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Separação da íris: O que é Iridodiálise?

           Um homem de 48 anos de idade apresentou-se à clínica oftalmológica com um histórico de 1 semana com dor, visão dupla e visão embaçada no olho esquerdo. O aspecto do seu olho pode ser visto na foto acima, e os sintomas associados começaram após o paciente ter sido atingido no olho por uma corda de borracha que estava sendo usada para segurar mercadorias na sua moto.


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            Exame físico revelou danos na pálpebra esquerda e uma pupila distorcida. A acuidade visual corrigida com óculos de grau foi de 20/40 no olho direito e de 20/200 no olho esquerdo. Uma avaliação realizada com uma lâmpada de fenda no olho esquerdo revelou uma íris deformada com a porção superior caída na parte inferior, desanexada da posição de 9 horas até a posição de 3 horas. Nenhuma evidência de deslocamento das lentes, catarata traumática ou lesão retinal foi notada. 

           Separação da íris a partir do corpo ciliar causada por dano físico - quadro conhecido como iridodiálise traumática - pode levar a uma visão embaçada, visão dupla monocular, ou fotofobia. O paciente foi submetido a uma iridoplastia e teve a forma da sua pupila restaurada, com subsequente melhora da acuidade visual. Um ano mais tarde, a acuidade visual corrigida do paciente com óculos de grau era de 20/50 no olho esquerdo e a íris permaneceu anexada com leve deformidade e sem evidência de glaucoma (dano no nervo que liga o olho ao cérebro, geralmente devido à alta pressão ocular).

          O caso foi reportado e descrito no periódico New England Journal of Medicine (Ref.1).

> Iridodiálise é a separação da íris do seu anexo ao corpo ciliar. Ocorre comumente como resultado de um trauma ocular (golpe ou perfuração) e procedimentos cirúrgicos intraoculares, nos quais contusão ocular é a causa mais comum. Em raros casos, a iridodiálise pode ser congênita, sendo causada por um defeito de desenvolvimento do mesoderma da íris durante a embriogênese do olho. Reparo cirúrgico da condição (Fig.2) só é necessário caso esteja associada com sintomas, por motivos cosméticos ou devido a outras preocupações médicas. Várias técnicas cirúrgicas têm sido usadas e aperfeiçoadas para restaurar a íris (iridoplastia). Ref.3-6


Figura 1. A separação ou descolamento da íris é facilitado pela "raiz" frágil dessa estrutura. A íris atua de forma crucial no controle do diâmetro da pupila e, nesse sentido, defeitos nessa estrutura podem prejudicar a visão e causar sintomas como visão dupla, diplopia monocular, visão borrada e fotofobia. Ref.5-6

 

Figura 2. Antes (A) e após (B) reparo cirúrgico de um paciente com iridodiálise. Ref.4

> A abertura da pupila é controlada pelos músculos da íris, uma estrutura circular cuja cor da parte externa varia em um contínuo (marrom, azul ou verde são as cores mais comuns). A cor da íris possui determinação poligênica, e a maioria dos genes associados com a cor dos olhos estão envolvidos na produção, transporte ou armazenamento do pigmento chamado de melanina. Pessoas com olhos castanhos possuem uma grande quantidade de melanina na íris, enquanto pessoas com olhos azuis possuem pouca quantidade desse pigmento. Uma região no cromossomo 15 atua de forma crucial na coloração dos olhos, particularmente dois genes: OCA2 e HERC2, localizados próximos um do outro. Mas vários outros genes atuam para a determinação da cor dos olhos, e alguns deles também estão envolvidos com a coloração da pele (!) e dos cabelos.


REFERÊNCIAS

  1. https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMicm1812087
  2. https://medlineplus.gov/genetics/understanding/traits/eyecolor/
  3. Balamurugan & Rayapu (2025). Congenital Iridodialysis. TNOA Journal of Ophthalmic Science and Research 63(1):p 113-114. https://doi.org/10.4103/tjosr.tjosr_151_24
  4. Wan et al. (2018). Comparing safety and efficiency of two closed-chamber techniques for iridodialysis repair - a retrospective clinical study. BMC Ophthalmology 18, 311. https://doi.org/10.1186/s12886-018-0984-y
  5. Krasilchik et al. (2025). Iridodialysis. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, 88(5). https://doi.org/10.5935/0004-2749.2025-0092
  6. https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11367433/