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Qual é a árvore mais antiga do mundo ainda viva?

           Algumas espécies de árvores são representadas por organismos vivos individuais associados às maiores longevidades conhecidas na Terra. A capacidade de exceder 2000 anos de idade já foi demonstrada até o momento para seis gêneros de coníferas: Fitzroya, Juniperus, Pinus, Sequoia, Sequoiadendron e Taxodium (Ref.1). No geral, árvores extremamente velhas (>1000 anos de idade) são raras, tipicamente gimnospérmicas (grupo de plantas sem flores),  e a grande maioria delas crescem em regiões montanhosas de alta altitude, caracterizadas por ambiente frio e árido e pouco perturbado pelas atividades humanas (Ref.2).

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          Nas montanhas costeiras do Chile vive uma enorme árvore conífera com ~4 metros de diâmetro da espécie Fitzroya cupressoides, conhecida como Alerce Milenario ou Gran Abuelo ("Bisavô"), muito famosa e já sabida de ser muito antiga. Boa parte do seu tronco já morreu, parte da coroa já se desprendeu, e a árvore se tornou "infestada" de musgos, líquens e de outras plantas e árvores aproveitando fendas na sua estrutura. 

          Recentemente, um cientista Chileno, Dr. Jonathan Barichivich, usando uma combinação de modelos computacionais e métodos tradicionais de cálculos para a determinação da idade de árvores, concluiu que a Gran Abuelo possui mais de 5 mil anos de idade (80% de chance), provavelmente em torno de 5400 anos (Ref.3). Esse valor ultrapassa o recorde de idade atualmente aceito para uma árvore individual: 4853 anos determinado para um pinheiro da espécie Pinus longaeva, crescendo no leste da Califórnia. Porém, outros cientistas ainda estão céticos quanto à estimativa de idade para a árvore Chilena. Barichivich anunciou que irá submeter em breve os resultados do seu trabalho teórico para publicação em um periódico.


  

           Caso confirmada a idade recorde, Gran Abuelo pode ser também um dos três organismos vivos mais antigos hoje conhecidos, disputando talvez com outros dois monstros (os maiores seres vivos do mundo) (1): Pando (uma floresta de uma árvore só) e o Humongous Fungus, um fungo localizado na Floresta Nacional de Malheur, o primeiro com uma idade incerta mas estimada em vários milhares de anos (<14 mil) e o segundo com pelo menos 2500 anos de idade e um máximo em torno de 8 mil anos.

(1) Leitura recomendadaPando e Humongous Fungus: os dois maiores organismos vivos da Terra

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> Tornou-se bastante disseminado na internet, a partir de 2008, que uma conífera da espécie Picea abies, no Parque Nacional de Fulufjäll, Suécia, bateu o recorde de árvore mais longeva, com 9550 anos de idade. Porém, aqui temos uma situação similar àquela do Pando. O espécime em questão - conhecido como Old Tjikko - é constituído de várias árvores em crescimento com ou sem tronco e raramente excedendo poucos metros de altura, e provavelmente pertencentes a um único indivíduo muito antigo, há cerca de 9500 anos (Ref.4). Em outras palavras, são uma série de clones de um mesmo indivíduo primordial crescendo e morrendo ao longo de milênios. O mesmo ocorre em outro "indivíduo" da espécie na Suécia, chamado de Gunnar Samuelsson, com datação de radiocarbono nos vestígios fósseis de outros clones sugerindo uma origem há cerca de 6,3 mil anos. Estima-se que as árvores individuais da espécie P. abies alcancem, no máximo, ~600 anos de idade (Ref.5).


> Sequoias pertencem a dois gêneros de coníferas (Sequoia e Sequoiadendron) na família Taxodiaceae. O gênero Sequoia atualmente é representado pela espécie Sequoia sempervirens, conhecida popularmente como sequoia-vermelha. Já o gênero Sequoiadendron é representado atualmente pela espécie Sequoiadendron giganteum, conhecida popularmente como sequoia gigante. Essas espécies habitam regiões nas montanhas de Serra Nevada, Califórnia, EUA, e  quebram recordes de altura, diâmetro de tronco e de biomassa, e com alguns indivíduos ultrapassando 2 mil anos de idade. Para a S. giganteum, o recorde registrado de idade é de 3200 anos e para a S. sempervirens, 2200 anos. A sequoia gigante é frequentemente considerada a espécie mais massiva do planeta, devido ao enorme volume de madeira em um único indivíduo de até 1000 metros cúbicos. A sequoia-vermelha detém o recorde de altura, alcançando até 115 metros. Os gêneros Sequoiadendron e Sequoia são antigos também no registro fóssil, datando do período Jurássico (Ref.6).

> Importante mencionar que as árvores individuais mais antigas nunca são as maiores, e tipicamente possuem copas menores ou quebradas - provavelmente como resultado de distúrbios abióticos como danos por neve ou vento. Nesse mesmo caminho, taxas mais reduzida de crescimento, começando pelos estágios ontogenéticos iniciais, também são um mecanismo proposto para explicar longevidades extremas nas árvores (Ref.1). É também sugerido que os ambientes tipicamente pouco convidativos em termos bióticos nos habitats das espécies mais longevas de árvores favorecem o longo tempo de vida ao reduzir competição e ataques de organismos diversos (ex.: parasitas, plantas competidoras herbívoros) (Ref.1).
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REFERÊNCIAS

  1. Biondi & Piovesan (2020). On tree longevity. New Phytologist, Volume 231, Issue 4, Pages 1318-1337. https://doi.org/10.1111/nph.17148 
  2. Zhang et al. (2022). Age and spatial distribution of the world's oldest trees. Conservation Biology, Volume 36, Issue 4, e13907. https://doi.org/10.1111/cobi.13907 
  3. https://www.science.org/content/article/world-s-oldest-tree-growing-ravine-chile
  4. Parducci et al. (2022). Norway spruce postglacial recolonization of Fennoscandia. Nature Communications, 13, 1333. https://doi.org/10.1038/s41467-022-28976-4
  5. Mackenthun, G. L. (2015). The world’s oldest living tree discovered in Sweden? A critical review. New Journal of Botany, 5(3), 200–204. https://doi.org/10.1080/20423489.2015.1123967 
  6. Sekhwal et al. (2021). Selective Sweeps and Polygenic Adaptation Drive Local Adaptation along Moisture and Temperature Gradients in Natural Populations of Coast Redwood and Giant Sequoia. Genes, 12(11), 1826. https://doi.org/10.3390/genes12111826