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Vaquita: Um passo para a extinção



- Artigo atualizado no dia 20 de outubro de 2019 -


Aqui, estamos diante de um dos animais mais ameaçados de extinção do mundo. A espécie em questão é a Vaquita (Phocoena sinus), um raríssimo cetáceo - no caso, um tipo de golfinho - endêmico do Golfo da Califórnia, México. Pouco sociável, é raro vê-lo acompanhado por outros da espécie, e é difícil de ser avistado no mar devido ao fato do mesmo gastar um ínfimo tempo na superfície para respirar, e de forma bastante tímida. Possui um comprimento médio de 1,5 m, peso entre 45 e 50 kg, e uma expectativa de vida de 21 anos. Com um corpo bem único, se alimenta de peixes, lulas e crustáceos. E, infelizmente, estão a um passo de desaparecerem do planeta.

Para tentar salvar a espécie, um plano de emergência foi esboçado pelo Comitê Internacional de Recuperação da Vaquita (CIRVA) e aprovado este ano. O plano ficou conhecido como VaquitaCPR (CPR - Conservação, Proteção e Recuperação) e receberá US$3 milhões do governo mexicano. Outros US$1 milhão de dólares foi doado pela Associação de Aquários e Zoológicos em Silver Spring, Maryland, EUA.

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ATUALIZAÇÃO (16/10/17): Pesquisadores começaram, há dois dias, a desesperada tentativa de capturar entre 10 e 12 espécimes de Vaquita para tentar salvar a espécie da extinção. (Ref.5).
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Em 1997, estudos estimaram que existiam cerca de 597 indivíduos restantes da espécie. Em 2015, as estimativas caíram para menos de 60 indivíduos. No verão de 2018, foram estimados menos do que 19 vaquitas (Ref.6). De março de 2016 e março de 2019, foram encontradas 10 vaquitas mortas em redes de pesca. Desde 2011, houve um declínio estimado de 99% da espécie. Se medidas drásticas não forem colocadas em prática para salvá-las, essa espécie pode desaparecer a qualquer momento!


Filhote de Vaquita na superfície

A estratégia do plano de recuperação está consistindo em localizar e capturar os últimos indivíduos restantes e tentar fazer a população crescer em um ambiente controlado, livre de ameaças. Como nenhuma criação anterior desse animal havia sido feita, a ação será arriscada, mas nessa atual situação, será o tudo ou o nada. Essa mesma estratégia deu certo com o Condor-Californiano (Gymnogyps californianus), este o qual tinha uma população total de apenas 27 indivíduos na década de 1980.

A tarefa de localização exata e captura vai ser difícil, porque além das vaquitas serem difíceis de serem avistadas, seu número populacional extremamente reduzido está espalhado por uma área superior a 2000 quilômetros quadrados não ajuda em nada. E mais um detalhe: as vaquitas só gostam de nadar sozinhas ou, no máximo, em pares, e poucas vezes foram vistas em grupos com mais de 7 indivíduos - especialmente agora. Felizmente, esses animais são prontamente detectados em termos sonoros devido ao fato deles produzirem uma série contínua de cliques de ecolocalização. Nesse sentido, estão sendo usados com relativo sucesso radares para a identificação dos típicos sons emitidos por esses animais (também usados para estimar o número total deles na área).

A principal ameaça para as vaquitas são as redes de pesca, as quais acabam aprisionando diversas espécies além dos peixes visados (!). Apesar dessas redes serem proibidas nas regiões onde as vaquitas vivem, os pescadores criminosos continuam ignorando os alertas, e autoridades já pensam em um completo banimento dessa prática de pesca em uma área muito maior no Golfo da Califórnia. O principal peixe ali na região que continua atraindo muitos pescadores é o grande Totoaba (Totoaba macdonaldi), o qual rende milhares de dólares no mercado negro chinês. Isso tornou a pesca com redes agressiva e insustentável.


Vaquita morta ao ser apanhada por uma rede de pesca

Em outras palavras, nossa espécie (Homo sapiens) está a ponto de causar outra extinção. É mais uma evidência do 6° Evento de Extinção em Massa que a Terra enfrenta, e agora devido ao fator antropogênico.

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(!) Aliás, em um estudo de caso publicado no periódico BMC Veterinary Research (Ref.7), os pesquisadores concluíram que golfinhos da espécie Tursiops truncatus presos nessas redes de pesca e que conseguem eventualmente escapar sofrem deformações permanentes e bilaterais na arcada dentária do maxilar, incluindo longas e profundas cicatrizes lineares nas laterais da maxila. No caso em questão estudado, o golfinho não sobreviveu por mais de 2 anos após se emaranhar com a linha de pesca.
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Referências:

1. http://www.nature.com/news/last-ditch-attempt-to-save-world-s-most-endangered-porpoise-gets-go-ahead-1.21791
2. https://www.eurekalert.org/pub_releases/2017-01/nmmf-iea011717.php

3. http://www.oers.ca/journal/volume8/issue1/article1.pdf

4. http://www.iucnredlist.org/details/17028/0

5. http://www.sciencemag.org/news/2017/10/hail-mary-disappearing-vaquita

6. https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rsos.190598

7. https://bmcvetres.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12917-020-02436-x

Imagem de capa: Pinterest

*´Peso´, neste artigo, está se referindo ao uso popular da palavra, ou seja, para indicar a ´massa´ do corpos aqui na Terra (já que a variação da força-peso na superfície do nosso planeta é bem pequena)