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Por que as estátuas Europeias antigas possuem pênis "pequenos"?

- Atualizado no dia 16 de novembro de 2023 -

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         Todo mundo repara, todo mundo comenta. As imponentes e belas estátuas europeias de séculos atrás, especialmente as Gregas e Romanas, possuem algo não tão imponente assim entre um dos seus complexos detalhes: um órgão sexual masculino aparentemente diminuto na grande maioria das obras. Mas por que os artistas da época esculpiam um pênis tão "humilde" nas suas esculturas?

           A estátua de David, na foto acima, está localizada na Galleria dell´Accademia, em Florença, Itália, desde 1873 (existe também uma réplica Piazza Della Signoria, local onde a estátua original primeiro foi fixada). Esculpida por Michelangelo entre 1501 e 1504, ela é uma representação da figura bíblica que matou o gigante Golias. A estátua possui uma altura de 5,17 metros, mas ninguém deixa de notar seu humilde pênis. Essa peculiaridade anatômica se estende para outras obras de Michelangelo, incluindo pinturas, como o Nascimento do Homem (Caravaggio), onde as proporções do pênis são anormalmente diminutas.

           Agora, viajando ainda mais fundo no passado, temos a estátua de Laocoõn e seus Filhos, a qual é provavelmente um cópia de um original feito em torno de 200 anos a.C., onde a atual escultura provavelmente foi feita em 40 d.C. Localizada no Museu Pio-Clementino, no Vaticano, ela possui 1,84 metro de altura e também a nossa pequena 'peculiaridade', como pode ser observado na figura abaixo. E isso se estende para diversas outras obras de arte da Antiguidade. 
  
Na primeira foto, à direita, temos a escultura grega ´Laocoõn e seus filhos; na imagem do meio, temos outra escultura grega, A Juventude Vitoriosa; na última, temos mais uma escultura grega, provavelmente a representação de Poseidon ou Zeus; as duas últimas esculturas foram feitas com bronze e todas exibem um pênis "pequeno".


            Segundo a historiadora de arte Ellen Oredson (Ref.1), existem duas principais razões para os pênis nas obras antigas Gregas e Romanas, na maior parte dos casos, terem um pênis aparentemente pequeno. Ora, a primeira explicação mais óbvia é que o órgão sexual masculino está sendo representado em estado flácido, o que normalmente reduz bastante suas dimensões em comparação com um pênis ereto. E o tamanho médio do pênis flácido representado nessas estátuas, apesar de aparentemente pequeno, não fica nem um pouco longe da realidade. Como estamos muito alienados com produções pornográficas onde o tamanho dos pênis dos atores em cena são anormalmente grandes em comparação com a média mundial, e também com as representações artísticas e idealizadas mais modernas que exageram as dimensões do órgão sexual masculino, acabamos desenhando um modelo imaginativo errado de normalidade em relação às dimensões penianas mais comuns.

           Um estudo de revisão sistemática da literatura científica publicado em 2015 (Ref.2) mostrou que a média do pênis flácido entre os homens era de 9,16 (±1,57) cm e a do pênis ereto era de 13,24 (±1,89) cm, com uma circunferência média de 11,66 (±1,10) cm (1). Ou seja, a média da população mundial é notavelmente muito menor do que aquela observada em filmes pornográficos. E considerando que esse tamanho pode chegar a menos de 8 cm na média para o estado flácido, as esculturas antigas nada mais estão fazendo do que retratando a realidade. Para complementar, era comum a prática de banhos públicos entre Romanos, Gregos, e em outras civilizações antigas, já que era mais difícil a ocorrência de locais privados para a limpeza do corpo. Assim, a maior parte das pessoas estavam sempre se vendo nuas, algo que não acontece hoje. Ficava fácil perceber que os pênis grandes não eram nada frequentes e que a maioria dos homens possuíam tamanhos bem mais modestos. Ou seja, os artistas não estavam pintando ou esculpindo pênis 'pequenos' e, sim, pênis flácidos normais.

Representação artística de ruínas usadas na Antiguidade para banhos públicos, nesta pintura feita por Hubert Robert, em 1798.

 

(1) Para mais informações: 

          Já a segunda explicação recai novamente sobre os nossos padrões atuais de beleza quando comparamos com o padrão antigo grego de beleza. Cientificamente, não existe relação entre um melhor prazer oferecido a homens (homossexuais) e a mulheres (heterossexuais), e um grande pênis. Mais uma vez, assumimos isso por causa da alienação pornográfica e/ou padrões modernos de beleza. Naquela época, na Grécia Antiga, vários indícios mostram que um pênis com menores dimensões possuía maior valor de status, inteligência, poder e beleza, e isso entra em consenso com a opinião de vários historiadores. Todas as figuras honrosas e poderosas Gregas, nas obras e literatura, possuíam pênis "pequenos" ou modestos nas representações artísticas (não-enfatização da genitália masculina) - e tipicamente exibindo um corpo atlético. Outro fato suportando essa hipótese era que as poucas esculturas gregas que representavam figuras humanas com enormes pênis eram aquelas ligadas com feiura, luxúria, descontrole, natureza animalesca e tolices (Ref.5).

À direita, a escultura de um Sátiro, e, à esquerda, a escultura de Priapus


          Nos dois exemplos retratados na imagem acima, podemos ver a escultura de um Sátiro e do Deus Grego Priapus. Os Sátiros eram criaturas mitológicas que seguiam Dionísio, Deus do Prazer e do Vinho, ou seja, não eram reais humanos e tendiam para as tolices. Já Priapus era um Deus Grego da Fertilidade, extremamente odiado pelos outros, e amaldiçoado com uma permanente ereção, feiura e mente grosseira. De tão odiado, ele foi até expulso do Monte Olimpo. As esculturas gregas eram todas pensadas em termos simbólicos e cheias de idealismos. Portanto, cada detalhe nas obras seguia os preceitos da época.

          Mas reparem que foi citado apenas os Gregos nessa segunda explicação. Segundo Oredson, os antigos romanos pareciam ter uma ideia mais positiva em relação aos pênis de maiores dimensões, algo até mesmo explorado na excelente série televisiva 'Roma', da HBO. Mas parece que a influência Grega continuou forte sobre a arte Romana, induzindo à escolha dos pênis "pequenos" para as esculturas de personalidades poderosas e heroicas. Isso continuou até depois na Renascença, como o caso já citado das obras de Michelangelo. Mas aqui podemos ter uma exceção interessante. Um estudo de 2005 (Ref.4) sugeriu que a razão específica para o David ter um pênis mais humilde era que o órgão foi encolhido de medo quando o herói se deparou com o imponente gigante Golias. Segundo os autores do estudo, isso entra em acordo com as intenções de Michelangelo em esculpir cada sentimento que tomava David naquele momento, incluindo sintomas de medo e tensão em cada parte do seu corpo - apesar do pênis flácido retratado não ser anormalmente pequeno.

Encolheu de medo?


          No geral, como a cultura clássica Grega influenciou bastante a arte por toda a Europa, não é de se espantar que grande parte das esculturas antigas ganharam o "pequeno" pênis de presente. E é ainda mais irônico quando percebemos que antes ter um pênis grande podia gerar mais constrangimento do que orgulho em certas culturas. 

          Relevante apontar que um estudo de 2022 (Ref.9), analisando alterações no tamanho peniano retratado em pinturas de nu masculino do século XV até o XXI, encontrou uma significativa tendência de aumento do pênis, particularmente a partir do século XX. Até o final do século XIX, variações médias mostraram-se pouco significativas, com pênis de menores dimensões sendo preferidos e espelhando a arte Grega. A partir do século XIX, as dimensões penianas médias aumentaram de ~20% até quase 60% em relação ao período prévio analisado. Fatores sócioculturais associados com essa súbita variação da percepção do pênis humano nas pinturas são incertos. Exposição de nova mídia no século XX ao público explorando a associação entre tamanho peniano e masculinidade, especialmente nas produções pornográficas e eventual amplo acesso desse conteúdo via internet, pode ter atuado de forma importante nessa mudança de percepção, segundo sugeriu os autores do estudo.

Homem Vitruviano, famoso desenho de autoria do pintor Leonardo da Vinci, produzido no ano de 1490 e retratando a geometria das proporções corporais ideais (na visão do artista Renascentista).


             

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REFERÊNCIAS
  1. http://www.howtotalkaboutarthistory.com/reader-questions/why-do-all-old-statues-have-such-small-penises/
  2. http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/bju.13010/full
  3. http://www.arch.mcgill.ca/prof/sijpkes/aaresearch-2012/in-extremis-file/Roman-Baths-origin.pdf 
  4. http://www.theage.com.au/news/Arts/Shrunken-vision/2005/01/22/1106334263269.html
  5. Reid, H. (2012). Athletic Beauty in Classical Greece: A Philosophical View. Journal of the Philosophy of Sport, 39(2), 281–297. https://doi.org/10.1080/00948705.2012.725900 
  6. Sátiros
  7. Esculturas Gregas
  8. Arte Romana
  9. Serefoglu et al. (2022). Depictions of penises in historical paintings reflect changing perceptions of the ideal penis size. BJU Internacional, Volume 131, Issue 5, Pages 581-587. https://doi.org/10.1111/bju.15926