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Evite usar e ter em casa termômetros de mercúrio


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         O mercúrio (Hg) é um metal pesado (1) bastante tóxico para os seres vivos em geral. No ser humano, sua toxicidade atinge um alto nível, e não existe quantidade segura de exposição. A absorção pelo sangue de mercúrio no nosso corpo causa problemas graves no sistema nervoso, pulmão e rins. Crianças pequenas são especialmente sensíveis à ação desse metal, por causa do cérebro ainda estar em desenvolvimento. Portanto, torna-se urgente medidas que dificultem o contato das pessoas com o mercúrio, e uma das mais fáceis de serem colocadas em prática é evitar a aquisição e manutenção de termômetros feitos com esse metal.

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        Na forma pura do elemento mercúrio (metal líquido a temperatura ambiente), sua passagem através do trato digestório ou contato com a pele leva muito pouco desse metal para a corrente sanguínea. Sua absorção pelo trato intestinal e pela pele é muito ineficiente (mas não deixa de ser nocivo em ambos os casos). Quando o mercúrio está na forma de vapor e é aspirado pelo pulmão, grande parte dele é absorvida pela corrente sanguínea (70-80%) e oxidada no corpo (Hg2+), sendo o íon mercúrio provavelmente o principal agente de dano no organismo. O estado gasoso do mercúrio é extremamente tóxico, mas as formas organometálicas solúveis são ainda mais perigosas! Na forma de compostos organometálicos (2), o mercúrio é prontamente absorvido pela pele e no sistema digestivo (95% de absorção), acumulando-se no corpo. Esse metal se transforma em um composto organometálico quando reage com substâncias orgânicas no ambiente e por isso ele é tão perigoso quando presente em alimentos diversos, no solo e em sistemas aquáticos como contaminante.  O mercúrio também pode ser encontrado na forma inorgânica (sais de mercúrio) quando reage com ânions não-orgânicos ou quando entra pelo sistema digestivo na forma de metal. A forma inorgânica é também bastante tóxica, mas bem menos do que o mercúrio gasoso ou orgânico.

        Existem quatro meios mais comuns de exposição da população ao mercúrio:

1. Alimentos contaminados, principalmente os de procedência marinha. No meio da cadeia alimentar, o mercúrio acaba reagindo por intermédio de bactérias e ficando na forma de compostos organometálicos, especialmente aqueles contendo o cátion metil-mercúrio (H3C-Hg+). Como vai se acumulando no organismo, se o ambiente estiver com alta concentração de mercúrio, o corpo dos animais ao redor fica com uma concentração ainda maior. Peixes no alto nível da cadeia alimentar costumam acumular bastante desse elemento no corpo, como tubarões e atuns. Por isso é preciso sempre verificar a fonte dos pescados antes de consumi-los e garantir que o governo esteja fiscalizando a poluição produzida por indústrias em áreas costeiras e/ou o destino dos seus dejetos. Garimpos perto de rios também precisam ser vigiados;

Garimpeiro usando mercúrio
2. Trabalhadores de garimpo costumam utilizar o mercúrio para separar o ouro do cascalho através da formação de amálgamas (ligas entre o mercúrio e outro metal). Para retirar o ouro puro, a amálgama é aquecida, fazendo com que o mercúrio evapore e deixe para trás o metal precioso. Esses vapores normalmente são aspirados pelos garimpeiros e pessoas nas proximidades. Apesar de ter sido uma prática comum no passado, hoje ela é drasticamente menos utilizada e ilegal por causa dos inúmeros problemas de saúde e mortes consequentes;

3. Indústrias que queimam carvão mineral produzem poluentes com alta quantidade de mercúrio, principalmente usinas de energia. As áreas em volta estão em alto risco de contaminação;

4. Até alguns anos atrás, os termômetros de mercúrio eram instrumentos mais do que comuns em todas as casas. Depois que as versões digitais se popularizaram, esses modelos mais antigos e perigosos foram sendo deixados de lado. Aliás, termômetros de mercúrio comerciais para uso doméstico - criados em 1714 pelo Físico Daniel Gabriel Fahrenheit - são geralmente menos acurados do que os termômetros digitais alternativos. Além disso, os termômetros digitais são bem mais fáceis de serem lidos. Porém, diversas pessoas ainda o utilizam os termômetros tradicionais e diversos lares ainda possuem um desses, guardado ou abandonado em alguma gaveta.

          Citando finalmente o termômetro, o perigo do mercúrio dentro desses dispositivos é a facilidade do instrumento quebrar ao cair no chão e liberar o metal líquido. Isso era bastante comum de acontecer e considerado um incidente normal e rotineiro até a década de 1990 e início da década de 2000, onde crianças ficavam até brincando com as bolinhas do metal que ficavam espalhadas no chão. Não é preciso dizer o quanto isso é perigoso! Por causa da alta volatilidade do mercúrio (vaporiza muito facilmente, mesmo à temperatura ambiente) vapores do elemento começam a ser formados no momento em que ele é liberado de dentro do vidro do termômetro. Se a área estiver quente ou sob aquecimento, ainda mais vapor é criado. Se o local for fechado e pequeno, o perigo aumenta ainda mais. E o pior é não se perceber que houve o derramamento de mercúrio no local e, se for um quarto de dormir, as pessoas ali podem ficar dias respirando os vapores sendo produzidos. Somando-se a isso, como esse metal é bastante denso, muito vapor é produzido mesmo em pequenas quantidades liquefeitas.

          O vapor de mercúrio não possui cheiro ou cor, ficando impossível notá-lo. Além disso, o vapor gerado é bem mais denso do que o ar atmosférico, tendendo a ficar concentrado na região a partir de onde está sendo produzido. Para evitar que acidentes ocorram e ameacem o bem estar do seu lar, se livre dos aparelhos de termômetro que usem mercúrio e evitem sua compra. Mas sempre descarte instrumentos contendo mercúrio em locais apropriados da sua cidade (unidades de saúde ou o corpo de bombeiros), para não poluir o meio ambiente. Caso mercúrio seja derramado na sua casa, seja de qual fonte for...

1... Abra todas as janelas e portas do local, para deixar o vapor formado ser dispersado com maior facilidade;

2. Desligue qualquer sistema de aquecimento no local;

3. Retire crianças e animais do local;

4. Tente não pisar em cima do mercúrio derramado para não espalhá-lo pela casa;

As partículas de mercúrio podem, facilmente, se espalhar pela casa

5. Use luvas e utilize papel para limpar o mercúrio no chão, descartando tudo em uma sacola plástica que deverá ser encaminhada para uma unidade apropriada em sua cidade. Tenha certeza que nenhum resquício do metal permaneceu no chão ou entrou em algum lugar mais escondido no cômodo (rachaduras, buracos, debaixo de móveis, etc.);

6. Caso o mercúrio tenha sido derramado em roupas e caçados, coloque tudo em uma sacola plástica lacrada e encaminhe para uma unidade de saúde fazer a limpeza devida ou descarte. Caso tenha caído na pele, limpe o máximo possível com um papel toalha, esfregando a área depois com bucha e sabão.

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          Os sintomas da contaminação com mercúrio são muitos, incluindo irritação nos olhos, dores de cabeça, problemas de visão, gosto metálico na boca, diarreias, dores no peito, anorexia, ansiedade, irritabilidade, tremores, problemas auditivos, perda de apetite, entre outros. Grávidas e lactantes devem tomar muito cuidado, porque o mercúrio no sangue pode passar para o feto pela placenta e para o bebê pelo leite materno. O mercúrio, quando presente no sangue e interior celular não sai fácil do corpo e passa a ser acumulado com o tempo, gerando efeitos cada vez piores. Caso você desconfie que esteja contaminado com mercúrio ou outros metais pesados, como o chumbo, corra para o hospital para receber o devido tratamento, o qual envolve, na maioria das vezes, agentes quelantes (substâncias que complexam com esses metais).

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ATUALIZAÇÃO (07/02/20): Além de estar associado com uma maior incidência ou mortalidade de cânceres de pulmão e de cérebro, maiores níveis de mercúrio no sangue estão fortemente associados com um robusto maior risco de câncer de pele não-melanoma, o mais comum tumor maligno humano (Ref.9).
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(1) Metais são classificados como 'pesados' quando possuem um núcleo atômico com grande massa nuclear (prótons e nêutrons), como o ouro, cobre, ferro, manganês, chumbo, mercúrio, platina, entre outros. Nem todos os metais pesados são tóxicos, e alguns são até bons para a saúde em pequenas quantidades, como o ferro.


Artigo relacionado: Proteja o seu filho do chumbo!

Artigo complementar: As amálgamas nas obturações são seguras? 


OBS.: Barômetros e termostatos também contém mercúrio em sua composição, sendo preciso ter cuidado com eles. Lâmpadas fluorescentes também contém pequenas quantidades de vapor de mercúrio em seu interior ( depois faço um texto explicando o funcionamento dessas lâmpadas), e, por isso, deveriam ser também descartadas em locais próprios e manuseadas com cuidado.


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. https://www.epa.gov/mercury
  2. http://www.atsdr.cdc.gov/mercury/docs/residential_hg_spill_cleanup.pdf
  3. http://www.nist.gov/pml/mercury.cfm
  4. http://www.atsdr.cdc.gov/mercury/docs/healtheffectsmercury.pdf 
  5. https://www.cdc.gov/biomonitoring/Mercury_FactSheet.html
  6. https://www.nist.gov/pml/mercury-thermometer-alternatives
  7. https://www.epa.gov/mercury/mercury-thermometers
  8. https://www.fda.gov/downloads/MedicalDevices/ProductsandMedicalProcedures/DentalProducts/DentalAmalgam/UCM174024.pdf
  9. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/bjd.18797