Afinal, por que hemácias de mamíferos não possuem núcleo?
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Figura 1. Hemácia humana observada através de microscopia de escaneamento eletrônico (SEM), exibindo morfologia normal. Ref.1 |
Em humanos, células vermelhas (hemácias ou eritrócitos) na circulação sanguínea não possuem núcleo e nem mitocôndrias e possuem como função primária o transporte dos gases oxigênio (O2) e dióxido de carbono (CO2) no corpo. Entre os vertebrados, a ausência de núcleo e de organelas nas hemácias é uma assinatura não apenas dos humanos mas de mamíferos em geral. Mas por que mamíferos possuem eritrócitos maduros anucleados? A ausência de núcleo celular nas hemácias significa também ausência de DNA dentro dessas células? A função das hemácias se resume no transporte de gases? E qual é a origem evolucionária dessas células?
Todos os vertebrados, com exceção de certos peixes, transportam O2 através de proteínas chamadas hemoglobinas (Fig.2). A hemoglobina é uma metaloproteína que contém ferro e é responsável por dar a típica cor vermelha do sangue. Essa proteína, por sua vez, está associada a células chamadas de hemácias - ou também conhecidas como eritrócitos ou células vermelhas do sangue. As hemácias podem variar dramaticamente de tamanho, forma e número entre os vertebrados. Em um extremo temos ungulados da família Tragulidae com hemácias aproximadamente esféricas e com diâmetro médio de 2 micrômetros (µm); no outro extremo temos salamandras aquáticas do gênero Amphiuma com hemácias exibindo um formato de disco oval biconvexo e comprimento de ~66 µm (Ref.2). As causas para essas variações não são totalmente esclarecidas, mas parecem envolver fatores ecológicos, filogenéticos, fisiológicos e anatômicos (Ref.3-4). Por outro lado, a vasta maioria das espécies de mamíferos exibem hemácias com o típico formato de disco bicôncavo (Fig.3).
As hemácias passam por um contínuo ciclo de renovação, no qual células envelhecidas são destruídas no fígado e no baço e substituídas por novas células formadas na medula óssea (tecido dentro do osso). O balanço entre produção e destruição precisa ser estritamente regulado para assegurar suprimento de oxigênio aos tecidos e órgãos, e manter o volume e a viscosidade do sangue dentro da faixa fisiológica. A produção de hemácias é controlada pela eritropoietina (EPO), um hormônio produzido primariamente pelos rins - e em menor quantidade pelo fígado (Ref.7).
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> A eliminação de hemácias circulantes é realizada por macrófagos dos sinusoides hepáticos e do baço, os quais são capazes de reconhecer e remover células vermelhas danificadas, deformadas ou que alcançaram uma idade crítica. Aliás, o baço é um órgão linfoide cuja função primária é filtrar o sangue. (Sugestão de leitura: Povo Bajau evoluiu um baço bem maior associado com a prática de mergulho)
> Em humanos, as hemácias vivem, na média, por ~120 dias. São ainda incertos os fatores que determinam a longevidade das hemácias. Hipótese tradicional sugere acúmulo de estresse oxidativo e mecânico, mas existe evidência de que mecanismos regulatórios hormonal e imune podem estar envolvidos. Ref.8
> Durante a entrega de O2, uma pequena fração de oxigênio liberada das hemoglobinas gera espécies oxigenadas reativas altamente destrutivas, incluindo superóxidos. Esses superóxidos e afins destroem proteínas e outras estruturas das hemácias, representando importante fonte de estresse oxidativo.
> Hemácias são muito flexíveis e isso é necessário para o serviço primário de transporte que essas células cumprem. Isso porque precisam passar inúmeras vezes através de capilares sanguíneos extremamente finos (aproximadamente 2-4 μm de diâmetro) para as trocas gasosas nos tecidos e órgãos. Essa é uma importante fonte de estresse mecânico.
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Sob condições fisiológicas normais e como consequência do equilíbrio entre destruição e produção de hemácias, a concentração de células vermelhas no sangue humano é relativamente constante, em torno de 5 milhões de células por microlitro (μL). E, a cada segundo, aproximadamente 5 milhões de hemácias são removidas da circulação sanguínea (Ref.9). Aliás, mais de 80% de todas as células no corpo humano são eritrócitos, somando entre 22 e 33 trilhões de células em um adulto que são produzidas a uma taxa de ~200 bilhões por dia (Ref.10-11). Essa taxa de síntese de hemácias no corpo (~2 milhões/s) é equivalente à produção diária de 20 mL de sangue contendo 6 g de hemoglobina e 20 mg de ferro (Ref.12). Aproximadamente 45% do volume do sangue humano corresponde a hemácias (Ref.25).
O citoplasma das hemácias é rico em hemoglobina (até 98% do conteúdo não-aquoso). Curiosamente, nos mamíferos, as hemácias são desprovidas de núcleo (anucleadas) e de outras organelas típicas de células eucarióticas, como mitocôndrias. Como no núcleo fica o DNA (genoma) da célula, hemácias essencialmente perdem o material genético. No mesmo sentido, à princípio, perdem também todo o DNA mitocondrial (mtDNA). Hemácias são produzidas rapidamente na medula óssea de mamíferos a partir de células-tronco hematopoiéticas (CTHs) - células percursoras de todos os tipos de células sanguíneas. Na produção de hemácias, as CTHs passam por uma série de estágios de maturação durante o desenvolvimento, finalmente culminando na separação assimétrica entre o eritrócito imaturo e o seu núcleo altamente condensado - um processo chamado de enucleação (Fig.4).
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> Importante apontar que as hemácias não são as únicas células no corpo humano com ausência de núcleo. Através de um processo distinto e programado (denucleação), fibras do cristalino - células altamente especializadas que compõem a "lente natural do olho" (substância do cristalino) - e os queratinócitos - células especializadas da epiderme, unha e fios capilares - perdem o núcleo no processo terminal de diferenciação. Ref.14
> Nas fibras do cristalino, a remoção do núcleo e de outras organelas é necessária para produzir a estrutura transparente da lente ocular. No lugar das organelas removidas, as fibras do cristalino são preenchidas com proteínas chamadas "cristalinas". Já no caso dos queratinócitos, a perda de todas as organelas intracelulares resultam em uma camada epidérmica resistente e cornificada, essencial, por exemplo, para a formação da barreira epidérmica que protege a pele contra desidratação e insultos externos. Queratinócitos são preenchidos com a proteína queratina. Ref.14
> A degradação do núcleo/DNA das fibras do cristalino e dos queratinócitos ocorre no interior dessas células (autofagia). Nas hemácias, o núcleo/DNA expelido e intacto é degradado dentro de macrófagos.
> Além das fibras do cristalino e dos queratinócitos, plaquetas são também anucleadas, mas existe ainda debate acadêmico sobre a classificação desses trombócitos como células (!).
Importante: Todas as células no corpo iniciam o desenvolvimento a partir de células com núcleo. A perda do núcleo em alguns tipos celulares ocorre apenas na fase terminal de diferenciação ou maturação. O núcleo e seu material genético é essencial para orientar e promover o desenvolvimento celular.
> Existem três tipos distintos de hemoglobina circulante caracterizadas pelos tipos de globinas presentes: hemoglobina fetal (HbF), hemoglobina adulta (HbA) e HbA2. A HbF compreende 2 subunidades alfa (α) e 2 unidades gama (γ), e é a principal hemoglobina produzida pelos fetos; após o nascimento, a taxa de produção de HbF cai significativamente até uma prevalência de 2 a 3% em adultos. A HbA compreende 2 subunidades alfa (α) e 2 unidades beta (β) e responde por até 95-98% da hemoglobina produzida em adultos. A HbA2 compreende 2 subunidades alfa e duas subunidades delta e respondem por até 1-3% das hemoglobinas em adultos. As subunidades α e β são produzidas por genes localizados nos cromossomos 16 e 11, respectivamente. Ref.15
> Na ausência de mitocôndrias, é comumente pensado que as hemácias exibem um metabolismo energético mais simples, baseado em catabolismo de glicose. Porém, estudos nos últimos anos vêm mostrando que o metabolismo nos eritrócitos maduros é relativamente complexo, não apenas envolvendo glicólise mas também exibindo uma rede metabólica extensiva, incluindo metabolismo citosólico de ácidos tricarboxílicos, purina e arginina. Ref.16
> Em fetos humanos, existem hemácias nucleadas circulantes, mas que desaparecem após o nascimento. Ref.16
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Mas por que as hemácias de mamíferos são anucleadas?
Esse mistério é complicado pelo fato de que, entre os vertebrados, a enucleação dos eritrócitos ocorre quase que exclusivamente em mamíferos. Com a exceção de algumas espécies de salamandras, aves, répteis, peixes e anfíbios exibem predominantemente eritrócitos nucleados na circulação sanguínea (Ref.17). A causa evolucionária para a presença obrigatória de hemácias anucleadas em mamíferos ainda não é bem esclarecida. Entre hipóteses populares podemos citar:
- Maior concentração de hemoglobinas: Eritrócitos de mamíferos expulsam organelas e o núcleo para dar espaço intracelular a uma maior quantidade de moléculas de hemoglobina, aumentando a capacidade de transporte de oxigênio no sangue e permitindo a alta taxa metabólica desses animais.
- Menor volume celular: A extrusão do núcleo e de organelas nos eritrócitos minimiza o volume celular, aumentando a razão entre área superficial e volume, mas sem comprometer a flexibilidade celular. Isso, por sua vez, aumenta a eficiência de trocas gasosas - permitindo rápida oxigenação de tecidos - e facilita a transversão em pequenos capilares sanguíneos. Em mamíferos, os capilares são os mais estreitos do reino animal, respondendo à significativa redução de tamanho das hemácias.
- Redução do estresse oxidativo: A extrusão de mitocôndrias e do retículo endoplasmático de um ambiente muito oxigenado (interior das hemácias) reduz a quantidade de espécies reativas oxigenadas nas células. Mesmo sem mitocôndrias, eritrócitos geram extensiva quantidade de radicais livres. Além disso, mitocôndrias podem liberar citocromo C, promotor de apoptose celular.
Embora essas hipóteses sejam comumente citadas e aceitas em livros acadêmicos e na literatura acadêmica, evidências empíricas de suporte são limitadas (Ref.17). Importante, não explicam de forma satisfatória por que as hemácias de aves - animais que também evoluíram endotermia e que exibem elevada taxa metabólica - retêm núcleo celular e outras organelas. Enquanto é verdade que os eritrócitos maduros de aves exibem menor longevidade (~40% de diferença) em relação aos eritrócitos maduros de mamíferos, isso talvez daria suporte apenas à 3° hipótese, mas não explicaria a extrusão de outras organelas e, notavelmente, do núcleo celular. A extrusão do núcleo dos eritroblastos é um processo complexo, finamente orquestrado e o fator que limita a taxa de produção das hemácias, sugerindo um alto valor adaptativo compensando esse esforço (Ref.19).
Em relação específica ao tamanho das hemácias, existem múltiplas linhas de evidência de fato sugerindo que esse traço responde à demanda de oxigênio em espécies diversas de vertebrados (Ref.26). No grupo Lepidosauria - uma superordem de répteis - espécies que vivem em altas altitudes e que exibem maiores temperaturas corporais possuem hemácias menores. De forma similar, aves que migram longas distâncias e que exibem intensa competição entre machos possuem eritrócitos menores comparado com aves que não expressam esses comportamentos. Por outro lado, aves que mergulham exibem hemácias maiores, que ajudam a armazenar mais oxigênio e liberar esse gás mais lentamente. Peixes que possuem uma taxa metabólica baixa e, portanto, menor demanda de oxigênio, possuem hemácias maiores.
As hemácias maiores e mais rígidas de vertebrados ectotérmicos ("sangue frio"), à princípio, possuem uma menor superfície de contato com as paredes dos vasos sanguíneos quando comparado a um volume igual de hemácias nucleadas aviárias e hemácias anucleadas de mamíferos no contexto de trocas gasosas com os tecidos (Fig.5). Hemácias humanas, por exemplo, possuem uma superfície de contato aproximadamente 2x maior do que o valor médio associado às hemácias de outras espécies de vertebrados que não são mamíferos.
Hemácias de tamanho reduzido têm sido consideradas uma assinatura da evolução de endotermia (Ref.31). Tal redução no tamanho das hemácias está associada com uma diminuição no diâmetro dos capilares sanguíneos, à medida que essas células precisam ser maiores do que os capilares para que possam se deformar e aumentar a taxa de entrega de oxigênio.
Mas por que a necessidade específica de perder o núcleo e outras organelas se o tamanho reduzido dos eritrócitos maduros nas aves permite também altas taxas metabólicas? Nas aves, o conteúdo nuclear dos eritrócitos maduros é reduzido, mas não perdido. A potencial maior eficiência das hemácias anucleadas dos mamíferos compensaria tal dramática inovação evolutiva? De forma similar, por que plaquetas - células sanguíneas também anucleadas - emergiram exclusivamente em mamíferos? Esse outro mistério continua também sem solução.
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> Um aumento da concentração de hemoglobina aumenta a capacidade de transporte de oxigênio, mas, acima de um valor ótimo, esse fator reduz a flexibilidade e a deformidade da hemácia - parâmetros que dependem da viscosidade intracelular. A deformabilidade das hemácias é importante para essas células atravessarem pequenos capilares sanguíneos. Ref.10
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Uma hipótese mais recente, descrita no periódico Medical Hypotheses (Ref.20), sugere que a enucleação em hemácias pode ser também um meio de reduzir o risco de câncer. A alta taxa de divisão celular na medula óssea para manter a produção suficiente de hemácias nos mamíferos naturalmente aumenta o risco de mutações com potencial cancerígeno que emergem durante a replicação de DNA. Na ausência de uma genoma nuclear, eritrócitos maduros são incapazes de progredir para um câncer como ocasionalmente observado com células brancas (leucócitos). Isso explica por que a ocorrência de leucemias em mamíferos geralmente envolve leucócitos e é incomum em linhagens associadas a eritrócitos nesse grupo de animais, incluindo humanos.
Leitura recomendada:
Enucleação de eritrócitos também ocorre em salamandras da família Plethodontidae, com algumas espécies da subfamília Bolitoglossinae exibindo um alto nível (>80%) de hemácias circulantes anucleadas, incluindo membros dos gêneros Bolitoglossa, Nototriton, Oedipina, Thorius e Batrachoseps. Na espécie Batrachoseps attenuatus, nível de enucleação é de ~99%. Porém, nessas salamandras as hemácias anucleadas retêm um formato elipsoide (Fig.6), uma banda marginal de microtúbulos e outras estruturas do citoesqueleto, todos ausentes nas hemácias de mamíferos. Essas salamandras compartilham duas principais características: forma corporal miniaturizada (ou atenuada) e grande tamanho genômico em relação a outros vertebrados. É sugerido que o grande tamanho genômico cria problemas circulatórios nos táxons miniaturizados durante travessia de eritrócitos nucleados em pequenos capilares sanguíneos, favorecendo o processo de enucleação (Ref.21).
Nesse sentido, é possível que a emergência de hemácias anucleadas nessas salamandras respondeu diretamente à miniaturização dos capilares sanguíneos, contrário ao cenário evolucionário sugerido nos mamíferos (endotermia → encolhimento das hemácias → capilares mais estreitos).
Embora seja comumente alegado em livros acadêmicos que eritrócitos maduros não possuem DNA, micronúcleos de DNA têm sido encontrados em eritrócitos de mamíferos. Além disso, corpos de inclusão com DNA, chamados de corpos de Howell-Jolly, também têm sido encontrados em eritrócitos reciclados de certos pacientes com função esplênica (do baço) comprometida ou submetidos à esplenectomia (remoção do baço). O baço ajuda a filtrar sangue, combater infecções e remover células sanguíneas danificadas.
Um estudo publicado em 2024 no periódico Advanced Science (Ref.23) usou múltiplos e avançados métodos analíticos para esclarecer se DNA existe ou não dentro das hemácias circulando no corpo humano. Analisando amostras sanguíneas de voluntários saudáveis, os pesquisadores confirmaram que hemácias carregam fragmentos longos de DNA humano de origem tanto nuclear quanto mitocondrial (Fig.6). Os fragmentos identificados estavam presentes no interior das hemácias e mostraram ter origem endógena, aparentemente produzidos durante fragmentação do núcleo no processo de enucleação.
Aliás, um estudo mais recente publicado na Cell Research (Ref.24) apontou que o DNA remanescente nas hemácias (rbcDNA) pode ser usado para detecção precoce de câncer. O estudo mostrou que pacientes com câncer exibindo tumores sólidos em início de desenvolvimento possuem um perfil genômico distinto no rbcDNA em relação a indivíduos saudáveis.
Válido também mencionar que que eritrócitos maduros retêm também várias moléculas funcionais de microRNA (miRNA). Aliás, hemácias representam a fonte primária de miRNAs circulantes, com implicações incertas mas potencialmente amplas e adaptativas no corpo (Ref.26-27).
Apenas serviço de transporte?
Estudos nas últimas décadas têm revelado que as hemácias possuem outras funções além do transporte de pequenas moléculas, contrariando também a ideia de que essas células são imunologicamente inertes. Por exemplo, hemácias regulam a função da imunidade do corpo ao se ligar a DNA mitocondrial livre e DNA patogênico através do receptor do tipo toll 9 (TLR9) na superfície celular (Ref.25). Hemácias parecem ser componentes essenciais para respostas inflamatórias no corpo. Além disso, hemácias têm sido reportadas de interagir com células cancerígenas através da proteína galectina-4 e atuar de forma crítica na progressão tumoral e no processo de metástase (Ref.16).
Um estudo mais recente, publicado na Scientific Reports (Ref.28), identificou outro receptor imune (TLR7) presente na membrana das hemácias que é capaz de se ligar com RNA exógeno (ex.: vírus), sugerindo que eritrócitos maduros e anucleados podem funcionar como coletores ou reservatórios de RNA dentro da circulação sanguínea - e talvez apontando outra contribuição em processos inflamatórios.
E miRNAs nas hemácias parecem ter papel de defesa contra infecções causadas por protozoários Plasmodium (Ref.26).
Essas evidências sugerem um papel importante das hemácias na imunidade. E isso pode incluir reconhecimento de células tumorais e vírus circulantes e apresentação dessa informação para macrófagos.
Além de trocas gasosas e atividade na imunidade inata, hemácias atuam de forma crítica na regulação regional de fluxo sanguíneo via óxido nítrico, no transporte de aminoácidos entre tecidos e na manutenção da homeostase de água no corpo (Ref.26). No caso da homeostase hídrica, hemácias podem rapidamente inchar (hidratação) ou encolher (desidratação) de acordo com a osmolaridade do ambiente, ajudando a controlar excessos ou escassez de água circulante.
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> Em peixes, as hemácias possuem funções imunes bem definidas. Além de reconhecer patógenos e modular os níveis de vários fatores inflamatórios, as hemácias de peixes exibem atividades bactericidas, antifúngicas e antivirais. Ref.29
Leitura recomendada: Existem quantos tipos sanguíneos em humanos?
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Ancestral Celular dos Eritrócitos
No contexto evolutivo, células sanguíneas são pensadas de terem emergido como fagócitos no ancestral comum de todos os animais, seguido pela emergência de novas linhagens de células sanguíneas como trombócitos, eritrócitos e linfócitos. De fato, fagócitos são encontrados em todos ou quase todos os animais conhecidos, incluindo organismos multicelulares muito simples como esponjas, enquanto outros tipos de células sanguíneas - aparentemente derivadas de fagócitos primordiais e herdando um programa de fagocitose de organismos unicelulares - estão presentes em animais mais complexos.
Leitura recomendada:
Cenário proposto para a história evolucionária das células sanguíneas (Ref.35):
- quando um ancestral unicelular veio a formar um organismo multicelular, uma cavidade estrutural no corpo cercada por epitélio foi formada;
- em tal conformação estrutural, teria sido vantajoso se o organismo tivesse um tipo de célula ancestral na cavidade capaz de patrulhar esse espaço para eliminar patógenos e células mortas através de fagocitose;
- ao manter tais células especializadas (fagócitos primordiais), expressando o programa de fagocitose do ancestral unicelular e positivamente selecionadas por beneficiar o organismo como um todo, teríamos o nascimento das primeiras células sanguíneas.
Linhagens de megacariócitos, eritroides, células-T e células-B teriam sido geradas ao longo da história evolucionária dos animais. Na evolução dos vertebrados, antes da divergência entre peixes sem mandíbula e mandibulados, as linhagens celulares de eritroides e linfoides teriam já emergido, já que os grupos de animais citados possuem esses dois tipos de células.
REFERÊNCIAS
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