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Mulheres e o ar-condicionado

                                                                 

          É clássico. O dia no escritório começa, todos arrumam sua escrivaninhas, se preparam para o trabalho e, então...a guerra pelo ar-condicionado começa. De um lado, as mulheres, reclamando do frio excessivo. Do outro, os homens, sempre tentando deixar o ar-condicionado no máximo. O pior é quando o resfriamento dentro dos prédios é automático e as reclamações de descontentamento, principalmente do lado feminino, tornam-se o assunto principal.

         Como já é sabido pelo senso comum, as mulheres tendem a sentir mais frio do que os homens, e isso tem uma explicação biológica. O metabolismo basal ( aquele que ocorre no corpo em repouso) do sexo masculino é significantemente maior do que no sexo feminino. Ou seja, o corpo está sempre produzindo mais coisas no homem do que na mulher, gerando calor no processo e deixando-o mais aquecido. Isso é explicado, em parte, por causa da maior presença de tecido muscular no corpo masculino. Músculos estão sempre sendo danificados e reparados, quebrando e refazendo ligações entre aminoácidos, o que envolve bastante energia. É por isso que dizem que quanto maior a massa muscular, mais facilmente você emagrece ( e isso é uma boa dica para as mulheres que odeiam pegar peso na academia). Além do metabolismo basal, existe uma segunda ajuda biológica: a gordura marrom.
Homens tendem a ter o metabolismo mais acelerado e maior massa muscular

           No corpo humano existem dois tipos de tecido adiposo: o tecido adiposo branco e o marrom. O branco é basicamente composto de gorduras de estoque de energia, a qual só vai ser utilizada quando o corpo acabar com as reservas de glicogênio e glicose circulante. Este tecido é o que compõe nossa ´gordice´. Já a gordura marrom possui como função principal a geração de calor, independente das circunstâncias, sendo mais irrigada com capilares sanguíneos ( para fornecer mais oxigênio para a ´queima´ desta gordura) e hospedando mais mitocôndrias do que outras células ( mitocôndrias são as nossas organelas responsáveis pela produção de energia/ATP). Ela não fica visível no exterior do corpo, é muito menos presente do que a branca e é bem mais abundante nos bebês, indo  diminuindo de quantidade à medida que os anos passam, ficando mínima nos adultos. Os bebês precisam mais dela porque não são capazes de ´tremer de frio´ e encontrar meios engenhosos de se proteger das baixas temperaturas ( arrumar um cobertor por vontade própria, fugir prontamente de áreas frias, fazer movimentos vigorosos com seus fraquíssimos músculos, entre outros). O frio é um dos riscos de morte mais perigosos para eles por causa disso, e a gordura marrom adicional fornece uma boa quantidade de calor para suprir essas limitações. E voltando para a guerra no escritório, os homens possuem mais da gordura marrom do que a mulher, ou seja, além de possuírem um metabolismo maior, nós temos uma outra fonte adicional de calor.

Os bebês possuem grande quantidade de gordura marrom, com a localização no corpo demarcada pela coloração acastanhada na figura; conforme envelhecemos, o tecido adiposo marrom diminuindo, mais na mulher do que no homem

        Mas, claro, existem outras explicações não biológicas para as diferenças térmicas entre os dois gêneros. Os homens têm uma preferência por roupas mais pesadas, bem fechadas e que cobrem todo o corpo, a exemplo dos tradicionais ternos. Já as mulheres preferem roupas mais leves e que deixam o corpo mais exposto. Nesta lógica, o frio será mais intenso para elas e soma-se com os fatores biológicos. E é bom não nos esquecermos que nem todos os indivíduos são iguais. Existem homens com o metabolismo mais baixo do que o normal, e mulheres com ele mais alto. Tudo isso que eu falei durante o texto são características gerais e não devem ser tratadas com extremo rigor. Bem, explicado as diferenças sensitivas dos dois lados do conflito, vêm agora uma interessante descoberta para dar mais razão às reclamações das mulheres quanto ao frio dos escritórios.

          Publicado nesta semana, o trabalho de dois cientistas holandeses prova que a grande maioria dos prédios comerciais possuem arquitetura planejada para o conforto dos homens. Desde os anos 60, as grandes corporações e prédios comerciais vêm se expandindo exponencialmente, mas neste período inicial, os homens eram os componentes centrais destas instituições. As mulheres não tinham muito espaço no mercado de trabalho, principalmente no corporativo. Portanto, o resfriamento por ar-condicionado atendia mais às necessidades masculinas e esta cultura foi sendo carregada ao longo dos anos e, até hoje, os escritórios destes lugares costumam ser muito frios para as mulheres, mas agradáveis aos homens. De acordo com os holandeses, um aumento de cerca de 2.5 graus na temperatura ambiente dos escritórios corporativos seria o ideal para deixar todos mais felizes.

Grande parte dos escritórios foram arquitetados para o conforto, exclusivamente, masculino

            Olha ai, mulheres. Agora vocês têm embasamento biológico, estético e cultural para exigir um fim na farra do ar-condicionado. E eu acrescento mais: exigindo menos resfriamento do ar condicionado, menos energia elétrica é gasta e mais o meio ambiente agradece! Nesta guerra, o lado feminino está cheio de aliados de peso. Algo menos do que a vitória não é aceitável!

REFERÊNCIAS
  1. http://www.npr.org/sections/health-shots/2015/08/04/429005094/women-theres-a-reason-why-youre-shivering-in-the-office
  2. http://www.nytimes.com/2015/08/04/science/chilly-at-work-a-decades-old-formula-may-be-to-blame.html?_r=0
  3. http://www.bbc.com/news/magazine-33760845
  4. http://www.scientificamerican.com/article/your-thermostat-may-be-sexist1/