae (Gobiidae) from the Western South China Sea (Vietnam and Indonesia) and Pacific waters of the Philippines. Journal of Ichthyology 55, 783–791. https://doi.org/10.1134/S003294521506017X
- Liu et al. (2023). Amblyopinae Mitogenomes Provide Novel Insights into the Paraphyletic Origin of Their Adaptation to Mudflat Habitats. International Journal of Molecular Sciences 24(5), 4362. https://doi.org/10.3390/ijms24054362
- https://fishesofaustralia.net.au/home/species/163
- Murdy, E. (2006). A revision of the gobiid fish genus Trypauchen (Gobiidae: Amblyopinae). Zootaxa. https://doi.org/10.11646/ZOOTAXA.1343.1.3
- Murdy, E. (2011). Systematics of Amblyopinae. Chapter 1.8; https://doi.org/10.1201/b11397-10