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Por que só os Democratas e Republicanos seguram as rédeas nos EUA?


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          Apesar de muitos acharem que só existem dois partidos nos EUA, Republicanos e Democratas, a verdade é que esses dois são apenas as duas forças políticas de poder majoritário e quase absoluto no território norte-americano. Existem diversos outros, como o Libertarian, este o qual até possui um atrapalhado Presidente de partido que estava concorrendo para as eleições presidenciais de 2016, Gary Johnson.

         Desde 1852, apenas vemos os dois poderosos partidos ganharem as eleições presidenciais, ou em 1° ou em 2°. Mas é pouco conhecido, a nível mundial, que em 1912, um terceiro partido conseguiu emplacar um candidato em 2° lugar, Theodore Roosevelt (o qual era Republicano no período anterior), perdendo para Woodrow Wilson. Bem, deixando de lado o patamar Presidencial, vários outros partidos nos EUA possuem algum tipo de influência no quadro político do país, até mesmo ocupando cadeiras no Senado (hoje, 1, do Independent) e da Casa dos Representativos (hoje, 2, do Vacant). Mas por que o país conhecido por sua paixão à liberdade e democracia, possui apenas dois partidos dominantes, quase absolutistas em termos políticos?
 
Alguns dos partidos políticos nos EUA, incluindo os Democratas e Republicanos



            Bem, a resposta mais simples é quase a mesma que encontramos aqui no nosso país: a maioria vence. Assim como vários partidos aqui dificilmente irão subir para a Presidência por possuírem pouca influência, o mesmo ocorre nos EUA, mas com maior força por lá, porque o voto é distrital e por maioria. Ou seja, se um distrito teve um candidato por maioria, aquele leva tudo dali, e não deixa nenhuma migalha para os outros partidos. E os votos de um distrito não interferem em outro. Para a Presidência, por exemplo, o voto é por Estado, no mesmo sistema de maioria em cada um deles, vencendo quem tiver mais estados. Assim, quem possui maior influência, como um todo, sempre leva, algo que faz com que as duas mais influentes bandeiras políticas do país prevaleçam continuamente: Democratas e Republicanos. Mesmo existindo notáveis candidatos e políticos de terceiros partidos, e até mesmo o apoio de celebridades de peso, como Ross Perot, Patrick Buchanan e Jesse Ventura para o Reform ou o Independent, os Democratas e Republicanos continuam sufocando as chances de outras representações subirem ao poder em significativa extensão. Mas fica, então, a pergunta: como os Republicanos e Democratas conseguiram tanta influência nos EUA?



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        O sistema de bipartidarismo acompanhou praticamente toda a História dos EUA. E dois lados políticos foram os responsáveis por atuarem ativamente na construção dessa História. No geral, os historiadores consideram que existem 6 fases no percurso de estabelecimento do atual sistema de partidos políticos nos EUA desde a independência do país, mas três delas são suficientes para explicar a ascensão dos dois partidos que hoje dominam o território norte-americano.

1. (1792-1816): Nesse período, houve uma divisão entre aqueles que apoiavam Thomas Jefferson (os Jeffersonianos ou Democratas-Republicanos) e aqueles que apoiavam os Federalistas, estes os quais eram a situação e os primeiros, a oposição. O Federalistas, em específico, acreditavam que dividir o poder do país em mais de uma via política, ou seja, em mais de um partido, era uma ameaça à nação, porque dividir seria um sinônimo de enfraquecimento. Na verdade, eles nem mesmo gostavam de serem vistos como um partido, mas, sim, apenas como representantes do povo. Mas a grande diferença entre os dois era a que os Jeffersonianos queriam acabar de vez, na violência se necessário, com qualquer laço com os britânicos, enquanto os Federalistas tendiam a querer relações mais pacíficas com a antiga metrópole. Depois da Guerra de 1812, entre Reino Unido e EUA, por causa de motivos que iam de restrições no comércio com a França durante a era napoleônica até o apoio dos britânicos aos nativos que lutavam contra os americanos-europeus, os Federalistas acabaram se extinguindo de vez, especialmente depois destes se oporem ao conflito. Com os Federalistas fora do caminho os Democratas-Republicanos acabaram tomando as rédeas dos EUA e dominaram por um tempo como partido único do país com quase absoluta influência. Mas disputas internas dentro do partido começaram a quebrá-lo, resultando em uma inevitável cisão que deu origem aos partidos Jacksonianos Democratas (a base dos Democratas de hoje) e os Whigs.

                               
2. (1830-1854): Temos, novamente, dois partidos dominando o país: os já mencionados Democratas e os Whigs. Nesta fase, o sistema político como um todo já via com bons olhos a existência de mais de um partido administrando o poder. Esse período também ficou marcado pela questão da escravidão nos EUA, e ambos os partidos carregavam ideais de supremacia branca e também de oposição à escravidão. Devido às crescentes tensões sobre a questão escravagista norte-americana, uma crise no Kansas acabou quebrando os Whigs, deixando o espaço livre para os Democratas. Nesse processo, os representantes do Norte contrários à escravidão que faziam parte dos Whigs saíram do partido para formar um novo partido: os Republicanos, aos quais se juntaram também representantes dos Democratas que eram contra a manutenção de escravos no país. Os Republicanos ascenderam rapidamente para fazer oposição aos Democratas, estes os quais ficaram por um breve período de tempo como os chefões do país.     

                                                       
3. (1856-1896): Em 1860, os recém-chegados Republicanos, que defendiam fortemente o fim da escravidão,  tinham conseguido os votos de todos os Estados livres, mas nenhum dos Estados onde a escravidão estava presente, para elegerem ninguém mais ninguém menos do que seu líder, Abraham Lincoln. Sentindo-se sem representação política, os Estados do Sul que apoiavam a escravidão, com alguns possuindo quase 50% da sua população constituída de escravos, resolveram optar por um movimento de desunião nacional, em uma tentativa de defenderem os atos pró-escravidão.

  


           Aliado aos problemas de questionamento sobre o controle do governo em cima dos Estados, industrialização e comércio, a escravidão se tornou o principal fator de grande tensão entre o Norte e o Sul. Entre os 34 Estados norte-americanos, 7 do Sul, onde a escravidão era legal, declaram total desvinculo com os EUA, e formaram o Confederate States of America (Estados Confederados da América). Após os Confederados atacarem o Fort Sumter, a guerra civil explodiu, em Abril de 1861. Os Estados que permaneceram leais aos EUA se uniram para combater os Confederados, sob a liderança de Lincoln, e ficaram conhecidos como Union (União), ou North (Norte). Os Confederados conseguiram ainda o apoio de mais 11 Estados, e mais tarde aglutinaram mais dois Estados e vários territórios no oeste. Durante 4 anos de intenso combate, entre 620 e 750 mil soldados morreram, marcando a mais sangrenta guerra na História norte-americana e a vitória da União, ou do Norte sobre o Sul. Como resultado do conflito, a escravidão foi banida, todos os Estados foram reunidos novamente e a infraestrutura dos territórios no Sul ficou profundamente destruída. Abraham Lincoln, sob a bandeira do partido Republicano, fortaleceu os laços entre os Estados e modernizou a economia do país. 
   


            Mas isso não quer dizer que os Democratas saíram do cenário político na época. É verdade que os Estados pró-escravidão davam todo o suporte para esse partido (como oposição aos Republicanos), mas a maioria dos seus representantes haviam abandonado a União durante a Guerra Civil ou criado resistência ao conflito. Com isso, em 1874, eles conseguiram forças para ganhar o controle majoritário da Casa dos Representativos, marcando o retorno de um sistema político de igual balanço de poder entre dois partidos principais. Enquanto os Republicanos continuavam reafirmando seu papel como os salvadores dos EUA e responsáveis pela união/fortalecimento do país, os Democratas pregavam a tolerância com os imigrantes, a diversidade religiosa no Norte e uma certa defesa da supremacia branca (em oposição ao apoio dos negros aos Republicanos). Nesse cabo de força político, o poder foi sendo equilibrado entre os dois partidos, com alguns grandes Estados bem divididos pelos ideias Democratas e Republicanos, como Ohio, Indiana e New York, ajudando a manter a estabilidade da corda até o fim desta terceira fase.    

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          A partir desse ponto, vários eventos históricos na política, economia e movimentos sociais foram moldando os dois partidos até o atual cenário, mas mantendo ambos com o controle absoluto do país. Democratas e Republicanos enfrentaram altos e baixos, onde, por exemplo, entre 1890 e 1932 os Republicanos dominaram a política, mas entre 1932 e 1964 os Democratas pegaram carona na Grande Depressão e conseguiram voltar aos trilhos de liderança, alcançando até o apoio de vários eleitores negros que saíam dos Estados do Sul, onde o preconceito racial era forte, e iam para o Norte, onde a tensão racial era menor (apesar dos Democratas ainda continuarem mantendo ideias de supremacia branca). E nesse último ponto, é válido lembrar que o partido Democrata mudou bastante, e hoje não possui mais uma bandeira "branca" como em décadas passadas. Aliás, após 1987, eles se tornaram o maior símbolo de igualdade social do país, sem distinção de cor, religião ou etnia, e ficaram muito fortes em vários Estados do Norte. Bem, e não é preciso dizer que o Obama é um grande símbolo hoje dos Democratas, e manteve-se na presidência dos EUA entre os anos de 2009 e 2016.
 
O elefante e o asno são os símbolos dos Republicanos e Democratas, respectivamente; em anos recentes, o símbolo do asno mudou seu design, para uma imagem onde o animal é representado dando um coice


           Após a consolidação dos dois grandes partidos do país, diversos outros foram surgindo ao longo das décadas. Mas um terceiro partido norte-americano só consegue uma ou duas cadeiras a nível federal, ou um cargo de governador, se conseguirem alguém muito rico para financiar sua própria campanha ou se existir alguma tensão racial envolvida (nos EUA, a divisão entre brancos e negros na sociedade ainda é muito grande, como todos devem saber). Mesmo assim, aqueles eleitos dificilmente conseguirão puxar mais gente do partido por causa da grande pressão que sofrerão dos Republicanos e Democratas.  Assim, na prática, vemos apenas dois partidos comandando as coisas.



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              E um fato engraçado que ocorreu com o Gary Johnson, candidato para o Libertarian nas eleições de 2016, é que em uma entrevista nessa época ao MSNBC, ele foi questionado sobre a situação em Aleppo (cidade na Síria, foco ainda atual dos conflitos/crise no país), e respondeu "O que é Aleppo?" ... O apresentador, espantado, até perguntou se ele estava fazendo alguma piada...(Risos!) E, de novo, para o MSNBC, semanas depois, ele foi questionado sobre qual seria seu líder estrangeiro favorito e não conseguiu lembrar de nenhum! Custou para dizer um depois, Vicente Fox (ex-presidente do México), mas apenas com ajuda. Aí, constrangido, ele retrucou: "Estou tendo um momento Aleppo de novo"...(Risos!) Poxa, aí fica difícil para eles quebrarem as correntes do bipartidarismo norte-americano...

   
  
OBS.: É válido lembrar que o primeiro Presidente dos EUA, George Washington, não possuía partido nenhum. Eleito em 1789, o novo sistema de governo suportou ele de maneira totalmente imparcial.

CURIOSIDADE: É também válido questionar de onde vieram os símbolos dos dois partidos: Elefante (Republicanos) e Asno (Democratas).

Bem, no caso do 'elefante' republicano, este foi primeiro usado em um jornal de Illinois durante a campanha eleitoral do Abraham Lincoln, em 1860. O motivo para se usar o elefante ainda é debatido pelos historiadores, mas é provável que o mesmo objetivasse representar força e imponência. Acabou ficando muito popular através do republicano Thomas Nast (1840-1902, famoso caricaturista e cartunista do século XIX, considerado um dos pais da charge política norte-americana), este o qual desenhou o símbolo em uma revista, em 1874.

Já o 'asno' democrata parece ter surgido na campanha presidencial de 1828, depois do candidato Andrew Jackson ter usado o símbolo em seus pôsteres de campanha - na forma de afronta - após seus oponentes terem lhe dado o apelido ofensivo de 'asno' ('donkey', no inglês). Novamente, quem popularizou o símbolo foi Thomas Nast, com outro dos seus desenhos caricaturados. No final do século XIX, o símbolo do asno acabou se tornando praticamente oficial para os Democratas. 

ATUALIZADO (02/06/17)

Artigo Relacionado: SR-71: O Senhor dos Céus!
  
REFERÊNCIAS
  1. http://origins.osu.edu/article/breaking-hard-do-americas-love-affair-two-party-system/page/0/0
  2. http://press.princeton.edu/chapters/s7876.html
  3. http://www.pbs.org/wned/war-of-1812/essays/british-perspective/
  4. http://www.americaslibrary.gov/jb/civil/jb_civil_subj.html 
  5. http://www.learnnc.org/lp/editions/nchist-newnation/5205
  6. http://www.factcheck.org/2008/01/why-only-two-political-parties/
  7. https://www.washingtonpost.com/news/the-fix/wp/2016/04/27/why-are-there-only-two-parties-in-american-politics/#comments 
  8. http://www.nytimes.com/2016/09/29/us/politics/gary-johnson-aleppo-moment.html?_r=0
  9. http://www.government-and-constitution.org/history-us-political-parties/timeline-us-political-parties.htm 
  10. http://www.bbc.co.uk/newsround/37848449