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Ferramentas lapidadas de pedras realmente de humanos?


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       Uma das características mais marcantes dos nossos antepassados do gênero Homo, há milhões de anos, era a habilidade deles de produzirem ferramentas a partir da lapidação de pedras, especialmente para a manufatura de instrumentos de corte. Na arqueologia, achar esses instrumentos é mais do que valioso para entender o relacionamento dos nossos antepassados com o meio ambiente e o desenvolvimento primordial da nossa tecnologia. Porém, um recente achado coloca dúvida sobre a autenticidade de algumas dessas pedras, e o culpado disso tudo é de um primata brasileiro conhecido como Macaco-Prego.   

        Os Macacos-Pregos são primatas do gênero Cebus ou do gênero Sapajus que costumam ter uma massa corporal entre 2,9 e 3,4 kg , medirem  ente 30 e 50 cm e terem uma expectativa de vida que pode chegar aos 44 anos. Vivendo em florestas tropicais chuvosas na Colômbia, Brasil e Norte da Argentina, eles são extremamente habilidosos em escalar e se locomover entre as árvores, com a ajuda das seus longos braços. Muito inteligentes, eles são mestres em usar ferramentas, onde podemos citar a utilização de pequenos gravetos para cavar em procura de sementes ou enfiá-los em buracos para pegar formigas, e até mesmo o uso de pedras para abrir a casca de sementes muito duras (como nozes e castanhas). Nessa última habilidade é onde entra a preocupação de alguns cientistas, isso porque eles não usam as pedras apenas para abrirem sementes.

Macacos-Pregos da espécie Sapajus apella

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           Antes, achava-se que pedras com formatos característicos eram feitas exclusivamente por humanos na África entre 2 e 3 milhões de anos atrás, utilizando técnicas de lapidação bem elaboradas, com o propósito de deixá-las bem afiadas para tarefas diversas. Porém, um time liderado pelos pesquisadores Proffitt e Haslam, ambos da Universidade de Oxford, Reino Unido, descobriram que Macacos-Pregos aqui no Brasil estavam fazendo essas pedras de corte também, mas com uma diferença: ao contrário dos humanos, esses primatas estavam fazendo elas sem querer!.

          Desde 2005, os pesquisadores já sabiam que um grupo desses macacos aqui no Brasil, em específico no Parque Nacional da Serra da Capivara, pegam pedras de quartzo e, repetidamente, batem elas contra outras rochas. O pó resultante dessas batidas são, então, lambidos por esses primatas. Ainda é incerto o porquê deles fazerem isso, mas acredita-se que o pó ingerido pode servir como um suplemento alimentar de sais minerais ou, simplesmente, possa ser algo gostoso de ser colocado na boca. De qualquer forma, o interessante disso tudo é que nessa bateção de pedras, algumas destas acabam se partindo no mesmo formato de pedras supostamente lapidadas por humanos pré-históricos! Essa foi a incrível descoberta feita pelo time de Oxford. O vídeo abaixo, feito pela equipe da Nature, mostra o comportamento com mais clareza.


       

          O preocupante nessa história é que, se esses primatas estão fazendo isso, será que outros há milhões de anos também o faziam? Será que todas as ferramentas encontradas são de humanos? Bem, as pedras de corte encontradas junto a vestígios humanos são, obviamente, pertencentes aos nossos antepassados, mas agora é preciso tomar cuidado ao sair caçando qualquer pedra lapidada nas regiões africanas. Depois da publicação do estudo revelando a traquinagem dos Macacos-Pregos, uma dúvida foi lançada até mesmo nos recentes achados encontrados no Quênia, em um local chamado Lomekwi. Ali, arqueólogos encontraram artefatos de pedra que parecem ser as mais antigas ferramentas feitas por humanos, datados de 3,3 milhões de anos atrás. Porém, será que são de humanos ou podem ter sido feitos por outros primatas por acidente? Por outro lado, muitos arqueólogos não acham que isso será motivo de preocupação, já que para esses especialistas é possível identificar com clareza quando artefatos são feitos por humanos ou por terceiros. 

À esquerda, um Macaco-Prego batendo as pedras em rochas; à direita, exemplo de pedras criadas por esses primatas durante o processo

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          Independentemente da opinião de um ou outro especialista sobre o assunto, é inegável que as pedras feitas pelos Macacos-pregos são muito similares a de antigos humanos e isso, sem sombra de dúvidas, irá gerar, no mínimo, uma leve preocupação quando buscas arqueológicas estiverem sendo realizadas.


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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. http://www.nature.com/news/monkey-tools-raise-questions-over-human-archaeological-record-1.20816 
  2. http://kids.sandiegozoo.org/animals/mammals/capuchin-monkey
  3. http://pin.primate.wisc.edu/factsheets/links/cebus