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É verdade que mandavam crianças pelo serviço postal nos EUA?


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         Imagine-se no início do século XX. É uma sexta-feira à tarde e você recebe a notícia de que o serviço postal acabou de estrear um novo tipo de entrega: pacotes. Agora, você pode mandar mercadorias de vários tamanhos e pesos, sendo cobrado dos clientes esse último parâmetro, ou seja, o valor da tarifa em selo irá ser proporcional ao peso da encomenda. Uma maravilha, certo? Em uma época onde os meios de transporte ainda eram bastante limitados e as viagens muito caras, ter um serviço exclusivo para mandar e receber mercadorias é mais do que excelente. Agora eu posso mandar um presente para parentes distantes sem me preocupar com a penosa e custosa tarefa de viajar e garantir a chegada em segurança do objeto. Estou adorando isso! E o que mais eu posso mandar para os meus amigos e familiares?

          Essa devia ser uma regra crítica de ser considerada em toda decisão governamental de um país: nunca subestime a imaginação da sua população. E isso foi o oposto do que aconteceu no território norte-americano nessa época: o serviço postal subestimou a criatividade da população. Durante os anos de 1913 e 1914 nos EUA, alguns pais usaram o serviço de correspondências do país para mandar seus filhos de uma localidade para outra! Não, você não leu errado. Crianças eram mandadas via postal, com selo e tudo! Como o serviço de entrega de pacotes estava ainda engatinhando na época, várias brechas existiam e as regularizações ainda estavam tentando dar os primeiros passos. Assim, os pais, para arcar com menores custos de viagem, tiraram vantagem disso, aproveitando do relativo pequeno peso dos filhos para mandá-los como "pacotes". O destino de entrega das crianças, na grande maioria das vezes, era para a casa dos seus avós ou destes para os seus pais.

          Em 19 de fevereiro de 1914, May Piersteoff (foto ao lado) ficou famosa entre as crianças que viajaram pelo serviço postal. Os pais dela pagaram cerca 53 cents pelos selos necessários para enviá-la até a casa dos avós da menina, no seu aniversário de 6 anos de idade! O percurso de entrega foi de 73 quilômetros, iniciado a partir de Grangeville.

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         Já a primeira criança mandada pelo serviço postal foi um garoto em Batavia, Ohio, em janeiro de 1913. Ele foi mandado pelos pais até a casa da sua avó por 15 cents, e até pagaram um seguro de 50 dólares! Outro caso ocorreu em 27 de janeiro do mesmo ano, quando os pais de uma menina enviou ela de Pine Hollow, Pennsylvania, até à casa de parentes em Clay Hollow, sob o custo de 45 cents de selos. Entre outros casos. 

Selos comercializados entre os anos de 1913 e 1915: com alguns desses em mãos, era possível enviar crianças pelo serviço postal!

          Como mencionado, o caso da May Pierstarff tinha ficado famoso e isso levou o Diretor do Serviço Postal, General Burleson, a decretar a proibição do envio de seres humanos pelo serviço postal em 1914. Porém, um mês após essa regra ser imposta, outra criança foi mandada por encomenda em Maryland, e dessa vez um bebê em torno de 7 kg, este o qual tinha sido enviado da casa da sua avó em Clear Spring para a casa da sua mãe em Indian Springs. Um jornal na época até reportou que o bebê tinha dormido a viagem inteira.

          Um ano depois, outra criança foi enviada e alcançou o recorde de maior distância viajada sob o serviço postal, Edna Neff, de 6 anos. Ela viajou da casa da sua mãe em Pensacola, Flórida, até a casa do seu pai, em Chistaiburg, Virgínia. Pesando menos de 25 quilos, e bem próximo do limite de peso do serviço postal de pacotes, ela custou cerca de 15 cents de selo em 1915. Nesse ano, inclusive, passou a ser oficial a proibição de transportar crianças pelo serviço postal e investigações pesadas de ilegalidade começaram a ser colocadas em ação para deter a prática e culpar os responsáveis.

         Mesmo assim, em 1915, após o caso de Edna, tivemos mais duas entregas do tipo. A primeira ocorreu em Março, onde a filha do Sr. e Sra. Abert Combs, Helen, foi enviada de Missouri para a casa da sua avó, aproveitando que a menina estava no caminho de serviço do entregador. O custo foi de 10 cents. Já em Setembro, Maud Smith, de 3 anos, foi enviada da casa dos seus avós para a casa da sua mãe, Sra. Celina Smith, em Kentucky. Nessa última viagem, já houve uma forte investigação pelas autoridades postais em cima do ocorrido. Provavelmente por causa da grande repercussão na mídia da época em cima da investigação sofrida pelo envio de Maud Smith, não houve mais casos de entrega de crianças pelo serviço postal nos EUA. Demorou, né?

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OBSERVAÇÃO: É importante deixar claro que, obviamente, as crianças enviadas pelo serviço postal não iam dentro de malas ou de pacotes. Elas iam acompanhando um carteiro de confiança da família dentro dos veículos de serviço postal, como uma espécie de carona. No famoso caso da  May, a entrega foi feita até por um parente dela que trabalhava no serviço postal. De qualquer forma, na época, foram até feitas montagens de humor sobre a situação, como as duas fotos abaixo.
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Referência: Postal Museum

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