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Qual é a pior razão para se dar um presente? A ciência responde!

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          Consumidores experienciando escassez financeira são mais inclinados a comprar bens materiais pela utilidade a longo prazo desses produtos em detrimento das experiências que são mais efêmeras. Já consumidores experienciando escassez de tempo são mais inclinados a comprar serviços que poupam tempo como empregados domésticos, sistemas automatizados e entrega de alimentos (delivery). Nesse sentido, apesar dos consumidores regularmente tomarem decisões para aliviar e adaptar suas próprias experiências de escassez, esta pode também ser desviada para ajudar e assistir outras pessoas.

         Consumidores estão regularmente motivados a dar dinheiro e gastar tempo com outras pessoas quando eles percebem que a ajuda irá solucionar uma desvantagem e fazer uma diferença na vida dessas pessoas. Além disso, consumidores são relativamente acurados em identificar quando outras pessoas estão sofrendo com a falta de dinheiro e de tempo.

          Mas qual o impacto dessas intenções de auxílio quando o objetivo é presentear alguém? Apesar das pessoas acharem que qualquer presente será apreciado, será que esse é sempre o caso?

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          Para responder essa questão, pesquisadores da Universidade do Estado de Ohio, EUA, realizaram um amplo estudo publicado no periódico Journal of the Association for Consumer Research (1). Eles encontraram que as pessoas reagem negativamente a presentes que explicitamente ou implicitamente são dados para ajudá-las a economizar dinheiro.

          Segundo os pesquisadores, esse tipo de presente faz a pessoa se sentir inferior ao indivíduo presenteando. Os resultados do estudo mostraram que as pessoas são mais receptivas a presentes que são dados com a intenção de pouparem tempo. Enquanto presentes visando poupar dinheiro são vistos de forma negativa, presentes visando poupar tempo são vistos como um elogio.

           Quando você não possui tempo, você é percebido como alguém ocupado e em alta demanda, características associadas com um valor de alto-status, comparado a não ter dinheiro suficiente, algo associado a baixo-status.

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          Na primeira parte do estudo, os pesquisadores perguntaram a 405 pessoas recrutadas online para lembrarem de ter recebido recentemente um presente que elas achavam que foi intencionado ou para a economia de dinheiro ou para a economia de tempo. Então, foi pedido para que os voluntários escrevessem algumas poucas sentenças sobre como eles se sentiram sobre o presente, completando no final vários questionários sobre a impressão que tinham dos presenteadores. 

          Os resultados mostraram que os presentes dados com a intenção de poupar dinheiro eram mais prováveis de fazer os presenteados se sentirem embaraçados, envergonhados e em péssimo humor, comparado com aqueles que receberam presentes para poupar tempo. A razão? Aqueles que receberam o presente de ajuda financeira acreditavam que o presenteador percebia seu status como maior do que o presenteado, implicando que este último supostamente não saberia cuidar de si mesmo ou que era incompetente por precisar de dinheiro.

         Em outra parte do estudo, os pesquisadores resolveram testar isso na prática. Para isso, eles recrutaram 200 estudantes universitários, os quais receberam um cartão de presente Starbucks de US$5 para dar a um amigo. Metade dos cartões incluíam a mensagem (tradução adaptada): "Eu sei que você tem estado estressado por causa de dinheiro nesses últimos dias. Eu espero que você aproveite esse cartão de presente na esperança que este irá poupá-lo algum dinheiro."

           A outra metade recebeu uma mensagem que era idêntica, exceto que a mensagem ao invés de trazer 'dinheiro' trazia 'tempo'. 

          Todos que receberam os cartões de presente foram também questionados pelos pesquisadores, e os resultados foram idênticos ao primeiro estudo: aqueles que receberam os cartões de presente visando poupar dinheiro tinham emoções mais negativas - além de acreditarem que os presenteadores se consideravam de um status maior - do que aqueles que receberam os cartões de presente visando poupar tempo. De qualquer forma, todos que receberam os cartões de presente se mostraram similarmente dispostos a converterem o valor monetário associado.

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          Por fim, os pesquisadores em outro experimento distinto mostraram que as pessoas que se imaginavam ganhando um cartão de presente que possuía a intenção de poupá-las dinheiro eram mais prováveis de escolher comprar com esse cartão um item de maior status - presumivelmente para aumentar a auto-estima, diminuída com o presente dado.

          Em uma análise geral dos dados acumulados, os pesquisadores concluíram que as pessoas sentiam bem menos apreciação por presentes de 'poupar dinheiro' do que presentes de 'poupar tempo' ou presentes sem motivo explícito ou comunicável.

         Considerando esse último ponto, os pesquisadores sugeriram que - caso possível - presentes visando poupar dinheiro não sejam uma opção, ou que presentes com essa intenção fossem dados de uma forma que o objetivo não ficasse evidente ou que fossem camuflados como presentes visando poupar tempo.


(1) REFERÊNCIA: Lee-Yoon, A., Donnelly, G. E., & Whillans, A. V. (2020). Overcoming Resource Scarcity: Consumers’ Response to Gifts Intending to Save Time and Money. Journal of the Association for Consumer Research. doi:10.1086/709887. Link para o estudo: JACR