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Usar bucha na hora do banho é saudável?


    
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          A pele é o maior órgão do nosso corpo e constitui sua primeira barreira de proteção contra os intrusos indesejados do exterior, como toxinas, vírus, bactérias e danos físicos. Mantê-la limpa e hidratada é crucial para a sua boa saúde. Mas o excesso de limpeza, ou sua inadequação, acaba sendo tão prejudicial quanto a falta. E é aqui que entra o erro em usar buchas para esfregar o corpo durante o banho.

          A oleosidade que compõe a superfície da pele é composta, basicamente,  por três tipos de lipídios: ceramidas, ácidos graxos e colesterol. Todos eles agem em conjunto para manter a estabilização estrutural da superfície da pele e impedir sua desidratação (1) (ainda não se sabe ao certo o papel do colesterol nessa área, mas ele é fundamental para o equilíbrio desse sistema). As pessoas, nos momentos de higienização, em específico nos banhos e nas lavagens de mão, tendem a exagerar no uso de sabonetes e outros produtos que retiram a oleosidade e a sujeira da pele. E o pior: a grande maioria usa buchas para esfregar o corpo durante os banhos, o que machuca a pele e força a retirada da oleosidade cutânea muito mais do que o necessário.

Evite qualquer método de esfregação da pele durante os banhos

          Quando você fica a todo momento retirando a oleosidade da sua pele, sua superfície começa a sofrer danos, com consequente descamação e irritação. Além disso, sem uma quantidade suficiente desses lipídios, ocorre uma grave desidratação, o que piora ainda mais a situação. Então, qual seria o jeito certo de limpar a pele? Primeiro, apenas a água e o sabonete (e xampu, no caso do couro cabeludo) são o suficiente para limpá-la, porque você apenas vai querer tirar a sujeira acumulada do dia. Esfregar o corpo com a bucha não é dermatologicamente recomendado porque essa prática força um excesso de lipídios a serem lavados junto com o sabão. Se você usa a bucha, pode reparar que, depois do banho, sua pele estará vermelha e coçando, irritada, praticamente pedindo por socorro.

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       Alguns justificam que, esfregando, estarão retirando células mortas e sem valia da pele, ajudando em sua limpeza. Mas as células cutâneas, quando morrem, caem sozinhas, não precisando de força para serem retiradas. Existe até uma técnica, já popular, chamada de esfoliação a seco, que faz exatamente o que o seu nome sugere: é o ato de esfregar a pele com uma bucha sem água ou sabão. Essa técnica promete milagres na pele, até mesmo curar celulite. Mas, é claro, não existe nenhuma evidência científica que isso funcione, e o pior é que a maior parte das pessoas que fazem isso usam uma força excessiva na esfregação. Se você quiser adotar essa prática, esfregue sua pele bem de leve, quase como se fosse um carinho. Isso, talvez, possa até ativar a circulação sanguínea em algumas áreas da pele mais castigadas, melhorando a hidratação e saúde em geral da pele. Porém, como não existem estudos científicos comprovando a eficácia da técnica, esta não é uma recomendação médica.

          A bucha só é necessária quando existe uma sujeira difícil de ser retirada apenas com a passagem do sabonete e da água. E ainda tem o fato dela poder acarretar micro-lesões na pele, uma porta de entrada para infecções e outras complicações na epiderme. O mesmo raciocínio é válido para os algodões molhados em soluções de limpeza de pele, os quais forçam a saída de muitos lipídios importantes, sendo necessários apenas quando a sujeira for de difícil remoção.

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          Como citado no início, grande parte dos lipídios responsáveis pela oleosidade cutânea são ácidos graxos, os quais são os responsáveis pela manutenção do pH (medida química de acidez) entre 4,5 e 5, ou seja, uma acidez significativa. Além de danificar diretamente a pele, a grande diminuição desses ácidos orgânicos modificam o pH ideal na região, prejudicando sua microbiota, ou seja, desequilibrando as populações de bactérias e fungos que ali vivem (2). Nosso corpo é o lar de um número incrível de seres unicelulares, os quais, em equilíbrio, trazem benefícios para a nossa saúde. Perturbá-los está longe de ser uma boa ideia (A importância das fibras para a nossa microbiota intestinal). Caso exista um desequilíbrio no ecossistema cutâneo, isso abre caminho para a proliferação outros microrganismos perigosos que podem causar infecções graves na pele. Além da questão da oleosidade e da bucha, produtos cosméticos de maquiagem e hidratação também podem conter substâncias que prejudicam tanto a estrutura da pele quanto a nossa microbiota, por afetar o pH ou serem tóxicos. Portanto, é uma boa dica não usá-los de forma frequente e/ou em abundância.

O uso excessivo de cosméticos pode ser muito danoso à pele; até mesmo os cremes hidratantes devem ser usados de maneira moderada, porque a maioria possui substâncias como a uréia, ácido lático

        De uma maneira geral, qualquer hábito que exagere na limpeza da pele trará prejuízos para esse órgão. É preciso moderação, higienizando apenas o necessário. Evite o uso excessivo de sabonetes, buchas, banhos muito quentes e prolongados, principalmente no inverno. E uma pele saudável não depende apenas da limpeza. Uma alimentação nutritiva e a ingestão de bastante água (mineral, filtrada, suco, chás, etc.) são medidas que ajudarão a deixá-la forte e hidratada.


(1) Como a água não interagem bem com os lipídios, ela não consegue passar pela barreira oleosa da pele, sendo forçada a ficar na sua estrutura, hidratando-a. Sem os óleos, ou sua escassez, a água flui para fora da pele facilmente, evaporando e deixando o tecido cutâneo ressecado. Os óleos, como mencionei no artigo acima, servem também para manter a estrutura superficial da pele unida e estável, fator que também contribui para manter a água presa na estrutura cutânea.

(2) Por isso aquela clássica recomendação dos dermatologistas em indicar sempre o uso de sabonetes com pH neutro para a pele, pois se o detergente utilizado para a limpeza diária da pele for muito básico, ele irá interagir mais fortemente com os ácidos graxos dali e removê-los em excesso (ácidos e bases reagem fortemente entre si), causando um distúrbio estrutural no tecido cutâneo e modificação prejudicial do pH. Muito ácido também causa danos. Já o neutro não afetará significativamente o pH na região.


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ARTIGOS DE REFERÊNCIA
  1. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18489300
  2.  http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1600-0536.2008.01320.x/full
  3. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18416754
  4. http://time.com/3756761/dry-brushing-skin/
  5. https://wwwnc.cdc.gov/eid/article/7/2/70-0225_article
  6. https://www.nhs.uk/live-well/healthy-body/look-after-your-skin/