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Dragão-de-Komodo





O Dragão-de-Komodo (Varanus komodoensis), também conhecido como Crocodilo-da-Terra, é a maior espécie de lagarto atualmente conhecida e ainda viva, podendo ultrapassar os 3 metros de comprimento e alcançar os 166 kg de massa corporal, apesar da massa corporal geralmente não exceder os 75-90 kg.

Habitando as ilhas de Komodo, Rinca, Flores, Gili Motang e Padar, todas localizadas na Indonésia, esse gigantesco réptil domina todo o ambiente nesses territórios, sendo o maior carnívoro ali. Primeiro emergindo há aproximadamente 4 milhões de anos, e evoluindo provavelmente de grandes lagartos que habitaram a Austrália, o V. komodoensis come, praticamente, qualquer tipo de carne, seja carcaça seja insetos. Ao contrário de grandes mamíferos que deixam entre 25 e 30% do corpo das suas presas para trás, os Dragões-de-Komodo tendem a aproveitar o máximo possível das carcaças, deixando, no máximo, em torno de 12% para trás, e comendo até mesmo o intestino (após retirar o conteúdo fecal, balançando o órgão para um lado e para o outro). Os filhotes preferem se alimentar de pequenos répteis e insetos, enquanto os adultos caçam de tudo, incluindo humanos (apesar deles geralmente temerem a nossa espécie por não sermos naturais do seu habitat).

Caçam na maior parte das vezes através de emboscadas, e apesar da visão ser muito boa - podendo ver alvos a mais de 300 metros de distância -, esses lagartos confiam a maior parte do seu sucesso ao seu incrível olfato. Assim como as cobras, o Dragão-de-Komodo usa sua língua bifurcada para sentir o cheiro do ambiente. Quando substâncias liberadas por presas entram em contato com a língua, as mesmas ficam ali presas junto com diversas outras para serem analisadas pelos órgãos de Jacobson presentes no céu da boca. Depois de identificado as substâncias típicas de uma presa, é feita uma análise para ver em qual lado da língua mais delas se encontram: o direito ou o esquerdo. Caso seja o direito, é sinal que a presa está se aproximando desse lado. Através desse sistema, os Dragões-de-Komodo são capazes de sentir a presença de uma presa a cerca de 4 km de distância, caso o vento esteja favorável!

À direita, temos um Dragão-de-Komodo engolindo um porco-do-mato e, à esquerda, dois deles se alimentando da carcaça de um golfinho

Na hora do ataque, esses lagartos podem desenvolver velocidades acima de 20 km/h por curtos períodos de tempo. Se o alvo for de grande porte, como um veado, eles miram a mordida primeiro nas pernas para desestabilizá-lo e levá-lo ao chão, destroçando-o nesse momento, com seus pequenos dentes afiados e fortes garras. Se o alvo for pequeno, eles já vão direto no pescoço.

Falando em mordida, existe um longo debate sobre a classificação desse lagartos como peçonhentos. Por muito tempo se achou que a grande quantidade de bactérias presentes em suas bocas era o responsável por causar uma rápida morte nos animais mordidos por eles. Porém, as mais de 120 bactérias, anaeróbicas e aeróbicas, encontradas na região bucal deles em estudos mais recentes (Ref.8) dificilmente causariam graves infecções a ponto de matar rapidamente as vítimas, sendo tais procarióticos originários em grande parte da flora intestinal normal e da alimentação. Para se ter uma ideia, leões possuem a boca mais "suja". Em 2009 (Ref.9), um estudo afirmou ter encontrado real veneno sendo produzido por certas glândulas na boca, o qual incluía várias proteínas tóxicas e anticoagulantes, e que estavam sendo efetivamente usados para a caça. Porém, o assunto é tratado com muita controvérsia, sendo que vários cientistas acreditam que os danos diretos causados por esses lagartos sejam o principal causador das mortes (grande perda de sangue e choque, em tecidos de grande vulnerabilidade), e que as tais proteínas não representariam um real veneno com algum tipo de propósito para a caça ou defesa. Para saber mais sobre o assunto, acesse o artigo Afinal, os Dragões-de-Komodo são peçonhentos ou não?.

Colocando cerca de 30 ovos por vez, as fêmeas são muito parecidas com os machos, dando trabalho até para os especialistas diferenciá-los. Apesar dos machos tenderem a ser maiores, não existe óbvia diferença anatômica entre eles, a não ser uma leve diferenciação entre as escamas presentes perto da cloaca. Porém, entre esses animais, parece não existir confusão alguma na identificação de quem é quem. Um fato interessante é que em meio selvagem, existem cerca de 4 machos para cada fêmea.

Devido a comportamentos canibalistas entre esses lagartos, os filhotes, mais vulneráveis, costumam se lambuzar em fezes para causar repulsa em possíveis atacantes da sua espécie, já que estes são programados para evitarem comer fezes. Também se abrigam em árvores, para escapar de predadores e outros adultos ao redor. Quando crescem, passam a usar as fortes garras também para cavar buracos onde se acomodam durante a noite para descansar e buscar conforto térmico. A expectativa de vida desses animais pode chegar a 30 anos.


Filhote de Dragão-de-Komodo com 4 dias de idade, se refugiando em uma árvore

Devido às atividades vulcânicas das ilhas onde se encontram, perda de habitat, escassez de presas gerada pela caça indiscriminada, terremotos, queimadas, turismo e pela própria caça ilegal desses animais, esses lagartos se encontram com o estado de conservação vulnerável. Leis na Indonésia ajudam na proteção da espécie, além da criação de parques e santuários.

Referências:
1. http://animals.sandiegozoo.org/animals/komodo-dragon
2. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2690028/
3. http://animaldiversity.org/accounts/Varanus_komodoensis/
4. https://nationalzoo.si.edu/animals/komodo-dragon
5. http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0026226
6. https://www.safetylit.org/citations/index.php?fuseaction=citations.viewdetails&citationIds%255B%255D=citjournalarticle_485308_15
7. http://www.bioone.org/doi/abs/10.1638/2012-0022R.1?journalCode=zamd
8. http://www.nytimes.com/2009/05/19/science/19komo.html

9. http://www.iucnredlist.org/details/22884/0

Imagem de capa: National Geographic Kids

*´Peso´, neste artigo, está se referindo ao uso popular da palavra, ou seja, para indicar a ´massa´ do corpos aqui na Terra (já que a variação da força-peso na superfície do nosso planeta é bem pequena)