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Quais os benefícios terapêuticos da Castanha-da-Índia?


- Artigo atualizado no dia 17 de dezembro de 2019 -

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         As sementes da castanha-da-índia (Aesculus hippocastanum) são usadas para o preparo de extratos e pós, os quais são vendidos em cápsulas ou como suplementos. São dados vários poderes medicinais aos derivados dessa semente, como propriedades anti-inflamatórias, emagrecedoras, antioxidativas e venotônicas. Mas o quanto disso é verdade?

         Analisando artigos científicos de revisão e trabalhos isolados de relevância, o poder de emagrecimento dessas sementes é inexistente, como esperado, e existem fracas evidências de propriedades anti-inflamatórias e anticancerígenas. No caso das propriedades antioxidativas, grande parte dos alimentos de origem vegetal (frutas, verduras, sementes, legumes, cereais, etc.) possuem bastante antioxidantes, não sendo necessário recorrer exclusivamente ao extrato de castanha-da-índia para isso. Por outro lado, existem fortes evidências da ação do seu extrato no tratamento da Insuficiência Venosa Crônica (IVC), esta a qual gera, como principal resultado, as famosas varizes. Apesar de existirem outros métodos com mesma, ou melhor, eficácia e tratamentos cirúrgicos, o extrato dessas sementes mostra resultados positivos na amenização e prevenção de varizes e afins.     
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   IVC E A CASTANHA-DA-ÍNDIA

         A IVC é uma condição médica caracterizada pela fraqueza das veias em bombear os sangue de volta para o coração e afeta, principalmente, as regiões da perna. Por causa o influxo sanguíneo devido ao mal funcionamento da veia, esta sofre inchaços e deformações, gerando diversos problemas, incluindo as varizes. Entre outros sintomas, podemos citar o escurecimento, descamação  ou endurecimento da pele sobre as veias afetadas. O quadro, como é crônico, costuma ir evoluindo com o tempo, onde entre 3 e 11% dos pacientes podem chegar em estágios mais avançados da doença, apresentando, por exemplo, a abertura espontânea de feridas na pele que podem demorar anos para cicatrizarem. Afetando bem mais as mulheres (20 a 33%) do que homens (10 a 20%), ainda não se sabe muito bem os mecanismos de desenvolvimento do IVC, porém algumas causas são conhecidas:

1. Genética: se sua família possui histórico de pessoas com a doença, é grande as chances de você desenvovê-la;

2. Obesidade: problemas circulatórios gerados pelo excesso de peso (gordura corporal) podem facilitar o mal funcionamento das veias;

3. Sedentarismo: não se exercitar o mínimo aumenta bastante as chances de surgir um IVC, principalmente porque o músculo da batata da perna fica fraco e deixa de dar uma boa ajuda no bombeamento sanguíneo (sim, os músculo da batata da perna ajudam a bombear o sangue de volta para o músculo cardíaco e por isso muitos o chamam de ´segundo coração´; por isso estar sempre relaxando e contraindo ele - ato de andar/correr, musculação, etc. - ajuda a melhorar a circulação sanguínea);

4. Múltiplas gestações: alterações hormonais e ganho de bastante peso durante a gestação geram danos na veias da perna, contribuindo para o surgimento das varizes. Porém, nesse caso, essas ´varizes gestacionais´ costumam desaparecer espontaneamente após o parto.

5. Síndrome de May-Thurner, Trombose Venosa Profunda, Trombofilia, e doenças afins: todas essas condições provocam o surgimento de coágulos sanguíneos (entupimento das veias causada pelo acúmulo de compostos orgânicos entre as paredes dos vasos). Esses coágulos dificultam a circulação sanguínea e favorecem o mal funcionamento das veias afetadas.

          Existem vários tratamentos para o IVC, incluindo métodos definitivos e de manejamento/preventivo. O primeiro é alcançado modificando a estrutura das veias afetadas, através de operações cirúrgicas diversas. O segundo ajuda a prevenir e amenizar os sintomas já existentes, através de massagens linfáticas, meias de compressão, medicamentos de hipertensão, lubrificação cutânea, entre outros. Outro modo de prevenção é realizar exercícios físicos, especialmente voltados para a perna, ou, pelo menos, se movimentar mais no seu dia-a-dia. Elevar as pernas até a altura do coração durante um tempo e de forma ocasional durante o dia também pode ajudar a prevenir mais veias de serem afetadas pelo problema, caso você o tenha.

           Bem, e nesse espectro de tratamentos, o extrato da castanha-da-índia atuaria também no papel de manejamento e prevenção do IVC. O principal componente ativo desse extrato é uma mistura de sapominas (substâncias orgânicas) denominada aescina. Essa mistura bioativa atuaria na recuperação da saúde das veias, por mecanismos não totalmente esclarecidos. Porém, é válido ressaltar que os efeitos a longo prazo ainda não possuem comprovação científica conclusiva de eficácia. E quando vemos todas as outras possibilidades de tratamento, é difícil saber se o extrato dessa semente realmente vale a pena. De qualquer forma, o seu uso é seguro e pode até valer a pena quando o preço é comparado com outros tratamentos. É válido lembrar também que alguns artigos científicos clínicos não encontraram muita diferença entre placebo e o uso desses extratos para vários casos da doença.

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> Evidências mais recentes e limitadas sugerem que o extrato de A. hippocastanum L. possui atividades anti-viral, virucidal e imunomodulatória in vitro, e, em específico, atividade anti-viral contra o vírus sincitial respiratório (RSV) - uma das principais causas de doenças no trato respiratório inferior e bronquiolite em crianças ao redor do mundo - demonstrada in vivo (Ref.9). Evidências também muito limitadas e recentes sugerem que em combinação com glucocorticoides, as reportadas propriedades anti-inflamatórias da escina parecem diminuir a necessidade de doses maiores desses medicamentos para o tratamento de artrite reumatoide (Ref.10), reduzindo o impacto dos efeitos colaterais associados.
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   CONCLUSÃO

          O extrato da semente da castanha-da-índia parece ter efeito significativo apenas no tratamento do IVC, mas somente no manejamento e prevenção. Quando os sintomas já estão instalados, como as varizes, apenas métodos cirúrgicos realmente dão um resultado de 'limpeza' definitiva (porém, não preventivos, podendo outras surgirem se cuidados não forem tomados), exceto, talvez, quando o problema ocorre devido à gravidez. Outros efeitos terapêuticos atribuídos a essa semente são apenas extrapolações cientificamente pouco embasadas ou mesmo achismo visando o lucro. Quanto ao emagrecimento, esqueça (1).

          E, para fechar, não vá direto comprando a castanha-da-índia para tratar as varizes. Busque o conselho de um profissional de saúde especializado na área, para adequar o melhor tratamento para você. A simples prática de mais exercícios físicos pode ser uma melhor solução para o seu problema, ou o médico pode acabar detectando problemas circulatórios mais graves em seu corpo (sendo as varizes um sinal deles), dando tempo para tratamentos específicos sejam realizados desde o início e aumentando as chances de um bom prognóstico.

(1) Lembrem-se: tudo tende a ser usado como produto de emagrecimento, porque isso gera venda. E, na maioria absoluta dos casos, as promessas acabam ficando apenas nas promessas. Emagrecimento é reeducação alimentar, podendo ser auxiliada com atividades físicas. Não existem pílulas ou programas mágicos.

AVISO: É preciso tomar cuidado com os extratos sendo comprados porque estudos já mostraram que algumas marcas no mercado não entregam a quantidade mínima de aescina. Bem, os benefícios terapêuticos do extrato dessa semente já não são lá essas coisas, imagina se o produto vier com pouco do seu principal princípio ativo. (Ref.7)

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REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0102695X15001003
  2. http://www.cochrane.org/CD003230/PVD_horse-chestnut-seed-extract-for-long-term-or-chronic-venous-insufficiency
  3. https://www.thieme-connect.com/products/ejournals/abstract/10.1055/s-0034-1394654
  4. http://europepmc.org/abstract/med/25839871
  5. http://agriculturejournals.cz/publicFiles/104155.pdf
  6. http://sbacvsp.com.br/index.php/homepage/doencas-vasculares/170-insuficiencia-venosa-cronica-varizes-dos-membros-inferiores.html
  7. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-695X2006000200016
  8. Raetz, Jaqueline; Wilson, Megan; Collins, Kimberly; Raetz, Jaqueline MD; Varicose Veins: Diagnosis and Treatment; American Family Physician . 6/1/2019, Vol. 99 Issue 11, p682-688. 7p.
  9. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0166354218306387
  10. https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fphar.2019.00280/full