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Nikola Tesla, o Gênio dos Raios


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         Ao longo do século XIX e do século XX, grandes nomes da Ciência ficaram consagrados e profundamente marcados tanto no meio acadêmico quanto no meio popular, especialmente no campo da Física. Maxwell, Rutherford, Einstein e Schröndiger são alguns dos muitos nomes que podem ser citados. Porém, devido aos seus trágicos anos finais de vida, um grande cientista acabou sendo gradualmente esquecido no decorrer do século XX, apesar das suas grandes contribuições para a humanidade: Nikola Tesla (1856-1943).

        Nikola Tesla, um impactante cientista e inventor, naturalizado norte-americano em 1891, esteve envolvido em tantos projetos e patentes que muitas das suas invenções e trabalho ficaram por um bom tempo perdidos na história, como os seus estudos com raios-X. Como um engenheiro mecânico e elétrico, seus maiores trabalhos científicos eram relacionados com a corrente alternada (AC), energia de alta-tensão alta-frequência, o motor de indução, o campo magnético rotativo e a universalmente conhecida Bobina de Tesla.

          A vida de Tesla foi marcada principalmente pelo seu envolvimento - nem sempre amistoso - com Thomas Edison (1847-1931), Guglielmo Marconi (1874-1937) e George Westinghouse (1846-1914). Devido aos problemas financeiros consequentes da sua grande ambição científica, Tesla alcançou um grande auge no final do século XIX e início do século XX, mas acabou sofrendo uma grande queda nos anos seguintes, terminando a vida na completa miséria e em injusto baixo reconhecimento popular - e até mesmo acadêmico em significativo grau - nas décadas seguintes à sua morte.

          Desde o final da década de 1990, porém, seu nome está sendo resgatado no meio popular, especialmente nos últimos anos.


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   SURGE UM PRODÍGIO
       
        Nikola Tesla possuía três irmãs e um irmão, esse último o qual morreu aos 12 anos de idade em um acidente com um cavalo. Seu pai, Milutin, era um padre na Igreja Ortodoxa da Sérvia e sempre esperou que Nikola seguisse seus passos. Porém, por sorte, Nikola acabou contraindo cólera quando bem jovem e fez seu pai prometer que se ele sobrevivesse, estaria liberado para seguir uma educação técnica ao invés de entrar para a igreja. A mãe de Nikola não possuía educação formal, mas em suas recordações futuras o grande cientista sempre afirmou que foi ela sua principal inspiração para o ingresso no mundo da inventividade. Segundo Nikola, sua mãe era muito criativa e possuía excelente memória, esta a qual teria sido herdado por ele via genética, segundo suas palavras - Tesla possuía uma poderosa memória, importante para sua carreira científica. Nikola sofreu bastante com a morte da sua mãe anos mais tarde, em abril de 1892.

       Em 1861, Nikola frequentou a escola primária em Smijan, estudando Alemão, aritmética e religião. Então, em 1862, quando a família Tesla se moveu para Gospiç, Nikola terminou a escola primária e foi para o fundamental. Em uma segunda mudança para a região de Karlovac - um antigo distrito de Fronteira Militar na Austro-Hungria -, ele terminou o ensino médio, graduando-se em 1873. É interessante mencionar também que durante o ensino médio, muitos dos seus professores achavam que Nikola estava trapaceando nas provas. Mas a verdade é que o Tesla conseguia fazer cálculos de integração de cabeça, não necessitando colocar as contas no papel!

        Em 1874, Nikola evitou ser arrastado para o exército Autro-Húngaro ao fugir para a região montanhosa de Tomingaj, próximo de Gracac. Durante esse tempo de refúgio, ele leu bastante, incluindo trabalhos feitos pelo famoso escritor e humorista Mark Twain (1835-1910) - estes o qual mais tarde acabou se tornando um grande amigo seu. Já no ano seguinte, Tesla conseguiu entrar no Instituto Politécnico de Graz, na Estíria, Áustria, com a ajuda de uma bolsa de estudo. No seu primeiro ano, ele nunca perdia uma aula. Os professores o elogiavam bastante, e até ficavam preocupados com o tanto que ele trabalhava em projetos científicos, alegadamente de 3 da manhã até às 7 da noite todos os dias! Enquanto estava em Graz, Tesla fez suas primeiras tentativas de inventar um motor a base de corrente alternada (AC), ao contrário dos motores usados naquela época movidos a corrente direta (DC) e que apresentavam vários problemas de desempenho.


         Porém, no final do seu segundo ano em Graz, Tesla perdeu sua bolsa de estudo e se tornou viciado em jogos de aposta, perdendo todo o seu dinheiro que o sustentava em Graz - apesar de depois conseguir recuperá-lo em novas apostas. A esse ponto, ele já tinha ficado despreparado para as provas acadêmicas, mesmo sendo muito inteligente, e não conseguiu se graduar na Universidade, não obtendo notas para passar no último semestre. Em Dezembro de 1878, ele deixou Graz e evitou qualquer contato com sua família para esconder o fato que tinha abandonado a Universidade. Tesla se isolou tanto que alguns dos seus amigos tinham pensado que ele havia morrido.

        Nesse período de fuga dos familiares, Tesla gastou seu tempo trabalhando como um desenhista para projetos de máquinas em Maribor, ganhando um baixo salário e passando os períodos de folga jogando cartas na rua. Bem, eventualmente, em 1879, Tesla foi forçado a retornar para sua casa sob escolta policial por não possuir permissão de residência para ficar em Maribor. Em abril do mesmo ano, seu pai morreu, enquanto Tesla estava engajado em dar aulas para sua antiga escola do ensino médio.



         No ano seguinte, em Janeiro de 1880, dois dos tios de Nikola juntaram dinheiro suficiente para que ele fosse para Praga continuar seus estudos. Tesla até chegou a frequentar a Universidade de Charles-Ferdinand, mas como era um requisito lá dominar a linguagem Grega e a Theca, ele não ganhou notas nos cursos, e continuou sem uma graduação superior formal. Isso o levou, em 1881, a ir para Budapeste e começar a trabalhar como engenheiro elétrico na American Telephone Company, sendo contratado por Tivador Puskas, o qual tinha previamente trabalhado com Thomas Edison em Menlo Park, EUA. Nesse período, Tesla começou a discutir com o seu colega de trabalho, Anital Szigety, suas brilhantes ideias sobre como usar uma fonte de corrente alternada para uma melhor alimentação de motores.

         Antes das ideias de Tesla, até existiam motores experimentais funcionando com AC, mas o problema é que eles perdiam momento durante o curso de um ciclo e ficavam impossibilitados de manter um contínuo curso de ação. Pensava-se que seria impossível superar o problema na prática ao fazer com que os campos magnéticos rotacionassem (algo que teoricamente resolvia o problema).

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   O GÊNIO TESLA

         Na década de 1830, Michael Faraday (1791-1867) estudou a interação entre os campos magnéticos e os campos elétricos. Faraday demonstrou que um campo magnético variante, ou um campo elétrico flutuante, conseguia induzir uma corrente em um circuito próximo. Esse é o princípio da indução eletromagnética, o qual levou à invenção do dínamo - um gerador que usa um magneto móvel/variante para gerar uma corrente alternada. Isso também levou à criação da bobina de indução, a qual induz uma corrente alternada de alta tensão a partir de uma corrente interrupta de baixa tensão. Porém, essa corrente alternada não conseguia ser implantada com sucesso em motores, até que Tesla veio com a solução.

          Nikola postulou que se o motor incorporasse diferentes circuitos colocados fora de fase, ou seja, a 90° um do outro, então quando o primeiro estivesse com a força mais baixa, o segundo estaria com força total. A continuidade de ação do motor poderia, com isso, ser obtida sem períodos de perda de força. Além disso, com motores AC, não havia a necessidade de comutadores. O comutador é uma parte móvel de um trocador rotatório que periodicamente reverte a direção da corrente entre o rotor e o circuito elétrico. É composto de um cilindro feito de múltiplos segmentos de contatos metálicos e com mais dois ou mais contatos elétricos chamados de brushes feitos com, por exemplo, carbono. Comutadores, os quais são usados em dínamos - para gerar corrente direta - e motores DC são relativamente ineficientes e requerem frequentes e periódicas manutenções, como a troca dos brushes.

          Em 1882, Tesla resolveu ir para Paris, a partir da recomendação de Puskas, para trabalhar nos empreendimentos de Edison na Europa, a Continental Edison Company, a qual estava sob a administração de um Inglês, Charles Batchelor (1845-1910). Essa firma supria equipamentos de distribuição e geração elétrica na Europa. Tesla nessa época já era fluente em cinco línguas, incluindo Alemão - algo facilitado pela sua incrível memória -, e foi trabalhar nas instalações da firma em Strasbourg, aproveitando esse período para desenvolver um modelo para o seu motor de indução. Porém, ninguém se interessou no seu projeto e, para piorar, ele estava novamente passando por problemas financeiros - algo que o acompanharia para o resto da vida, mesmo ele ganhando vez e outra fortunas pelas suas patentes futuras.


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   TESLA NOS EUA

           Bem, em 1884, Tesla decidiu ir para os EUA, levando uma excelente carta de recomendação de Batchelor pelo seu trabalho em Strasbourg, recomendação a qual era adereçada ao próprio Thomas Edison. Nessa carta, Batchelor dizia que havia conhecido dois grandes homens em sua vida: Edison e Tesla. Chegando em New York em Junho de 1884, Tesla buscou emprego com Edison, este o qual concordou em contratá-lo. Tão logo contratado, Tesla resolveu contar das suas ideias do motor AC, mas Edison não quis ouvi-las, dizendo que a AC era muito perigosa e não eficiente o suficiente para ser algo útil - acusações sem nenhuma base científica.


          Com esse injusto tapa na cara, Tesla não mas insistiu na história e resolveu continuar quieto trabalhando para Edison. Porém, abruptamente, ele abandonou os empreendimentos de Edison e, a partir daquele momento, ambos os engenheiros alegadamente se tornaram inimigos. É dito que Edison teria oferecido Tesla US$ 50 mil para que esse reparasse um importante sistema DC, mas que quando o trabalho foi concluído com a genialidade de Tesla, Edison não teria cumprido sua promessa de pagá-lo. A história conta que uma situação inesperada surgiu em 1885, quando o Transatlântico Oregon, equipado com o gerador de Edison - o qual tinha parado de funcionar - tinha que partir para a Europa em uma data fixada (já com todos os bilhetes vendidos). Edison tinha que garantir o funcionamento do seu gerador até aquela data ou sua companhia sofreria profundos danos finaceiros como consequência. Nesse sentido, ele instruiu Tesla a reparar o gerador no período de tempo mais curto possível, prometendo os 50 mil dólares como recompensa. Em apenas 20 horas Tesla teria achado e consertado o erro, mas ficou, literalmente, a ver navios em relação à falsa promessa da recompensa.

        Após esse evento, em 1885, Tesla foi levantado com a ajuda de dois investidores - Robert Lane e Benjamin Vail -, permitindo a criação da Tesla Electric Light Company, a qual tinha o objetivo principal de produzir equipamentos para lâmpadas de arco (seguindo os desejos dos financiadores e chance de Tesla em mostrar o poder da AC). Porém, para investir em seus projetos de AC, Tesla estava exigindo muito dinheiro dos investidores, o que fez com que ele perdesse a companhia que ele próprio fundou e várias das suas patentes que ele tinha gerado. Isso fez com que Tesla fosse forçado a buscar qualquer trabalho que pudesse encontrar para se sustentar, incluindo pequenos serviços de reparo elétrico e como operário manual na escavação de trincheiras por US$ 2 por dia.

          Após mas um sofrido período de miséria, Tesla foi financeiramente levantado mais uma vez por Alfred S. Brown e por Charles F. Peck - um superintendente da Western Union e um advogado de New York, respectivamente -, e permitindo a criação da Tesla Eletric Company em 1886, na rua Liberty, Manhattan, n°89. O objetivo de Tesla na companhia era o desenvolvimento e aprimoramento de novos tipos de motores e geradores elétricos. Em uma das suas invenções nesse período, ele desenvolveu o motor de indução polifásico, o qual funcionava com AC. Esse inovador motor foi patenteado em 1888 e, no mesmo ano, foi demonstrado na American Institute of Electrical Engineers, devolvendo com justiça o injusto tapa na cara que recebeu do Edison. E esse tapa foi só o início.


    GUERRA DAS CORRENTES

          O sucesso do motor de Tesla movido a AC chamou a atenção de George Westinghouse (1846-1914), um empreendedor e engenheiro norte-americano famoso por ter inventado o freio de ar para trilho - revolucionando a indústria de estrada de ferro ao fazer as paradas dos trens mais confiáveis e eficientes com a ajuda de ar comprimido na desaceleração (permitia o desenvolvimento seguro de maiores velocidades). Westinghouse comandava a Westinghouse Electric & Manufacturing Company, e resolveu contratar Tesla como um consultor para os seus laboratórios em Pittsburgh. Otimizando sua criação com o suporte de Westinghouse, Tesla chegou à conclusão que o melhor meio de implementar a fonte AC seria com o uso de um sistema AC de 60 ciclos.

        Com o novo sistema AC otimizado e lançado em 1886, iniciou-se uma verdadeira batalha para mostrar qual era o melhor sistema de fornecimento de energia, onde Thomas Edison defendia a corrente contínua (DC) enquanto Westinghouse e Tesla a corrente alternada (AC). O conflito marcou a história, ficando conhecido como Guerra das Correntes.



        Era óbvio já desde o início do conflito que a AC era melhor do que a DC naquela época. Enquanto a DC só podia ser transmitida eficientemente por poucos quilômetros, a AC desempenhava a mesma tarefa por centenas de quilômetros. Porém, como Edison investiu muito na corrente direta, ele não queria perder a disputa e, então, começou uma gigantesca campanha para desacreditar a AC, gritando que ela era perigosa e que não prestava. Basicamente, ele iniciou uma grande campanha de Fake News, e chegou a tal ponto de loucura que Edison iniciou sacrifícios de animais eletrocutados com corrente alternada em praça pública, o mais famoso sendo da inocente elefante Topsy. Além disso, ele sugeriu, em 6 de agosto de 1890, que o criminoso Willian Kemmler fosse eletrocutado na cadeira elétrica usando AC, algo levado adiante e com testemunhas na época descrevendo a experiência como um terrível espetáculo. Westinghouse, impressionado com a loucura, chegou alegadamente a comentar: “Eles teriam feito melhor se tivessem usado um machado”.

        Por causa das mentiras descaradas de Edison, o principal financiador da Edison General Eletric, o magnata de Wall Street John Piepoint Morgan (1837-1913) - que pouco se importava com a guerra entre AC e DC, mas sim com sua posição de poder vender eletricidade - resolveu unir a companhia com a Thomas Houston Company, esta a qual já tinha abandonado a DC e movido para a AC. Essa fusão deu origem à General Eletric (GE), com o nome de Edison não mais presente no nome da companhia, e ele sendo sendo removido da GE.

        Em 1893 a Guerra das Correntes chega em seu auge - a AC já vencedora -, com a Exposição Mundial da Columbia, onde seria a primeira feira no mundo iluminada com eletricidade. A nova General Eletric apresentou sua proposta baseada em AC para o trabalho na feira e, ao mesmo tempo, a empresa de Westinghouse também apresentou uma proposta, esta a qual envolvia bemmenos custo, sendo assim a escolhida para iluminar a feira. Era a chance de Nikola Tesla mostrar a toda a comunidade científica o sistema AC polifásico e fazer história em Chicago, ao suprir toda a eletricidade para a feira, mostrando que seu sistema poderia trabalhar em grande escala.
Em primeiro de maio do mesmo aproximadamente 100 mil pessoas testemunharam o funcionamento seguro do sistema de Tesla e Westinghouse, desbancando de vez as lorotas espalhadas por Edison.


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        Anteriormente, em 1891, Tesla se naturalizou cidadão norte-americano e, nesse mesmo ano, estabeleceu laboratórios em New York, primeiro na Avenida South Fifth e, então, na Rua East Houston.

        Para completar o período de sucesso, e realizar um dos grandes sonhos de Tesla, o sistema AC foi implantado pela Westinghouse Electric & Manufacturing Company para os geradores de energia elétrica da primeira hidroelétrica a ser construída nos EUA: nas Cascatas do Niágara, ainda em 1893. Esse foi o pico das conquistas de Tesla, porque, daí para frente, muitas das suas ideias não conseguiram atingir o elmo da prática, muitas vezes por serem ambiciosas demais para a tecnologia da época.

         Hoje o sistema AC ainda está profundamente enraizado no mundo, mostrando-se muito confiável e eficiente.

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                                     OBSERVAÇÃO: Corrente Direta de Alta-Tensão

         Apesar da AC ser bem melhor do que a tecnologia DC utilizada por Thomas Edison, novos avanços tecnológicos nas décadas seguintes permitiram a criação do sistema de transmissão elétrica baseada em HVDC (Corrente Contínua em Alta-Tensão, na tradução da sigla em inglês). Esse sistema se mostra melhor do que a AC em longas distâncias - acima de 800 km em terra -, exigindo um menor custo - especialmente para cabos submarinos e transmissões subterrâneas acima de 50 km - e menor perda energética durante o percurso de transmissão. Mais recente, temos a UHVDC (Corrente Contínua em Ultra-Alta-Tensão), a qual possui um melhor potencial de eficiência e já está em operação na China desde 2012 - usando tensões de no mínimo 800 mil Volts, enquanto a HVDC utiliza de 100 mil a 600 mil Volts.


         A tecnologia da HVDC já data desde a década de 1930, na Suécia e na Alemanha, com aplicações comerciais já disponíveis na União Soviética em 1951 (Moscou e Kashira). Aliás, a maior linha de transmissão utilizando a HVDC hoje encontra-se aqui no Brasil, constituída de dois bipolos de ± 600 kV e 3150 MW cada um, e conectando Porto Velho no estado de Rondônia até a área de São Paulo. O comprimento total dessa linha é de 2375 km. O Brasil destacou-se na história dessa tecnologia ao implantar o sistema de HVDC em Itaipu, com tensão de ±600 kV (1.200
kVpp), a qual, por muitos anos, deteve o maior nível de tensão do mundo.

         Ainda no Brasil, foi assinado no dia 16 de junho de 2014 o Contrato de Concessão para a construção do primeiro bipolo em Corrente Contínua em Ultra-Alta-Tensão (± 800 kV) do país. A linha possibilitará a transmissão da energia produzida pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte diretamente à Região Sudeste, e espera-se que ela entre em operação comercial ainda este ano.

         Apesar da tecnologia em corrente alternada ter atingido um alto grau de confiabilidade e
eficácia, existem diversos pontos em que a alternativa em corrente contínua pode supera-la
nesses aspectos. Dependendo da sua aplicação, pode ser mais vantajoso ambientalmente,
tecnicamente e até mesmo economicamente a utilização da tecnologia HVDC.

        Cientistas já propõem há alguns anos uma maior aplicação da HVDC no mundo, integrando-a aos sistemas AC já existentes para tornar as transmissões e utilizações da energia elétrica mais eficientes, especialmente em transmissões a longa distância.

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   RAIOS-X

         Outro grande feito de Tesla muitas vezes esquecido é o seu envolvimento com os raios-X, em 1896. Apesar dele poder ter inadvertidamente feito uma imagem de raios-X antes da descoberta de Wilhelm Conrad Röntgen - um engenheiro mecânico e físico que, em 8 de Novembro de 1895, produziu e detectou radiação eletromagnética no comprimento de onda que ficou conhecido como 'raios-X', ganhando o Prêmio Nobel de Física em 1901 - quando ele estava experimentando com tubos de Crookes, mas isso não pode ser provado. Em Março de 1895, muitos dos trabalhos anteriores de Tesla foram destruídos em um incêndio no seu laboratório da Avenida South Fifth. As perdas incluíram centenas de modelos de invenção, planos, notas, dados laboratoriais, ferramentas e fotografias.


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        Tesla é mencionado quatro vezes na biografia de Röntgen feita por Otto Glasser, em 1933:

- "O cientista norte-americano Nikola Tesla reportou em junho de 1896, que 'expor a cabeça a uma poderosa radiação-X produziu um suave efeito geral, uma sensação de aquecimento nos lobos cerebrais, e uma tendência a dormir.' Ele também alertou, no entanto, que muito frequentemente os olhos ficavam inflamados, e 'que não se deveria ficar muito perto do tubo'."

- "Oliber B. Schallenberger não usou seu tubo com uma bobina de indução como Röntgen fez, mas seguindo a sugestão de Tesla, conectou-o a um polo de um aparato de alta frequência de Tesla."

- "Uma teoria sobre os raios-X foi sugerida pelo inventor norte-americano N. Tesla, o qual acreditava que os raios-X eram compostos por pequenas partículas, atiradas no espaço."

- "O fenômeno do espalhamento radiativo foi estudado cuidadosamente dentro de um relativo curto período de tempo por Tesla, Edison, Pupin, Imbert e outros."

       Outra referência aos significativos trabalhos em raios-X de Tesla incluiu a menção em um artigo do cirurgião norte-americano William Williams Keen (1837-1932), o qual foi publicado em abril de 1896. Keen estava discutindo imagens de raios-X de tecidos moles e ossos e os problemas associados com as porções mas grossas do corpo (como o ombro, coxa e bacia). Ele aponta que Tesla tinha "em alguma extensão superado as dificuldades na formação dessas imagens com os seus aparatos otimizados e tinha radiografado com certo sucesso os ombros e a bacia."

       Tesla - e vários outros - fez experimentos com tubos visando otimizar a produção de raios-X. Uma das dificuldades enfrentadas com os tubos eram a produção de faíscas e eventuais quebras. Tesla - assim como John Trowbridge de Havard - usou tubos imersos em óleo. Ele começou seus experimentos com um tubo do tipo em fevereiro de 1896 e obteve suas radiografias com um tungstato de cálcio a uma distância de 15 metros do tubo (a distância usada por Röntgen foi menor do que 2,2 metros) e uma exposição de apenas alguns minutos.

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   BOBINA DE TESLA

         A Bobina de Tesla foi desenvolvida em 1891 e, portanto, não foi especificamente desenvolvida para a geração de raios-X. A bobina basicamente consiste de um transformador com um núcleo de ar com espirais condutoras primárias e secundárias ajustadas com o intuito de ressonar. Essa famosa e impactante invenção de Tesla foi amplamente utilizada para gerar as altas tensões necessárias para a produção de raios-X. Um diagrama de circuitos de uma publicação de 1897 no periódico Journal of the Franklin Institute é mostrado no esquema abaixo.


        Em 1896, John Trowbridge, professor de Física em Havard, usou este sistema para fazer uma imagem de raios-X em 1,5 minutos, ao contrário dos 15 minutos a 30 minutos, ou mais, usado por outros pioneiros do raios-X. No entanto, havia problemas com o aparato de Tesla, já que, como sua bobina entregava AC ao invés de DC, os tubos frequentemente estouravam.


   TRANSMISSÃO DE RÁDIO

         Aqui entramos em uma das grandes injustiças com Tesla e outros cientistas trabalhando nessa área. Suas teorias sobre a possibilidade de transmissão por ondas de rádio são tão antigas quanto 1893 e já em 1896 ele já estava conduzindo experimentos no Hotel Gerlach, em New York, onde estava morando - apesar de muitas das suas ideias sobre a natureza das ondas de rádio estarem incorretas. Em 1898, em uma feira de exibição elétrica na Madison Squares Gardens, Tesla demostrou um barco controlado por rádio, o qual ele chamou de Telautomaton. No entanto, controle remoto por rádio ficou uma novidade prática até depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), com Tesla falhando em convencer o exército norte-americano a aceitar suas ideias sobre torpedos controlados por rádio.


         Porém, mesmo com esses trabalhos e com a conquista de patentes em 1900 para um "sistema de transmissão de energia elétrica" e para um "transmissor elétrico", em 1901 o italiano Guglielmo Marconi fez a primeira transmissão transatlântica de rádio e acabou ganhando todos os louros nesse campo, ou seja, ganhou grande destaque como o primeiro a demonstrar a transmissão prática de rádio a longa distância. É alegado que Tesla chegou até a fazer uma piada dizendo que Marconi fez a transmissão com uma das suas patentes. De fato, Marconi estudou bastante as invenções de Tesla para basear sua tecnologia de transmissão, entre trabalhos de outros cientistas também estudando a área, como John Stone Stone, Karl Ferdinand Braun e Oliver Joseph Lodge.

         Esse evento também marcou o início de uma longa série de batalhas por patentes entre Tesla e Marconi - entre outros cientistas. Tesla conseguiu momentânea vitória com suas patentes em 1903, mas uma decisão em 1904 reverteu a situação em favor de Marconi. Só em 1943 a Suprema Corte dos EUA restaurou o merecido pioneirismo das patentes de Tesla como base de várias tecnologias de transmissão, apesar da decisão vir acompanhada de uma ênfase de que isso não destruía o mérito de Marconi de ter sido o primeiro a demonstrar a transmissão prática de rádio entre pontos separados por um longa distância.

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         Marconi fez uma fortuna com o rádio e até ganhou um Nobel de Física em 1909 - junto com Karl Ferdinand Braun - , enquanto Tesla morreu na miséria e com o nosso padre inventor ficando um bom tempo no esquecimento. A verdade é que muitos cientistas estiveram envolvidos diretamente na invenção do rádio, já começando com o importante trabalho de J. C. Maxwell sobre as teorias do electromagnetismo, com o artigo para a Royal Society titulado de "A Dynamical Theory of the Electromagnetic Field". Não se pode tirar o mérito de ninguém, sendo que vários pesquisadores desenvolveram sistemas de transmissão, desde os mais simples até os mais complexos. O russo Alexander Stepanovich Popov, por exemplo, foi o primeiro a desenvolver um sistema prático de comunicação via rádio - mas não patenteou -, e sendo considerado na Rússia o real inventor do rádio. Assim como outros, Popov não ganhou muito mérito internacional pela sua conquista.


   VOANDO PERTO DEMAIS DO SOL

         Em 1899, Tesla recebeu um financiamento de US$ 100 mil de John Jacob Astor IV (1864-1912) para o desenvolvimento de um novo sistema de iluminação. Porém, desvirtuando um pouco os meios para alcançar os objetivos contratados, Tesla resolveu investir o dinheiro em seus experimentos de alta-tensão alta-frequência, no seu novo laboratório em Colorado Springs. Ele estudou exaustivamente a eletricidade atmosférica, observando os raios de tempestade com seus aparatos receptores. Nessa linha de pesquisa, ele passou a produzir os primeiros raios artificiais, com descargas alcançando os 12 milhões de Volts e cobrindo distâncias superiores a 45 metros. Os trovões gerados pelas imensas liberações de energia podiam ser ouvidos a 24 quilômetros de distância, em Cripple Creek, Colorado.

         Basicamente, Tesla estava trabalhando com verdadeiros aceleradores de partículas (1) e tentando alcançar um sistema universal de distribuição wireless de energia e de rádio (comunicação). Poderosas faíscas voavam para todos os lados e lâmpadas elétricas dentro de 30 metros dos raios artificiais se acendiam mesmo estando desligadas. Essa foi a primeira vez na história humana que energia elétrica era transmitida wireless, iniciando um promissor campo de pesquisa crescendo cada vez mais nas últimas décadas, nomeado de WPT (Wireless Power Transfer).

(1) Para entender mais sobre o assunto, acesse: Confirmado que os raios de tempestade disparam reações nucleares no céu


         Durante um dos seus assombrosos experimentos, Tesla conseguiu explodir os geradores de uma estação local de energia e causar um corte de energia na região. Ele também amava realizar espetáculos para demonstrar suas descobertas, fazendo eventos famosos com seus raios e aparatos especiais de iluminação, especialmente demonstrando o funcionamento de lâmpadas via wireless. Porém, em janeiro de 1900, por falta de investimentos e altos gastos, Tesla acabou deixando Colorado Springs, com o seu laboratório sendo demolido para pagar algumas das suas pesadas dívidas. Infelizmente, nada de prática aplicabilidade comercial foi obtido dos seus espetaculares experimentos científicos.


         Mas isso não fez as ambições de Tesla diminuírem. Ainda no mesmo ano de partida de Colorado, ele recebeu novo investimento de pessoas atraídas pela sua genialidade, dessa vez grande parte (51%) vinda do empreendedor J. Pierpoint, em um montante acumulado de US$ 150 mil. Com esse suporte financeiro, Tesla iniciou o projeto para a construção de um gigantesco transmissor, conhecido como Torre Wardenclyffe, para a transmissão de comunicação trans-Atlântica wireless e também de energia para toda a superfície da Terra. No entanto, como sempre, Tesla acabou gastando mais do que possuía sem finalizar o projeto, desestimulando os investidores a liberarem mais fundos. Seu sonho do "World Wireless System" (Sistema Mundial Sem Fio) encontrou um prematuro fim.


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   DECLÍNIO E SOLITÁRIA MORTE

         Após os enormes gastos com seus projetos no início do século XX sem resultados com significativa aplicação comercial prática, Tesla não conseguiu mais nenhum investidor para seus experimentos científicos. Durante as décadas de 1910 e 1920, ele passou a desenvolver uma série de invenções com variáveis graus de sucesso com o dinheiro que lhe restava. Não demorou muito para o seu dinheiro chegar perto de um fim. Mesmo tendo recebido ao longo da sua carreira de inventor centenas de milhares de dólares (vários milhões de dólares se convertermos esses valores para a economia de hoje) por várias das suas patentes, principalmente para a companhia do Westinghouse, Tesla gastou toda sua fortuna - pessoal e de investidores - em seus ambiciosos projetos científicos. É difícil lembrar de alguém tão devotado à Ciência quanto Tesla.


         Em paralelo, desde 1900, Tesla cresceu um contínuo fanatismo com as transmissões eletromagnéticas, onde chegou a alegar que estava conseguindo receber sinais comunicativos de alienígenas via rádio partindo de outros mundos - algo que mais tarde comprovou serem ondas eletromagnéticas emitidas de estrelas distantes -, de que ele poderia usar oscilações ressonantes que poderiam partir a Terra em duas e que tinha planos para a construção de raios da morte. Todo esse discurso, apesar de cientificamente baseado, acabou comprometendo ainda mais sua credibilidade e tanto a mídia quanto a população começaram a ver ele como um tipo de cientista louco.

(2) Para saber mais sobre o assunto, acesse: Mitos e Correções Históricas 4 - FBI

         Bem, anos mais tarde ele acabou passando seu tempo abandonado, com pouco dinheiro e sem ter para onde ir na vida, já bastante frustrado. Isso fez com que ele se mudasse, em 1934, para um hotel de menor qualidade do que ele estava acostumado em seus dias de glória, em New York, no centro de Manhattan. Sua ocupação principal para passar o tempo se resumiu em ficar alimentando e cuidando de pombos feridos em parques. Eventualmente, ele acabou morrendo sozinho no dia 7 de janeiro de 1943, no quarto do seu hotel, devido a um ataque cardíaco.

        Uma nota no obituário do The New York Times na época o descreveu como um dos maiores inventores do mundo, mas que suas ideias tinham começado a ficar fantásticas demais à media que Tesla foi envelhecendo. Tesla recebeu diversas homenagens após sua morte. Em 1952, o escultor Metrovic fez um busto de bronze que se encontra no Museu Niloka Tesla em Belgadro e posteriormente uma estátua colocada no Instituto Ruder Boskovic em Zagreb. No 150° aniversário de Tesla a estátua foi colocada na rua Nikola Tesla, no centro da cidade de Zagreb. A unidade do Sistema Internacional de Medidas (SI) que mede densidade de fluxo magnético foi nomeada em sua honra na Confèrence Genèrale des Poids et Mesures, Paris em 1960. Tesla recebeu diversas outras homenagens, onde aeroportos, central elétrica, banda de rock, e músicas, por exemplo, levaram seu nome.

     
           Mesmo assim, com o tempo, ele foi sendo esquecido no meio popular e até mesmo em grande extensão nos centros acadêmicos. Sua história e conquistas foram sendo gradualmente resgatadas desde a década de 1990, e hoje o grande inventor já marca grande presença nos círculos populares de discussão.

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   CONCLUSÃO

          Tesla foi o criador do motor movido a corrente alternada e descobriu a transmissão de energia sem fio (o Amplificador Transmissor, a base para transmissão sem fio, que influenciou nas transmissões de rádios, televisões, radares e transmissões de dados). É a ele atribuído a transmissão de energia através de AC monofásica, bifásica e polifásica, e a transmissão de energia elétrica wireless via ondas eletromagnéticas na banda industrial de frequência de AC (102-109 Hz), sobrepondo bandas com frequências de rádio. Descobriu o campo magnético giratório (simultaneamente com o italiano Galileo Ferraris, 1847-1897), inventou correntes elétricas alternadas bifásicas e polifásicas, construiu os primeiros motores assíncronos de duas fases e os transformadores elétricos de alta-frequência, construiu a primeira e maior estação de rádio (1899, Tesla cria uma estação de rádio de 200 kw no Colorado), dirige o primeiro barco remoto via rádio, cria os primeiros raios artificiais, entre muitas outras invenções. Apenas de inventos patenteados Tesla possui hoje 300 registrados.


         Hoje temos um mundo à base de AC graças ao Tesla. Apesar de novos e eficientes sistemas de tecnologia com transmissão DC terem surgido décadas mais tarde, seria comercialmente impossível levar energia elétrica a longas distâncias no final do século XIX e início do século XX sem a tecnologia AC criada pelo 'Gênio dos Raios'.


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REFERÊNCIAS 
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  3. Victoria Virgil Petrescu et al. / American Journal of Engineering and Applied Sciences 2017, 10 (4): 868.877
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  8. https://www.utimes.pitt.edu/?p=18316
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