Cogumelos mágicos e a cura da Depressão
Recentemente, um estudo publicado pelo Lancet Phisicology (Ref.1) tem ganhado bastante atenção na mídia popular. Nele, um pequeno grupo de voluntários, todos diagnosticados com depressão intratável, foram tratados com o concentrado de psilocibina, um dos alucinógenos encontrados no cogumelo e que atua como um receptor agonista de serotonina. Todos os 12 participantes (seis mulheres, seis homens), tiveram grande recuperação do quadro de depressão depois do tratamento, sendo que 5 deles permanecem ainda livres da depressão, depois de 3 meses. A dose fornecida da substância aos participantes foi bem alta, gerando fortes efeitos de alucinação nos mesmos por 6 horas, com tudo sendo acompanhado por música clássica e suporte psicológico.
Antes que todos saiam por aí tomando cogumelo para tratar depressão e qualquer outra doença relacionada, é preciso lembrar que até mesmo os responsáveis pelo estudo pediram calma nas interpretações dos resultados. É apenas um promissor novo tratamento que por enquanto está apenas no campo das incertezas. Na verdade, esse trabalho foi bem limitado em suas metodologias e nada está perto de ser conclusivo. As grandes limitações do estudo:
1. Foi feito com um ínfimo grupo de participantes, estando longe de representar uma diversidade mínima da população de qualquer lugar;
2. Não houve controle com placebo. Nesse ponto, os próprio pesquisadores do trabalho admitiram que precisam, urgentemente, fazer um novo estudo prático relacionando um grupo sob placebo. Os efeitos de ´cura´ da depressão podem ter sido causados por simples efeito placebo nos participantes (achar que está sendo tratado com um real medicamento e mostrar quadros superficiais de melhora por um período de tempo);
3. Não foram avaliados efeitos de longo prazo (3 meses apenas), ficando impossível determinar se a melhora do paciente será permanente ou se até mesmo prejuízos ao corpo dos participantes possam surgir.
4. Por que os outros 7 pacientes não obtiveram melhora duradouras? Ainda não existe explicação. Como esse número representa mais da metade dos participantes, é algo que precisa ser esclarecido.
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Apesar da psilocibina, um alcaloide pertencente à mesma família bioquímica do LSD (um dos alucinógenos mais potentes do mundo, também encontrado em certos cogumelos), não mostrar ação de dependência nos usuários e ser pouco tóxica, seus efeitos temporários e fonte de coleta podem representar um grande perigo. Depois de consumida, na maioria das vezes, a partir de cogumelos, seu efeito no corpo começa depois de cerca de 20 minutos e dura por quase 6 horas, onde o indivíduo passa a ter alucinações (nem sempre boas) e não consegue diferir realidade de fantasia. Não é preciso dizer o quão isso é perigoso se não feito em um ambiente seguro e supervisionado. E se as doses não forem moderadas, ataques de pânico e outros efeitos colaterais danosos podem ocorrer. Além disso, a busca por cogumelos que contenham a psilocibina pode ser perigosa se feita sem fiscalização, já que é difícil diferir cogumelos venenosos dos comestíveis. E, como o consumo de psilocibina é proibido na maior parte dos países, as fontes de cogumelo são sempre suspeitas, especialmente quando pessoas despreparadas vão coletar esses fungos por conta própria.
Portanto, não saiam por aí catando cogumelos para ficarem doidões e achando que estarão curando suas enfermidades psicológicas, mesmo quem está sofrendo bastante com estágios mais avançados da doença. Não se sabe a segurança no uso dessa substância a longo prazo, além do estudo ter sido feito em ambiente laboratorial, com contínuo acompanhamento e rígido controle dos pacientes. E também não comprem produtos baseados em cogumelos alucinógenos ou na psilocibina isolada. Nada do tipo está disponível para a venda ou tratamento legais. É esperar por mais trabalhos consensuais e sempre consultar seu médico antes de consumir qualquer medicamento.
OBS.: Além de indícios de sucesso no tratamento de alguns quadros de depressão, a psilocibina também mostra promessas no tratamento de desordens compulsivas, ansiedade avançada e dependência química. Mas tudo ainda no campo único das suspeitas, nada confirmado.
ATUALIZAÇÃO (02/01/17): Cerca de 22,9 milhões pessoas nos EUA já usaram o famoso ´cogumelo mágico´ para realizar uma viagem psicodélica, segundo pesquisas nacionais. Apesar do princípio ativo responsável pelas alucinações e outros efeitos mentais, a psilocibina, não ser considerado viciante ou tóxico para o cérebro, fígado, entre outros órgãos - como mencionado no artigo acima -, os pesquisadores continuam fazendo alertas de perigo sobre o seu uso.
Durante as "viagens", estas as quais podem ser ´ruins´ ou ´boas´ (´bad trip´ ou ´good trip´), muitos riscos comportamentais podem vir acompanhados. Segundo um recente estudo publicado no Journal of Psychopharmacology (Ref.), 10,7% dos entrevistados que tiveram uma ´viagem ruim´ durante o uso da substância, ou do cogumelo contendo a substância, relataram que colocaram a si mesmo e a outras pessoas em perigo; cerca de 2,6% disseram que agiram violentamente ou agressivamente; e 2,7% disseram que procuraram ajuda médica. Foram 1993 entrevistados, e o mais grave é que 5 deles que tinham já quadros anteriores de ansiedade, depressão e pensamentos suicidas, disseram ter tentado, enquanto sob efeito da droga, se suicidarem.
Por causa desses possíveis efeitos, os especialistas recomendam que o uso de psilocibina seja feito em um ambiente seguro e controlado, se possível sob a supervisão de profissionais. Bem, e claro, se puder não use.
ATUALIZAÇÃO (16/10): Mais um estudo, também bastante limitado, mostrou bons resultados no uso da psilocibina para tratar quadros de depressão: Cogumelos mágicos podem "resetar" o cérebro de pacientes com depressão
REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
- http://www.thelancet.com/journals/lanpsy/article/PIIS2215-0366%2816%2930065-7/abstract
- http://www.druginfo.sl.nsw.gov.au/drugs/list/magic_mushrooms.html
- https://www.drugabuse.gov/publications/drugfacts/hallucinogens
- http://www.bbc.com/news/health-36247599
- http://www.dea.gov/druginfo/drug_data_sheets/Psilocybin.pdf
- https://www.justice.gov/archive/ndic/pubs6/6038/
- http://healthycanadians.gc.ca/healthy-living-vie-saine/substance-abuse-toxicomanie/controlled-drugs-substances-controlees/mushrooms-champignons-eng.php
- https://www.eurekalert.org/pub_releases/2016-12/jhm-ruc123016.php