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A sociedade humana está menos violenta do que no passado?


- Atualizado no dia 18 de junho de 2020 -

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        A história humana é marcada por atrocidades, guerras e pelas mais variadas formas de violência possíveis de serem imaginadas. Mas aqui fica a pergunta: será que a sociedade humana, ao longo do seu percurso de evolução biológica e evolução social, está progressivamente vendo o atenuamento da violência ou será um mito pensarmos que os humanos de hoje estão menos violentos do que aqueles do passado? A 'natureza humana' pode ser mudada nesse aspecto? Por que os homens são mais violentos do que as mulheres?

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   AGRESSIVIDADE HUMANA

        A violência, um dos produtos da agressividade (!), de um ponto de vista biológico e funcional, pode ser vista como uma expressão de competição, algo já bem estabelecido por Darwin em seus famosos trabalhos sobre seleção natural e seleção sexual. Existem diferentes modos pelos quais organismos podem competir por recursos, e estratégias competitivas não necessariamente envolvem agressão. Na busca pelo melhor lucro nas competições, organismos em qualquer espécie irão usar uma estratégia competitiva particular somente quando os benefícios superam os custos. Se diferentes estratégias estão disponíveis, os seres vivos tenderão a usar aquela com a maior razão custo-benefício.

(!) Importante realçar que agressividade NÃO é sinônimo de violência. Fica a sugestão de leitura: Videogames violentos promovem violência no mundo real? 

        Competição por recursos entre indivíduos de uma mesma espécie é bastante comum na natureza, e se a agressão estiver envolvida, sua intensidade irá variar dependendo do tipo da disputa e das características físicas daqueles envolvidos. Agressividade pode englobar vários tipos de custos, incluindo risco de morte ou de graves feridas, estresse fisiológico e/ou psicológico, gasto energético, aumento de risco em atrair predadores, danos às relações sociais, entre outros. Para exemplificar, animais como os caprinos mostram intenso combate entre os machos para ganhar uma fêmea. O risco de graves danos são um alto custo, mas a possibilidade de passar seus genes adiante acasalando com uma fêmea fértil e saudável compensa o risco, justificando a violência. Entre animais carnívoros, o alimento disputado - a carne - é valioso e difícil de ser conquistado, ao contrário de alimentos de baixo valor e abundantes, como gramas e folhas. Leões e hienas, por exemplo, protagonizam ferozes brigas entre si pelo corpo de um animal, onde a maior força e agressividade compensam os riscos envolvidos na disputa. Já herbívoros, nesse quesito, tendem a ser pouco agressivos, já que o alimento visado é abundante, dando espaço para todos se alimentarem, sejam entre membros da mesma espécie, seja entre membros de espécies diferentes.

         Em relação aos humanos, é mais do que claro que conseguimos conviver de forma pacífica mesmo próximos de milhões de outras pessoas, como acontece em várias cidades ao redor do mundo. Porém, violência e crimes mancham pesadamente nossa história. Seres humanos parecem ter um grande potencial para a agressividade e como, virtualmente, todas as guerras conhecidas foram lutadas por homens e a grande maioria dos assassinatos e outros crimes violentos são cometidos por homens, o sexo masculino parece ter o maior potencial para a agressividade.


          O registro mais antigo de extrema violência humana data de 33 mil anos atrás, no Paleolítico Superior. No caso, a análise de um crânio fossilizado de um adulto da nossa espécie, publicada no periódico PLOS ONE (Ref.19), concluiu que o trauma em sua estrutura óssea foi intencionalmente produzido por outro membro H. sapiens, com golpes consecutivos de um objeto no formato de um bastão desferidos com a mão esquerda. Segundo as simulações realizadas pelos pesquisadores, com o auxílio de tecnologia de tomografia computacional, ambos, vítima e agressor, se confrontaram frente a frente. Hipóteses como fraturas acidentais (queda, por exemplo) e danos pós-morte foram descartadas. A falta de sinais de cura das fraturas indicam danos fatais. Esse é claramente o registro de um assassinato entre humanos modernos (H. sapiens), o qual ocorreu na região hoje correspondente ao Sul da Transilvânia. O Paleolítico Superior foi uma época de crescente complexidade cultural e sofisticação tecnológica. Poderia ser que o comportamento violento interpessoal e prática de assassinatos emergiram com esses avanços sociais e tecnológicos? Ou será que nossa espécie sempre foi violenta?




         A nível global, competição por comida, parceiros sexuais e territórios provavelmente representam o principal motor da nossa agressividade. Somos hoje onívoros, e durante nossa evolução, ancestrais hominídeos primeiro deviam ter uma dieta mais próxima de chimpanzés do que de animais herbívoros e folíferos, incluindo carne, frutas e outros alimentos altamente calóricos, ou seja, mais escassos e difíceis de serem obtidos na natureza. Nesse sentido, éramos também caçadores, o que já envolve naturalmente a agressividade. Humanos são uma espécie altamente territorial, tanto no nível individual quanto no nível coletivo. Ultrapassar o território de um indivíduo ou de um grupo pode disparar respostas muito agressivas, particularmente por homens. Em termos de grupos humanos, disputas territoriais entre países ou grupos étnicos foram o estopim e fomento para várias guerras, sem mencionar a colonização de outros continentes e a exterminação de povos locais. Recursos alimentares e territoriais, sem sombra de dúvidas, marcaram a alta agressividade do Homo sapiens.


   CUSTOS E BENEFÍCIOS

          Em comparação com outros mamíferos, os seres humanos não são particularmente grandes ou fortes, ou mesmo equipados com perigosas armas como grandes e afiados dentes ou garras, ou robustos chifres ou galhadas. Antes dos humanos começarem a usar objetos e ferramentas como armas, o combate físico era resumido, basicamente, em danos infligidos com golpes de mão (socos) e pés (chutes), unhas (arranhões) e dentes (mordidas). O risco de graves feridas ou morte dessa forma de luta - considerando nossas fracas armas físicas - é relativamente baixo, especialmente quando comparado com os altos custos de luta envolvendo mamíferos maiores e mais perigosos, como elefantes, rinocerontes e hipopótamos. Portanto, os custos físicos de agressão entre humanos são baixos quando comparados com os de outras espécies.

         Um fator adicional que reduz os custos de agressão entre humanos é a habilidade dos indivíduos formarem coalizões. De forma similar às agressões vistas entre os chimpanzés, humanos coletores-caçadores matavam rivais de grupos vizinhos quando oportunidades de uma agressão de baixo-custo estavam presentes ('safe killing'). Em um exemplo, podemos citar a situação quando existe uma vantagem numérica e as vítimas estão despreparadas para retaliar.

        Agora analisando fatores que aumentam os custos de violência, podemos citar outros danos envolvidos nesse tipo de combate direto, como os psicológicos (traumas, principalmente quando a agressividade é desferida contra indivíduos familiares ou próximos, ou mesmo devido à empatia humana), e o custo energético para manter massa muscular ideal para o combate (mais massa muscular otimiza os ataques, e a massa muscular de um homem adulto normal geralmente consome um quinto da sua energia).

        Porém, por outro lado, os custos da agressividade humana diminuíram enormemente quando entrou em cena a invenção e elaboração de armas de projéteis, começando com as lanças e arcos e flechas, até as armas de fogo e drones modernos. A habilidade de atingir, ferir e matar eficientemente outros indivíduos de uma distância segura trouxe reduções mais do que significativas nos custos da violência. Matar alguém de longe ao lançar uma lança ou disparando uma arma de fogo virtualmente eliminou o risco de feridas físicas para o agressor. A energia gasta para manusear tais armas também é mínima. No final, os custos psicológicos, fisiológicos e sociais da agressão via disparo de projéteis se tornaram muito baixos, especialmente quando grupos humanos enfrentam grupos humanos inimigos. As consequências diretas da agressividade se tornaram muitos pequenas, e os ganhos muito grandes.



         Com algumas exceções, a competição via violência geralmente possui uma alta razão benefício/custo para os humanos modernos, principalmente quando consideramos os períodos onde as armas de fogo se tornaram de uso comum. Por exemplo, quando os exércitos Europeus primeiro tiveram contato com os povos nas Américas, África, Ásia ou Austrália, os benefícios ao usar a agressão contra as populações nativas eram enormes: tomar suas terras, suas possessões e até seus indivíduos (como escravos). Os custos da violência dos colonialistas eram mínimos: uso de armas de fogo (rifles) permitia um rápido acumulado de mortes com pouco ou nenhum risco de danos físicos para os agressores. Além disso, as populações nativas eram visualmente diferentes (negros, morenos, roupagem, etc.) e falavam línguas diferentes daquelas desenvolvidas pelos Europeus, ou seja, custos psicológicos também foram reduzidos ao máximo, com diferentes justificativas de carnificina surgindo (políticas, históricas, religiosas).



         Essa gigantesca razão favorável de benefícios/custos praticamente não existe no resto do reino animal, tornando a violência algo mais do que vantajoso para a nossa espécie e mais do que desejada. Porém, é mais do que óbvio que essa violência não está sempre ocorrendo na sociedade humana e temos até que a ocorrência de guerras diminuiu ao longo das últimas décadas. Nesse sentido, existem fatores que entram para equilibrarem - ou às vezes fomentarem - nosso enorme potencial de violência, incluindo cultura, inteligência, religião, disponibilidade de recursos, avanços tecnológicos e limitações geográficas. E um bom exemplo disso pode ser demonstrado com o auxílio de dois povos: Maori e Moriori.


   MAORIS E MORIORIS

          O arquipélago das ilhas Chatham compreende duas ilhas e oito ilhéus, com uma área total de 996 km² e está localizada no Pacífico Sul a cerca de 800 km a leste da Nova Zelândia. Nesse lugar viviam os Moriori. Já na Nova Zelândia, temos os famosos Maori. Apesar das populações desses dois povos terem descendência comum do mesmo grupo de camponeses Polinésios, os Maori desenvolveram uma cultura de violência e guerra, enquanto os Moriori desenvolveram uma cultura de resoluções pacíficas. Essa grande diferença entre os dois povos provavelmente representou o fruto de uma complexa combinação de fatores ambientais e tecnológicos que balancearam os custos e benefícios relativos ao uso da agressividade para enfrentar os problemas.

        Os Maori viviam em um clima estável o suficiente para permitir a agricultura, esta a qual permitiu o desenvolvimento de mais avançadas armas e um grande aumento populacional, levando à emergência de tribos e coalizões rivais. Nesse sentido, uma cultura de extrema violência seria vantajoso para os Maori, com o sistema de agricultura permitindo grandes benefícios na luta pela monopolização de alimentos e territórios, enquanto o uso de armas e a formação de coalizões teriam minimizado os custos.

       Já no caso dos Moriori, as difíceis condições ambientais das Ilhas Chatham dificultaram o crescimento populacional e o avanço tecnológico, tornando mais vantajoso regredir para uma vida de caçadores-coletores. Assim, os Moriori não poderiam efetivamente monopolizar os recursos alimentares, tinham armamentos bem simples e acabaram ficando divididos em pequenos populações com poucos ou nenhum subgrupos. Nesse cenário, o uso excessivo da agressividade seria muito custoso para valer a pena, fazendo com que uma cultura mais pacífica fosse a melhor escolha, apesar disso não significar necessariamente que eles não eram inclinados à violência e, sim, que eles não tinham outra escolha a não ser evitá-la. Assim, há centenas de anos, o povo Moriori adotou um voto de paz conhecido como 'Lei Nunuku'.

        Não é surpresa nenhuma que, quando os dois povos entraram em contato direto em 1835, os agressivos Maori exterminaram os pacíficos Moriori. Após o ano de 1791, quando o navio Britânico Chatham aportou nas ilhas de mesmo nome, os Moriori vieram a ter contato com os Europeus e com os Maori, estes os quais vieram como tripulantes em embarcações fechadas e baleeiras. Alguns se estabeleceram nas ilhas, passando a conviver lado a lado com os Moriori. Esse relativo estado de paz foi quebrado em 1835, quando os Maori das tribos Ngati Mutunga e Ngati Tama, ambos de Taranaki, chegaram nas Ilhas Chatham em busca de novos territórios e recursos.

         Ambas as tribos iniciaram imediatamente o massacre dos Moriori, matando e escravizando sem piedade ou descanso. Apesar dos Moriori estarem em maior quantidade - quase 2 para 1 - eles escolheram obedecer à sagrada Lei Nunuku de não-agressão, e não responderam com violência. Aproximadamente 300 Moriori foram mortos e o resto cruelmente escravizado. Estavam sob o risco de desaparecerem completamente. Após várias petições Moriori, o governo da Nova Zelândia finalmente decidiu intervir, 28 anos depois. No entanto, o governo decidiu, em 1870, dar a maior parte das Ilhas Chatham para os Ngati Tama e Ngati Mutunga, mesmo com a maioria dos Maori na região já tendo retornado para suas casas em Taranaki. Desde 1990, existe um contínua e tímida recuperação do povo Moriori, a partir de alguns poucos sobreviventes da época (por muito tempo, vários acreditavam que Tommy Solomon, o qual morreu em 1933, era o último Moriori, porque ele era o único Moriori de "puro sangue" conhecido, algo que mudou depois que se soube que ambos os povos possuíam a mesma ancestralidade Polinésia).


   SEXO E A AGRESSIVIDADE HUMANA

         Vimos até agora que o potencial de violência dos seres humanos é enorme, por causa das vantagens tragas pela altíssima razão benefícios/custos no uso da agressividade. Porém, vimos também que fatores diversos podem atuar para reprimir o uso dessa violência dentro da sociedade humana. Mas até agora não foi explicado o porquê dos homens tenderem a ser bem mais violentos do que as mulheres. E, para responder isso, temos dois modelos teóricos: Seleção Sexual e Teoria do Papel Social.

         No caso da Teoria do Papel Social, os homens seriam mais agressivos dos que as mulheres por causa da divisão histórica de trabalho entre os dois sexos. A agressividade seria um componente dos papeis tipicamente exercidos pelos homens durante a história - como no campo militar -, enquanto que papeis tipicamente femininos desencorajam um comportamento violento, como as tarefas de casa e o cuidado dos filhos. Apesar de existir agressividade de diferentes formas entre os dois sexos (diretas e indiretas), normas que ditam seus supostos papeis na sociedade encorajariam ou desencorajariam o uso de respostas violentas. Além disso, o maior poder dado aos homens durante a história fomenta o uso de violência (diminui os custos), especialmente contra os indivíduos com menor poder. Isso explicaria também a grande prevalência de violência dos homens contra as mulheres, principalmente em um ambiente doméstico.



        Seguindo essa linha, seria de se esperar que a agressividade na infância e na adolescência fosse aumentada gradualmente à medida que o conhecimento sobre os papeis dos homens e das mulheres na sociedade fossem sendo aprendidos e acumulados. Nisso, crianças muito novas teriam o mesmo nível de agressividade entre os sexos. Outro resultado esperado seria que países mais conservadores e patriarcais manteriam um nível maior de violência entre os homens do que em países mais democráticos e com a maior presença das mulheres em diversas funções na sociedade, inclusive aquelas exercidas historicamente pelos homens. Apesar da Teoria dos Papeis Sociais a princípio fazer sentido e ser fortalecida pelo caráter monogâmico dos seres humanos - algo que diminui a necessidade de competição visando parceiros sexuais -, ela também apresenta falhas que não corroboram as predições feitas acima.

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        Como resposta a esses problemas, temos a mais aceita Seleção Sexual - mecanismo parte dos processos de evolução biológica - para melhor explicar a alta diferença de agressividade entre homens e mulheres. De início, é bom deixar claro que mesmo os humanos (Homo sapiens) sendo uma espécie que tende a ser monogâmica, isso não impede que os indivíduos apostem em relações poligâmicas - podemos ver isso em muitas sociedades, especialmente na Ásia, onde existe culturalmente a presença de relações poligâmicas. Isso abre brecha para uma intensa competição sexual, como vista em primatas e outros mamíferos poligâmicos. De fato, durante a história humana poderosos homens sempre tenderam a ter várias parceiras sexuais, e estudos mostram que a poligamia é comum em 48% das sociedades humanas, em outros 37% a poligamia é permitida e em apenas 15% a monogamia é norma. Isso sem contar que a infidelidade é mais do que comum ao redor do mundo.

        Como fortes evidências da Seleção Sexual atuando nos seres humanos e levando às diferenças de agressividade entre os sexos, temos:

1. A taxa de crimes violentos continua alta para os homens independentemente do país analisado e independentemente do nível de violência reportado;

2. Existem cada vez mais estudos acumulados mostrando que a agressividade é diferente entre homens e mulheres desde muito cedo na infância (pouco depois de um ano de idade), indicando que isso pode ser algo definido no período embrionário, surgindo pela ação de diferentes níveis hormonais (testosterona/estrógenos) durante a gestação;

3. Níveis diferenciados de testosterona, apesar de resultados conflitantes na literatura científica, mostram-se influentes na agressividade do indivíduo (comparando a atuação de ambos no corpo do homem e da mulher);

4. Pelos faciais em abundância nos homens tendem a dar ao indivíduo uma maior agressividade, dominância e imponência, característica física que não é expressa nas mulheres;

5. A voz masculina, mais grave - após a puberdade -, impõe maior ameaça do que a voz tipicamente mais aguda ('fina') das mulheres e crianças. Quando alguém tenta parecer mais ameaçador e agressivo, tende-se a agravar mais a voz;

6. Apesar das fêmeas serem maiores do que os machos na maioria dos animais, mamíferos em específico tendem a ter machos mais robustos do que as fêmeas. Humanos também apresentam os homens, na média, mais altos, mais pesados e com uma maior musculatura e força do que as mulheres. Entre diferentes culturas e sociedades, homens possuem uma altura de 4,7% a 11,6%  maior do que as mulheres; homens são cerca de 25% mais pesados do que as mulheres na média, e com uma menor quantidade de massa adiposa; e mulheres possuem em torno de 61% da força dos homens. Todas essas características, apesar de energicamente custosas, ajudam a otimizar a agressividade;

7. O bimaturismo na espécie humana. Mulheres alcançam a maturidade sexual mais rápido do que os homens - diferença média de dois anos -, indicando que os homens dão um maior tempo para o desenvolvimento físico antes de engajarem nos atos sexuais, provavelmente em um contexto de competição sexual. Nesse sentido, para evitar uma competição muito injusta com homens mais velhos, robustos e fortes - minimizando os riscos de danos -, o amadurecimento sexual viria mais tarde. Aliás, na metade do período fetal, as mulheres estão cerca de 3 semanas de desenvolvimento a frente dos homens.

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          A Seleção Sexual é considerada uma divisão especial da Seleção Natural porque ao invés de se preocupar em selecionar traços nos espécimes que os deixam aptos para a sobrevivência, ela seleciona traços que aumentam as chances de acasalamento, mesmo se tais traços selecionados diminuam suas chances de sobrevivência (como um pavão e sua cauda 'escandalosa' e chamativa: tanto para as fêmeas quanto para os predadores). Existem dois tipos de Seleção Sexual: Intra-sexual, onde indivíduos do mesmo sexo lutam entre si para conquistarem oportunidades de acasalamento, e Intersexual, onde indivíduos de um mesmo sexo (geralmente fêmeas) podem escolher indivíduos do sexo oposto para se acasalarem com base em algum traço físico (mais forte, cores mais vistosas, etc.) - onde busca-se sinais honestos da qualidade genética do indivíduo. Às vezes, tanto a forma intra-sexual quanto a inter-sexual podem atuar em conjunto, como, por exemplo, quando certas fêmeas de algumas espécies escolhem o parceiro com base em quem ganha uma disputa física com outros machos.


      É ainda questão de debate acadêmico, mas a seleção sexual parece ter tido papel significativo na evolução humana em vários aspectos do nosso atual comportamento e traços físicos, seja aqueles sugerindo monogamia seja aqueles sugerindo poligamia. Aliás, estudos recentes (Ref.14-15) mostram que os humanos podem ser ótimos modelos de estudo da Teoria da Seleção Sexual no mundo animal, necessitando apenas levar em conta os fatores culturais, os quais marcam um grande diferencial da nossa espécie em relação às outras.

       Apesar de possuirmos o menor grau de dismorfismo sexual entre os primatas mais próximos em parentesco - chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos -, indicando um menor grau de seleção sexual atuando na nossa espécie, traços diferenciais como altura, idade de maturação sexual, pelos faciais, força/musculatura e corpulência mais do que sugerem um significativo poder de influência da seleção sexual atuando na diferença de agressividade entre homens e mulheres em termos de competição sexual. Completando o quadro, como já visto, a poligamia é comum na nossa sociedade ao longo da história, encaixando-se com o padrão de alta competição sexual vista em outras espécies poligâmicas de primatas. Seríamos 'semi-monogâmicos'.

      Outra característica importante é que as mulheres gastam muita energia nas gestações e ao amamentar seus filhos, aumentando tremendamente os custos caso apostassem em um comportamento muito agressivo para responder aos problemas sociais e evoluir traços físicos que potencializem o uso da violência em situações diversas. Nisso, fêmeas provavelmente, ao longo do percurso evolucionário humano, desenvolveram alternativas de competição não-física, como agressão verbal contra outras mulheres e táticas de manipulação social visando ambos os sexos.

       Obviamente também, não podemos descartar a influência social e histórica na moldagem da agressividade diferenciada entre os sexos, mas é mais provável que esses fatores apenas aprofundem essas diferenças já geradas pela seleção sexual em um passado longínquo, principalmente quando consideramos que a 'seleção sexual cultural' age bem mais bruscamente do que a seleção sexual.

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   DECLÍNIO DA VIOLÊNCIA HUMANA?
 
        Há algumas décadas existe um crescente número de estudos no meio acadêmico sugerindo que a os humanos estão se tornando uma espécie mais pacífica ao longo dos anos, graças aos avanços da tecnologia e aos sistemas de governo. Para basear isso, frequentemente cita-se o declínio das guerras inter-nações e civis para a resolução de conflitos, principalmente após as duas Grandes Guerras mundiais. Porém, diversos críticos também no meio acadêmico não concordam com essa ideia, e argumentam que a nossa espécie sempre foi violenta, ou, em outro ponto de vista, nossa espécie sempre manteve o mesmo potencial para a paz e para a violência.

       Um dos principais acadêmicos que popularizou a ideia de que os seres humanos estão ficando mais pacíficos é o psicólogo Steven Pinker, da Havard University. Ele argumenta em seu livro de 2011 'The Better Angels of Our Nature: Why Violence Has Declined?' (Os Melhores Anjos da Nossa Natureza: Por que a Violência Tem Diminuído?) que a emergência de instituições como estados-nações com fortes governos centrais, redes de comércio, e sistemas de comunicação de amplo alcance aumentaram a interdependência e reduziram as mortes causadas pela violência. Pinker cita dados sugerindo que menos pessoas morrem em guerras hoje , relativo ao total populacional das sociedades, do que entre pequenas tribos de caçadores-coletores, pastoralistas e horticulturalistas - a forma como a sociedade se organizou pela maior parte da sua história (Paleolítico Superior/200000-12000 anos atrás).




          Porém, um estudo publicado em novembro de 2017 na Proceedings of the National Academy of Sciences (Ref.6), por pesquisadores da Universidade de Notre Dame (UND), em Indiana, - liderados pelo antropologista Rahul Oka -, mostrou que essa lógica de análise do número de mortos em guerras travadas em relação ao tamanho populacional não se sustenta. Os pesquisadores argumentaram que à medida que a população fica maior, seus exércitos não necessariamente crescem no mesmo ritmo. Em um pequeno grupo de 100 adultos, por exemplo, seria perfeitamente razoável ter 25 guerreiros, mas em uma população de 100 milhões de pessoas, suportar e coordenar um exército de 25 milhões de soldados é logisticamente impossível, isso sem contar a eficiência de tal gigantesco exército.

         Nesse sentido, os pesquisadores da UND buscaram dados históricos para montar uma lista de 295 sociedades e 430 batalhas, grandes e pequenas, datando de 2500 a.C. até os dias atuais. Nisso, eles construíram dois conjuntos analíticos de dados: um comparando o tamanho populacional geral e o tamanho da força de luta daquelas sociedades, e o outro comparando o tamanho dos exércitos e a taxa de mortalidade. Para exemplificar os resultados, uma batalha de 1771 entre facções guerreiras do povo Maori envolveu cerca de 60 guerreiros - aproximadamente 1% da população total. Quando 10 pessoas morreram nesse conflito, os Maori perderam cerca de um décimo de 1% da sua população. Em comparação, durante a Guerra Civil norte-americana, na Batalha de Gettysburg, na Pennsylvani, em 1863, cerca de 150 mil soldados lutaram no conflito, ou seja, menos do que 0,5% da população dos EUA). Desse total, cerca de 5740 morreram naquela batalha, resultando na perda de apenas uma minúscula fração da população dos EUA.



        Analisando os resultados, os pesquisadores concluíram que quanto maior a população, menos pessoas proporcionalmente lutaram e morreram em batalha. Basicamente, eles mostraram que à medida que a população cresce, a morte por violência entre conflitos envolvendo grupos diminui, independentemente do sistema de governo, forma de comércio ou avanço tecnológico. Pinker, por exemplo, estaria superestimando a tendência de violência em pequenas sociedades. A população, em termos quantitativos, seria a mediadora do número de mortes em guerras, não o nível de violência/agressividade.

         Um estudo prévio, publicado em junho de 2017 na Current Anthropology (Ref.7), também chegou em conclusões similares, rebatendo o argumento principal de Pinker. Quantificando a escalada de mortes relativa ao tamanho populacional para 11 comunidades de chimpanzés, 24 grupos humanos sem estado, e 19 e 22 países que lutaram na Primeira Guerra Mundial e na Segunda Guerra Mundial, respectivamente, os pesquisadores encontraram que as mortes anuais expressas como porcentagens do tamanho populacional são inversamente proporcionais ao tamanho populacional tanto em chimpanzés quanto em humanos, indicando um aumento de vulnerabilidade ao invés de um aumento de violência em pequenas populações. Além disso, o absoluto número de mortes anuais aumentaram exponencialmente e quase identicamente com o tamanho populacional entre grupos humanos mas não chimpanzés, sugerindo que os humanos evoluíram para serem mais violentos do que nossos parentes primatas, corroborando nossa alta razão benefícios/custos da agressividade - e que os humanos de grupos sem um governo centralizador não são mais ou menos violentos do que aqueles de estados organizados.

         Ainda anterior a esse último estudo, temos um publicado no International Journal of Cultural Studies (Ref.8), que critica Pinker e outros "declinistas", estes os quais estariam insistindo erroneamente que poderosos estados democráticos liberais estariam domando a disposição evolucionária humana à violência, em uma tentativa mascarada de promover seus próprios interesses políticos neoliberais e ideologias. Juntando argumentos corroborativos de outros estudos críticos desde 2011 sobre o assunto, os autores concluíram que a violência pode estar inclusive aumentando na nossa era moderna, se forem incluídos a contínua corrida armamentista e os danos ambientais e extinção de diversas espécies promovidos pelas atividades humanas. Cita também que as estatísticas nas últimas décadas usadas para as estimativas de mortes entre conflitos diversos - como na Guerra do Iraque - podem sofrer com dados atenuados dos governos envolvidos nas batalhas, levando a subestimativas.

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         Outro ponto também é levantado pelo estudo: mesmo se esse declínio de mortes fosse real, não poderia ser que boa parte da causa para isso seria o avanço na medicina? Ora, ferimentos e infecções de guerra antes mortais, hoje podem ser facilmente tratados com antibióticos e novas técnicas sofisticadas de primeiros-socorros e operações clínicas. Sem contar que esses danos, mesmo se tratados, podem levar ao surgimento de sérias deficiências físicas e traumas - como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático - para o resto da vida. Incluir essas vítimas seria algo mais honesto nessas estimativas.

          Apesar do declínio ser real - seja menor ou maior do que suposto por Pinker e outros autores -, a análise desse último estudo mostra diversas limitações de dados e parâmetros levantados pelos defensores da suposta "evolução pacifista humana", e os estudos mais recentes, comparando o tamanho populacional com a taxa de mortalidade em guerras, já pedem que esse parâmetro de defesa seja abandonado.

         Outra falha explorada por alguns autores e válida de de ser citada é o aspecto político. Se um painel estimando as tendências de violência em relação às guerras fosse realizado em 1912, o período de "Paz Armada" entre as nações poderia dar a falsa impressão de que estaria existindo um declínio na violência na sociedade humana, depois de um traumático século XIX. Porém, pouco tempo depois, a Primeira Guerra Mundial estourou e, logo em seguida, a Segunda Guerra Mundial, os conflitos mais sangrentos da história da humanidade (apesar disso se referir aos números absolutos de morte, e não em relação ao tamanho da população global). Nos últimos anos, por exemplo, vemos a China ascender furiosamente como uma potência global e entrando em tensão com a questão do Pacífico, a Coreia do Norte ficando cada vez mais encurralada e agressiva, os EUA intervindo em questões delicadas no Oriente Médio - especialmente o recente reconhecimento do Presidente Donald Trump de Jerusalém como a capital de Israel -, a Rússia entrando em choque com o Leste europeu e intervindo nas eleições de outros país (EUA o maior exemplo), Irã e Israel ficando cada vez mais agressivos um com o outro, para não citar outros exemplos. Uma Terceira e Quarta Guerras Mundiais podem não estar tão longe de explodirem e jogarem por terra a tese de declínio da violência humana.


          De fato, um estudo publicado em 2018 na Science Advances (Ref.18) concluiu que nada pode ser afirmado sobre o suposto período de "longa paz" que atualmente estamos vivendo, ou seja, sem a existência de grandes conflitos globais. Analisando dados sobre o número de mortes em conflitos que marcaram o período entre 1823 e 2003, e utilizando também a ajuda de modelos de simulação, os pesquisadores não viram nada de especial nas últimas décadas de paz, afirmando ser comum tal intervalo de relativa paz global antes de um gigantesco conflito estourar. Para eles, somente poderemos confirmar se estamos entrando em uma tendência de mundo mais pacífico daqui a 100 ou 140 anos, onde uma significativa melhor curva estatística nesse campo poderá ser analisada.

          Porém, contudo, todavia, em um estudo mais recente (junho/2020) publicado no periódico Royal Statistical Society (Ref.20) os pesquisadores resolveram revisar os dados acumulados pelos estudos prévios sobre o tópico - relativos aos números de mortes por guerras e conflitos nos séculos XIX, XX e XXI - com melhores e mais sofisticadas ferramentas estatísticas. Eles encontraram um aumento abrupto na violência durante os anos de 1910 até 1950, mas também uma abrupta mudança de tendência para um maior nível de paz no início da década de 1990. Essa mudança nos últimos anos para uma aparente maior pacificidade, segundo os autores, pode ser devido à interferência de organizações como as Nações Unidas e um aumento de colaboração e cooperação entre as nações. Houve também outro ponto de mudança para uma sociedade mais pacífica observado na década de 1830, mas sem uma clara explicação histórica (talvez associado à rápida mudança do mundo no início do século XIX e ao robusto crescimento populacional).

            No entanto, os pesquisadores nesse último estudo reforçaram que apenas análise do número de mortes em batalhas não permite responder com total acuracidade à questão sobre se a violência em guerras está em declínio. Segundo os autores, existem várias limitações nesse tipo de análise, como, por exemplo, saber quais mortes incluir nos dados relativo aos efeitos indiretos da guerra. Deveriam as mortes por Gripe Espanhola serem contadas no número total de mortes da Primeira Guerra Mundial? Além disso, como os dados sobre o assunto tendem a ser Eurocêntrico-tendenciosos, existe a possibilidade de que um grande número de mortes em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento seja ignorado.


   VIOLÊNCIA INTER-PESSOAL

         Saindo da área de disputas entre grupos, é praticamente um consenso de que a taxa de crimes dentro de uma mesmo estado-nação têm diminuído substancialmente na Europa desde a Idade Média até os dias de hoje. Nos EUA, também vemos um declínio, de cerca de 2,9% ao ano, entre outros países. Existem várias tentativas de explicação para isso, mas todos os lados de argumentação sofrem críticas. Uma das mais tradicionais e aceitas explicações é a chamada 'Paz do Rei', onde estados mais organizados garantiriam uma maior ordem dentro das suas sociedades. De vários pequenos grupos isolados, na Idade Média teríamos o começo de ascensão de grupos maiores e em menor quantidade, dando origem a estados-nações centralizados sob uma única monarquia, gerando um monopólio institucionalizado da violência. A violência estaria sendo melhor controlada e direcionada, especialmente para a guerra entre nações.

         De qualquer forma, são três os principais fatores sugeridos que estariam atuando para explicar a queda de homicídios ao longo dos anos:

1. Os homicídios diminuíram quando Estados centralizados ganharam controle sobre organizações privadas de fornecedores, com a autoridade reforçada via institucionalização;

2. Mudanças tecnológicas e na capacidade humana, onde novas e efetivas formas de controle e monitoramento do comportamento diário das pessoas foram surgindo ao longo do anos, especialmente hoje com as câmeras e alarmes bastante disseminados;

3. Mudanças nas normas de comportamento, onde os declínios de violência parecem ter sido catalisados por uma diminuição da aceptabilidade da violência e danos intencionais a terceiros. Tais mudanças nas normas sociais seriam manifestadas como uma crescente repugnância por execuções públicas, torturas, vinganças sangrentas, maus tratos às mulheres e crianças, etc.

         Enquanto os dois primeiros fatores encaram o declínio dos homicídios como fruto de um maior controle e repressão da violência - sem mudar a intensidade dessa última -, o último fator trabalha com o declínio de violência entre os humanos a partir de uma evolução social, visão esta que, como já visto, está sendo bastante questionada nos últimos anos.

        Um outro estudo de novembro deste ano, publicado na Review of European Studies (Ref.10), sugere que o número de homicídios proporcionais ao tamanho populacional vêm caindo ao longo dos anos na Europa por causa da crescente disseminação de armas de fogo de porte pessoal desde o século XVI. Isso criaria um empecilho para a execução de crimes mais agressivos, já que mais pessoas e força de segurança estariam munidos com armas de fogo. Assim, os agressores estariam sendo levados a encontrarem soluções que evitassem o confronto direto. Diferente da 'Paz do Rei' e outros fatores levantados, a maior presença das armas de fogo dentro da sociedade entrariam em excelente conformidade com as tendências de redução de homicídios (apesar de não levar em conta taxas de suicídios e acidentes). É uma visão polêmica, especialmente nesse período de intenso debate sobre o porte de armas. Mas o autor do estudo não concorda que a violência humana inter-pessoal tenha diminuído e, sim, que ela foi forçosamente contida.

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   CONCLUSÃO

         Os otimistas naturalmente tentam extrair o melhor do ser humano e acreditam que o progresso da civilização humana irá nos tornar cada vez menos violentos, resgatando nossa suposta pacífica natureza, assim como aquela vista nos  bonobos, estes os quais são frequentemente referenciados como os 'chimpanzés-hippies' da natureza. Será que compartilhamos mais traços de pacifismo com os bonobos do que marcas de agressividade com os violentos chimpanzés? Será que o nosso potencial para a paz é realmente tão forte? Será que estamos, de fato, nos tornando menos violentos? Infelizmente, o conflito na literatura acadêmica, as análises de agressividade humana sob um ponto de vista evolucionário e os estudos populacionais mais recentes tendem a mostrar uma diferente realidade: somos uma espécie violenta, especialmente os homens, e isso não parece estar mudando ao longo dos milênios, séculos e décadas. A Terceira Guerra Mundial é o nosso próximo passo ou o otimismo é capaz de vencer as mais duras evidências?


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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS 
  1. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19691899 
  2. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22078475 
  3. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3859192/
  4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11786990 
  5. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22380590 
  6. www.sciencemag.org/news/2017/12/why-human-society-isn-t-more-or-less-violent-past 
  7. http://www.pnas.org/content/114/52/E11101.abstract
  8. http://www.journals.uchicago.edu/doi/abs/10.1086/694568
  9. http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1367877916682108
  10. https://quod.lib.umich.edu/m/mfr/4919087.0020.102/--update-on-social-understandings-of-violence?rgn=main;view=fulltext
  11. http://www.ccsenet.org/journal/index.php/res/article/view/67288/36505
  12. https://openknowledge.worldbank.org/bitstream/handle/10986/25880/9781464809507_Spot05.pdf?sequence=39&isAllowed=y
  13. https://read.dukeupress.edu/common-knowledge/article-abstract/22/1/81/7127/HOW-OLD-IS-HUMAN-BRUTALITY-On-the-Structural
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