Exercícios físicos prolongados e exaustivos suprimem o sistema imune?
- Atualizado no dia 20 de novembro de 2020 -
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Há décadas existe uma crença bastante disseminada no meio acadêmico e no meio popular de que a realização de exercícios exaustivos e de longa duração, como corridas e longas séries de musculação, suprimem substancialmente e temporariamente o sistema imune do corpo e tornam o indivíduo mais suscetível às infecções durante um intervalo de horas. Mas quais os suportes científicos para essa alegação? Um estudo realizado por pesquisadores do Departamento de Saúde de Bath, EUA, e publicado em 2018 no Frontiers in Immunology (Ref.1), basicamente, concluiu que essa crença não passa de um mito e que o sistema imunológico parece até se beneficiar dos efeitos agudos dos exercícios físicos. Porém, o debate continua.
ORIGEM DA ALEGAÇÃO
Apesar de ser algo consensualmente aceito no meio acadêmico de que a realização de exercícios físicos regulares trazem grandes benefícios a longo prazo para o corpo, especialmente no fortalecimento musculoesquelético, melhora do sistema imunológico e diminuição dos riscos de desenvolvimento de várias doenças crônicas, existe um certa controvérsia quanto aos efeitos agudos.
Já era especulado há mais de um século que a participação em atividades físicas exaustivas aumentava o risco de infecções oportunistas. Para investigar essas suspeitas, pesquisas ao longo das décadas de 1980 e 1990 foram realizadas em eventos que reuniam grandes massas, como a Maratona de Los Angeles, EUA, onde era perguntado para os competidores se eles experienciaram sintomas de infecções nos dias e semanas após as corridas. Um dos primeiros estudos dessa época encontrou que um terço dos 150 corredores participando da ultramaratona Two Oceans de 56 km, na Cidade do Cabo, África-do-Sul, auto-reportaram sintomas de infecções no trato superior (nariz escorrendo, garganta inflamada, espirros) dentro de 2 semanas da corrida (Ref.2). Já o grupo de controle desse estudo - pessoas que dividiam a casa com os competidores - reportaram apenas metade da quantidade de quadros supostamente infecciosos.
Na Maratona de Los Angeles de 1987, um estudo similar foi realizado (Ref.3), onde 2311 pessoas que completaram e que não completaram a maratona, e que não reportaram infecções na semana anterior à corrida, responderam as mesmas perguntas. Do total selecionado, 12,9% reportaram infecções na semana após a corrida, comparado com 2,2% dos indivíduos que não completaram a corrida por motivos diversos excetuando-se doenças.
Esses e outros estudos seguindo tal linha investigativa somaram-se na época para fomentar uma crença amplamente disseminada de que esportes e outras atividades físicas exaustivas, particularmente aquelas vigorosas e prolongadas, aumentam o risco de infecções ao suprimirem o sistema imune. Essa crença acabou moldando a chamada 'Hipótese da Janela-Aberta' (Open-Window Hypotesis).
Basicamente, a Hipótese da Janela Aberta afirma que os exercícios físicos criam um intervalo temporário de imunossupressão, facilitando quadros de infecção nessa janela de oportunidade. Três são os princípios atrelados à essa hipótese:
I. Riscos de infecção são aumentados após uma série de exercícios aeróbicos prolongados e vigorosos;
II. Uma série de exercícios físicos vigorosos podem levar a uma temporária redução nos níveis de IgA, culminando em uma maior risco de infecções oportunistas;
III. Nas horas que se seguem à realização dos exercícios físicos vigorosos, o número de células imunes no sangue periférico diminui, representando um período de imunossupressão.
Há décadas existe uma crença bastante disseminada no meio acadêmico e no meio popular de que a realização de exercícios exaustivos e de longa duração, como corridas e longas séries de musculação, suprimem substancialmente e temporariamente o sistema imune do corpo e tornam o indivíduo mais suscetível às infecções durante um intervalo de horas. Mas quais os suportes científicos para essa alegação? Um estudo realizado por pesquisadores do Departamento de Saúde de Bath, EUA, e publicado em 2018 no Frontiers in Immunology (Ref.1), basicamente, concluiu que essa crença não passa de um mito e que o sistema imunológico parece até se beneficiar dos efeitos agudos dos exercícios físicos. Porém, o debate continua.
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ORIGEM DA ALEGAÇÃO
Apesar de ser algo consensualmente aceito no meio acadêmico de que a realização de exercícios físicos regulares trazem grandes benefícios a longo prazo para o corpo, especialmente no fortalecimento musculoesquelético, melhora do sistema imunológico e diminuição dos riscos de desenvolvimento de várias doenças crônicas, existe um certa controvérsia quanto aos efeitos agudos.
Já era especulado há mais de um século que a participação em atividades físicas exaustivas aumentava o risco de infecções oportunistas. Para investigar essas suspeitas, pesquisas ao longo das décadas de 1980 e 1990 foram realizadas em eventos que reuniam grandes massas, como a Maratona de Los Angeles, EUA, onde era perguntado para os competidores se eles experienciaram sintomas de infecções nos dias e semanas após as corridas. Um dos primeiros estudos dessa época encontrou que um terço dos 150 corredores participando da ultramaratona Two Oceans de 56 km, na Cidade do Cabo, África-do-Sul, auto-reportaram sintomas de infecções no trato superior (nariz escorrendo, garganta inflamada, espirros) dentro de 2 semanas da corrida (Ref.2). Já o grupo de controle desse estudo - pessoas que dividiam a casa com os competidores - reportaram apenas metade da quantidade de quadros supostamente infecciosos.
Na Maratona de Los Angeles de 1987, um estudo similar foi realizado (Ref.3), onde 2311 pessoas que completaram e que não completaram a maratona, e que não reportaram infecções na semana anterior à corrida, responderam as mesmas perguntas. Do total selecionado, 12,9% reportaram infecções na semana após a corrida, comparado com 2,2% dos indivíduos que não completaram a corrida por motivos diversos excetuando-se doenças.
Esses e outros estudos seguindo tal linha investigativa somaram-se na época para fomentar uma crença amplamente disseminada de que esportes e outras atividades físicas exaustivas, particularmente aquelas vigorosas e prolongadas, aumentam o risco de infecções ao suprimirem o sistema imune. Essa crença acabou moldando a chamada 'Hipótese da Janela-Aberta' (Open-Window Hypotesis).
Basicamente, a Hipótese da Janela Aberta afirma que os exercícios físicos criam um intervalo temporário de imunossupressão, facilitando quadros de infecção nessa janela de oportunidade. Três são os princípios atrelados à essa hipótese:
I. Riscos de infecção são aumentados após uma série de exercícios aeróbicos prolongados e vigorosos;
II. Uma série de exercícios físicos vigorosos podem levar a uma temporária redução nos níveis de IgA, culminando em uma maior risco de infecções oportunistas;
III. Nas horas que se seguem à realização dos exercícios físicos vigorosos, o número de células imunes no sangue periférico diminui, representando um período de imunossupressão.
Nesse sentido, estabeleceu-se ao longo das últimas três décadas no campo da imunologia que exercícios regulares de curta duração (ex.: até 45 minutos) e de intensidade moderada otimizam o sistema imune, enquanto exercícios intensos de longa duração (>2 horas) podem ser imunossupressores.
Até poucos anos atrás, nenhum novo estudo tinha emergido para contradizer essa hipótese, fortalecendo sua valia com base em limitadas evidências e falta de profunda análise científica nesse campo.
CONFRONTANDO AS EVIDÊNCIAS
De fato, séries de exercícios físicos causam alterações temporárias na capacidade funcional e nas características quantitativas do sistema imune durante e após o término dos esforços físicos. Mas qual a extensão dessas alterações e qual o seu real significado?
Analisando a questão, pesquisadores do Departamento de Saúde da Universidade de Bath publicaram em 2018 um estudo no periódico Frontiers in Immunology onde os achados e conclusões científicas de décadas atrás foram reexaminados. E o que os pesquisadores encontraram foi exatamente o contrário: séries agudas de exercícios físicos, mesmo intensos, parecem ser benéficas para o sistema imune das pessoas.
O estudo, basicamente, foi uma revisão da literatura acadêmica, onde foram reunidas evidências de estudos passados e estas passaram por um processo de reinterpretação utilizando princípios fundamentais de imunologia e fisiologia para esclarecer possíveis distorções enraizados ao longo dos anos.
Para começar, os estudos citados anteriormente, e que sustentam a Hipótese da Janela-Aberta, enfrentam uma grande limitação, já que todos os supostos casos de infecção foram apenas checados via auto-reporte. Nenhuma análise clínica foi efetuada para confirmar se os sintomas eram devidos a reais infecções ou apenas refletiam efeitos de alergênicos ou ataques de asma, inflamações não-específicas das mucosas, ou traumas nas células epiteliais das vias aéreas gerados pelo aumento da ventilação ou da exposição ao ar frio (1). De fato, um estudo de 1990 (Ref.4) mostrou que de 37 casos de infecções nas vias aéreas superiores reportados por atletas na Maratona de Los Angeles (1987), apenas 11 deles (30%) tinham um diagnóstico laboratorial positivo.
Somando-se a isso, vários estudos nos últimos anos reportaram achados que contrariam a Hipótese da Janela-Aberta. Dois deles, por exemplo (Ref.5-6), mostraram que o número de dias onde as pessoas faltavam às escolas ou ao ambiente de trabalho por motivos de doenças diversas era de 1,5 dias e 2,8 dias na média para um grupo contendo 1212 e 489 corredores de ultra-maratonas, respectivamente; já os valores reportados pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA mostravam, para a população norte-americana em geral, uma média de 4,4 dias. Já outros estudos importantes mostram um efeito neutro, onde tanto a população em geral quanto os atletas parecem enfrentar praticamente os mesmos riscos e frequências de infecção.
De acordo com os pesquisadores, enquanto os níveis salivares de imunoglobulina A (IgA) não representam medições confiáveis para a construção de quaisquer conclusões nesses tipos de análises - devido à enorme gama de variáveis -, indivíduos participando de esportes prolongados e exaustivos experimentam, de fato, mudanças em suas células imunes de duas formas. Inicialmente, durante o exercício físico, o número de linfócitos que atuam ativamente na neutralização de patógenos na corrente sanguínea (no caso, natural killer cells, ou NK) podem aumentar dramaticamente até cerca de 10 vezes, além das células T CD8+, as quais chegam a aumentar aproximadamente 2,5 vezes em número. Já após o exercício físico, esses linfócitos na corrente sanguínea têm seu número diminuído substancialmente - algumas vezes caindo para níveis menores do que antes do exercício ter tido início, e com isso podendo durar várias horas.
Bem, nesse sentido, muitos cientistas no passado interpretaram esses resultados como uma danosa baixa no sistema imune, ou seja, o corpo do indivíduo após os exercícios físicos estaria reversivelmente e transitoriamente imunossuprimido. No entanto, avanços da medicina no conhecimento da dinâmica envolvida no sistema inume e nos processos fisiológicos acumulados nessas últimas décadas trazem um suporte que fortemente sugere que essa queda quantitativa das células imunes no sangue não significa que as células tenham desaparecido ou sido destruídas, mas, sim, que se moveram para outros locais no corpo que estão mais suscetíveis à infecções, como os pulmões e as superfícies mucosas, visando o esforço desgastante fruto das atividades físicas.
E isso não fica apenas na sugestão. Os pesquisadores mostraram que essas células imunes não são "exorcizadas" do corpo por três razões principais:
1°. Estudos clínicos mostram que os níveis quantitativos de células imunes retornam ao normal na circulação sanguínea dentro do intervalo de horas, o que é muito rápido para as células serem naturalmente repostas pelo corpo. Além disso, análises clínicas mostram que o número de linfócitos que passam pelo processo de típica apoptose (morte celular) pós-exercício é um pouco elevado, mas suficiente apenas para destruir pequenas quantidades de células imunes.
2°. Estudos clínicos mostram que essas células imunes possuem a habilidade de deixar a corrente sanguínea e viajar para outras partes do corpo, mesmo na ausência de infecções. Apesar de não existirem estudos ainda com humanos, análises clínicas com ratos já mostraram que exercícios físicos promovem a redistribuição de células imunes da circulação sanguínea desses roedores para tecidos periféricos - como as CD8+ e CD56dim (um tipo de NK).
3°. Estudos clínicos já mostraram que a resposta imune do organismo humano de jovens e adultos às vacinas é aumentada horas após a realização de exercícios físicos exaustivos. Em idosos, o efeito é neutro, talvez por conta de outros fatores biológicos associados com o avanço da idade. Estudos com outros animais também corroboram esses resultados, onde ratos que realizam exercícios físicos antes e depois de receberam uma vacina contra o vírus influenza mostram uma resposta imune e taxas de sobrevivências significativamente maiores. Tais observações não seriam possíveis em um corpo imunossuprimido.
Em outras palavras, os pesquisadores do novo estudo fortemente sugerem que a queda de células imunes na corrente sanguínea horas após o exercício físico é um sinal de que o fomento dado ao sistema imune no início desses exercícios é direcionado em grande parte para dar um auxílio extra ao corpo no combate de possíveis infecções. Isso quer dizer que o oposto da crença carregada até agora parece ser o certo. Nessa linha, dizer que existe um efeito imunossupressor associado às atividades físicas exaustivas e prolongadas não passaria de um mito, ou seja, no mínimo, não existe efeitos de prejuízo à saúde imune a partir de séries agudas de exercícios físicos.
Além disso, os pesquisadores também trouxeram evidências de que a prática regular de exercícios físicos pode limitar ou adiar o envelhecimento do sistema imunológico.
Porém, os pesquisadores também alertam que outros fatores podem contribuir para uma maior ocorrência de infecções associadas com os eventos de maratona, por exemplo, e que explicariam os resultados das pesquisas das décadas de 1980 e 1990. Entre eles, podemos citar:
1. Ir a qualquer evento onde existe uma grande aglomeração de pessoas, aumenta suas chances de ser infectado com algum patógeno.
2. Transportes públicos de longa duração, como viagens de avião de longas distâncias, geram prejuízos ao sono normal das pessoas, algo que pode aumentar seus riscos de infecção.
3. Fatores como mudança inadequada da dieta, exposição ao frio (1) e estresse psicológicos também estão ligados a uma maior chance de desenvolver infecções.
Até poucos anos atrás, nenhum novo estudo tinha emergido para contradizer essa hipótese, fortalecendo sua valia com base em limitadas evidências e falta de profunda análise científica nesse campo.
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CONFRONTANDO AS EVIDÊNCIAS
De fato, séries de exercícios físicos causam alterações temporárias na capacidade funcional e nas características quantitativas do sistema imune durante e após o término dos esforços físicos. Mas qual a extensão dessas alterações e qual o seu real significado?
Analisando a questão, pesquisadores do Departamento de Saúde da Universidade de Bath publicaram em 2018 um estudo no periódico Frontiers in Immunology onde os achados e conclusões científicas de décadas atrás foram reexaminados. E o que os pesquisadores encontraram foi exatamente o contrário: séries agudas de exercícios físicos, mesmo intensos, parecem ser benéficas para o sistema imune das pessoas.
O estudo, basicamente, foi uma revisão da literatura acadêmica, onde foram reunidas evidências de estudos passados e estas passaram por um processo de reinterpretação utilizando princípios fundamentais de imunologia e fisiologia para esclarecer possíveis distorções enraizados ao longo dos anos.
Para começar, os estudos citados anteriormente, e que sustentam a Hipótese da Janela-Aberta, enfrentam uma grande limitação, já que todos os supostos casos de infecção foram apenas checados via auto-reporte. Nenhuma análise clínica foi efetuada para confirmar se os sintomas eram devidos a reais infecções ou apenas refletiam efeitos de alergênicos ou ataques de asma, inflamações não-específicas das mucosas, ou traumas nas células epiteliais das vias aéreas gerados pelo aumento da ventilação ou da exposição ao ar frio (1). De fato, um estudo de 1990 (Ref.4) mostrou que de 37 casos de infecções nas vias aéreas superiores reportados por atletas na Maratona de Los Angeles (1987), apenas 11 deles (30%) tinham um diagnóstico laboratorial positivo.
Somando-se a isso, vários estudos nos últimos anos reportaram achados que contrariam a Hipótese da Janela-Aberta. Dois deles, por exemplo (Ref.5-6), mostraram que o número de dias onde as pessoas faltavam às escolas ou ao ambiente de trabalho por motivos de doenças diversas era de 1,5 dias e 2,8 dias na média para um grupo contendo 1212 e 489 corredores de ultra-maratonas, respectivamente; já os valores reportados pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA mostravam, para a população norte-americana em geral, uma média de 4,4 dias. Já outros estudos importantes mostram um efeito neutro, onde tanto a população em geral quanto os atletas parecem enfrentar praticamente os mesmos riscos e frequências de infecção.
De acordo com os pesquisadores, enquanto os níveis salivares de imunoglobulina A (IgA) não representam medições confiáveis para a construção de quaisquer conclusões nesses tipos de análises - devido à enorme gama de variáveis -, indivíduos participando de esportes prolongados e exaustivos experimentam, de fato, mudanças em suas células imunes de duas formas. Inicialmente, durante o exercício físico, o número de linfócitos que atuam ativamente na neutralização de patógenos na corrente sanguínea (no caso, natural killer cells, ou NK) podem aumentar dramaticamente até cerca de 10 vezes, além das células T CD8+, as quais chegam a aumentar aproximadamente 2,5 vezes em número. Já após o exercício físico, esses linfócitos na corrente sanguínea têm seu número diminuído substancialmente - algumas vezes caindo para níveis menores do que antes do exercício ter tido início, e com isso podendo durar várias horas.
Bem, nesse sentido, muitos cientistas no passado interpretaram esses resultados como uma danosa baixa no sistema imune, ou seja, o corpo do indivíduo após os exercícios físicos estaria reversivelmente e transitoriamente imunossuprimido. No entanto, avanços da medicina no conhecimento da dinâmica envolvida no sistema inume e nos processos fisiológicos acumulados nessas últimas décadas trazem um suporte que fortemente sugere que essa queda quantitativa das células imunes no sangue não significa que as células tenham desaparecido ou sido destruídas, mas, sim, que se moveram para outros locais no corpo que estão mais suscetíveis à infecções, como os pulmões e as superfícies mucosas, visando o esforço desgastante fruto das atividades físicas.
E isso não fica apenas na sugestão. Os pesquisadores mostraram que essas células imunes não são "exorcizadas" do corpo por três razões principais:
1°. Estudos clínicos mostram que os níveis quantitativos de células imunes retornam ao normal na circulação sanguínea dentro do intervalo de horas, o que é muito rápido para as células serem naturalmente repostas pelo corpo. Além disso, análises clínicas mostram que o número de linfócitos que passam pelo processo de típica apoptose (morte celular) pós-exercício é um pouco elevado, mas suficiente apenas para destruir pequenas quantidades de células imunes.
2°. Estudos clínicos mostram que essas células imunes possuem a habilidade de deixar a corrente sanguínea e viajar para outras partes do corpo, mesmo na ausência de infecções. Apesar de não existirem estudos ainda com humanos, análises clínicas com ratos já mostraram que exercícios físicos promovem a redistribuição de células imunes da circulação sanguínea desses roedores para tecidos periféricos - como as CD8+ e CD56dim (um tipo de NK).
3°. Estudos clínicos já mostraram que a resposta imune do organismo humano de jovens e adultos às vacinas é aumentada horas após a realização de exercícios físicos exaustivos. Em idosos, o efeito é neutro, talvez por conta de outros fatores biológicos associados com o avanço da idade. Estudos com outros animais também corroboram esses resultados, onde ratos que realizam exercícios físicos antes e depois de receberam uma vacina contra o vírus influenza mostram uma resposta imune e taxas de sobrevivências significativamente maiores. Tais observações não seriam possíveis em um corpo imunossuprimido.
Em outras palavras, os pesquisadores do novo estudo fortemente sugerem que a queda de células imunes na corrente sanguínea horas após o exercício físico é um sinal de que o fomento dado ao sistema imune no início desses exercícios é direcionado em grande parte para dar um auxílio extra ao corpo no combate de possíveis infecções. Isso quer dizer que o oposto da crença carregada até agora parece ser o certo. Nessa linha, dizer que existe um efeito imunossupressor associado às atividades físicas exaustivas e prolongadas não passaria de um mito, ou seja, no mínimo, não existe efeitos de prejuízo à saúde imune a partir de séries agudas de exercícios físicos.
Além disso, os pesquisadores também trouxeram evidências de que a prática regular de exercícios físicos pode limitar ou adiar o envelhecimento do sistema imunológico.
Porém, os pesquisadores também alertam que outros fatores podem contribuir para uma maior ocorrência de infecções associadas com os eventos de maratona, por exemplo, e que explicariam os resultados das pesquisas das décadas de 1980 e 1990. Entre eles, podemos citar:
1. Ir a qualquer evento onde existe uma grande aglomeração de pessoas, aumenta suas chances de ser infectado com algum patógeno.
2. Transportes públicos de longa duração, como viagens de avião de longas distâncias, geram prejuízos ao sono normal das pessoas, algo que pode aumentar seus riscos de infecção.
3. Fatores como mudança inadequada da dieta, exposição ao frio (1) e estresse psicológicos também estão ligados a uma maior chance de desenvolver infecções.
De fato, um artigo de debate mais recente publicado no periódico Exercise Immunology Review (Ref.), englobando a opinião de vários especialistas do campo de imunologia, concluiu que não existe evidência suficiente de suporte apontando intensos exercícios físicos como causa isolada de imunossupressão. Segundo especialistas mais favoráveis à hipótese de imunossupressão exercício-induzida, várias linhas de evidência ao longo de estudos em humanos e outros animais suportam o paradigma que o risco para o desenvolvimento de doença pode ser elevado durante períodos de esforços anormalmente pesados, porém realçando que muitos co-fatores de estresse devem ser levados em conta. Esses fatores incluem depressão ou ansiedade, falta de sono, extremos de temperatura, baixo consumo calórico, deficiências nutricionais, alta exposição a patógenos, distúrbio circadiano, entre outros. No geral, os especialistas concordaram que mais estudos precisam ser conduzidos para esclarecer essa questão.
CONCLUSÃO
A prática de exercícios físicos regulares é uma potente ferramenta para reduzir o risco de doenças não-comunicáveis, incluindo cânceres, problemas cardiovasculares e outras desordens crônicas inflamatórias. Muitas evidências também mostram que um estilo de vida fisicamente mais ativo diminui o risco de contrair várias doenças comunicáveis, incluindo infecções virais e bacterianas.
Além desses efeitos benéficos de longo prazo, o estudo de revisão de 2018 fortemente sugeriu que os efeitos a curto prazo dos exercícios físicos, independentemente se realizados exaustivamente ou de forma leve, trazem também efeitos benéficos para o corpo, podendo inclusive fortalecer o sistema imune. Porém, ainda existe caloroso debate sobre os impactos de curto prazo de exercícios intensos e de longa duração no sistema imune.
REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
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CONCLUSÃO
A prática de exercícios físicos regulares é uma potente ferramenta para reduzir o risco de doenças não-comunicáveis, incluindo cânceres, problemas cardiovasculares e outras desordens crônicas inflamatórias. Muitas evidências também mostram que um estilo de vida fisicamente mais ativo diminui o risco de contrair várias doenças comunicáveis, incluindo infecções virais e bacterianas.
Além desses efeitos benéficos de longo prazo, o estudo de revisão de 2018 fortemente sugeriu que os efeitos a curto prazo dos exercícios físicos, independentemente se realizados exaustivamente ou de forma leve, trazem também efeitos benéficos para o corpo, podendo inclusive fortalecer o sistema imune. Porém, ainda existe caloroso debate sobre os impactos de curto prazo de exercícios intensos e de longa duração no sistema imune.
REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
- https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fimmu.2018.00648/full#B17
- Peters EM, Bateman ED. Ultramarathon running and upper respiratory tract infections. An epidemiological survey. S Afr Med J (1983) 64(15):582–4.
- Nieman DC, Johanssen LM, Lee JW, Arabatzis K. Infectious episodes in runners before and after the Los Angeles Marathon. J Sports Med Phys Fitness (1990) 30(3):316–28.
- Nieman DC, Johanssen LM, Lee JW, Arabatzis K. Infectious episodes in runners before and after the Los Angeles Marathon. J Sports Med Phys Fitness (1990) 30(3):316–28
- Hoffman MD, Krishnan E. Health and exercise-related medical issues among 1,212 ultramarathon runners: baseline findings from the Ultrarunners Longitudinal TRAcking (ULTRA) study. PLoS One (2014) 9(1):e83867. doi:10.1371/journal.pone.0083867
- Hoffman MD, Fogard K. Demographic characteristics of 161-km ultramarathon runners. Res Sports Med (2012) 20(1):59–69. doi:10.1080/15438627.2012.634707
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14710949
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmedhealth/PMHT0022042/
- Simpson et al. (2020). Can exercise affect immune function to increase susceptibility to infection? Exercise Immunology Review, 26. pp. 8-22. ISSN 1077-5552. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32139352