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Análises genéticas parecem ter revelado a identidade do Jack o Estripador


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          Em 1888, uma série de brutais casos de homicídios não resolvidos em Londres, Inglaterra, foi atribuída a um serial killer (assassino em série) chamado de 'Jack o Estripador'. Agora, um estudo publicado no periódico Journal of Forensic Sciences (Ref.1), parece ter confirmado um dos suspeitos mais notórios como o autor dos crimes, a partir de análises genéticas. Porém, alguns especialistas ainda argumentam que as evidências continuam não sendo fortes o suficiente para apontar conclusivamente o culpado e encerrar o caso.

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   O ESTRIPADOR

          Há pouco mais de 130 anos, durante a Era Vitoriana na Inglaterra, as ruas de Londres foram aterrorizadas por macabros e similares ataques contra prostitutas. Nessa época, as profissionais de sexo trabalhavam de forma independente e em condições precárias e perigosas - especialmente por obedecerem aos gostos do cliente (locais de encontro, horário, entre outras exigências) -, o que as colocavam em um grupo de alto risco. Além disso, devido à natureza da profissão, vestígios como cabelo, fibras, sêmen, etc., encontrados sobre prostitutas vítimas da violência acabam sendo muitas vezes insuficientes para apontar um culpado, dificultando o trabalho investigativo da polícia hoje e, principalmente, no século XIX.

          Provavelmente por causa dessas peculiaridades, as mulheres que vendiam sexo nas ruas de Londres acabaram se transformando nas vítimas exclusivas de um monstro que recebeu o apelido de Jack o Estripador. Jack não precisava fazer contato com suas vítimas, elas mesmos se aproximavam oferecendo o serviço sexual. No ano de 1888 foram 5 prostitutas mortas e estripadas em um período de ~3 meses. E Jack mirava especificamente aquelas com reputação de serem alcoólatras, o que as tornavam alvos ainda mais vulneráveis. Somando-se a isso, ele dava preferência àquelas com idades mais avançadas para a profissão, com exceção da sua última vítima, a qual possuía 20 anos.

          Apesar dos serviços de autópsia na época estarem muito longe do ideal, os encarregados por examinarem os corpos das vítimas de Jack reportaram 11 notórias características:

1. Nenhuma evidência de violência sexual;

2. O assassino matava suas vítimas de forma rápida;

3. O assassino era capaz de manter controle das vítimas durante o ataque inicial;

4. O assassino removia órgãos (ex.: rins, vagina, nariz) de algumas das vítimas, indicando algum conhecimento de anatomia;

5. Nenhuma evidência de tortura física anterior à morte;

6. Mutilação pós-morte;

7. Possível estrangulação manual;

8. Sangue das vítimas eram concentrados em pequenas áreas;

9. Anéis foram removidos de uma das vítimas;

10. A última vítima foi morta dentro de um estabelecimento e foi a mais mutilada. O assassino gastou uma considerável quantidade de tempo na cena do crime;

11. As mortes ocorriam nas primeiras horas da manhã;


          Com exceção do último caso, todas as vítimas foram mortas em espaço aberto, eram mortas com um golpe rápido e, depois de mortas, recebiam mutilações. Todas as mortes ocorreram dentro de 400 metros uma da outra e no segundo semestre de 1888. O horário dos assassinatos era no início das manhãs de sexta-feira, sábado ou domingo.

          O primeiro assassinato de Jack ocorreu no dia 31 de Agosto, na sexta-feira, em Buck´s Row. A vítima era Polly Nichols, uma alcoólatra de 42 anos com cabelo grisalho e sem cinco dentes da frente. Ela tinha cinco filhos de um casamento acabado. Jack cortou sua garganta de orelha a orelha, de volta até à coluna vertebral, e abriu sua barriga da pélvis até o estômago. A autópsia mostrou que a vagina foi esfaqueada.

            O próximo assassinato ocorreu na Rua Hanbury, n° 29, no dia 8 de setembro de 1888, sábado, e a vítima, Annie Chapman, de 45 anos de idade, era obesa e faltava dois dos dentes da frente. Com dois filhos - um deles aleijado - e separada do marido, seu corpo foi encontrado com o pescoço tão profundamente cortado que parecia uma tentativa de decapitação. Sua barriga estava aberta e seu intestino foi colocado sobre seus ombros. Partes da sua vagina foram removidas.

          No dia 30 de setembro, no domingo, um assassinato duplo ocorreu. O Estripador primeiro atacou Elizabeth Stride, de 45 anos, na Rua Berner. Com nove filhos - dois mortos em um acidente junto com seu marido - Jack cortou sua garganta, dilacerando a traqueia, mas a mutilação final foi mínima, porque uma carruagem passou pelo local, interrompendo o ritual. Após a polícia ter encontrado o corpo de Elizabeth, uma hora depois um segundo corpo foi descoberto, em Mitre Square, na Cidade de Londres, pertencente a Catherine Eddowes, de 43 anos. Sua garganta foi profundamente cortada, e sua barriga foi aberta a partir dos seios. O intestino foi então enrolado em seu pescoço. Sua orelha foi quase arrancada, e o útero e um rim removidos.

          O último e mais terrível assassinato ocorreu em 13 Miller´s Court, na sexta-feira, no dia 9 de novembro. A vítima, Mary Kelly, de apenas 20 anos de idade e grávida de três meses, era viúva e, como todas as outras vítimas, possuía problemas de alcoolismo. Quem primeiro encontrou o corpo testemunhou uma cena mais do que grotesca. A cabeça e o braço esquerdo estavam quase completamente separados do corpo, suas mamas, intestino e nariz removidos, e a pele das coxas e testa removidas. As partes corporais retiradas foram então empilhadas em uma mesa ao lado do corpo. Jack gastou bastante tempo com Kelly na cena do crime.

          Os repulsivos e bizarros assassinatos geraram muita repercussão e medo, especialmente na cidade de Whitechapel. Como resposta às primeiras mortes, foi formado o Comitê de Vigilância de Whitechapel, chefiado por George Lusk e constituído de voluntários, mas que acabou se mostrando longe de efetivo. No caso de Catherine Eddowes, é alegado seu rim foi longitudinalmente cortado e enviado via encomenda para Lusk, mas muitos criminalistas modernos acreditam que isso foi um hoax na época, assim como muitas outras cartas que eventualmente foram surgindo supostamente assinadas pelo Estripador mas que se confirmaram falsas. Na época também foi sugerido que os policiais se vestissem de prostitutas para atrair Jack.

> Leitura recomendada: Psicologia evolutiva pode explicar porque serial killers homens e mulheres atuam de forma tão diferente

          Até hoje ninguém sabe quem Jack era, o que motivou suas ações, ou por que ele parou na quinta vítima. É incerto também se houveram outras vítimas não encontradas e/ou não reportadas. Talvez fruto do caótico cenário de Revolução Industrial na Bretanha, Jack marcou da pior forma possível a história por ser o primeiro serial killer da era moderna. Nessa época, de grandes abismos sócio-econômicos e tragédias familiares, é estimado que 1 em cada 16 mulheres eram prostitutas, dando um total na época de 1200 prostitutas em Whitechapel e 80 mil em Londres.

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   ANÁLISES GENÉTICAS

          Agora, analisando a única evidência física conhecida que foi recuperada de uma das vítimas na cena do crime, pesquisadores da Universidade de Leeds, Reino Unido, reforçaram o caso contra um dos principais suspeitos na época de ser Jack o Estripador: Aaron Kosminski, um barbeiro Polonês de 23 anos de idade.

          Desde 2011, os pesquisadores vêm analisando com técnicas minimamente destrutivas manchas e células de um xale de seda associado ao assassinato de Catherine Eddowes. Esse pedaço de tecido foi recuperado pelo Sargento Amos Simpsons da cena do crime em 1888 e, mais recentemente, foi armazenado no Museu do Crime da Polícia Metropolitana, também conhecido como Black Museum.




          Os pesquisadores primeiro realizaram um sequenciamento de DNA mitocondrial (mtDNA) para a identificação tanto da vítima quanto do suspeito - utilizando como referência amostras de material genético dos descendentes hoje vivos de Eddowes e de Kosminski. Depois, realizaram uma análise genômica de células únicas recuperadas do tecido, examinando minuciosamente polimorfismos de nucleotídeos únicos (SNPs) para a determinação das cores da pele, cabelos e olhos visando comparar com a descrição de uma testemunha da época. As manchas no xale contendo sangue, células e sêmen foram discriminadas com a ajuda de técnicas analíticas usando UV/IR.

          Os resultados dos sequenciamentos de mtDNA obtidos de manchas de sêmen no xale corresponderam às sequências do descendente de Kosminski, e as manchas de sangue corresponderam às sequências da família de Eddowes. Além disso, as informações fenotípicas derivadas da análise genômica se encaixaram com a descrição da testemunha: um homem de cabelos e olhos castanhos. Como a maioria da população Britânica possui olhos azuis hoje, isso pode refletir também a prevalência fenotípica na Inglaterra no final do século XIX, tornando o testemunho ainda mais confiável por não seguir um padrão comum.

          Durante a investigação científica, os pesquisadores também reforçaram a hipótese de que o xale talvez não pertencesse à vítima e, sim, ao assassino. A tinta de azul índigo nas partes de floral do tecido era solúvel em água, indicando que pigmentos valiosos foram usados. Isso, portanto, indica que, de fato, o tecido era caro, e improvável de ser uma vestimenta de trabalho de uma mulher com pouquíssimo poder aquisitivo e sob alto risco de ser assaltada. Isso também é mais uma evidência de garantia que as amostras de sêmen e sangue do tecido são realmente provenientes da vítima e do assassino.

          Alguns pesquisadores e cientistas forenses ainda não estão convencidos com os resultados e metodologias de análise (Ref.5). Eles citam limitações na análise de mtDNA e incertezas consideráveis sobre a origem do xale e das amostras biológicas nele incrustadas.

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           De qualquer forma, o objetivo primário do estudo não era descobrir a identidade do Jack o Estripador e, sim, testar o atual poder tecnológico e criar novas metodologias para análises de amostras biológicas com mais de 100 anos de idade e que estão presentes em quantidades ínfimas. Por outro lado, independentemente disso, o novo estudo representa a maior e mais avançada análise sistemática e molecular já feita até o momento tentando identificar o notório assassino. E os resultados são bem convincentes apesar das críticas.


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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1111/1556-4029.14038
  2. https://vault.fbi.gov/Jack%20the%20Ripper
  3. https://www.txstate.edu/gii/projects/jack-the-ripper.html
  4. https://www.nationalarchives.gov.uk/documents/education/jacktheripper.pdf
  5. https://www.sciencemag.org/news/2019/03/does-new-genetic-analysis-finally-reveal-identity-jack-ripper