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A ozonioterapia é eficaz e cura doenças?


- Atualizado no dia 13 de março de 2021 -

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          Nos últimos anos, a comunidade médica tem visto um aumento expressivo no número de praticantes da assim chamada 'ozonioterapia', uma medicina alternativa que utiliza o tóxico e famoso gás que nos protege dos perigosos raios ultravioletas do Sol (1). Apesar de alguns profissionais de saúde - muitas vezes de forma anti-ética - afirmarem que essa terapia é muito eficaz para o tratamento de um variado espectro de condições e doenças, existe muito pouca evidência científica de suporte - e nenhuma conclusiva - na literatura médica. Quem vende essa terapia como uma cura garantida de doenças indo de câncer até a Aids está sendo desonesto e potencialmente cometendo um crime.


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   OZÔNIO NA MEDICINA

         O gás ozônio (O3) foi descoberto na década de 1840 e não demorou muito para fomentar o interesse da comunidade médica tanto em relação à sua toxicidade quanto aos potenciais benefícios do seu uso. A molécula desse gás é altamente solúvel em água e consiste em três átomos de oxigênio covalentemente ligados, mas de forma bastante instável por causa da natureza do seu estado mesomérico. Isso o torna difícil de ser obtido em grandes concentrações e altamente reativo (oxidante), com esse composto geralmente experienciando reações transientes intrínsecas e extrínsecas. Sua meia-vida varia com a temperatura: a 20°C sua meia-vida é de 40 minutos e, a 0°C, é em torno de 140 minutos. No século XIX, tais propriedade fizeram com que fosse difícil estudá-lo e utilizá-lo para fins diversos.

          No começo, descobriu-se que esse gás era um excelente germicida, eficaz para desinfetar águas contaminadas e esterilizar instrumentos médicos. No final do século XIX e no início do século XX, passou a ser testado para o tratamento de algumas doenças e na desinfecção de feridas, gerando resultados negativos. Eventualmente, também se descobriu que, apesar de ser essencial na estratosfera (especificamente na camada de ozônio) para proteger a vida no planeta da radiação UV mais energética, ele é altamente danoso para o tecido pulmonar ao ser inalado, ou seja, quando presente como poluente na troposfera. Como poluente, esse gás é geralmente formado quando produtos da combustão de combustíveis em carros, fábricas  e outras fontes reagem com a luz solar, sendo o principal componente do smog (mistura de neblina com gases/partículas poluentes nos centros urbanos). Ao ser inalado, o ozônio pode causar tosse, irritação na garganta, piora da asma, bronquite e enfisema. Também pode levar a danos permanentes no pulmão caso a exposição seja crônica.

          A produção de ozônio para fins médicos geralmente é feita usando equipamentos chamados de 'Geradores de Ozônio', os quais usam tubos de alta voltagem (4000-14000 V) que agem sobre um fluxo de gás oxigênio via lâmpadas de UV, plasma frio ou descargas de corona.

          Segundo o FDA (Agência de Drogas e Alimentos dos EUA), o ozônio é um "gás tóxico sem aplicação médica útil em terapia específica, adjunta, ou preventiva. Em ordem para o ozônio ser efetivo como um germicida, ele precisa ser utilizado em uma concentração muito maior do que aquela que pode ser seguramente tolerada por humanos e outros animais. O ozônio não deve ser utilizado em nenhuma condição médica porque não existe prova científica da sua segurança e efetividade." (Ref.3)

          Independentemente disso, muitos profissionais e não-profissionais de saúde promovem a terapia de ozônio, defendendo que quantidades limitadas e controladas dessa substância podem ser benéficas ao corpo através de certas vias e alvos terapêuticos. É sugerido que o tratamento com o ozônio pode elevar a impregnação do sangue com oxigênio, otimizar a circulação sanguínea em veias e artérias, ativar o metabolismo de eritrócitos, melhorar a oxigenação de tecidos e restaurar funções celulares (efetivamente aumentando o metabolismo de oxigênio) (Ref.13).

          De acordo com a Federação Mundial de Terapia de Ozônio (WFOT), o uso medicinal de ozônio está atualmente presente em mais de 50 países e praticado por mais de 26 mil profissionais de saúde. Historicamente, o uso da ozonioterapia teve início no final do século XIX. Hoje, o uso prevalente da ozonioterapia encontra-se na área odontológica, para o tratamento de doenças da mandíbula. 

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   TERAPIA E MECANISMOS

          A ozonioterapia consiste na introdução de ozônio no corpo do paciente através de vários veículos de entrega, geralmente envolvendo a mistura desse gás com oxigênio (O2) e líquidos (como solução salina) antes da aplicação, com potenciais rotas incluindo a vagina, o ânus, intramuscular, subcutânea ou intravenosa. Geralmente a mistura gasosa possui 1-5% de ozônio e 95-99% de oxigênio, mas razões de 1:1 podem ser usadas (apesar de não serem recomendadas). O ozônio também pode ser introduzido via auto-hemoterapia (2), onde o sangue é retirado do paciente, exposto ao ozônio e re-injetado no paciente. Aliás, via auto-hemoterapia é a prática mais popular de se introduzir o ozônio. A concentração terapêutica pode variar bastante, normalmente englobando 10-80 μg/ml de gás no caso de sangue ou outras soluções injetáveis.


          Supostamente, via cascatas de reações bioquímicas ainda não muito bem esclarecidas, o ozônio aumentaria a capacidade antioxidante do corpo, agindo de forma a melhorar as defesas do organismo contra os radicais livres e super-óxidos (espécies altamente reativas que geram danos em tecidos diversos). Nesse sentido, o estresse oxidativo moderado que as pequenas quantidades de ozônio gerariam no corpo atuariam de forma a estimular o potencial antioxidante desse último, algo similar ao que é alegado em relação à exposição do corpo a pequenas doses de radioatividade (3). O estresse oxidativo gerado também seria responsável por estimular o sistema imune do paciente, principalmente a partir do peróxido de hidrogênio (H2O2) produzido quando o ozônio reage com biomoléculas no corpo, como lipídios.


          Além disso, alega-se que o ozônio é um estimulador do fluxo de oxigênio na transmembrana, tornando os níveis de oxigênio dentro das células maior e, consequentemente, fazendo com que a cadeia respiratória mitocondrial fique mais eficiente. Nas células vermelhas em específico, isso aumentaria a taxa glicolítica, levando a uma otimização nas funções dessas células no transporte e na liberação de oxigênio, o que, por sua vez, traria grandes benefícios para tecidos isquêmicos e para o corpo em geral.

          Outro mecanismo de ação seria através da já conhecida capacidade germicida do ozônio in vitro. Dentro do corpo (in vivo), mesmo em quantidades pequenas, o ozônio seria capaz de desestabilizar as superfícies de proteção de microrganismos invasores (parede celular de bactérias e cápsulas de vírus, por exemplo), facilitando o tratamento em conjunto com outras vias terapêuticas tradicionais.

          Todos esses mecanismos, em conjunto ou isoladamente, atuariam para tratar ou mesmo curar diversas condições e doenças, incluindo artrite, problemas cardiovasculares, cânceres, AIDS, diabetes, hérnia de disco, problemas neurológicos, dores nas costas, entre vários outros. É até mesmo utilizado por alguns atletas para uma suposta melhora na performance esportiva.

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   EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS

          Como já deixado claro pelo FDA e pelas agências de saúde em geral, a ozonioterapia é uma medicina alternativa sem um bom suporte científico mínimo de eficácia. Indo na direção contrária, o Ministério da Saúde aqui no Brasil permite o uso da ozonoterapia - utilizado principalmente na odontologia, neurologia e oncologia - e até liberou sua oferta para o SUS recentemente (Ref.6) a partir do Projeto de Lei do Senado n° 227/2017, o qual autoriza a prescrição dessa terapia no país.

          Já o Conselho Federal de Medicina (CFM) não recomenda a terapia por inexistir estudos de alta qualidade suportando sua eficácia, e repudiou a lei que autorizou sua prescrição no Brasil, citando que os parlamentares aprovam leis na área de saúde pública de forma irresponsável e incompetente, como ocorreu no recente caso da fosfoetanolamina (a qual mais tarde foi barrada pelo Supremo Tribunal Federal por falta de lastro científico). E, há poucos dias, o CFM publicou a Resolução n° 2181/2018 (Ref.8), a qual define a ozonioterapia como um procedimento que só deve ser realizado em caráter experimental. Isso implica que tratamentos médicos baseados nessa abordagem devem ser realizados apenas no escopo de estudos que observam critérios definidos pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). Segundo o Conselho, a entrada em vigor dessa Resolução reforça a proibição aos médicos de prescreverem procedimentos desse tipo fora dos padrões estabelecidos pelo CFM. O desrespeito à norma pode levar à abertura de sindicâncias e de processos éticos-profissionais contra os infratores.



          Na literatura acadêmica, existe uma limitada quantidade de trabalhos sobre o uso, segurança e efetividade da ozonioterapia, não existindo nenhuma evidência conclusiva de que essa estratégia terapêutica realmente traz benefícios ao paciente ou muito menos a cura de doenças graves, como cânceres e a AIDS. Apesar do potencial terapêutico (Ref.32), estudos na maior parte dos casos são apenas sugestivos ou utilizam metodologias de baixa qualidade, frequentemente sem análises clínicas randomizadas controladas ou duplo-cegos, e com pequenos grupos de participantes.

           Em 2018, duas revisões sistemáticas da literatura médica foram publicadas avaliando a efetividade da ozonioterapia para o tratamento de feridas crônicas e de dores nas costas e hérnia de disco. No caso de feridas crônicas, o estudo foi publicado na International Wound Journal (Ref.9), e concluiu que mesmo existindo evidências favoráveis para a aplicação de ozônio como um tratamento para essa condição, não existe evidência conclusiva de que essa via terapêutica seja melhor do que os tratamentos convencionais e cientificamente comprovados. Além disso, apesar de poder promover uma melhora dessas feridas durante um curto intervalo de tempo, é incerto se os efeitos são consistentes também a longo prazo. Já para a segunda revisão sistemática - uma monografia de mestrado na área de ortopedia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (Ref.10) -, os pesquisadores afirmaram que existe apenas um pequeno número de estudos de baixa qualidade sobre os efeitos do ozônio em relação ao tratamento de dores nas costas e de hérnia de disco, e que estudos de alta qualidade precisam ser feitos para que quaisquer conclusões sejam feitas.

           Uma revisão sistemática e meta-análise de 2012 realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) visando avaliar a eficácia da ozonioterapia para dor na parte inferior das costas secundária a um disco herniado (Ref.30) encontrou possíveis efeitos positivos da terapia, porém realçando que os estudos analisados (em sua maioria observacionais) eram de baixa qualidade, e com os estudos randomizados sem controle com placebo (O que é o efeito placebo e qual sua importância na medicina?). Existe evidência mais favorável, mas ainda limitada, para o alívio a curto prazo de dor associada à osteoartrite no joelho (Ref.31). 

          Para o tratamento intra-articular de osteoartrite no joelho, uma revisão sistemática e meta-análise publicada em janeiro de 2020 no periódico Arthroscopy: The Journal of Arthroscopic & Related Surgery (Ref.14), analisando estudos clínicos randomizados, não conseguiu estabelecer uma conclusão por causa da baixa qualidade e crítica limitação da maior parte dos estudos. No entanto, os estudos analisados sugeriam segurança do tratamento caso realizado por profissional competente. Uma outra meta-análise e revisão sistemática publicada em 2019 no periódico Complementary Therapies in Medicine (Ref.15) encontrou evidência de eficácia para aliviar dores da osteoartrite no joelho. Um editorial do periódico Arthroscopy: The Journal of Arthroscopic & Related Surgery (Ref.16) alertou que os mecanismos por trás da eficácia da ozonioterapia para o tratamento da osteoartrite são pouco entendidos - talvez envolvendo adaptações aos estresse oxidativo promovido pelo ozônio - e reforça que esse tipo de estratégia terapêutica para essa condição é controversa e que existe insuficiente evidência científica de suporte.

           Em um estudo Brasileiro de alta qualidade (randomizado, triplo-cego, placebo-controlado) mais recente, porém de pequeno porte (80 participantes acima dos 50 anos de idade com osteoartrite de diferentes graus de severidade), e publicado no periódico Complementary Therapies in Clinical Practice (Ref.35), encontrou pela primeira vez eficácia na aplicação tópica de óleo ozonizado para o alívio de dor em pacientes com osteoartrite severa. E aqui é mais do que válido apontar que o alívio de dor foi observado em todos os grupos (placebo e ozônio), com exceção do subgrupo onde os pacientes foram diagnosticados com osteoartrite severa. Isso realça o que poderia ser inferido em um estudo de baixa qualidade, sem grupo de placebo, ou seja, a conclusão de que o tratamento com ozônio teria sido eficaz para todo tipo de osteoartrite (!). De qualquer forma, como o subgrupo que gerou resultados positivos foi muito pequeno no estudo triplo-cego, mais estudos são necessários para avaliar a real eficácia do tratamento.

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          Uma revisão sistemática e meta-análise de estudos clínicos randomizados publicada na Revista Brasileira de Anestesiologia (Ref.17) trouxe evidência limitada de que a ozonioterapia pode ser melhor do que outras alternativas terapêuticas para o tratamento de dor na parte inferior das costas, porém reforçando que o achado não foi conclusivo e que os estudos analisados, em grande parte, possuíam moderado-alto risco de análises tendenciosas. Conclusão similar foi alcançada por um estudo publicado no periódico Chronic Pain & Management (Ref.36), onde os pesquisadores realizaram uma revisão sistemática para avaliar a eficácia de infiltrações com ozônio em músculos paravertebrais em indivíduos com dor na parte inferior das costas, realçando que, devido à baixa qualidade metodológica dos estudos incluídos, não é possível ainda recomendar a técnica como parte da primeira linha de tratamento.

          Para o tratamento de doenças periodontais, cáries e desinfecção no tratamento de canal, as evidências acumuladas indicam inefetividade (Ref.18-21).


   COVID-19 E OZONIOTERAPIA

         Em meio a pandemia, passou a circular em 2020 pelas redes sociais um vídeo onde o prefeito de Itajaí (Santa Catarina), Volnei Morastoni (MDB), promovia ozonioterapia para a população, a ser distribuída em um "ambulatório de ozônio", visando prevenir e tratar a COVID-19. 

           Segundo fala do prefeito: "É uma aplicação simples, rápida, de dois a três minutinhos por dia. Provavelmente vai ser uma aplicação via retal, que é uma aplicação tranquilíssima, rapidíssima, de dois minutos, num cateter fininho, e isso dá um resultado excelente."

           Um número de estudos publicados em periódicos de menor relevância a partir de março de 2020 (Ref.22-27) começaram a sugerir um potencial terapêutico para a ozonioterapia no tratamento da COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Possíveis mecanismos citoprotetores (antioxidativos e anti-inflamatórios) contra o excesso de inflamação causada pela COVID-19 foram propostos, e até mesmo ataque oxidativo direto à estrutura viral. Porém, nenhum estudo clínico randomizado foi realizado até o momento para dar suporte às hipóteses terapêuticas. 

             Na verdade, apenas um estudo de caso em dois pacientes com COVID-19 severa na China foi realizado (Ref.28), sugerindo benefícios da ozonioterapia. Porém, antivirais e antibióticos também estavam sendo administrados, além do fato de que suporte hospitalar básico conseguir recuperar grande parte dos pacientes em estado mais grave.

            Sem suporte científico de eficácia, ou mesmo dosagens e formas de administração ideais de uso, o prefeito de Itajaí foi mais do que irresponsável em promover a terapia para o tratamento da COVID-19. Aliás, foi mentiroso ao dizer que os resultados "são excelentes".

           No entanto, apesar de ter sido alvo de piadas nas redes sociais pela sugestão da ozonioterapia retal para a COVID-19, essa forma de administração foi de fato sugerida em um estudo publicado em julho de 2020 no periódico SN Comprehensive Clinical Medicine (Ref.29), e de onde provavelmente o prefeito encontrou base para seu 'plano'. A administração da ozonioterapia via retal é algo bem estabelecida, apesar de não existir suporte científico para a técnica. 
          
        
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   RISCOS

          Com pouco suporte de pesquisas clínicas, a ozonioterapia além de mostrar-se incerta quanto à sua efetividade, acaba ainda não tendo um protocolo padronizado sobre quais as concentrações ótimas (dosagens) e melhores formas de aplicação da terapia para cada doença ou condição visada. Sem isso para garantir um bom balanço de riscos e benefícios, os pacientes podem acabar sendo prejudicados, no máximo servindo de cobaias. Isso é agravado considerando que o ozônio é uma substância bastante tóxica dependendo da concentração. De fato, tratamentos baseados com ozônio estão associados com toxicidade no sistema nervoso central, um fenômeno conhecido como Encefalopatia Ozônio Induzida (Ref.38-40) e que tem sido reportado em um número de pacientes pós-tratamento, através de manifestações neurológicas diversas transitórias (perda de consciência, cegueira cortical, amnésia anterógrada, visão embaçada, vertigem, disfasia motora, etc.).

          Recentemente, uma reportagem denúncia do Fantástico (programa brasileiro da Rede Globo) mostrou médicos ofertando a ozonoterapia para pacientes, prometendo a cura de doenças graves como câncer, AIDS e hepatite C, além de cobrarem valores exorbitantes para o tratamento sem comprovações científicas de eficácia (Ref.12). Um dos médicos abordados até mente quando perguntado sobre o absurdo valor que estava cobrando pela ozonioterapia. Outro médico, além de inventar mecanismos biológicos sem sentido para a ação do ozônio no corpo, ainda chama a quimioterapia de "idiotice" e afirma que é perda de tempo se basear na literatura médica para prescrever uma estratégia de tratamento. Portanto, não são apenas falsos médicos agindo de forma antiética na promoção da ozonioterapia.

          Pacientes enganados pelos alegados poderes milagrosos do ozônio podem acabar abandonando tratamentos eficazes e cientificamente comprovados. É preciso tomar cuidado: muito dinheiro rola tanto nos tratamentos tradicionais quanto nos tratamentos alternativos. Independentemente se é 'alternativo' ou 'tradicional', o que importa é se eles são ou não cientificamente suportados. Medicina não é religião ou seita, é ciência.          

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   CONCLUSÃO

          O uso das medicinas alternativas vem crescendo cada vez mais no Brasil e no mundo, ignorando a medicina baseada em evidências científicas de eficácia e de segurança. Políticos brasileiros pressionados acabam também aprovando leis que dão suporte para essas práticas alternativas, e não surpreende que o Ministério da Saúde, em março de 2018, anunciou o incremento de mais de dez das chamadas Práticas Integrativas e Complementares no SUS sem nem ao menos levar em conta o peso das evidências científicas corroborando a eficácia dessas terapias. Algumas delas, como os florais, possuem mecanismos baseados, literalmente, em forças místicas (4).


         Além dos problemas da falta de comprovação científica e do gasto inútil de recursos públicos, a prescrição e o uso de procedimento e terapêuticas alternativos, sem reconhecimento científico, são proibidos aos médicos brasileiros, conforme prevê o Código de Ética Médica. Pacientes podem acabar prejudicados ao optarem por uma via duvidosa de terapia sendo que podiam estar sendo tratados por uma via que funciona, ou mesmo sofrerem prejuízos ao utilizarem concomitantemente ambas as vias.

          Não há sólida evidência científica de suporte para a ozonioterapia. Assim como no caso da homeopatia e de outras medicinas alternativas, existem muitos estudos clínicos publicados, mas grande parte de baixa qualidade e tendenciosos, impossibilitando firmes conclusões de eficácia terapêutica. Apesar de existir potencial evidência favorável para o alívio de dor e melhora funcional em pacientes afetados por dor crônica na parte inferior das costas e osteoartrite no joelho, mais estudos de melhor qualidade são necessários para suportar recomendações. E é importante mencionar que o efeito placebo também é terapêutico, age muito bem contra a dor em vários pacientes, e não necessita de ozônio para funcionar.

            Caso você opte por usar a ozonioterapia, faça-o sabendo dos riscos e limitações, e apenas de forma complementar, e nunca utilizando como tratamento de primeira linha em detrimento de tratamentos cientificamente comprovados.


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5674660/
  2. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2352003516300260
  3. https://www.accessdata.fda.gov/scripts/cdrh/cfdocs/cfcfr/CFRSearch.cfm?fr=801.415
  4. https://medlineplus.gov/ozone.html
  5. https://www.wfoot.org/
  6. http://portalms.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/42737-ministerio-da-saude-inclui-10-novas-praticas-integrativas-no-sus
  7. https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=27338:2017-12-15-18-29-39&catid=3
  8. http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=27716:2018-07-09-15-34-31&catid=3
  9. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/iwj.12907
  10. https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/112682/2/272132.pdf
  11. http://www.xn--revistaespaoladeozonoterapia-7xc.es/index.php/reo/article/view/126
  12. http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2018/07/questionada-pela-ciencia-terapia-com-ozonio-ganha-espaco-em-consultorios.html
  13. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7233748/
  14. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0749806319304918
  15. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0965229918307337
  16. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0749806319308461
  17. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-70942019000500493&script=sci_arttext
  18. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/iej.13229
  19. https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs00784-020-03289-2
  20. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/odi.13060
  21. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1532338220301202
  22. https://globalent.co.za/wp-content/uploads/2020/03/Corona-Published-1.pdf
  23. https://www.mdpi.com/2076-3921/9/5/389
  24. https://www.orbisphera.org/backoffice/Multimedia/Content/European%20Review%20Medical%20and%20Pharmacological%20Sciences.pdf
  25. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2341192920300718
  26. http://www.medgasres.com/preprintarticle.asp?id=289462
  27. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/jmv.26040
  28. https://link.springer.com/article/10.1007/s42399-020-00328-7
  29. https://pesquisa.bvsalud.org/global-literature-on-novel-coronavirus-2019-ncov/resource/en/covidwho-691972
  30. https://observatorio.fm.usp.br/bitstream/handle/OPI/772/art_MAGALHAES_Ozone_Therapy_as_a_Treatment_for_Low_Back_2012.PDF
  31. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/pmrj.12088
  32. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5674660/
  33. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6178636/
  34. https://www.fda.gov/inspections-compliance-enforcement-and-criminal-investigations/press-releases/court-prohibits-dallas-wellness-center-touting-ozone-therapy-covid-19-treatment
  35. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1744388121000505
  36. https://gavinpublishers.com/articles/research-article/Chronic-Pain-Management/effectiveness-of-paravertebral-ozone-therapy-in-individuals-with-low-back-pain-with-or-without-radicular-pain-a-systematic-review
  37. https://www.mdpi.com/2218-273X/11/3/356
  38. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/ene.14793
  39. https://www.cambridge.org/core/journals/canadian-journal-of-neurological-sciences/article/abs/posterior-reversible-encephalopathy-syndrome-after-intramuscular-oxygenozone-therapy/9908D21802D8E09B56D3D338DDB08398
  40. https://n.neurology.org/content/92/15_Supplement/P3.9-044