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O que é o GH e como esse hormônio age?

           
- Atualizado no dia 29 de setembro de 2021 -
  
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        O GH (Hormônio do Crescimento, na sigla em inglês), é um dos agentes anabólicos mais cobiçados no meio do fisiculturismo, sendo suas ações no corpo consideradas quase milagrosas. Difícil de ser detectado nos exames antidoping, ele também é muito visado por diversos outros atletas. Mas existem riscos enormes ao se usar esse hormônio apenas para fins estéticos ou de performance.

         Vamos entendê-lo primeiro. O GH é um polipeptídeo (nome bonito para 'proteína') secretado pela glândula pituitária (também conhecida como hipófise). Depois de secretado ou injetado, sua meia vida é entre 15 e 20 minutos. No caso de injeção (1), subcutânea ou intramuscular, a concentração sanguínea de GH alcança um pico entre 1 e 3 horas e cai para níveis indetectáveis depois de, aproximadamente, 24 horas. O hormônio é limpado do sangue através da degradação no fígado e nos rins. Depois de um dia sem a adição de mais GH, as quantidades desse excesso se tornam imperceptíveis na urina ou no sangue. Por isso é tão difícil detectá-lo em exames clínicos de doping.

Glândula pituitária destacada em laranja

           Todas as células do corpo possuem receptores para o GH e os estimulantes naturais para sua secreção são os exercícios físicos, estresse e sono. Como ninguém quer ficar estressado, uma boa dica para aumentar as quantidades naturais desse hormônio é a prática regular de atividades físicas (quanto mais intenso, maior as quantidades produzidas) e ter boas noites de sono. O período de sono conhecido como SWS (Slow-Wave Sleep) ou, simplesmente, sono profundo, é o maior responsável pela produção de GH. Portanto, se você faz musculação e não dorme direito, seus ganhos estão sendo drasticamente reduzidos, sem contar outros efeitos colaterais degradantes. Em relação à idade, o GH possui um pico máximo de produção durante a adolescência, diminuindo progressivamente com o passar dos anos.

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            Todas as células sensibilizadas pelo GH passam a ter todos os seus processos metabólicos estimulados. O efeito anabólico observado pelo uso de GH é o aumento da síntese proteica nas células musculares. Isso é devido ao fato de que ele aumenta o transporte de aminoácidos através da membrana celular, aumenta a produção de RNA e aumenta também o número de ribossomos no citoplasma celular (2). Além disso, o GH promove uma maior lipólise, mobilizando gordura para ser usada como energia pelas células, principalmente para a construção muscular. Com isso, glicose é poupada para ser transformada em glicogênio muscular e o corpo "seca" mais rápido, perdendo gradativamente seus depósitos de gordura. O GH também estimula o sistema imunológico humano, tornando o combate à doenças e outros ataques ao corpo mais eficaz. 

            Recentemente, em um estudo publicado no periódico Endocrinology (Ref.9), camundongos mostrou como o hormônio do crescimento age no cérebro e desempenha importante papel no estímulo do apetite, além de suas funções já conhecidas. O GH regula a capacidade da grelina, molécula conhecida como hormônio da fome, de induzir o aumento na ingestão de alimentos. O achado corrobora observação prévia, em indivíduos com acromegalia, que quanto maior a taxa de GH, mais o cérebro produz o peptídeo AgRP, potente estimulador de apetite.

           Maior perda de gordura, maior armazenamento de glicogênio, maior imunidade e maior síntese proteica, o sonho de todo fisiculturista. E com maior quantidade de glicogênio no interior das células e maior síntese proteica, os músculos ganham um grande volume. E é muito importante deixar claro que o GH não age diretamente em todas as células do corpo. Na verdade, seu principal papel é em estimular o fígado a produzi o IGF-1 (Fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1), este o qual vai agir diretamente em, praticamente, todas as células do corpo induzindo os anabolismos descritos acima, como mostrado na imagem abaixo.

O GH promove o crescimento muscular (muscle growth) e o crescimento ósseo (bone growth); fígado (liver); Ilustração: Google Images 

            Somando-se a tudo isso, a insulina e esteroides anabolizantes podem ser usados de forma sinérgica durante o uso de GH. Como cada um desses hormônios age utilizando diferentes caminhos celulares, os efeitos somam-se, acumulando-se desempenho e anabolismo. A insulina é usada em conjunto não porque ela é um anabólico muscular, mas, sim, porque ela barra bem a proteólise (quebra de proteínas para a glicogênese ou reciclagem de aminoácidos), mantendo a massa muscular 'intacta', enquanto que o GH e outros anabólicos a fazem crescer. A insulina também aumenta a quantidade de glicogênio celular, otimizando a performance ainda mais durante os treinos e também aumentando o volume muscular. Se todos esses hormônios são usados de forma bem controlada e em quantidades cirurgicamente definidas, os ganhos musculares e de desempenho atlético são exuberantes. Por isso a busca insana desses tratamentos pelos atletas de alto rendimento, como os fisiculturistas e esportistas olímpicos.

           Mas não é preciso dizer que a grande maioria usa todos esses hormônios de forma totalmente errada. O GH e a insulina, em especial, carregam graves e mortais perigos caso mal administrados, com ambas exemplificando perfeitamente a máxima medicinal 'a diferença entre o remédio e o veneno é a dose'. A insulina pode trazer problemas sérios de diabetes e descontrole no metabolismo energético, causando fatalidades com facilidade se usada de forma irresponsável. Já o GH age danosamente em todo o corpo, inclusive na produção de insulina pelo pâncreas. De início, em doses não reguladas e acima do limite suportado de organismo para organismo, ele aumenta a resistência das células à insulina, o que provoca um superprodução desse hormônio pelo pâncreas (com consequente destruição das células produtoras de insulina), levando a problemas de diabetes, os quais passarão a acompanhar o resto da vida do usuário, mesmo que seja interrompido o uso do hormônio. O segundo. Mas o principal problemas é o fator de crescimento acelerado.

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           O GH estimula as células do corpo inteiro a crescerem (exceto o tecido cerebral), originando gigantismo se for administrado em pessoas jovens (em fase de crescimento) e acromegalia na fase adulta. Ambas as condições são caracterizadas pelo crescimento anormal de tudo. Isso gera desde deformações estéticas (crescimento anormal das orelhas, maxilar, mãos, cotovelos, etc.) até problemas graves de saúde, como a cardiomegalia (aumento anormal do músculo cardíaco). Esse é o motivo de vários lutadores de WWE e fisiculturistas terem que limar o maxilar e cotovelos, por exemplo, para diminuir as deformações corporais. E não paramos por aí. Como todas as células passam a crescer muito, isso também afeta células tumorais, originando ou agravando cânceres. Não é que o GH produz tumores (bem, mas facilita seu surgimento por propiciar um ambiente perfeito para a multiplicação celular e isso dá mais chances de ocorrerem erros genéticos durante esse processo), mas ele alimenta-os. Por exemplo, se você tiver uma célula tumoral benigna, que nunca iria se tornar um tumor maligno por ter seu crescimento limitado, ela pode acabar indo para o caminho do mal por ser estimulada a crescer e multiplicar-se (3).

Exemplo de deformação facial devido ao excesso de GH. A acromegalia é uma doença crônica provocada por uma disfunção da glândula hipófise, que passa a produzir o GH em excesso e provoca aumento anormal de extremidades do corpo, como mãos, pés e rosto.

            O GH é usado, na medicina, para o tratamento hormonal de pessoas que possuem uma baixa produção desse hormônio, como no caso do nanismo. Ele é essencial para o crescimento ósseo durante o período de desenvolvimento do indivíduo. É por isso, também, que as pessoas com nanismo que se submetem ao tratamento com GH apresentam uma massa muscular proeminente e baixo índice de gordura corporal. Mas esse tratamento é feito de forma rigidamente supervisionada por profissionais da área, com a verificação constante de exames de sangue e desempenho corporal. Não se brinca com o GH, principalmente se quando o pessoal adiciona esteroides anabolizantes e insulina no meio da brincadeira. Seu uso não é nem um pouco recomendado para fins atléticos e estéticos, mas, se for usar de qualquer jeito, faça um acompanhamento médico meticuloso e com profissionais de qualidade.


Artigo Recomendado:  Qual é o real papel da insulina no controle de glicose no sangue?

(1) O GH, por ser uma proteína, não pode ser ingerido. Caso contrário, o corpo iria digeri-lo e quebrá-lo em seus aminoácidos constituintes. Isso também é a causa do uso do colágeno ser tão controverso para fins estéticos (Vale a pena investir na suplementação com colágeno?).

(2) O RNA é uma fita genética formada a partir do DNA, sendo responsável pela síntese proteica. Resumidamente, ele envia informações para o ribossomo de como a proteína deve ser feita através dos aminoácidos absorvidos pela alimentação ou sintetizados no próprio corpo.

(3) No caso muscular, o GH não multiplica as células musculares, apenas aumenta a massa e volume delas. Isso é uma boa curiosidade: as células musculares não podem se multiplicar, pois se desenvolvem em um número fixo (existem algumas exceções de regeneração, como as células satélites). Ou seja, um homem musculoso não possui mais células musculares do que um homem franzino, mas, sim, maior massa/fibras musculares. Aliás, o GH aumenta a massa muscular mas não produz maior capacidade física ou explosão de força para o indivíduo. Esse efeito é visto especificamente para os esteroides anabolizantes e acaba sendo generalizado também para o hormônio do crescimento (Ref.8).

OBSERVAÇÃO: Muitos confundem a insulina como um hormônio anabólico por causa da existência do IGF-1. Ambos possuem uma estrutura química semelhante, mas ações bem diferentes.


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
  1. http://joe.endocrinology-journals.org/content/170/1/13.long
  2. http://www.nature.com/ejcn/journal/v67/n8/full/ejcn2013116a.html
  3. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3079864
  4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2657499
  5. http://jap.physiology.org/cgi/content/abstract/91/1/163
  6. http://jap.physiology.org/cgi/content/full/83/5/1756 
  7. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3355962/ 
  8. http://www.scielo.org.za/scielo.php?pid=S1015-51632014000100006&script=sci_arttext
  9. https://academic.oup.com/endo/article-abstract/162/7/bqab097/6273366