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Mito do carro brasileiro movido à água



           Um vídeo têm recentemente circulado bastante no Facebook. Trazendo uma péssima matéria da TV Tribuna, afiliada do SBT, o vídeo reporta que um rapaz "inventor" conseguiu produzir um processo que faz com que o carro rode 1000 quilômetros (km) com apenas 1 litro de água! Incrível, não? O absurdo dessa afirmação é inacreditável em todos os sentidos. Mesmo sendo uma reportagem de 2015, ela ainda continua repercutindo pelas redes sociais, alimentando todo tipo de desinformação.

Vergonhoso...e em rede nacional

             O 'inventor' alega que a façanha energética foi alcançada usando a eletrólise, processo este que realmente separa hidrogênio (gás hidrogênio, H2) e oxigênio (gás oxigênio, O2) das moléculas de água, as quais são formadas pela junção de ambos os elementos (H2O). O problema é que a eletrólise padrão, sem o uso de um eficiente catalisador, consome quase tanta energia quanto o que seria gerado pela queima do gás hidrogênio no motor. Ou seja, não existe eficiência nenhuma nesse sentido, e esse é o tipo de eletrólise que o cidadão 'inventor' está usando.

           Não é possível, em termos físico-químicos e econômicos, usar a eletrólise padrão para produzir muito mais energia combustível (H2) do que o gasto para a realização da própria eletrólise da água. Mesmo processos otimizados ao máximo com os atuais catalisadores não permitem essa façanha. Para o carro da reportagem andar 1000 km, ele teria que estar usando outra fonte energética concomitante, e apenas com uma ínfima ajuda energética do gás hidrogênio gerado na eletrólise. Com certeza, o carro estava cheio de gasolina, álcool, etc. Provavelmente esse último detalhe foi omitido na reportagem ou pelo suspeito inventor, o que já representa um grave crime de informação pública. Nas redes sociais o pessoal está inclusive condenando o governo por não estar investindo em tal "tecnologia revolucionária" só para proteger o setor petrolífero.

               Motores baseados nos gases hidrogênio e oxigênio são vistos, por exemplo, nos foguetes, onde ambos os gases (o oxigênio em estado líquido, inicialmente) reagem em violentas explosões para dar impulso de subida, e nos protótipos de carros movidos a 'células de combustível' onde energia elétrica é produzida por uma pilha eletroquímica constituída pelos gases dos dois elementos. As células a combustível ainda não estão em prática porque existe o problema do armazenamento do gás hidrogênio, o qual não pode ser liquefeito e muito menos solidificado para uso comercial e acaba ocupando muito espaço.

Carros que utilizam gás hidrogênio são aqueles movidos à células de combustível, onde uma reação eletroquímica entre esse gás (H2) e o gás oxigênio (O2) produzem eletricidade, com o produto final sendo água

               E, o mais triste de tudo, é que a repórter cai na conversa do "inventor" que diz que diversas Universidades e cientistas pelo mundo afora estão procurando ele... E o pior é que quatro supostos estudantes de engenharia mecânica se envergonham corroborando as asneiras ditas na reportagem (por estarem com a cabeça raspada, é um possível indício que entraram agora na faculdade). Provavelmente, tudo isso não passa de um golpe. E o mais trágico: "Em apenas uma molécula de água é possível extrair diversas partículas de gás hidrogênio"....Caramba... Dá vontade de chorar com tanta desinformação...

Reportagem da TV Tribuna: YouTube

Observação: 1 molécula de água é composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. O gás hidrogênio é composto por dois átomos de hidrogênio. O gás oxigênio é composto por dois átomos de oxigênio. Portanto, de 2 moléculas de água, é possível produzir duas moléculas de gás hidrogênio e uma molécula de oxigênio.

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