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Café e saúde: O que as evidências científicas dizem?


- Atualizado no dia 26 de novembro de 2022 -

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           O café pertence à família botânica Rubiaceae, que tem cerca de 500 gêneros e mais de 6000 espécies. Duas espécies do gênero Coffea apresentam grande importância comercial: Coffea arabica (ou 'café arábica', a mais popular e mais produzida no mundo) e Coffea canephora (ou 'café robusta'). A qualidade do café está relacionada ao grau de torra e aos diversos constituintes químicos dos grãos, incluindo proteínas, lipídios, carboidratos e outros compostos voláteis ou não. Aqui no Brasil, o consumo de café faz mais do que parte da nossa cultura e cotidiano, sendo um hábito diário e quase obrigatório para muitos. Na verdade, não só aqui, mas no mundo inteiro o café é uma paixão e o seu consumo como bebida só perde para a água, sendo a mercadoria mais comercializada depois do petróleo. Seu comércio movimenta em torno de US $10 bilhões anualmente e seu preço é reavaliado todos os dias.

          Por causa dessa imensa popularidade, e seu alto conteúdo de cafeína - uma das substâncias mais controversas das últimas décadas -, diversos estudos já foram conduzidos para avaliar os possíveis efeitos benéficos ou maléficos para a saúde associados ao consumo de café. Através dos inúmeros trabalhos científicos já publicados, as recomendações de órgãos de saúde foram sempre sendo modificadas ao longo dos anos, especialmente no que se refere ao limite diário de cafeína por dia. Mas nos últimos anos, vários estudos de grande impacto vêm sugerindo que o potencial benéfico do consumo de café, de moderado à relativamente alto, pode prevalecer sobre quaisquer efeitos adversos. Nesse caminho, estudos de grande porte estão reforçando os benefícios do café, ligando um maior consumo da sua bebida a uma redução significativa no risco de morte por todas as causas, e o mais importante: independentemente se é cafeinado ou descafeinado em boa parte das análises.

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ATENÇÃO: À medida que novos estudos forem sendo publicados relativos ao assunto, eles serão atualizados aqui ou através do SaberAtualizadoNews. Neste artigo, são explorados em específico quatro estudos de grande impacto publicados nos anos de 2012, 2017 e em 2020 investigando a relação entre café e saúde.

ATUALIZAÇÃO (27/08/17)Mais um grande estudo reforça os benefícios do consumo de café à saúde. Para saber mais, acesse a matéria: Redução de 64% nos riscos de morte por todas as causas com o consumo de quatro copos diários de café

ATUALIZAÇÃO (17/11/17): Dois estudos  trazendo mais pontos positivos para o café: Consumo de café associado com redução no risco de derrame, insuficiência cardíaca e doenças hepáticas

ATUALIZAÇÃO (23/11/17): Mais um estudo de grande impacto - dessa vez um Umbrella - mostra que o consumo de café traz bem mais benefícios do que qualquer prejuízo à saúde.

ATUALIZAÇÃO (17/04/18): Estudo encontra que o café pode ser benéfico para o coração

ATUALIZAÇÃO (04/07/18): Um estudo observacional, envolvendo quase 503 mil participantes - excluindo-se as grávidas - do Reino Unido (baseado no estudo populacional UK Biobank), uma idade média de 57 anos e um tempo de acompanhamento de 10 anos (2006-2016), mostrou que o consumo baixo, moderado e até mesmo alto de café é inversamente proporcional às mortes por todas as causas, incluindo entre pessoas com polimorfismos genéticos comuns afetando o metabolismo de cafeína (AHR, CYP1A2, CYP2A6 e POR) e entre aquelas consumindo a bebida descafeinada - o que indica e reforça que outros componentes na bebida é que parecem ter o papel ligado aos benefícios à saúde. Os resultados foram publicados no periódico JAMA (Ref.16).

ATUALIZAÇÃO (26/11/22): Uma série de estudos publicados este ano ligaram o consumo moderado de café com mais longa longevidade/menor risco de morte, menor risco de doença cardiovascular, menor risco de lesão renal aguda, melhora nos processos digestivos e movimentos intestinais, menor risco de certas doenças hepáticas, menor risco de cálculos biliares e melhora no perfil do microbioma intestinal (Ref.19-22).
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     CAFÉ: RISCOS E BENEFÍCIOS

            Controvérsias ligadas aos benefícios e riscos do consumo de café pela população ao redor do mundo é um tópico de permanente debate, e mesmo com muitas evidências de benefícios, outras evidências já chegaram a sugerir uma associação desse consumo com complicações cardiovasculares e fomento de cânceres.

          Primeiro, é preciso deixar claro que a bebida do café é uma complexa mistura composta de centenas de substâncias, com a cafeína sendo apenas uma delas. Além disso, a composição quantitativa e qualitativa da mistura final dependerá de múltiplos fatores, desde a colheita até o tipo de preparação. No geral, essa diversividade de compostos moleculares incluem aminoácidos, polifenóis, ácidos, diterpenos, melanoidinas, lipídios e carboidratos. Não menos do que 1000 compostos voláteis são gerados durante o processo de torra, e entre 25 e 35 são responsáveis pelo aroma do café. Mas, no geral, certos compostos sempre estarão presentes.

          As propriedades benéficas do café são frequentemente atribuídas ao rico complexo fitoquímico dos seus grãos. Vários estudos epidemiológicos, meta-análises e revisões sistemáticas apontam uma forte uma correlação inversa entre o consumo de café e a diabetes tipo 2, cânceres, Mal de Parkison e doença de Alzheimer. Além disso, a bioquímica do café parece reduzir o estresse oxidativo no organismo por diferentes mecanismos. Somando-se a isso, a cafeína e os seus metabólitos podem ajudar a otimizar a funcionalidade cognitiva, incluindo a memória. Já sua fração lipídica contém cafestol e kahweol, os quais podem agir como protetores contra algumas células malignas, ao modularem enzimas de desintoxicação.

           Por outro lado, altos níveis de consumo de café estão ligados a um aumento na concentração de colesterol no sangue, podendo também causar insônia e complicações cardiovasculares diversas. A cafeína afeta receptores de adenosina e sua retirada é acompanhada por fatiga muscular e outros problemas naqueles viciados à bebida. Além disso, mulheres grávidas ou aquelas com problemas na menopausa deveriam evitar um consumo excessivo por causa da interferência do café com contraceptivos orais ou hormônios liberados após a idade de menopausa. 

             O café parece agir também no sistema endocanabinoide - reduzindo os metabólitos sanguíneos produzidos nesse sistema - e interfere com alguns metabólitos do sistema androesteroide - sugerindo nesse último caso que o café pode facilitar a excreção ou eliminação de esteroides, algo que pode afetar doenças como o câncer (Ref.15). Os sistema endocanabinoide ajuda a regular o estresse, a cognição, a pressão sanguínea, imunidade, vício, sono, apetite, energia e o metabolismo de glicose.

             Entre os principais componentes comumente encontrados em uma bebida do café, podemos listar:

CAFEÍNA: A cafeína é a droga psicoativa mais consumida no mundo devido ao grande consumo de café e crescente consumo de bebidas energéticas, e alguns dos seus efeitos no comportamento de um indivíduo (como um maior ânimo) podem lembrar aqueles produzidos pela cocaína, anfetaminas e outros estimulantes.



          A cafeína é absorvida no estômago e no intestino fino, e, então, distribuída através do corpo. A quantidade máxima circulando no organismo é alcançada após 30-45 minutos depois de ingerida e somente pequenas quantidades ficam em circulação entre 8 e 10 horas depois. A concentração da substância diminui à medida que ela é metabolizada pelo fígado, e outros compostos podem interferir na velocidade de metabolismo, como a marijuana (acelera) e contraceptivos orais (desaceleram). A taxa de metabolismo também varia de pessoa para pessoa, o que explica as diferentes sensibilidades individuais frente aos efeitos da cafeína.

         No cérebro, a cafeína parece ter múltiplos alvos, mas o principal provavelmente são os receptores de adenosina. Ali, a substância dispara uma cadeia de eventos que afeta a atividade da dopamina, um importante mediador cerebral, e de áreas do cérebro envolvidas com a estimulação, prazer e pensamento.

           Nesse sentido, a cafeína pode ajudar a diminuir o progresso de doenças, como o Parkison, ao agir em diferentes regiões do cérebro, mas também pode desencadear problemas de hipertensão, enrijecimento de artérias, e aumento no nível de colesterol e insulina, ao agir em outras partes do corpo a partir de um excesso.

           O conteúdo de cafeína varia bastante nas bebidas de café, dependendo da matéria-prima e forma de preparo, com 240 ml podendo possuir de 60 a 200 mg desse composto. Em geral, assume-se que 240 ml fornece cerca de 100 mg de cafeína na média - incluindo o FDA (Agência de Drogas e Alimentos dos EUA) -, mas é preciso ficar atento com os tipos de café sendo consumidos.


          Nesse quesito, as recomendações relativas ao consumo diário de cafeína pelas agências de saúde variaram bastante ao longo das décadas. Estudos mais recentes sugerem que 400 mg diários é um limite seguro, enquanto alguns alertas internacionais tradicionais colocam um máximo entre 200 e 300 mg diários. A dose letal de cafeína no corpo humano situa-se entre 150 e 200 mg/kg, o que em um adulto de 75 kg equivale a algo entre 11,25 e 15 g.

CAFESTOL E KAHWEOL: Quando a bebida é filtrada - como geralmente acontece - muito pouco desses dois lipídios (da classe dos diterpenos) chegam ao preparado final, fazendo com que possíveis efeitos no aumento na concentração de colesterol no sangue alegadamente promovidas por essas substâncias deixem, virtualmente, de existir. Porém, por outro lado, alguns estudos também mostram que essas substâncias têm função anticâncer e são benéficas para o fígado. O balanço de benefícios, portanto, é incerto.



ÁCIDO CLOROGÊNICO E OUTROS ANTIOXIDANTES: Embora certos estudos apontem para complicações cardíacas decorrentes de um alto consumo de café, outras evidências científicas também encontram um efeito cardíaco protetor, e até mesmo de prevenção/controle à diabetes, associados ao ácido clorogênico e outras substâncias com propriedades de antioxidantes (O que são os radicais livres?). Porém, alguns trabalhos também trazem evidência desse ácido estando indiretamente associado com a formação de placas ligadas à aterosclerose.


POLIFENÓIS: Ainda é incerto se os polifenóis promovem algum real benefício para a saúde, apesar de evidências científicas favoráveis. Esses compostos são representados por moléculas contendo vários grupos fenóis ligados entre si, e podem ser encontrados em alimentos de origem vegetal, como vinho vermelho, óleo de oliva, coco, café e chás. Nas plantas, atuam em vários papeis vitais. Já para funções benéficas no corpo humano, as apostas são colocadas em uma redução no risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, através de mecanismos envolvendo propriedades antioxidantes, vasodilatadoras e imunomoduladoras, especialmente a primeira. Abaixo, alguns compostos de polifenóis que podem ser encontrados em chás e cafés.



VITAMINAS E MINERAIS: O café não é uma boa fonte desses micronutrientes, mas alguns deles podem ser citados por potencialmente contribuírem de forma tímida para as nossas necessidades diárias. Entre os sais minerais, podemos encontrar significativa quantidade de magnésio e potássio. Já vitaminas, podemos citar a niacina e a colina.

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     ESTUDO DE 2012

           O primeiro estudo (Ref.4) em anos recentes de grande importância sobre os benefícios do consumo de café surgiu em 2012, realizado por um time de pesquisadores do NIH´s National Cancer Institute (NCI) liderado pelo Dr. Neal Freedman. Analisando mais de 400 mil homens e mulheres nos EUA, com idades entre 50 e 71 anos, os pesquisadores concluíram que o consumo de café estava associado com um menor risco de morte. E o resultado levou em cuidadosa consideração outros fatores importantes de risco, como fumo e bebidas alcoólicas.

         Em 17 de Maio de 2012, o time reportou o achado na edição do periódico New England Journal of Medicine. Comparando homens e mulheres que não bebiam café, aqueles que consumiam três copos ou mais (cada copo, cerca de 240 ml) por dia tinham aproximadamente 10% menos risco de morte. Consumidores de café tinham menor probabilidade de morrer de doenças cardíacas, respiratórias, isquemias, feridas/acidentes, diabetes e infecções.

          E o mais interessante desse estudo é que a cafeína, tão odiada e amada, não interferiu com os resultados da pesquisa, mostrando, mais uma vez, que não podemos subestimar os mais de 1000 compostos existentes na bebida.

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    ESTUDOS DE 2017

           E, recentemente, dois novos estudos de grande escala vieram para reforçar os resultados a favor do café publicados em 2012. O primeiro estudo comparou consumidores e não-consumidores habituais de café em 10 países europeus. O segundo estudo comparou os benefícios do consumo de café relativo à etnia, em populações brancas e não-brancas. Em ambos os estudos, a menor incidência de morte surgiu bem clara entre aqueles que consumiam uma maior quantidade de café, e outra: também não encontraram diferença entre a versão cafeinada e a descafeinada, e entre as formas de preparo!

1° ESTUDO (Conhort prospectivo): Foram analisadas 521330 pessoas dentro do EPIC (European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition). Os pesquisadores encontraram que os participantes consumindo aproximadamente 700 ml ou mais de café por dia parecem receber os maiores benefícios em termos de diminuir os riscos de morte. Isso foi particularmente verdade para doenças no trato digestivo e no sistema circulatório. O estudo foi conduzido por cientistas da International Agency for Research on Cancer l e da Imperial College London.

2° ESTUDO (Cohort Multiétnico - MEC): Foram analisados 185855 Americanos descendentes de Africanos, Hawaiianos Nativos, Americanos descendentes de Japoneses, Latinos e Brancos, entre idades entre 45 e 75 anos e residentes no Hawaii, Los Angeles e Califórnia. Por 16 anos, investigadores da Keck School of Medicine of the University of Southern California analisaram esses participantes, e encontraram que o consumo de café estava associado com um menor risco de morte tanto nos Brancos quanto nos Não-Brancos. Esse estudo foi extremamente importante por analisar a questão das diferenças fisiológicas em termos de saúde entre os diferentes grupos humanos, algo antes feito de forma ínfima por outros trabalhos científicos do tipo.

            Juntando os resultados dos dois estudos - ambos publicados no Annals of Internal Medicine (Ref.5-6) -, fica evidente que o papel de proteção biológica já sugerido por outras investigações cientificas recentes não parece ser uma mera especulação. E enquanto a cafeína não parece fazer diferença, compostos bioativos como os polifenóis e outros antioxidantes estão claramente associados com uma redução na resistência à insulina, inflamações e biomarcadores de função hepática. Porém, ainda não se sabem quais os componentes específicos no café são os responsável por essa provável proteção. Estudos futuros mais sofisticados ainda precisam ser planejados e executados.



   ESTUDO GENÉTICO

          Para tentar contornar os co-fatores que potencialmente podem ser ignorados em estudos observacionais, pesquisadores da Universidade do Sul da Austrália resolveram analisar os dados genéticos de mais de 300 mil participantes do banco de dados UK Biobank, através de um estudo mendeliano. O objetivo era estabelecer os verdadeiros efeitos do consumo de café reportado pelos participantes contra 1117 condições clínicas.

          O estudo - publicado em 2020 no periódico Clinical Nutrition Journal (Ref.17) -  encontrou que um consumo moderado de café é em geral seguro, mas que o consumo habitual dessa bebida está também associado com um aumento de risco para três doenças: osteoartrite, artropatia e obesidade, dependendo dos fatores genéticos. Nesse sentido, é um alerta para quem possui predisposição ou histórico dessas doenças na família. No geral, os pesquisadores não encontraram evidência de notável benefício ou malefício em relação a um consumo de café maior do que o habitual. Mas o número de evidências sugerindo efeitos benéficos à saúde - incluindo particularmente redução em sangramentos pós-menopausa - mostrou-se bem maior do que aquelas sugerindo efeitos adversos.

          Em estudo prévio, os pesquisadores também tinham sugerido que um consumo acima de 6 copos por dia (~1,5 litro) pode ser prejudicial.

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   CAFÉ FRIO OU CAFÉ QUENTE?

          Nos últimos anos, algumas companhias de café e blogs de bem-estar vêm promovendo o consumo dessa bebida preparada a partir de um processo mais lento envolvendo a extração aquosa a baixa temperatura. De acordo com essas fontes, o café feito a partir de água aquecida (em ponto de ebulição) - como normalmente é feito - é mais ácido do que a bebida feito a frio e, portanto, seria um fator a mais de risco para problemas gastrointestinais e azia (1). Somando-se a isso, existem alegações de que o gosto do 'café frio' é melhor, que possui menos cafeína e que possui um maior conteúdo de antioxidantes. Isso fez com que as vendas de café frio aumentassem 580% de 2011 a 2016 só nos EUA.

          Porém, um estudo publicado em 2018 na Scientific Reports (Ref. 17), encontrou que os níveis de pH tanto da bebida feito à quente quanto daquela feito a frio são similares, variando na faixa de 4,85-5,13. Além disso, os níveis de atividade antioxidante na bebida feito à quente mensurados pelos pesquisadores - e associados com uma maior concentração total de ácidos titratáveis - eram bem maiores do que na versão fria. As amostras de café analisadas foram variadas, com origem de países como Etiópia, Colômbia, Mianmar, México e o próprio Brasil.

          Como os benefícios à saúde do café estão fortemente associados aos seus antioxidantes, não parece ser uma boa ideia trocar a versão quente pela fria, especialmente considerando que o perfil ácido das duas é praticamente o mesmo. Aliás, as evidências científicas de benefícios à saúde do café são baseadas no consumo da bebida preparada com água quente.

(1) É importante lembrar que não existem evidências científicas conclusivas de que o consumo de café está associado com qualquer aumento de risco para problemas no sistema digestório, incluindo a cavidade gástrica.


   CAFÉ ANTES DAS COMPRAS?

          Um estudo publicado no periódico Journal of Marketing (Ref.18) trouxe uma interessante conclusão. Os pesquisadores encontraram que a cafeína impacta o que você compra e o quanto você gasta em lojas. Em específico, eles mostraram que os consumidores que bebem um copo de café cafeinado antes de ir ao shopping gastam cerca de 50% mais dinheiro e compram quase 30% mais itens do que consumidores que bebem café descafeinado ou água. 

          Segundo os autores do estudo, o forte efeito estimulante da cafeína libera dopamina no cérebro, o que excita a mente e o corpo. Esse cenário leva a um estado de mais energético, o qual por sua vez eleva a impulsividade e reduz o autocontrole. Como resultado, o consumo de cafeína promove impulsividade nas compras em termos de maior número de itens comprados e maior gasto. Além disso, os pesquisadores encontraram que o consumo de cafeína influenciava nos tipos de itens comprados; aqueles consumindo café cafeinado tendiam a comprar mais itens não-essenciais.

          Nesse sentido, para consumidores tentando controlar gasto impulsivo, é recomendado evitar consumir bebidas cafeinadas antes das compras.


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     CONCLUSÃO

         Apesar das incertezas quanto ao consumo de café e seus riscos e benefícios à saúde, estudos de grande porte nos últimos anos vêm construindo um perfil de benfeitor para essa bebida. Mesmo que os estudos até o momento sejam observacionais - ou seja, não indicando necessariamente uma relação direta de causa e consequência entre o consumo de café e benefícios à saúde -, no mínimo podemos inferir que o café pode fazer parte de uma dieta saudável, especialmente considerando que os componentes dessa bebida não estão comprovadamente ligados a problemas de saúde caso o consumo não seja excessivo (1). E, pelo que tudo indica, a cafeína não parece influir positivamente ou negativamente dentro do espectro nutricional da bebida, sendo a função delegada a outros compostos misteriosos, figurando possivelmente os polifenóis entre eles. E isso é uma ótima notícia, já que a cafeína é o agente de maior controvérsia e alertas de saúde, apesar da substância possuir também potencial benéfico e ser bem tolerada entre grande parte da população.


        Mas é preciso tomar cuidado. O ideal seria consumir a bebida pura, assim como os Orientais fazem com os chás. Muitos gostam de abusar do açúcar de cozinha (sacarose) na sua feitura, o que aumenta o consumo calórico e eleva bastante o pico de insulina em circulação - sacarose, quando absorvida e digerida, libera frutose e glicose, com esse último carboidrato levando ao aumento na produção de insulina pelo pâncreas. Caso goste de um café adoçado, prefira os adoçantes.

        No final, o que podemos tirar de tudo isso é que quantidades diárias entre 480 e 960 ml de café (bebida) por dia não parecem fazer mal à saúde e podem ainda promover significativos ganhos de saúde para o corpo, independentemente se estão cafeinadas ou descafeinadas. Se você é um amante do café, essas são notícias de muita comemoração.


OBS.: No caso de grávidas, pessoas que sofrem com insônia e pacientes com problemas cardiovasculares, o ideal seria consultar um médico para uma avaliação do impacto do consumo de café, especialmente os cafeinados. De qualquer forma, um consumo moderado dificilmente irá causar danos para o corpo de adultos em geral, mas é preciso lembrar que a meia vida do café dobra no organismo das grávidas e que essa substância atravessa a placenta.

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CURIOSIDADE: De acordo com uma lenda, Kaldi, um pastor de cabras na Abissínia, região hoje representada pelo Norte da Etiópia, descobriu o café quando ele notou o estado excitado das suas cabras após consumirem pequenos frutos vermelhos que tinha caído de um arbusto. Surpreso pelo poder desses frutos, Kaldi os levou para um monge, este o qual, assustado com tais efeitos, pensou que o poder dos mesmos era algo relacionado com o Demônio, e, então, os jogou no fogo. Após alguns minutos no fogo, os grãos de café começaram a liberar um agradável aroma que intrigou o monge, fazendo este removê-los do fogo, moê-los e imergi-los em água para preservar suas propriedades estimulantes e ajudar os outros monges a ficarem acordados durante longas sessões noturnas de rezas.
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CURIOSIDADE E ALERTA: O café mais caro do mundo é conhecido como Kopi Luwak (na tradução, ´Café de Civeta´) e é produzido nada mais, nada menos, do que com os grãos defecados e semi-digeridos por um pequeno mamífero chamado de Civeta-de-Palmeira-Asiática (Paradoxurus hermaphroditus)! Sim, é um café feito com grãos provenientes das fezes desses animais! Outras espécies de civetas também costumam ser usadas, mas em escala muito reduzida. Porém, por trás desse processo de produção, esconde-se uma terrível história. Saiba mais no artigo: O café mais caro do mundo e o terror por trás da sua produção

DÚVIDA FREQUENTE: Os chás e cafés desidratam o corpo devido à presença de cafeína? Não, e fica a sugestão de leitura: Cafés e chás nos desidratam?


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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4648805/ 
  2. http://www.health.harvard.edu/staying-healthy/what-is-it-about-coffee 
  3. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21432699 
  4. https://www.nih.gov/news-events/nih-research-matters/coffee-drinkers-have-lower-risk-death 
  5. http://annals.org/aim/article/2643435/coffee-drinking-mortality-10-european-countries-multinational-cohort-study
  6. http://annals.org/aim/article/2643433/association-coffee-consumption-total-cause-specific-mortality-among-nonwhite-populations
  7. https://www.eurekalert.org/pub_releases/2017-07/acop-tls070517.php
  8. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3651847/
  9. http://www.bbc.com/news/health-15982904
  10. http://pubs.rsc.org/en/content/articlelanding/2012/fo/c2fo00006g/unauth#!divAbstract
  11. http://www.ico.org/show_faq.asp?show=32
  12. https://medlineplus.gov/caffeine.html
  13. http://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/10408390500400009
  14. https://www.fda.gov/downloads/aboutfda/centersoffices/officeoffoods/cfsan/cfsanfoiaelectronicreadingroom/ucm333191.pdf
  15. http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/joim.12737/full
  16. https://jamanetwork.com/journals/jamainternalmedicine/article-abstract/2686145
  17. https://www.clinicalnutritionjournal.com/article/S0261-5614(20)30112-6/pdf
  18. Biswas et al. (2022). Caffeine’s Effects on Consumer Spending. Journal of Marketing. https://doi.org/10.1177/00222429221109247
  19. https://academic.oup.com/eurjpc/article-lookup/doi/10.1093/eurjpc/zwac189
  20. https://www.acpjournals.org/doi/10.7326/M21-2977
  21. https://www.kireports.org/article/S2468-0249(22)01369-9/fulltext
  22. https://www.mdpi.com/2072-6643/14/2/399