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Mitos sobre o combate à dengue



           A Dengue sempre foi e continua sendo um problema sério no país. Agora, o seu mosquito transmissor, além da dengue, pode transmitir também o Zika vírus e a Febre Chikungunya, onde o primeiro está relacionado ( mas ainda não completamente provado) com o aumento do número de casos de microcefalia em recém-nascidos. Portanto, combater o mosquito vetor ( Aedes aegypti) torna-se ainda mais essencial.

          Porém, como acontece com tudo relacionado à ciência e saúde pública, muitos mitos e boatos falsos são criados entre a população, os quais acabam atrapalhando as medidas sérias de solução ao problema. Fiz um texto passado mostrando as inverdades ditas sobre o Zika vírus. Agora, vou listar alguns dos mitos relacionados ao combate da proliferação do Aedes aegypti.

1. Ar condicionado e ventilador matam o mosquito...
Não, não vou nem discutir isso.

2. Secando os reservatórios de água parada, estarei matando as larvas e ovos, e impedindo que as fêmes do Aedes depositem mais ovos.
Bem, a segunda parte é verdade, porque o mosquito não terá onde depositar seus ovos, sem a água acumulada. Também é verdade que as larvas morrerão. Porém, matar os ovos ali existentes, é falso. Esses ovos podem durar mais de 1 ano em um ambiente completamente seco, só esperando a chegada de mais água para eclodirem. Quando for fazer a limpeza de vasos de plantas e outras fontes de água parada, lavem o local com água e sabão, para retirar e matar todos os ovos ali. Jogar a água fora não é uma garantia segura.

3. Borra de café na água das plantas mata os ovos e larvas do Aedes aegypti.
Esse é um dos mitos mais difundidos e, infelizmente, usados pela população no combate à dengue. Muitos acreditam ( inclusive alguns ´profissionais´) que a cafeína presente na borra de café mata as larvas e ovos. Diversas pesquisas já mostraram que isso não surte efeito nenhum e que as larvas se desenvolvem normalmente na presença de borra de café. Uma medida eficaz é encher os vasos de plantas com areia até o topo para não haver acúmulo de poças de água. Bem, você também pode encher de borra de café, com o mesmo objetivo.

Outra alternativa é colocar água sanitária na água parada. 2 ml para cada 1 litro já é suficiente para matar as larvas e ovos do local. O procedimento deve ser feito, no mínimo, 1 vez por semana, para garantir a eficácia do hipoclorito de sódio ( princípio ativo da água sanitária).

4. As larvas do Aedes aegypti só se desenvolvem em água lima.

Esse também é bem antigo. Não, qualquer água parada ( não ´envenenada´, claro) pode ser um berçário para o mosquito vetor. Algumas pesquisas até mostram que o Aedes não tem preferência por nenhuma das duas em especial.

5. Tomar vitamina B afasta o mosquito.

Não. Mesmo isso surtindo certo efeito em algumas pessoas, por uma mudança no metabolismo e expulsão diferenciada de substâncias pelo odor da pessoa ( os mosquitos têm preferência por um ou outro tipo de pessoa devido às taxas de gás carbônico liberadas, odores e temperatura corporal), não existem regras seguras a serem seguidas. Isso vale para qualquer outro tipo de procedimento baseado nesse método ( ingestão maior de alho e cebola, por exemplo).

Além disso, essa estratégia, assim como o uso de repelentes, surtirá efeito apenas em você, e não deve ser feita como forma exclusiva de combate ao mosquito. Caso contrário, é uma atitude egoísta, e faz com que muitos lidem com descaso para os métodos de prevenção comunitária à doença. O foco é no combate ao vetor, não apenas afastá-lo de você. Agora, se você usa repelentes e também cumpre com o seu papel social de combate ao vetor, a combinação não poderia ser melhor...:)



6. Usar inseticidas frequentemente é uma boa prática para se matar os mosquitos e larvas do Aedes aegypti.

Quando usado com sabedoria e esporadicamente, os inseticidas são uma boa arma. Mas usá-los com frequência é uma péssima escolha, devido a dois motivos principais. O primeiro é que, como ocorre com os antibióticos, o uso abusivo de inseticidas vai selecionando, aos poucos, mosquitos resistentes a eles, o que ajuda a formar insetos cada vez mais fortes e que não respondem mais aos inseticidas. É o mesmo processo pelo qual ocorre a formação das superbactérias ( O que são as superbactérias e a resistência bacteriana?). O segundo motivo é o próprio dano ao nosso organismo que o abuso de inseticidas pode acarretar.

          Cada um de nós deve fazer a sua parte nesta luta. Mesmo que nem toda picada seja garantia de transmissão de doença ( nem todo Aedes aegypti é contaminado com um ou todos os três vírus) e que nem todos irão desenvolver qualquer umda dessas viroses ( entre 20 e 50% irão desenvolver apenas formas quase impercepitíveis da dengue, por exemplo), isso não quer dizer que o seu amigo, familiar ou vizinho não poderão ter complicações séries com a contaminação viral.


ATUALIZAÇÃO ( 13/02/16): Pessoal, nesta luta contra o Aedes aegypti, é importante prestar atenção na bandeja externa de água na parte de trás da geladeira. A água acumulada neste local da casa está sendo ignorada e muitas estão virando criadouro do mosquito. É preciso fiscalizar todos os locais da residência, suspeitos ou não de possuírem água parada.

REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. http://www.dengue.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=8
  2. http://www.dengue.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=7
  3. http://www.saude.mg.gov.br/gripe/story/4025-agua-sanitaria-e-mais-uma-arma-contra-a-dengue
  4. http://www.revistas.usp.br/sausoc/article/download/104829/103617
  5. http://online.unisc.br/seer/index.php/epidemiologia/article/view/5977   
  6. http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=969&sid=8