Formiga-Prateada
Popularmente conhecida como Formiga-Prateada - devido à sua distinta coloração prateada em boa parte do corpo -, a Cataglyphis bombycina habita o deserto do Saara, o Sinai e os desertos da Península Árabe, e ocupa o nicho de uma coletora termofílica (um organismo termófilo sobrevive a relativas altas temperaturas, acima de 41°C). Isso significa que essa espécie de formiga realiza a atividade de coleta de alimentos durante o meio do dia, quando a maioria das outras formigas no deserto, e outros animais em geral nesses ambientes, param de buscar ativamente alimentos e começam a se alimentar de carcaças de artrópodes que sucumbiram ao calor estressante ou se escondem em buracos e tocas.
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Para explorar esse nicho de coleta, as formigas-prateadas precisam aguentar o ambiente extremamente quente e seco dos desertos. Durante as horas mais quentes do dia, as temperaturas superficiais da areia do Saara podem facilmente exceder os 60°C e o estresse de dessecação alcança seu máximo com substanciais déficits de saturação de vapor de água. A densidade de alimento é baixa e longas distâncias podem ser necessárias de serem cobertas durante a busca por comida, com locais de sombra ausentes ou muito longe uns dos outros devido à vegetação esparsa e a maior parte do céu limpo. Tudo isso piora com a natureza 'fluída' dos grãos de areia no ambiente, o que pode dificultar a locomoção.
Nesse sentido, para sobreviverem a essas duras condições nos desertos, as formigas-prateadas evoluíram um conjunto de traços comportamentais, morfológicos e fisiológicos, os quais tornaram essa espécie um dos animais mais termo-tolerantes do mundo.
- Morfologicamente, a C. bombycina é bem adaptada através de um número de características do gênero Cataglyphis. Isso inclui hidrocarbonetos epicuticulares especiais, um relação volume-superfície favorável (pelo menos para um inseto), um 'tronco' delgado, poderosos músculos, longas pernas (em comparação com outras formigas de regiões de climas temperados) - mantendo-se cerca de 4 mm distante do solo quente - e pelos triangulares com efeitos termorregulatórios (responsáveis pela cor prateada no corpo, a qual ajuda a refletir boa parte da radiação solar incidente).
- Fisiologicamente, essas formigas são adaptadas aos seus áridos e quentes ambientes através de um ciclo descontínuo de ventilação que reduz a perda de água via respiração e através de propriedades oriundas da síntese de proteínas de choque-térmico (como a hsc70-4 h2 e a hsc70-5). Essas proteínas especiais parecem se acumular previamente à exposição ao calor, permitindo o funcionamento normal das suas células em elevadas temperaturas e possibilitando a tolerância a um crítico máximo térmico corporal de 53,6°C.
- Em termos de comportamento, essas formigas tomam vantagem de refúgios térmicos, como gramíneas e formações elevadas no solo, quando disponíveis. Nas atividades sob temperaturas corporais no limite do letal, essas formigas precisam retornar regularmente para seus túneis subterrâneos visando o resfriamento corporal, e atrasos nesse retorno podem ter sérias consequências. Nesse sentido, essa espécie também evoluiu um ótimo senso de navegação (visão e pistas químicas) e um modo de locomoção extremamente rápido. Aliás, a C. bombycina é possivelmente o animal terrestre mais veloz que se tem registro.
De qualquer forma, muitas formigas-prateadas acabam morrendo durante a atividade de coleta, mas o risco compensa já que as sobreviventes geralmente retornam para o ninho com 15-20 vezes suas massas corporais equivalentes de comida e pelo fato delas (coletoras) possuírem uma expectativa de vida de apenas ~6,1 dias. Os soldados permanecem mais próximos da rainha nas enormes colônias, nas partes mais profundas dos ninhos, e representam apenas cerca de 1-2% da força de trabalho total.
RECORDE DE VELOCIDADE
Em um estudo recente publicado no periódico Journal of Experimental Biology (Ref.4), pesquisadores reforçaram que a formiga-prateada é a mais rápida formiga do mundo, encontrando uma velocidade que pode alcançar 855 mm/s - cerca de 200 m/s (720 km/h) se essas formigas fossem do tamanho de um humano adulto. Para compensar as pernas mais curtas do que outras espécies do seu gênero - ~18% mais curtas do que a C. fortis - a formiga-prateada é capaz de dar até 47 passos por segundo, em comparação com os 36 da C. fortis, uma frequência (>40 Hz) superada por poucos animais, como o carrapato da espécie Paratarsotomus macropalpis.
Em termos de tamanho corporal, a relativa velocidade máxima medida - em torno de 108 comprimentos corporais por segundo - é uma das mais rápidas já registradas em animais capazes de correr. No vídeo abaixo, elas podem ser vistas em atividade.
REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
- file:///C:/Users/jeans/Downloads/CataglyphisDesertAnts...2009.pdf
- https://www.nature.com/articles/s41598-018-27628-2
- https://blog.rsb.org.uk/run-for-your-life-the-saharan-silver-ant/
- https://jeb.biologists.org/content/222/20/jeb198705