YouTube

Artigos Recentes

Qual seria a ciência ecológica por trás dos Pokémon?



        O Pokemon Go, aplicativo para smartphones lançado recentemente pela Nintendo, foi um grande sucesso cultural e de vendas - pelo menos no início de lançamento. Mesmo só sendo liberado, inicialmente, nos EUA, Reino Unido e Austrália, em poucos dias já possuía mais usuários do que o Twitter e fez o valor da Nitendo subir quase 25%, segundo algumas estimativas. Basicamente, os jogadores do Pokemon Go saem pelas ruas capturando pokémon, e outros itens do universo do anime, que surgem na tela do smartphone, guiados pelo sistema de GPS. Em outras palavras, cada usuário do aplicativo se transforma em uma espécie de 'treinador pokémon'. Mas, aproveitando a temática do jogo, como seria imaginar reais pokémons na natureza em um contexto ecológico? Seria possível fazer isso ou os japoneses viajaram muito ao criar essas criaturas animadas? Claro, o que eu farei aqui é apenas uma associação científica, não uma tentativa de transformar os pokémon em algo plausível (Risos).

- Continua após o anúncio -



        Apesar do anime chamar o processo de transformação dos pokémons de 'evolução', o termo correto próximo de ser aplicado seria 'metamorfose', ou seja, quando um animal sofre profundas transformações em seu corpo durante o seu desenvolvimento. Animais como a borboleta passam pelo o que é chamado de completa metamorfose, onde após o estado de lagarta e casulo, modificam totalmente seu corpo, comportamento e hábitos alimentares. Já animais como os gafanhotos também passam por uma metamorfose, porém ela é gradual e menos notável, onde esse inseto sai do ovo muito parecido com a fase adulta mas passando por várias mudas (troca de exoesqueleto). E existe a metamorfose incompleta, onde os jovens (ninfas) são um tanto diferente dos adultos, e também passam por mudas, como a libélula. Alguns cientistas gostam de usar apenas as classificações 'completa' e 'incompleta'. Além dos insetos, outros grupos de animais também passam por essas incríveis transformações, incluindo anfíbios, peixes e crustáceos.
  
          Até hoje, é ainda pouco compreendido como, o porquê e quando surgiu a metamorfose na natureza, mas existem algumas hipóteses. Estudos recentes mostram que a metamorfose completa nos insetos surgiu há cerca de 344 milhões de anos. Provavelmente, durante o desenvolvimento nos ovos, animais começaram a sair deles cedo demais por causa de alguma falha genética e começaram a se alimentar do conteúdo nutritivo do ovo do lado de fora. Com o tempo, eles foram se especializando em outros alimentos e começaram a finalizar a parte inicial do seu desenvolvimento fora do ovo. O sentido de evolução deve ter seguido uma gradual, incompleta e completa metamorfose. Mas por que a evolução favoreceu a metamorfose, especialmente a completa? Bem, a hipótese mais aceita propõe que como na metamorfose os jovens que saem dos ovos possuem uma alimentação diferente dos adultos, isso evita competição por recursos entre os dois e permite a coexistência de uma número enorme de indivíduos. Além disso, a diversidade maior de alimentos permite um maior aproveitamento exploratório do ambiente ao redor. Uma lagarta come folhas, enquanto uma borboleta se alimenta de néctar das flores, aumentando a gama de recursos e habitat para a espécie. No caso dos anfíbios, o habitat quase até muda completamente. E a metamorfose completa faz tanto sucesso que acima de 60% de todos os animais no planeta se desenvolvem por esse processo!

Girinos e sapos no seu ciclo de metamorfose

            E aqui entramos com os Pokémon. No anime, raramente é mencionado que existem outros animais no seu universo, mas fica inferido que sim. Portanto, podemos considerar que os pokémon, naquele mundo, fazem parte de uma classe de animais. Ou seja, eles não seriam insetos, mamíferos, répteis ou qualquer outro grupo do tipo (estes os quais existiriam em menor proporção no planeta, com exceção dos humanos), eles seriam 'pokémon'. Bem, você pode dizer que eles são muito diferentes entre si para serem de uma mesma classe, mas podemos, com um certo exagero, provar que isso acontece no nosso mundo. Por exemplo, entre os mamíferos, temos baleias, ornitorrincos, morcegos, humanos e ratos, todos muito diferentes entre si mas todos pertencendo à classe dos mamíferos por terem características únicas compartilhadas entre eles, como as glândulas mamárias e neocórtex. Entre os répteis, podemos nos lembrar que os dinossauros, tartarugas e lagartos estão todos na mesma categoria, todos bem diferentes uns dos outros, além de muitos especialistas considerarem as aves como sendo também répteis (1). Os pokémon, fazendo vista grossa para a semelhança físicas deles com certos animais de outras classes (o Ratata, por exemplo, muito parecido com um rato, e o Pidgey com um pássaro), todos eles parecem compartilhar a capacidade de "metamorfose optativa", algo, definitivamente, diferencial.



          Bem, mas aí você viria falar que certos pokémon não possuem metamorfose, como o Snorlax e o Lapras. Mas pode ser que essa metamorfose apenas não foi observada na natureza! Além disso, um mamífero pode ser caracterizado por mais de uma característica fisiológica, não apenas a existência de glândulas mamárias. O Snorlax, por exemplo, mesmo parecendo um urso escroto, veio de um ovo e pode ter alguma outra característica comum da classe pokémon. Nesse ponto, também, você deve estar querendo mencionar a existência dos 'poderes' para criar outro difrencial. Mas isso é relativo. O nosso peixe-elétrico, por exemplo, produz eletricidade, certas bactérias possuem formatos que induzem a formação de cristais de gelo em sua superfície (2), diversos animais produzem veneno, o camaleão muda de cor, o polvo esguicha uma tinta na água para confundir o inimigo, etc. Não chamamos isso de 'poder' porque conseguimos explicá-los cientificamente. Ora, na ciência desenvolvida no mundo pokémon, pode existir uma explicação científica para os poderes de vários desses animais. Bem, eles conseguiram criar a pokébola, os caras são fodas (Risos). 



          Agora vamos mostrar o porquê da existência dessa metamorfose especial nos pokémon e o porquê deles terem tido tão sucesso na natureza, a ponto de dominarem o planeta junto com os humanos (no melhor estilo 'dinossauros'). Assim como os animais "normais", podemos dividir a metamorfose entre os pokémos como incompleta e completa. Incompleta, teríamos o Pikachu indo para Raichu, por exemplo. Já a completa teríamos o Exeggcute indo para o Exeggutor. Entre os insetos, por exemplo, a metamorfose não serve para deixar os animais mais fortes e com novos 'poderes'. Se fosse, eles nasceriam como miniaturas dos pais, como ocorre com diversos outros animais. A explicação mais provável, e já dita anteriormente, é impedir a competição por recursos entre adultos e jovens. Já os pokémon (3) só passam por metamorfose quando sofrem desgaste e intenso esforço, algo artificialmente explorado pelos treinadores pokémon para forçarem eles a se transformarem. Ora, aqui fica o mesmo questionamento da borboleta: por que as borboletas já não nascem mini-borboletas? A explicação foi dada. Com os pokémon, algo do tipo pode ocorrer. O Charizard é um mega pokémon, com várias características e habilidades superiores ao charmander, seu primeiro estágio. Não seria melhor nascer um mini Charizard, e este ir ganhando massa e maturidade com o tempo (4)? Por que existem apenas alguns raros Charizards e uma porrada de Charmanders? Aqui que vem o bacana!


- Continua após o anúncio -



         Antes de mais nada, vamos explicar a vantagem dessa aqui definida como 'metamorfose optativa por esforço´. Bem, caso uma população de pokémon seja atingida por algum evento natural (terremotos, vulcões, mudanças climáticas abruptas, etc.) ou pelo ataque de outros animais (incluindo outros pokémon e doenças parasitárias), o esforço pela sobrevivência naquele período (esqueçam evolução natural aqui, isso é uma metamorfose!) promoveria a transformação para outro animal, dando maior força e diversas outras vantagens para enfrentar tais ameaças, ou seja, uma medida de desespero para proteger o maior número possível de indivíduos e, em último caso, uma chance dessas formas mais fortes de continuarem a linha reprodutiva (ou não, como explicarei mais adiante). Se fizermos uma análise rápida entre os 151 pokémon originais, veremos que existe um aumento de massa expressivo à medida que esses seres vão sofrendo metamorfose. Considerando também que praticamente todos os pokémon possuem os dois sexos em todos os estágios, assumiremos quatro possíveis limitações que explicariam a razão da metamorfose por esforço e porquê a abundância absoluta dos primeiros estágios dentro da população desses animais:

1. Por causa da maior massa dos estágios mais avançados da metamorfose, manter esses pokémons mais poderosos acarretaria em um gigantesco custo adicional para a natureza. A alimentação  aumentaria bastante, o que poderia restringir perigosamente os recursos para a sustentação da população de uma espécie. Algo semelhante ocorreu com os dinossauros após a queda do asteroide e (talvez) do complexo de vulcões no Deccan Trap, Índia. Com menos radiação solar tapada pela poeira levantada no impacto e por causa da grande mudança climática causada pelos vulcões e pelo impacto, plantas começaram a morrer aos montes, deixando os grandes dinossauros, literalmente, passando fome. Por isso, no meio terrestre, os pequenos animais acabaram emergindo das cinzas, como os nossos pequenos mamíferos antepassados. Ter um pequeno Bulbasaur como maioria absoluta dentro da população da sua espécie seria melhor do que ter gigantescos Venusaurs como maioria, estes só sendo necessários em momentos de desespero a partir da metamorfose de um ou outro Bulbasaur dentro de uma população. Podemos também associar essa lógica com a nossa musculatura esquelética: ela só cresce caso exista um contínuo esforço físico para tal. Em condições normais, temos o mínimo possível dela, já que a mesma requer bastante energia (calorias) para se manter, algo nada econômico para o corpo se pensarmos em humanos inseridos no ambiente selvagem (nossos antepassados, por exemplo).

2. Pokémons frutos de metamorfose poderiam ganhar inúmeras vantagens e novos "poderes", mas poderiam perder várias características adaptativas ao ambiente. Enquanto alguns pokémon ganhariam mais força para enfrentar um perigo específico do seu habitat (por exemplo, vivem em uma ilha onde de tempos em tempos, vulcões entram em atividade), outro problema menor nesse habitat poderia impedir que aquela forma fosse a mais favorecida pelo ambiente (por ela ser vulnerável ao ataque de um certo parasita comum na região, por exemplo). Outra situação que pode ser citada é a mudança alimentar. O Bellsprout possui o Victreebel como último estágio de metamorfose. O primeiro se alimenta de nutrientes absorvidos do solo, enquanto o segundo é carnívoro. Caso não existam muitas presas ao redor, ou essas sejam difíceis de serem pegas, o Victreebel enfrentará sérios problemas. Já o Bellsprout encontraria farta alimentação por todo lugar, por apenas absorver os nutrientes de que precisa do solo.


3. As formas metamorfoseadas podem ser mais propensas a adquirem doenças como o câncer ou do tipo autoimune com o passar do tempo;

4. Pode existir um comprometimento da capacidade reprodutiva dos pokémon durante a metamorfose. Por exemplo, o Golbat pode ter um sistema reprodutor mais fraco do que o Zubat. Ou, no pior cenário possível, pode ocorrer uma esterilidade, fazendo com que essa forma metamorfoseada cumprisse apenas o papel de proteger o maior número possível de zubats de alguma ameaça.


- Continua após o anúncio -



          É curioso também observar a existência de três metamorfoses em alguns deles. Pode ser que, no início da linha evolucionária, o Squirtle passasse diretamente para o Blastoise, por exemplo, mas a ocorrência de uma forma intermediária, o Wartortle, pode ter trago grandes vantagens. Primeiro porque problemas menores poderiam ser resolvidos com menor força, habilidades e, especialmente, massa, fazendo com que mais Wartortles pudessem ser criados sem comprometer os recursos do ambiente. Pode ser também que o Blastoise seja parcialmente estéril e o Wartortle não, com este último, então, permitindo a criação de menos Blastoises que afetariam negativamente a natalidade. O Magikarp passa direto para o estágio do gigantesco Gyarados, algo extremamente desvantajoso a longo prazo. Provavelmente deve ser muito raro um Magikarp passar pela metamorfose, indicando que esta espécie é muito bem adaptada às adversidades do seu meio. Caso contrário, durante o curso evolucionário desse animal seria grande as chances de uma forma intermediária surgir. Ou poderíamos pensar, também, que um Gyarados já daria conta de proteger uma grande quantidade de Magikarp, não existindo a necessidade de muitos deles passarem pela metamorfose em alguns casos específicos, como proteção contra predadores. Em várias outras situações, os Gyarados poderiam ser uma tremenda desvantagem.



          Nesse ponto, vale citar três exemplos bacanas entre os 151 pokémon (a expansão para não sei quantos deles atualmente não é problema meu...(Risos)). O Dragonair é um dos exemplos mais significativos da metamorfose pokémon, já que o seu último estágio, o Dragonite, passa completamente do meio aquático para o terrestre, mudando radicalmente seu nicho ecológico. Isso seria uma arma violenta de adaptação às adversidades do meio. No segundo exemplo, o Nidoran macho e o Nidoran fêmea são outros dois grandes casos de adaptação, onde cada um dos gêneros possuem uma metamorfose diferenciada. A fêmea vai para Nidorina e Nidoqueen. O macho vai para Nidorino e Nidoking. Assim, o espectro de habilidades adaptativas frente às adversidades aumentam bastante. Mas um grande custo evolucionário seria cobrado por essa grande adaptação. Se mais da linhagem de metamorfose do macho sobrevivesse depois de algum evento destrutivo dentro da população desses animais, seria difícil a reprodução, ficando grande as chances de extinção caso as fêmeas ficassem em um número muito limitado. E, no terceiro exemplo, teríamos o Eevee, pokémon que seguiria a tendência de ambos os exemplos acima. O Eevee consegue se transformar em uma das três opções: Flareon, Jolteon e Vaporeon, com este último tendo um habitat totalmente diferente (aquático). E, além disso, seria uma excelente forma de enfrentar predadores ou espécies rivais de outros tipos elementais, considerando aquelas regras de vantagem.

             Concluindo, a metamorfose por esforço, desenvolvida pela classe dos pokémon, seria um grande fator de adaptação ao meio ambiente e suas adversidades, explicando a grande prevalência desses seres no planeta. Como os humanos ainda dominam o mundo nesse universo do anime, podemos inferir que parte do curso evolucionário de ambas as espécies, no mínimo, foram paralelas e sincronizadas. As atuais formas dos pokémon deve ser algo recente em termos geológicos, ou, provavelmente, não existiríamos.  Claro, nesse ponto podemos também abrir um pouco da nossa suspensão de descrença (só neste?...(Risos)). É válido também lembrar que, jogando nossas regras sociais nesse mundo povoado por pokémon, com certeza existiriam vários movimentos contra o uso desses animais em batalhas. Sim, porque o que estaríamos fazendo com eles seria uma verdadeira 'rinha de galo'!. Um tremendo absurdo se formos parar para pensar por um segundo. Aliás, prender os pokémon em pokébolas seria ainda mais escroto, privando-os do seu habitat natural, acabando com o seu nicho ecológico e desequilibrando o ecossistema. Portanto, quando avistar essas fantásticas criaturas com o seu Pokemon Go, apenas admire elas na tela do celular, deixando-as viverem felizes e livres na natureza...(Risos).

          Tá, tá, ok... Para essa minha lógica ecológica toda dos pokémon fazer algum sentido, o Mewtwo tinha que ser um alienígena enviado para a dominação da Terra e o Meowth da Equipe Rocket seria um pokémon tocado pelo demônio...


(1) Escrevi um pouco sobre isso neste artigo: Dinossauros eram lagartos gigantes?

(2) Os cristais e a solidificação da água

(3) O Butterfree, por exemplo, parece ser uma exceção de metamorfose provinda de um esforço imposto pelo meio, já que a Cartepie passa para o estágio de Metapod de forma relativamente espontânea. Bem, cada classe de seres vivos tem o ornitorrinco que merece...:D       

(4) Esse ganho de massa inexplicado é o mesmo problema que atinge os super-heróis e personagens afins. Estilo Hulk, os pokémons ganham massa do nada para a metamorfose. Assim como eu criei uma explicação pseudo-científica (MUITO pseudo...) para o Hulk (Como o ganho de massa do Hulk pode ser explicado?) poderíamos ter os pokémons utilizando esse mesmo ´atalho´ para o aumento de massa, sem envolver o ambiente físico visível ao seu redor, especialmente quando observamos que o evento da metamorfose pokémon envolve aquela misteriosa luz...:D

Ah! E nesse exercício de tentar trazer os Pokémons para a realidade, no site DevianArt, existe uma coleção de imagens artísticas retratando esses seres da forma mais "realista" possível. Dê uma olhada nesse pôster sensacional reconstruindo realisticamente os pokémons da primeira fase do anime:

   
  Artigo relacionado: Qual é a real teoria da evolução biológica?

                                                         Vídeo Recomendado: 

          

REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. http://www.scientificamerican.com/article/insect-metamorphosis-evolution/
  2. https://www.uky.edu/Ag/Entomology/ythfacts/4h/unit2/metavari.htm
  3. http://www.amnh.org/learn/biodiversity_counts/ident_help/Parts_Arthropods/metamorphosis.htm
  4. http://www.uky.edu/hort/butterflies/all-about-butterflies
  5.  http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/een.12313/full
  6. https://bmcdevbiol.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12861-016-0115-z
  7. http://journals.plos.org/plospathogens/article?id=10.1371/journal.ppat.1005246