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Sódio e a hipertensão

  

         A hipertensão ( também conhecida como ´pressão alta´) é uma condição na qual a pressão do sangue nas artérias é elevada além do limite saudável ( acima de 135/85)* de modo permanente na vida do paciente.  Mesmo que a maior parte dos casos de pressão alta possuam causas desconhecidas, existem certos elementos que podem disparar ou intensificar a tendência de contrair a doença. Um dos principais deles é bem conhecido pela população: o sódio.

           A hipertensão é uma das condições médicas mais comuns do mundo. É estimado que mais de 1 bilhão de pessoas a possui, atingindo, preferencialmente, os adultos e idosos. A hipertensão é comprovadamente um fator de alto risco para paradas cardíacas e danos irreversíveis nos rins, cérebro e artérias. O pior é que não existem sintomas aparentes para o aumento da pressão sanguínea, gerando consequências graves apenas depois de muitos anos se estiver agindo sem tratamento, este o qual geralmente não é procurado devido, justamente, à falta de sintomas iniciais. Mesmo tão comum, cerca de 90% dos casos de pressão alta possuem causas não especificadas, as quais englobam um grande número de fatores, incluindo o genético, ambiental e estilo de vida. Os outros 10% experimentam uma elevação da pressão arterial devido à condições médicas bem definidas, como problemas renais e desordens endócrinas. Independente das causas, podemos adotar medidas diárias, além dos medicamentos, que atenuem a hipertensão. Diminuir as quantidades de sódio consumidas junto à alimentação é um dos mais fortes ajudantes na luta pela saúde cardíaca.
 

            Para começar, é bom tirar dois erros do caminho. Primeiro, ninguém desenvolve hipertensão por consumir muito sódio. Muitas pessoas possuem tendência de desenvolvê-la, e, por isso, é sempre bom moderar no consumo desse íon, o qual intensifica e/ou deflagra a hipertensão. Mas algo é certo: a maioria das pessoas que consomem um excesso de sódio possuem uma pressão mais elevada do que as que consomem quantidades moderadas ( não que isso tenha efeito direto no desenvolvimento da hipertensão).  E, de qualquer forma, o exagero de qualquer nutriente é sempre prejudicial ao corpo. Segundo, ´sódio´ não é sinônimo de ´sal´. Sal, em química, é todo composto formado pelo encontro de um elemento metálico e um não metálico (  KCl, NaF, MgCl2, etc.) Um exemplo, é o NaCl, ou cloreto de sódio ( sódio, metálico, e o cloro, não metálico), que também é chamado, popularmente, de sal, ou sal de cozinha. E é dele a principal fonte de sódio do nosso cotidiano, quando o usamos como tempero. Mas existem fontes de sódio completamente ignoradas. Quase todo alimento natural possui uma quantidade significativa de sódio e, portanto, você já terá uma porção dele garantida nos seus cálculos alimentares. E ainda existe uma fonte gigantesca desse íon: os alimentos industrializados.
 
          Quando produzimos um medicamento, por exemplo, é preferível que o seu princípio ativo seja solúvel em água. Porém a maior parte deles são moléculas orgânicas com funções ácidas, muitas das quais possuindo pouca afinidade aquosa. Para resolver isso, elas são reagidas com uma base ( hidróxido de sódio ou potássio, sendo mais comum o primeiro), transformando-a em um sal orgânico quando o íon, por exemplo, de sódio é incorporado na estrutura molecular. Na forma desse sal, elas passam a ser bem mais solúveis em água, facilitando a manipulação do remédio e absorção pelo corpo. Por isso, muitos medicamentos possuem sódio na sua composição e nome, como a dipirona sódica. O mesmo processo ocorre para fazer os estabilizadores e conservantes alimentícios, os quais são, normalmente, sais orgânicos ( é só repararem nos ingredientes, onde as terminações ´sódico´ ou ´sódica´ serão bem frequentes). Ser solúvel é essencial para homogeneizar bem os conservantes no meio do alimento enlatado ou empacotado, com muitos estando imersos em caldos aquosos. Se você ver também a tabela nutricional, verá que quase sempre haverá uma boa quantidade de sódio, seja o alimento doce ou salgado. Os estabilizantes e conservantes são essenciais para impedir uma rápida degradação do produto embalado. Concluindo, você consome sódio de tudo o que você come, mais de certas fontes do que outras.
Íon sódio, destacado em vermelho, na estrutura da dipirona sódica




             Como é de se esperar, o mundo hoje consome bastante sódio. Nos EUA, a média consumida pela população adulta é de 3400 mg, quando o recomendado é entre 1500 e 2300 mg, quase metade da média. Imagina os que estão acima da média! O povo asiático costuma consumir menos sódio, mas a tendência vem mundano nos últimos anos, principalmente com a presença cada vez crescente dos produtos industrializados e cadeias de lanchonetes. O sódio age no corpo acumulando água, e isso é bem conhecido entre as pessoas que tentam emagrecer. Sob a pele, o sódio em excesso acumula-se, atraindo mais água para a região e inchando o indivíduo, dando a impressão de haver mais gordura do que o real. O mesmo acontece no sangue. Com mais sódio no exterior das células ( elas jogam o excesso para fora pelo mecanismo de ´bomba de sódio e potássio´), mais água passa a fazer parte da circulação sanguínea por osmose. O excesso de sódio também desregula as funções de reabsorção e expulsão de água pelos rins, onde o sódio extra induz os rins a reabsorver e manter mais água no sangue.** Com mais água na corrente sanguínea, maior é o volume de líquido suportado pelas artérias, fazendo com que essas sejam tensionadas e o coração trabalhe mais para impulsionar o sangue, já que este possui uma força extra agindo sobre ele. Devido a isso, a musculatura das artérias e do coração crescem mais, só que não da mesma forma que um atleta. Esse crescimento não expande a musculatura cardíaca ou arterial, pelo contrário, a massa muscular é depositada no interior das cavidades, diminuindo cada vez mais o espaço para o sangue, o que aumenta ainda mais a pressão sanguínea, causando mais danos. Quando em situação extrema, o sangue passa a ter dificuldade de chegar a todos os órgãos, incluindo o coração, causando asfixia por falta de oxigênio. Os rins e o cérebro são um dos mais afetados, piorando ainda mais todo o quadro por causa do descontrole de hormônios associados à regulação do relaxamento arterial e à capacidade de controle da água e sais minerais no tecido renal. Sem tratamento, as chances de morte ficam cada vez mais altas.

Com o maior esforço, o músculo cardíaco começa a crescer para dentro das cavidades do órgão, deixando menos espaço para o sangue entrar

           Diminuir as quantidade de sódio se tornam, então, imprescindíveis para uma expectativa de vida mais elevada, especialmente se você possui predisposição à hipertensão. O nosso problema é que, assim como o açúcar, ficamos acostumados a comer bastante sal desde pequenos. As comidas ou têm que estar muito doces ou muito salgadas, desacostumando o paladar. Isso leva ao excesso do consumo de sódio e açúcares adoçantes, o que põe em risco todo o corpo. É preciso que os pais sempre acostumem os filhos a comerem pratos com pouco tempero, porque, assim, os excessos tenderão a ser repudiados. É importante lembrarmos que as crianças muito pequenas se acostumam com qualquer sabor, desde que não sejam muito desagradáveis. Elas não saberão o que é muito doce ou muito salgado até você apresentá-las a tais sensações. Agora, se você já foi uma criança mal acostumada, não é impossível corrigir esse erro. Basta reduzir o consumo de tempero salgado e passar a verificar as quantidades de sódio nas embalagens dos alimentos, evitando os absurdos.
Tirar o saleiro das mesas de refeição já é um bom começo!
E não vale tirar o final de semana para fazer a festa e voltar aos antigos hábitos, pois isso desacostuma seu paladar e torna difícil voltar para a alimentação reeducada na segunda-feira. Isso é uma medida que deve ser seguida de forma vitalícia. Uma mudança de estilo de vida. Além disso, aumentar as quantidades de potássio ingeridas é ótimo também, porque esse íon age como uma ferramenta de equilíbrio para qualquer excesso de sódio, além de ser vital para todo o metabolismo do corpo. A Organização Mundial de Saúde recomenda uma ingestão de 4300 mg de potássio por dia, mas a maioria não ingere nem metade disso. Fontes ricas desse íon são, por exemplo, as bananas, batata-doce, tomates, verduras e atum. Outro exemplo é o sal light, composto por metade de cloreto de sódio e a outra metade por cloreto de potássio, sendo um substituto válido para o sal de cozinha e uma fonte incrível de potássio. Mas como contém muito sódio, deve ser usado com muito cuidado ( use-o como se fosse usar o sal de cozinha como tempero).

O sal light também é iodado!
        E outra coisa a ser levada a sério: nunca tente cortar completamente o sódio da sua vida! O sódio é importantíssimo para o equilíbrio osmótico do seu corpo e transmissão de impulsos nervosos. Muitos fazem a besteira de consumirem quantidades desprezíveis de sódio, pensando estarem fazendo um bem danado para o corpo, mas acabam sofrendo drásticas consequências. Aliás, hoje, as recomendações médicas para a maioria da população são para não diminuírem a quantidade ideal de 1500 mg por dia. E mais: no caso específico do sal de cozinha e sal light, existe nestes a adição de iodo ( na forma de iodeto de potássio), o qual é essencial para o bom funcionamento da tireoide e prevenção da doença conhecida como bócio          ( hipotiroidismo).  A maioria das pessoas não consegue quantidades suficiente de iodo por causa de uma alimentação não equilibrada. Portanto, use o sal de
cozinha ou light, mas sem exagero. 

         Somando-se ao sódio, vários outros fatores podem intensificar a hipertensão. Entre eles, podemos destacar a obesidade, a falta de exercícios físicos, insuficiente consumo de vegetais e frutas, e abuso alcoólico. Assim, a hipertensão pode ser prevenida ou controlada a partir de medicamentos específicos e mudanças no estilo de vida. Mais exercícios físicos, melhores noites de sono, redução do estresse diário e uma dieta mais saudável ( principalmente cortando o excesso de sódio) podem, por si só, resolver o problema sem a intervenção de drogas.  Mesmo se os remédios forem necessários, seguir um estilo saudável de vida potencializa ainda mais os resultados do tratamento. Não deixe para fazer algo apenas quando a situação estiver sombria, pois pode ser tarde demais.

*135 é o máximo da sístole, quando o coração contrai para expulsar o sangue dos seus ventrículos. 85 é para a diástole, quando o músculo cardíaco relaxa para receber o sangue que será expulso na sístole.

**A interação do sódio nesse processo é muito mais complexa e o que foi escrito é apenas um resumo didático.

OBSERVAÇÃO: Alguns estudos e artigos de revisão isolados defendem que níveis tão grandes quanto 6 gramas de sódio não estão associados com problemas cardíacos, especialmente em pessoas saudáveis. Porém, bem mais evidências, incluindo o conselho da OMS, não concordam com tais resultados. Portanto, o melhor a se fazer é manter um máximo de 2,5 gramas ( 2500 mg) de sódio diários e não consumir menos de 1500 mg, principalmente se você possui predisposição a ter pressão alta.

Fatos sobre a Hipertensão:

1. Estudos recentes estão relacionando uma constante pressão alta no sangue com um maior risco em desenvolver demência com o avanço de idade;

2. Não só os adultos possuem hipertensão. Crianças e adolescentes também podem ter, e o número de casos está só aumentando. Somando-se com isso a diabetes, alcoolismo, tabagismo e a obesidade, os mais jovens também estão ficando sob sério risco de apresentarem problemas cardíacos graves com maior frequência. Portanto, é recomendável medir, pelo menos uma vez por ano, a pressão sanguínea nessa faixa de idade;

3. Na maioria das pessoas, a pressão alta não apresenta sintomas nenhum, exceto quando ela passa de níveis absurdos. Em algumas exceções, alterações na pressão sanguínea podem levar à sintomas como maior sudorese ou dor de cabeça. Assim, mesmo se você estiver se sentindo muito bem, sua pressão pode estar em níveis perigosos. Fazer medições ocasionais durante o ano é o melhor método de diagnosticar uma hipertensão e prevenir problemas futuros através de tratamentos de manejamento e/ou mudança no estilo de vida. Só nos EUA, é estimado que 11 milhões de pessoas possuem hipertensão e não sabem;

4. As mulheres são mais vulneráveis à pressão alta por causa das complicações que ela pode trazer durante a gravidez. Devido às mudanças hormonais nas grávidas, os rins e outros órgãos ficam mais sensíveis à uma alta pressão sanguínea. Além disso, o feto também pode sofrer danos diretos e indiretos. É fundamental que a mulher, antes de engravidar, verifique sua pressão sanguínea e trate uma possível hipertensão.

REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/79325/1/9789241504911_eng.pdf?ua=1
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  3. http://www.bmj.com/content/346/bmj.f1326.long
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  5. http://www.pace-cme.org/d/900/no-evidence-for-a-j-curve-for-association-between-sodium-intake-and-cvd
  6. http://circ.ahajournals.org/content/early/2014/01/10/CIRCULATIONAHA.113.006032.short
  7. http://ajcn.nutrition.org/content/96/3/647.full
  8. http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/6ab71a0046c11c1b83f8ff2e64280806/Pao+frances.pdf?MOD=AJPERES
  9. http://journals.cambridge.org/action/displayAbstract?fromPage=online&aid=8468226&fileId=S1368980011000966
  10. http://ajh.oxfordjournals.org/content/25/7/727.short 
  11. http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0025619613004631 
  12. http://www.aafp.org/afp/2012/0401/p693.html
  13. https://www.nhlbi.nih.gov/files/docs/resources/heart/hbp_ped.pdf 

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