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Lontra-Marinha



A Lontra-Marinha (Enhydra lutris) é uma das treze espécies de lontra (subfamília Lutrinae) ainda existentes no mundo, possuindo três subespécies: E. l. kenyonii - localizada em regiões do Alasca -, E. l. nereis - América do Norte -, e a E. l. lutris - Ásia.

Habitando áreas de águas temperadas costeiras e rochosas ou regiões marinhas com fundo de sedimentos macios, as lontras-marinhas possuem um comprimento entre 1 e 1,5 metros, e peso médio entre 16 e 39 kg, e com o machos sendo geralmente maiores e mais pesados. São animais muito simpáticos e repleto de curiosidades:

1. Elas são uma das poucas espécies de mamíferos que usam ferramentas para se alimentar - algo muito raro fora do grupo dos primatas. Nesse caso, elas usam pequenas pedras, ou até mesmo duras conchas, para abrir a concha de certos moluscos e exoesqueletos diversos de invertebrados antes de comê-los. Também usam algas para se prenderem enquanto estão descansando no mar - boiando de costas - ou prender os filhotes para que estes não se percam enquanto a mãe está caçando;

Lontra-Marinha com uma pedra em sua barriga usada para abrir conchas e duras carapaças

2. Elas possuem, nas duas pernas dianteiras, um volume de pele flácida a qual usam para coisas diversas. Mas o mais bacana é que elas usam esses "sacos" para guardar principalmente suas pedrinha preferidas que usam como ferramenta! Assim, podem ficar com as mãos livres para mergulhar e caçar.

3. Todo o seu corpo é adaptado para a vida aquática, possibilitando que elas nadem com facilidade e tornem-se mestres no meio marinho. Suas narinas e ouvidos podem se fechar quando ela mergulha, possui um corpo super hidrodinâmico, e suas patas possuem membranas interdigitais para facilitar o nado;

4. Elas passam a maior parte do tempo dentro do mar, mesmo podendo andar em terra firme. Geralmente só buscam refúgio em terra quando o mar está tempestuoso e perigoso;

5. Elas possuem a camada de pelo mais densa do reino animal. São entre 100 e 140 mil pelos por centímetro quadrado! Para você ter uma ideia desse absurdo, as raposas-do-ártico, conhecidas por terem uma das pelagens mais densas, possuem apenas 20 mil pelos por centímetro quadrado! Essa grossa e densa pelagem é necessária para as lontras-marinhas porque, diferente de outros mamíferos marinhos, como as baleias, elas não possuem uma camada de conservação térmica feita com uma ´gordura especial´ por debaixo da pele (conhecida como ´blubber´, em inglês). A pelagem mantém elas bem aquecidas durante sua longa estadia nas águas e evitam que a pele fique molhada (por baixo da pelagem principal, existe uma que prende ar atmosférico, dificultando a penetração de água até a superfície epitelial);

6. Adoram ficar nadando de costas! Aliás, como mostra uma das imagens abaixo, é o jeito preferido delas comerem seus alimentos. Suas pernas e patas anteriores são bem maiores do que as posteriores, sendo perfeitas para executar esse tipo de nado, mas tornam o andar em terra firme mais difícil (um dos motivos para elas gostarem de ficar mais na água). Além de nadar, gostam de descansar nessa posição;



7. Conseguem prender a respiração por quase 6 minutos, mesmo fazendo movimentos agitados dentro da água;

8. Possuem garras retráteis como a dos gatos, as quais servem para agarrar melhor o alimento no fundo do mar;

9. Elas são fundamentais para o bom equilíbrio dos locais marinhos onde vivem. Com um dos seus alimentos preferidos sendo o ouriço-do-mar (na imagem abaixo, uma delas está comendo vários ouriços-do-mar colocados sobre a sua barriga), elas controlam a população dessa espécie no mar (uma das poucas que fazem isso). Quando a população desses ouriços aumentam demais, as algas sofrem um grave declínio em sua população, já que são o jantar favorito deles. E as algas são uma das bases de sustentação de toda a vida marinha. Controlam bem também outras populações de invertebrados herbívoros que podem causar sérios danos às populações de algas;



10. São super brincalhonas e extrovertidas! Com pedrinhas, gravetos ou qualquer outra coisa que estiverem em mãos, elas arrumam uma festa, especialmente quando estão nadando de costas. Como gostam de andar em grupos, fazem uma algazarra uma com as outras!

Animais carnívoros, as lontras-marinhas comem um amplo espectro de presas, incluindo peixes e invertebrados diversos no mar, como ouriços-do-mar, caranguejos, estrelas-do-mar, polvos e lulas. Absorvem grande parte da água que necessitam desses animais, mas frequentemente também bebem água marinha para matarem a sede. As fêmeas tendem a se isolar dos machos, porque estes últimos sempre tentam roubar a comida delas.

Com uma expectativa de vida em torno de 23 anos, as lontras-marinhas estão entre vários mamíferos em que o óvulo fertilizado não segue seu caminho para ser fixado no útero (gravidez) até que as condições do meio sejam favoráveis, aumentando, assim, as chances de uma gravidez saudável. Os machos praticamente não ajudam em nada no cuidado das crias, sendo a fêmea a responsável por proteger, alimentar e orientar os filhotes. A idade sexual das fêmeas chega aos 4 anos de idade, enquanto a dos machos é entre 5 e 6 anos. Geralmente dão a luz a um filhote por ano.

Dois dos seus principais predadores naturais são os tubarões-brancos e as orcas, mas os coiotes representam grande perigo quando estão em terra firme. Porém, a grande ameaça para esses animais veio da mão humana. Entre os anos de 1700 e 1911, a caça pela sua densa e valiosa pelagem explodiu, levando a população antes estimada entre 150 e 300 mil ao redor do mundo a cair para números próximos da extinção, entre 1 mil e 2 mil indivíduos. Isso acionou a comunidade internacional a adotar estratégias e programas de conservação, banindo a caça dessa espécie. Tais medidas salvaram a lontra-marinha da extinção, mas os números ainda preocupam e, nos últimos 45 anos, sua população teve uma redução de mais de 50%, mantendo-a ainda sob perigo de extinção. Um grande derramamento de óleo em 1989 pela Exxon Valdez acabou matando cerca de 5 mil indivíduos, dando outro forte golpe na população do Alasca.

Além da caça humana, infecções por parasitas de gatos e gambás - especialmente dos primeiros, devido a uma má disposição das fezes das pessoas que possuem esses felinos como animais domésticos - também impõem forte ameaça para os indivíduos localizados na região da Califórnia, EUA.




REFERÊNCIAS:

1. http://animaldiversity.org/accounts/Enhydra_lutris/
2. http://www.iucnredlist.org/details/7750/0
3. http://www.nmfs.noaa.gov/pr/pdfs/sars/seaotter2008_ca.pdfhttps://www.fort.usgs.gov/sites/default/files/products/publications/2183/2183.pdf
4.https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24629902
5. https://pubs.usgs.gov/of/2015/1119/pdf/ofr20151119.pdf

6. http://www.bbc.com/earth/story/20170619-conservation-success-for-otters-on-the-brink