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Menina de 5 anos com tularemia ulceroglandular

          Em um relato de caso publicado no periódico The New England of Medicine, uma menina de 5 anos de idade foi apresentada ao Hospital da Criança de Lucerne, Suíça, com um histórico de 4 semanas de um doloroso inchaço em ambos os lados do abdômen inferior. Animais que ela tinha frequente contato incluíam um gato e um cão. Seis semanas antes da apresentação hospitalar, seus pais notaram um carrapato enterrado no seu umbigo, e logo o removeram com uma pinça. Cinco dias depois, a paciente teve febre, perda de apetite, fatiga, e vermelhidão ao redor do umbigo (Figura A). Esses sintomas desapareceram depois de 4 dias. No dia da sua apresentação ao hospital, o exame médico mostrou uma notável linfadenopatia inguinal em ambos os lados (Figura B). Tratamento com ciprofloxacina oral foi iniciado por suspeita de tularemia ulceroglandular. Teste sorológico suportou o diagnóstico: a contagem de anticorpos contra a bactéria Francisella tularensis foi de 1:1280. Duas semanas após completo o tratamento, houve uma redução na linfadenopatia. Após mais 2 semanas, o inchaço foi completamente resolvido.


            A tularemia é uma infecção que pode ocorrer através de insetos infectados (carrapatos, mosquitos e moscas). Tularemia ulceroglandular é a forma mais comum da doença. 

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   TULAREMIA 

          Tularemia - também conhecida como "febre do coelho" - é uma doença causada pelas cepas Tipo A e Tipo B da bactéria Francisella tularensis. O Tipo A - mais patogênico para os seres humanos - circula principalmente na América do Norte e o Tipo B é encontrado ao longo do Hemisfério Norte, mas têm sido detectado recentemente na Austrália. A bactéria possui inúmeros hospedeiros, e a doença associada ocorre tanto em animais domésticos (ovelhas e gatos) quanto em animais selvagens (coelhos, esquilos, castores e veados). Lagomorfos (ex.: coelhos) e pequenos roedores são a fonte primária de infecção em humanos. Carrapatos da família Ixodidae são vetores da F. tularensis, mas também são provavelmente reservatórios naturais dessa bactéria. Mosquitos e mosca-de-veado (Cephenemyia stimulator) podem também transmitir a F. tularensis, mas não são considerados hospedeiros de longo prazo. 

 

          Nesse sentido, a tularemia pode ser transmitida através da picada de carrapatos e de alguns insetos. Carrapatos que transmitem tularemia aos humanos incluem o carrapato-do-cão (Dermacentor variabilis) e o carrapato-da-estrela-solitária (Amblyomma cajennense). Infecção humana também pode ocorrer após tocar, manipular ou comer um animal infectado. Em casos raros, ela pode ser transmitida ao beber água contaminada ou inalar poeira contaminada ocasionalmente encontrada no solo, o que justifica preocupação com o uso da bactéria patogênica como arma biológica. Uma pessoa não pode transmitir a doença diretamente para outra pessoa. No Brasil, não existe caso registrado da doença em humanos.




            Os sintomas da tularemia variam dependendo de como a bactéria entra no corpo, e geralmente aparecem dentro de 3-5 dias de exposição, mas isso pode demorar até 14 dias. A doença varia de leve até severa (risco de morte). Picadas de carrapato podem fazer com que uma pessoa tenha úlceras cutâneas dolorosas e/ou inchaço das glândulas. Dor de garganta, dor abdominal, diarreia e vômito podem ocorrem se a bactéria for ingerida. Se a bactéria for inalada, uma pessoa pode apresentar tosse, dor no peito e dificuldade para respirar. Todas as formas são acompanhadas por febre, que pode ser de até 40 graus. As principais formas específicas da doença, são

- Ulceroglandular: Essa é a forma mais comum de tularemia e geralmente ocorre seguindo a mordida de um carrapato ou da mosca-de-veado ou após lidar com um animal infectado. Uma úlcera na pele aparece no local onde a bactéria entrou no corpo. A úlcera é acompanhada de inchaço de glândulas linfáticas regionais, geralmente nas axilas ou na virilha. 

- Glandular: Similar à ulceroglandular, mas sem uma úlcera. 

- Oculoglandular: Ocorre quando a bactéria entra através do olho. Pode ocorrer quando uma pessoa coça os olhos após lidar com um animal infectado. Sintomas incluem irritação e inflamação do olho e inchaço das glândulas linfáticas em frente ao ouvido. 

- Orofaríngea: Ocorre após consumo de água ou alimentos contaminados, resultando em sintomas como garganta irritada, úlceras na boca, tonsilite e inchaço das glândulas linfáticas no pescoço. 

- Pneumônica: Essa é a forma mais séria de tularemia, e se desenvolve após a aspiração de poeira ou aerossóis carregando a bactéria. Pode também ocorrer a partir de outras formas da doença deixadas sem tratamento, onde a bactéria se espalha pela corrente sanguínea até os pulmões. Sintomas incluem tosse, dor no peito e dificuldade de respirar. 

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           A tularemia pode ser difícil de diagnosticar. É uma doença rara, e os sintomas podem ser confundidos com outras doenças mais comuns. É importante informar ao seu médico sobre todas as exposições, como picadas de carrapato e mosca de veado, ou contato com animais doentes ou mortos. Exames de sangue e outros exames laboratoriais podem auxiliar na confirmação do diagnóstico. 

          O tratamento com antibióticos – incluindo estreptomicina, gentamicina, doxiciclina ou ciprofloxacina – geralmente dura de 10 a 21 dias, dependendo do estágio da doença e da medicação usada. Apesar dos sintomas durarem várias semanas, a maioria dos pacientes se recupera completamente. Evite picadas de insetos, vestindo roupas que protejam, como camisas de manga comprida e calças compridas e coloque as pernas da calça por dentro das suas meias. 

> Medidas de prevenção à doença incluem

• Vista roupas de cores claras para ajudá-lo a detectar quaisquer carrapatos em suas roupas antes que eles atinjam a sua pele. 

• Fique na parte central de trilhas quando estiver em uma área bastante arborizada. 

• Use repelentes contra insetos contendo DEET na pele exposta. Leia os rótulos com atenção. Use produtos que não contêm mais que 30% de DEET. Não use repelentes de insetos em crianças. Lave a pele com água e sabão após retornar de uma área externa. 

• Permetrina - e outros repelentes de insetos - pode ser aplicada a itens como roupas para repelir os carrapatos. Leia a embalagem do produto com atenção e siga as instruções de uso. Não aplique diretamente em sua pele. 

• Procure por carrapatos e remova os carrapatos fixados imediatamente. Tente não espremer ou torcer o carrapato. 

• Luvas devem ser usadas ao manusear ou tirar a pele de animais selvagens, principalmente coelhos e roedores. 

• Toda carne de animais selvagens, principalmente de coelhos e roedores deve ser bem cozida antes de comer. 

• Crianças não devem manipular animais doentes ou mortos, principalmente animais selvagens, incluindo coelhos. 

• Evite beber água não tratada ou contaminada.


REFERÊNCIAS

  1. https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/22221751.2019.1638734
  2. Comissão de Saúde Pública de Boston | Departamento de Doenças Infecciosas
  3. https://www.cdc.gov/tularemia/diagnosistreatment/index.html 
  4. http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm
  5. http://saude.campinas.sp.gov.br/doencas/tularemia/tularemia_funasa.htm
  6. https://www.hospitalinfantilsabara.org.br/sintomas-doencas-tratamentos/tularemia/